
RIO — Em 2016, pela primeira vez na história, o número de homicídios no Brasil superou a casa dos 60 mil em um ano. De acordo com o Atlas da Violência de 2018 , produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o número de 62.517 assassinatos cometidos no país em 2016 coloca o Brasil em um patamar 30 vezes maior do que o da Europa. Só na última década, 553 mil brasileiros perderam a vida por morte violenta. Ou seja, um total de 153 mortes por dia.
LEIA: Atlas da Violência 2018: Crianças são maiores alvos de estupro no país
Os homicídios, segundo o Ipea, equivalem à queda de um Boieng 737 lotado diariamente. Representam quase 10% do total das mortes no país e atingem principalmente os homens jovens: 56,5% de óbitos dos brasileiros entre 15 e 19 anos foram mortes violentas.
DOCUMENTÁRIO: A guerra do Brasil
O número de mortes violentas é também um retrato da desigualdade racial no país, onde 71,5% das pessoas assassinadas são negras ou pardas.
O impacto das armas de fogo também chega a níveis elevados no país, que tem medições sobre mortes causadas por disparos desde 1980. Se naquela época a proporção dos homicídios causados por armas de fogo girava na casa dos 40%, desde 2003 o número se mantém em 71,6%.
REALIDADES DISTINTAS
Apesar dos números alarmantes em nível nacional, a disparidade entre as Unidades da Federação chama mais atenção ainda. Basta comparar a redução da taxa de homicídios na última década em estados como São Paulo (-46,7%), Espírito Santo (-37,2%) e Rio de Janeiro (-23,4%) com o crescimento de outros como Rio Grande do Norte (256,9%), Acre (93,2%), Rio Grande do Sul (58,8%) e Maranhão (121,0%).
As diferenças se dão também em níveis regionais. Em 2016, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes chegou a quase 45 nos estados do Nordeste e Norte. No Sudeste, por outro lado, o valor ficava na casa dos 20, um pouco abaixo dos 25 alcançados pelos estados do Sul.
LEIA: Altamira, a vida na cidade mais violenta do Brasil
As reduções, porém, não significam que a situação em todos os estados seja de declínio constante. Basta analisar o caso do Rio de Janeiro, que entre 2015 e 2016 viu crescer em 18,8% a taxa dos homicídios. Ou do Ceará, que, apesar de ter aumentado em 86,3% nos últimos 10 anos, conseguiu uma diminuição percentual 13,1% na taxa de homicidos durante o último ano analisado.
JUVENTUDE PERDIDA
Dentre os afetados pela crescente no número de homicídios no Brasil, um grupo de destaca: o dos jovens. Representando 53,7% das vítimas totais no país (ou seja, 33.590 óbitos), eles ainda são majoritariamente homens. Mais especificamente, 94,6% deles são homens.
O caso é histórico, com os jovens entre 15 e 29 anos sendo a principal fatia da população afetada pelos assassinatos violentos, o que não significa que o número não tem sofrido aumentos no período analisado pelo Atlas da Violência.
Na década entre 2006 e 2016, o Brasil assistiu a um aumento de 23,3% nos assassinatos de seus jovens. Homicídio é a causa de 49,1% das mortes de jovens entre 15 e 19 anos, e 46% das mortes entre 20 a 24 anos. Esse índice é bem diferente do grupo de brasileiros entre 45 e 49 anos, por exemplo, que é de 5,5%.
MAIS MORTES POR TIROS
De 1980 até 2016, quase um milhão de brasileiros perdeu a vida por conta de armas de fogo. As 910 mil pessoas mortas por perfuração causada por disparos são, segundo o Atlas da Violência, vítimas de uma questão "central" do país.
LEIA: Em 15 anos, Brasil matou uma pessoa a cada dez minutos
Com um total de 71,1% de homicídios cometidos com uso de armas de fogo (taxa que cresceu por décadas até 2003, ano da criação do estatuto do desarmamento), o Brasil deixou de ocupar um patamar próximo ao dos vizinhos Chile (37,3%) e Uruguai (46,5%) e hoje se aproxima à El Salvador (76,9%) e Honduras (83,4%). Na Europa, a média é 19,3%.
VEJA: Qual é o número de mortes no seu município?
A relação entre o número de armas de fogo e as mortes violentas, segundo o relatório, é clara. Para ele, sem a atual legislação que impõe restrições às armas, "a taxa de homicídios seria ainda maior que a observada". Isso porque as cidades que mais tiveram aumentos nos homicídios totais também foram que sofreram com maior crescimento de óbitos causados por disparos.