Fundo Nacional de Recuperação do Edificado
Av. 5 de Outubro , 107 Lisboa - Subfundo ImoResidências

Fundo Nacional de Recuperação do Edificado

Em 2015, o Partido Socialista prometia uma “Nova Geração de Políticas de Habitação”.

Em 2016, já como Governo, esta “Nova geração de políticas de habitação” iria na realidade chamar-se Fundo Nacional de Recuperação do Edificado (FNRE) e sua criação foi decidida pela Resolução do Conselho de Ministros nº 48/2016, publicada a 1 de setembro de 2016.

FNRE

Em 22 de Abril de 2019, Pedro Nuno Santos, na apresentação do Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior, proferia estas palavras:

“…foi o Estado que falhou às famílias…”,

“…A mesma “falha do Estado” repetiu-se no alojamento dos estudantes do ensino superior...”

Mas na mesma data, três anos depois da sua apresentação, Pedro Nuno Santos explicava como iria funcionar o FNRE;

Intervenção do Ministro das Infraestruturas e da Habitação na apresentação do Plano de Reabilitação de Património do Estado para Arrendamento Acessível

“Este Fundo, co-tutelado pelo Ministério das Infraestruturas e da Habitação e pelo Ministério das Finanças, tem a nobre missão de reabilitar imóveis públicos para aumentar a oferta de arrendamento acessível nos centros urbanos.”

O Fundo resulta de um importante esforço transversal ao Governo e ao setor público. Envolve diretamente o Ministério do Trabalho e da Solidariedade e da Segurança Social, cujo Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social financiará uma parte do esforço de reabilitação. Mas conta também com toda a Administração Pública, que está a fazer um esforço para identificar património do Estado que possa integrar o Fundo.”

Igualmente, Pedro Nuno Santos explicava no seu discurso as grandes vantagens do FNRE.

O FNRE tinha uma missão:

Reduzir o esforço financeiro das famílias, travar a escalada dos preços no mercado, qualificar a gestão do património público e mostrar que o Estado ao garantir a provisão de serviços essenciais de qualidade, podia ser visto como um instrumento de liberdade.

Portanto, três anos depois da sua apresentação pública o FNRE continuava a ser usado como referência nos discursos mas, na prática nada acontecia.

E qual é a situação?

Em 2019, através do Decreto-Lei n.º 30/2019 de 26 de fevereiro foram identificados edifícios que tinham aptidão para residências estudantis.

Decreto-Lei n.º 30/2019 de 26 de fevereiro

Também no mesmo ano, e pelo Decreto-Lei n.º 94/2019 de 16 de julho, foram identificados 50 imóveis habitacionais para integrar o FNRE ou, eventualmente, os seus sub fundos, entretanto, publicamente anunciados.

Decreto-Lei n.º 94/2019, de 16 de julho

À data de hoje, apenas são conhecidos quatro sub fundos do FNRE em funcionamento (o ImoMadalena, o ImoAveiro, o ImoResidências e o Cabeço da Bola) e, curiosamente, apenas dois deles integram dois imóveis identificados nos Decretos-Lei atrás referidos, sendo que um dos sub fundos, encontra-se neste momento em liquidação – o ImoResidências. O sub fundo ImoMadalena é constituído pelo imóvel da Rua da Madalena, 198 – Lisboa - e este imóvel nem sequer fazia parte da lista inicial publicada em 2019, talvez porque o edifício é propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Sobre o sub fundo ImoAveiro sabemos que é constituído pelo imóvel da Rua Combatentes da Grande Guerra, 68 – Aveiro - e que é propriedade da Direção Geral do Tesouro e Finanças. Também este imóvel não constava nas listas publicadas no Decreto-Lei nº 94/2019 de 16 de julho. Sabemos, também, que neste momento o sub fundo Imoresidências está em liquidação porque o edifício que o integra - o famoso imóvel da Av. 5 de Outubro onde em tempos funcionou o Ministério da Educação - é propriedade da Estamo (Imobiliária do Estado) e não precisa de integrar o FNRE porque vai ser requalificado (ou não!) através das verbas do PRR. Por fim, o sub fundo do Cabeço da Bola, apenas constituído em novembro de 2022, com o imóvel do quartel com o mesmo nome (propriedade da imobiliária do Estado – Estamo), que estava previsto integrar o FNRE desde 2019.

Fundiestamo - FNRE

Volvidos 8 anos os imóveis identificados em Decreto-Lei continuam ao abandono.

O FNRE reabilitou:

  • 0 casas,
  • 0 residências de estudantes,
  • e realizou 0 inventários de imóveis.

Ou seja o FNRE nunca funcionou e nunca cumpriu a sua missão.

Volvidos 4 anos, desde a criação dos primeiros sub fundos em 2019, nenhuma obra realizada nos imóveis que os integravam.

Volvidos 4 anos, o FNRE não integra qualquer imóvel público do inventário do património imobiliário do Estado, prometido em setembro de 2020.

Volvidos 4 anos o FNRE, que prometia casas e residências para estudantes, acabou a desperdiçar recursos financeiros em salários milionários com os gestores e colaboradores da Fundiestamo - 3,387 Milhões € entre 2019-2022.

Ainda não são conhecidas as contas do FNRE para 2023, mas neste momento já não resta muito dos 7,1 milhões € que o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) investiu no FNRE.

Era conveniente perceber as razões deste falhanço para evitar repetir, os mesmos erros, digo eu. 

 

Excelente post sobre o FNRE. A gestão eficiente e o foco no bem-estar social são os pontos chave para o sucesso de políticas habitacionais.

Rui Maio

Manager na BURANO - Engenharia e Construção | Coordenação e Fiscalização Obras

1 a

Eu entendo que num país democrático as opções políticas, quer sejam um sucesso ou fracasso, para além de serem avaliadas pelos eleitores, também deveriam ser descortinadas pelo Tribunal de Contas e após concluírem que houve dolo para o erário público , deveria haver forma de mover um processo crime e condenar esses mesmos políticos, porque concluímos que eles não estão a defender a causa pública, mas a causa de interesses privados e a sociedade não pode branquear esses atos.

Pedro Simões

Founder and Managing Diretor | Acoq

1 a

O PNS agora fala muito em acção...... de tomar decisões..... será? O histórico não indica grandes alterações se for o eleito pelos portugueses.

O Fundo foi criado para dar "job", bem remunerado a alguns "boys". O objetivo, tal como muitos observatórios e autoridades existentes, não interessa. É nisto que se gasta o dinheiro dos cidadãos.

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