Ao abrir Comissão sobre Estatuto da Mulher, Guterres diz que pandemia tem rosto feminino
Secretário-geral afirma que a crise global demonstrou que a desigualdade de gênero continua arraigada em sistemas políticos e socioeconômico globais; reunião anual analisa avanços nos direitos das mulheres em todo o mundo.
As mulheres integram 70% da força de trabalho na saúde e ocupam a maioria dos postos dos setores econômicos que foram os mais afetados pela crise do novo coronavírus.
O rosto desta pandemia é feminino, afirmou o secretário-geral, António Guterres.
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Disparidades
Ele fez a declaração na abertura da Comissão sobre o Estatuto da Mulher, a reunião anual que analisa os avanços das questões relacionadas a mulheres e meninas em todo o mundo.
Segundo o chefe da ONU, as disparidades e desigualdades de gênero foram expostas durante a pandemia e só agravaram o prejuízo, pago por todos.
Se comparada aos homens, as mulheres têm 24% mais chance de perder seus empregos e correr risco de terem suas rendas reduzidas pela metade.
O trabalho não-remunerado de mulheres e meninas aumentou dramaticamente por causa do confinamento social, o fechamento de escolas e creches e o cuidado com idosos.

Internet
A Covid-19 expôs ainda uma pandemia paralela de violência a mulheres em todo o mundo tanto na internet como fora dela. Desde casamentos infantis à violência doméstica.
Os danos são incalculáveis e vão perdurar por décadas nas gerações futuras. E para Guterres, agora é a hora da mudança.
Ele afirma que o divisor de águas necessário é a participação equitativa das mulheres para virar o jogo.
Décadas de atuação mostram que a participação das mulheres melhora resultados econômicos, leva a mais investimentos e proteção social e a uma paz mais sustentável além de avançar a ação climática.
O secretário-geral lembra que a resposta à Covid-19 evidencia o grande poder da liderança feminina. Em países chefiados por elas, os níveis de transmissão foram baixos. E muitas mulheres se mobilizaram na sociedade civil para informar sobre a pandemia.
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Cessar-fogo
Guterres contou que a ONU colocou as mulheres no centro da resposta e recuperação da doença.
E também cooperou com governos e comunidades para enfrentar o aumento da violência a mulheres.
O chamado a um cessar-fogo global do secretário-geral foi um outro passo na mitigação dos efeitos arrasadores da Covid.
Mesmo assim, o mundo permanece dominado por homens. Apenas um quarto dos parlamentares são mulheres. Um terço de integrantes de governos locais e apenas 20% de Ministros de Estado.
Somente 22 países têm uma mulher como chefe de Estado ou Governo. E no ritmo atual, a paridade só deverá a chefes de governo em 2150.
Guterres acredita que a pandemia foi uma outra oportunidade para que os homens continuassem no processo de decisão.
Um estudo em 87 países mostra que 85% das forças-tarefa contra a pandemia são lideradas por eles.
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Notícias
Na cobertura global de notícias, apenas 20% dos especialistas são mulheres.
O chefe da ONU diz que as consequências desse comando prejudicam a todos reforçando posturas tendenciosas, negando os direitos sexuais e reprodutivos e chances de segurança.
Para Guterres, a mudança desta mentalidade deve ser uma prioridade obrigatória.
Ele disse que na ONU, a paridade de gênero nos escalões mais altos da organização foi alcançada no ano passado, e deve continuar pelos demais níveis incluindo missões de paz.
Apenas 13% das negociações de paz entre 1992 e 2019 tinham mulheres.
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Cinco ações
Para o chefe da ONU, é hora de corrigir os sistemas e apoiar as mulheres líderes na diversidade incluindo migrantes, indígenas, com deficiências, mulheres negras e Lgbtiq+.
A recuperação da pandemia apresenta uma chance de redesenhar e recomeçar a Década de Ação para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável a caminho de um futuro mais equitativo.
E Guterres pediu aos líderes mundiais cinco ações:
Primeiro, tornar realidade os direitos iguais das mulheres recusando leis discriminatórias e promovendo medidas positivas.
Em segundo lugar, que assegurem a representação equitativa desde os conselhos diretores das empresas aos Parlamentos, da educação universitária às instituições públicas através de medidas e cotas.
Como terceira ação, o chefe da ONU pede a inclusão econômica da mulher com salários iguais, concessão de crédito, proteção trabalhista e investimentos na proteção social e economia.
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Vontade política
O quarto ponto são resposta de emergência em cada país para enfrentar a violência a mulheres e financiamentos, medidas e vontade política.
Por último, Guterres afirma que é preciso dar espaço à transição intergeracional que já ocorre. Desde as linhas de frente e ainda na internet, as jovens estão defendendo mais justiça e igualdade no mundo, e precisam de mais apoio.
Este ano, o mundo terá uma oportunidade de avançar com a agenda no Fórum Geração Igualdade que será convocado pela ONU Mulheres no México, em parceria com o governo da França, sociedade civil e juventude.
Para António Guterres, a igualdade de gênero é essencialmente uma questão de poder num mundo dominado por homens e com uma cultura masculina.
Um quadro que precisa mudar, e os homens são parte da solução.
Para ele, juntos – mulheres e homens – têm a chance de acabar com a exclusão e construir um mundo mais justo e igual.