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sexta-feira, fevereiro 21, 2025

Migração deve ser encarada como alternativa para desenvolvimento, diz novo sócio da Fragomen no Brasil

Em entrevista ao MigraMundo, Gustavo Kanashiro recordou início do trabalho com migração e reforçou coro sobre necessidade de uma política de atração e retenção de talentos pelo Brasil

A questão migratória precisa ser cada vez mais abordada sob um ponto de vista técnico e que seja reconhecida como uma ferramenta tanto para atração de talentos de todo o mundo quanto de reter os que surgem no Brasil. Além disso, precisa ser vista globalmente como um vetor econômico de desenvolvimento. Esses são alguns dos pensamentos de Gustavo Kanashiro, recém-nomeado como sócio da Fragomen no país, compartilhados durante entrevista exclusiva para o MigraMundo.

Com sede nos Estados Unidos, a Fragomen descreve-se como a maior e mais antiga empresa de imigração do mundo e conta com escritório no Brasil desde 2013. Antes, sua operação no país se dava por meio de um escritório de advocacia, no qual já era atendida pelo próprio Gustavo. Quando a companhia decidiu se estabelecer fisicamente no país, trouxe o profissional para ser parte do time.

Desde então, Kanashiro acompanhou pela Fragomen um período de grandes mudanças no debate e nas práticas sobre migração no Brasil. Na entrevista, o executivo reconheceu avanços no país em relação à temática, mas deixou claro que são necessárias melhorias para que esse ambiente positivo se mantenha e possa se expandir – uma crítica bastante comum dentro do setor de Mobilidade Global nacional.

“Eu acho que falta olhar a imigração como uma alternativa de atração de pessoas, como tem, por exemplo, nos Estados Unidos. Eu sinto falta de algo nesse sentido no Brasil. Eu sinto falta de uma forma de trazer de volta os talentos que nós perdemos. O Brasil é um berço de bons talentos também. E aqui a gente vê muitas pessoas que poderiam estar desempenhando um excelente papel na área de ciências, de tecnologia, que estão indo ser profissionais em empresas de outros países”.

Com a nomeação de Gustavo Kanashiro para sócio da Fragomen no Brasil, ao lado de Diana Quintas, a Direção Executiva da empresa passou para Diogo Kloper, que também era Diretor de Imigração.

Leia abaixo a entrevista completa:


MigraMundo: Como é que você chegou nessa temática de migração?

Gustavo Kanashiro: Foi uma grande coincidência. Eu trabalhava em um escritório de advocacia, um dos grandes escritórios de advocacia do Brasil, e fui contratado para trabalhar dentro da área de consultoria societária, e um dos departamentos desse escritório era o departamento de imigração. Um dos clientes era justamente a Fragomen, antes dela se estabelecer no Brasil. Eu atuava com imigração corporativa, mas sem conhecer muito e me aprofundar muito com o assunto. A área foi crescendo, passei para esse depatamento no escritório até que, em 2012, a Fragomen decide vir para o Brasil e se estabelecer definitivamente aqui e, com isso, contratar os profissionais que estavam nesse escritório de advocacia, juntamente com a Diana, época contratada para ser Practice Leader aqui no Brasil e a líder do escritório localmente, E aí, sim, passei a trabalhar exclusivamente com imigração.

Que entendimento você tinha sobre o assunto antes de atuar junto a ele?

Minha visão para a imigração era muito como um viajante, meramente um viajante. Eu tive a oportunidade de fazer intercâmbio no meio da faculdade. Mas ao trabalhar no escritório que eu trabalhava e na Fragomen, a gente começa a identificar a diferença que a imigração pode fazer em muitos aspectos. Então a minha visão de imigração, ela deixa de ser de um viajante de turismo e negócios ocasionais para alguém que enxerga a imigração como um ponto relevante não só na economia do país, mas no desenvolvimento de talentos, na atração de pessoas que podem fazer a diferença em termos de indústrias, de mercado, enfim, eu deixo de ver a imigração como uma forma de viagem para ver a imigração com a importância que ela tem no seu aspecto social, econômico, enfim, todas as vertentes aí que a imigração proporciona.

Por que, afinal, a Fragomen nomeou um novo sócio para o Brasil?

O mercado brasileiro de imigração está em expansão, registrando um número histórico de estrangeiros entrando com vistos de trabalho no país, impulsionado, principalmente, pelo setor de energia, óleo e gás. Com o Brasil liderando a transição para energia limpa, o país ganha destaque no cenário global, tornando-se um mercado estratégico para a atuação da Fragomen. Minha nomeação como sócio da empresa no país, juntamente à Diana Quintas, se alinha perfeitamente com esse momento positivo do mercado nacional e com o crescimento significativo dos nossos escritórios no Rio de Janeiro e São Paulo. Como novo sócio, meu foco principal será garantir a excelência no atendimento aos nossos clientes, combinando o fortalecimento dos relacionamentos com a qualidade na entrega dos nossos serviços. Isso também reforça nossas iniciativas de aprimorar o relacionamento com o cliente, como o NPS (Net Promoter Score) e o Comitê de Qualidade implementados há alguns anos. Por meio delas realizamos pesquisas regulares para entender as necessidades, identificar áreas de melhoria e, assim, focar naquilo que realmente importa: a satisfação e o sucesso dos nossos clientes. Na Fragomen estamos sempre pautados por um crescimento sustentável, baseado na entrega de serviços de qualidade e em um relacionamento próximo e duradouro com nossos clientes, e pelo fomento à imigração como vetor de desenvolvimento econômico e social.

Você chegou à Fragomen em um momento no qual o debate sobre migração se transformou no Brasil. Qual a sua visão sobre como o assunto se desenrolou no país desde então?

Vejo evoluções significativas. Eu me lembro quando os protocolos de visto eram feitos no papel, tínhamos de mandar um malote para Brasília para fazer o protocolo de visto. Eu vejo o Brasil hoje em um patamar importante de imigração em termos de ambiente, claro que com muito espaço para melhorias. Acho que existem mecanismos que podem ser melhorados em termos de opções de imigração, opções de atração de pessoas capacitadas de fora do Brasil para cá. Eu vejo muitos avanços na comparação com 20 anos atrás, quando eu comecei a cuidar de alguma forma de imigração no meu antigo escritório. Uma evolução bastante significativa é muito ligada à questão da tecnologia, de sistemas que merecem um olhar para melhorias. Mas eu vejo um campo muito mais vasto, uma imigração muito mais modernizada do que a gente tinha aí há 10, 20 anos atrás.

Entre essas melhorias possíveis, Gustavo, poderia ser incluída uma política de atração de talentos, de mão de obra qualificada, partido do princípio da migração como um vetor de desenvlvimento?

Sinto muita falta disso. Quando você analisa a formação de grupos de estudo relacionados à imigração, para a elaboração de normas e de lei, eu acho que faltam – sobretudo do ponto de vista da imigração laboral e da imigração corporativa, que ela faz parte mais do nosso dia a dia – Resoluções Normativas, por exemplo, que façam, que busquem essa atração de talentos. Mas a gente já vê uma movimentação.

Um exemplo disso é a Resolução Normativa 50, uma das últimas aprovadas pela imigração no Brasil [que dispõe sobre a concessão de autorização de residência, para fins de trabalho, ao imigrante que cursou e concluiu graduação ou pós-graduação stricto sensu, no Brasil, e esteja no território nacional]. Antes havia uma dificuldade muito grande do recém-formado de obter uma autorização de trabalho [no Brasil] por conta da falta de comprovação de experiência.

Eu acho que falta olhar a imigração como uma alternativa de atração de pessoas no Brasil. Eu sinto falta de uma forma de trazer de volta os talentos que nós perdemos. O Brasil é um berço de bons talentos também. E aqui vemos muitas pessoas que poderiam estar desempenhando um excelente papel na área de ciências, de tecnologia, que estão virando profissionais em empresas de outros países. Em resumo, acho que é importante, sim, que o governo tenha um olhar para alternativas de atração de talentos [do exterior] e de identificação e retenção dos nossos talentos locais aqui também.

Passando agora para a esfera internacional, vemos a questão do envelhecimento de algumas populações, como a da Europa, demandando trabalhadores migrantes. Mas ao mesmo tempo a região vem tendo uma postura muito refratária com a imigração. Como você vê esse cenário?

O meu ponto de vista, e aí é algo pessoal não corporativo, é que os governos precisam analisar o aspecto imigratório não com esse olhar ideológico, enfim. O mundo precisa olhar a imigração com um olhar técnico, que diz respeito a quais são os benefícios que a imigração vai trazer para o meu país.

E por que eu preciso da imigração? Acho que cabem todos os aspectos intangíveis, talvez culturais ou de etnia, mas também aspectos práticos tangíveis que incluem a questão da da seguridade social. Mais do que se discutir a imigração com o calor dos aspectos políticos, que pairam em diversos países do mundo hoje em dia, a imigração precisa ser encarada tecnicamente como uma alternativa, como esse vetor econômico, como uma alternativa para desenvolvimento, para melhorias, e não como um discurso de palanque.

Ainda na parte internacional, não temos como não falar de Donald Trump, que vem empreendendo uma cruzada contra a migração nos Estados Unidos. Como você está vendo o cenário de imigração hoje nesse país?

A minha questão em relação ao olhar da imigração para os Estados Unidos está muito mais focada nos aspectos técnicos de pensar o que essas ordens executivas trazem para o momento, quais são os reflexos imediatos, as preocupações que devemos ter especialmente no aconselhamento a ser dado para os nossos clientes. Então, a nossa preocupação está sendo muito mais em olhar esse momento, desse movimento, do que emitir essa opinião pessoal em termos de como o governo Trump encara a sua política migratória. A nossa preocupação enquanto empresa de consultoria e a maior empresa de imigração do mundo, é de orientação.

Mesmo partindo desse ponto de vista técnico, ainda talvez seja um pouco cedo para avaliar se essas ações do Trump vão ter um efeito mais permanente. Já podemos notar um encrudecimento da análise nas emissões de vistos, por exemplo. Também podemos ver dentro das ordens executivas um foco intensivo dessa nova administração em imigração e segurança, o que significa que a gente deve ter para os viajantes um escrutínio mais rigoroso, uma avaliação mais rigorosa de consulados e embaixadas e também nos pontos de entrada nos Estados Unidos.

Voltando ao cenário brasileiro, parece haver uma barreira entre o setor que lida com a migração mais no sentido corporativo e os atores acadêmicos e da sociedade civil que fazem uma abordagem mais social do tema. Você compartilha dessa visão?

Eu acho que o universo acadêmico tem muito a contribuir para todas as áreas e também para a imigração. A relação com o universo corporativo talvez possa ser mais bem aproveitada através de reuniões e agrupamentos de associações, onde uma determinada associação ou coletividade do universo acadêmico traga as suas demandas para o universo corporate, e vice-versa. Sou sempre a favor de que todos os entes se sentem para conversar e desenvolvam as melhores relações para que isso resulte positivamente no ambiente migratório brasileiro.


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