A Educação Física pode mais na abordagem da imagem corporal como urgência curricular

Vitor Alexandre Rabelo de Almeida, Doutorando em Educação, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPGEDUC/ UFRRJ). Professor I – Educação Física. Queimados, RJ, Brasil. 

Felipe Machado Huguenin, Doutor em Educação (PPGEDUC/UFRRJ), Professor Docente I da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro. Professor de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação. Seropédica, RJ, Brasil.

Fabiane Frota da Rocha Morgado, Professora Adjunta do Departamento de Educação Física e Desportos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação. Seropédica, RJ, Brasil.

Logo da Educação em RevistaO artigo intitulado Educação Física escolar e imagem corporal: uma análise documental a partir da Base Nacional Comum Curricular (vol. 41, 2025), publicado no periódico Educação em Revista, evidencia que apesar de a imagem corporal ser um construto fundamental na formação humana, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) negligencia a legitimidade deste conhecimento.

Escrito por Vitor Almeida, Felipe Huguenin e Fabiane Morgado, o estudo partiu do entendimento de que a Imagem corporal pode ser definida como a representação mental do próprio corpo (Schilder, 1981). Composto pelas dimensões perceptiva: acurácia de tamanho, forma e peso corporal; e atitudinal: pensamentos, crenças e comportamentos relacionados ao próprio corpo, este construto constitui uma parte importante da formação humana, sobretudo de crianças e adolescentes, com efeitos sobre a formação da sua identidade, autoestima, relações sociais, desempenho escolar, entre outros (Cash; Smolak, 2012).

Na escola, a Educação Física se configura o componente curricular adequado para tematizar a imagem corporal, uma vez que o seu desenvolvimento se dá a partir das experiências e práticas corporais (Barker et al., 2018). No entanto, apesar de uma temática amplamente investigada em diferentes campos do conhecimento, a área da Educação ainda carece de estudos que exploram essa interface e, nos que existem, professores(as) comumente relatam ter dificuldade e insegurança na tematização deste construto em sua atuação docente (Kerner et al, 2022).

À vista disso, o artigo buscou analisar se e como a BNCC, que objetiva orientar o currículo da Educação Básica no Brasil, oferece subsídio ao(à) docente de Educação Física na apresentação e tematização deste construto nas aulas.

 

Figura 1. A imagem corporal se desenvolve a partir das experiências e práticas corporais

A partir de uma análise documental da BNCC, identificou-se que o termo imagem corporal não é explicitamente mencionado ao longo de todo o documento. Apesar disso, foram identificados trechos que mantêm alguma relação com o tema. Estes trechos foram organizados em categorias que evidenciam como o construto está relacionado nas diferentes etapas da Educação Básica, sejam elas: (1) Apresentação e estrutura da BNCC, (2) Educação Infantil, (3) Ensino Fundamental e (4) Ensino Médio.

As análises revelam que a BNCC apresenta relações sutis, implícitas e muitas vezes frágeis com a temática da imagem corporal. Ainda assim, foram identificados trechos que mencionam o autoconhecimento, valorização à diversidade corporal, crítica aos estereótipos corporais, crítica ao uso de estratégias não saudáveis para mudança corporal, uso consciente e crítico das mídias, entre outros.

Em conjunto, os trechos identificados poderiam subsidiar a atuação pedagógica do professor de Educação Física. Contudo, somada a sua não demarcação epistemológica, a superficialidade que caracteriza a presença da temática da imagem corporal contribui para sua invisibilização e não abordagem, uma vez que os trechos presentes no artigo puderam ser relacionados à imagem corporal porque os autores possuem formação e sensibilidade sobre o tema.

A ausência da imagem corporal como conceito ou tema revela uma lacuna curricular importante para a Educação Física escolar no Brasil. Defendemos que o construto deve ser incorporado na BNCC e em outros documentos curriculares com mais assertividade, intencionalidade e criticidade, sobretudo na Educação Física. Enquanto isso, consideramos urgente e necessário fomentar a imagem corporal enquanto objeto central de análise, pesquisa e proposta pedagógica formativa tanto para universitários e professores(as) quanto para crianças e adolescentes.

Referências

BARKER, D., et al. A. Body image in physical education: a narrative review. Sport, Education And Society [online]. 2022, vol. 28, no. 7, p. 824-841, [viewed 21 October 2025]. https://doi.org/10.1080/13573322.2022.2076665 Available from: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/13573322.2022.2076665

CASH, T. F. and SMOLAK, L. Body Image: A handbook of science, pratice, and prevention. 2. ed. New York: The Guilford Press, 2011.

KERNER, C., et al. A systematic review exploring body image programmes and interventions in physical education. European Physical Education Review [online]. 2022, vol. 28, no. 4, p. 942-967, [viewed 21 October 2025]. https://doi.org/10.1177/1356336X221097318 Available from: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1356336X221097318

SCHILDER, P. A imagem do corpo: As energias construtivas da psique. São Paulo: Martins Fontes, 1981.

Links Externos

Educação em Revista – EDUR

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Grupo de Estudos e Pesquisas em Aspectos Psicossociais do Corpo

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

ALMEIDA, V.A.R., HUGUENIN, F.M. and MORGADO, F.F.R. A Educação Física pode mais na abordagem da imagem corporal como urgência curricular [online]. SciELO em Perspectiva: Humanas, 2025 [viewed ]. Available from: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2025/10/21/a-educacao-fisica-pode-mais-na-abordagem-da-imagem-corporal-como-urgencia-curricular/

 

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