S126
1. Professora de Pediatria, Curso de Ciências Médicas, Centro Universitá-
rio Lusíada (UNILUS), Santos, SP.
2. Doutora em Medicina Preventiva pela USP.
Como citar este artigo: Bueno LGS, Teruya KM. Aconselhamento em
amamentação e sua prática. J Pediatr (Rio J). 2004;80(5 Supl):S126-
S130.
Abstract
Objective: To provide health professionals with information on
theory and practice of breastfeeding counseling.
Sources of data: MEDLINE, Bireme library, Lilacs, relevant
Internet websites, scientific journals, technical books, essays, theses,
and national and international publications were selected, studied
and used to provide information on the topic. The most important
sources of data were: a publication by the World Health Organization
(WHO - 1993) and the authors’ experience and clinic practice in the
assistance of mothers, children and families.
Summary of the findings: A trained pediatrician plays an
important role in the increase of breastfeeding rates and its duration.
To improve this performance, in 1993, WHO designed a 40-hour
course using an important didactic strategy aimed at health
professionals and mothers. The goal was to protect, promote and
support maternal nursing. It is a professional way of dealing with the
mother by listening and trying to understand her, offering her help
on planning, taking decisions, and getting strength on how to deal
with pressures, thus increasing her confidence and self-esteem.
Conclusion: Scientific evidences prove the effectiveness of
Breastfeeding Counseling. Moreover, health professional’s knowledge
and practice are very important to increase breastfeeding rates.
J Pediatr (Rio J). 2004;80(5 Supl):S126-S130: Breastfeeding,
counseling, breastfeeding counseling, maternal nursing, medical
education, pediatrician.
Resumo
Objetivo: Proporcionar aos profissionais de saúde informações
referentes ao aconselhamento em amamentação com base em teoria e
prática.
Fontes dos dados: Foram selecionadas, analisadas e utilizadas
informações relevantes ao tema provindos dos sistemas MEDLINE,
Bireme, Lilacs e sites relevantes da Internet, além de revistas científi-
cas, livros técnicos, dissertações e teses e publicações de organismos
nacionais e internacionais. As principais fontes foram: publicações da
Organização Mundial da Saúde (1993) e experiências e vivências
clínicas na assistência a mãe/filho/família das autoras.
Síntese dos dados: O pediatra treinado em “aconselhamento em
amamentação” pode desempenhar papel relevante no aumento das
taxas e duração do aleitamento materno. A principal fonte de treina-
mento é o curso de 40 horas elaborado pela Organização Mundial da
Saúde, em 1993, que emprega uma importante estratégia didática de
comunicação entre profissionais de saúde e a mãe para a proteção,
promoção e apoio ao aleitamento materno. Aconselhamento em ama-
mentação implica o profissional escutar, compreender e oferecer ajuda
às mães que estão amamentando, fortalecendo-as para lidar com
pressões, promovendo sua autoconfiança e auto-estima e preparando-
as para a tomada de decisões.
Conclusão: Evidências científicas comprovam a efetividade do
aconselhamento em amamentação. Seu conhecimento e prática pelos
profissionais de saúde constitui um importante instrumento para o
aumento das taxas e duração da amamentação.
J Pediatr (Rio J). 2004;80(5 Supl):S126-S130: Amamentação,
aconselhamento, aconselhamento em amamentação, aleitamento ma-
terno, educação médica.
Aconselhamento em amamentação e sua prática
The practice of breastfeeding counseling
Lais Graci dos Santos Bueno1, Keiko Miyasaki Teruya2
0021-7557/04/80-05-Supl/S126
Jornal de Pediatria
Copyright © 2004 by Sociedade Brasileira de Pediatria
Introdução
A espécie Homo sapiens – a mais adaptável da escala
zoológica – encontrou desde cedo fontes alternativas ao
leite humano para alimentar sua cria1. Essa prática tem sido
intensamente explorada, levando o homem a distanciar-se
cada vez mais de sua condição de mamífero2. Paga-se um
alto preço por essa quebra de paradigma, pois o leite
materno, além de diminuir o risco de infecção e até mesmo
de morte infantil, aumenta o vínculo mãe-filho, o que
possibilita uma melhor qualidade de vida futura, entre
outras vantagens3-15. O aprimoramento das fontes alterna-
tivas ao leite materno explica o declínio da duração e das
taxas de amamentação no mundo, sobretudo no século
passado16. Nas capitais brasileiras, a mediana de amamen-
tação é de 10 meses. No entanto, a mediana de amamen-
tação exclusiva é de apenas 23 dias, havendo variações
regionais17.
Para reverter essa situação, várias ações têm sido
propostas e implementadas por grupos internacionais, como
a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Fundo das Nações
ARTIGO DE REVISÃO
Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(Supl), 2004 S127
Unidas para a Infância (UNICEF), a Academia Americana de
Pediatria e o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecolo-
gia18-20, e nacionais, tais como o Ministério da Saúde, o
Instituto da Saúde de São Paulo, secretarias de estado21, a
Sociedade Brasileira de Pediatria, dentre outras. Essas
ações incluem educação em amamentação, treinamento de
profissionais de saúde e aconselhamento em amamenta-
ção, entre outras.
Em relação à educação em amamentação, uma pesquisa
da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da OMS
realizada no Brasil em 1994 constatou que os cursos de
medicina, que contam com cerca de 8.345 horas em média,
dedicam apenas 26 horas (0,13% da carga horária total) ao
ensino do aleitamento materno. Desde então, tem havido
progressos quanto à carga horária e ao ensino do manejo do
aleitamento materno, graças aos esforços do Ministério da
Saúde com seus centros de referência em treinamento de
aleitamento e também de alguns dos órgãos citados.
O pediatra treinado em aleitamento materno desempe-
nha um importante papel na promoção da amamentação,
influenciando diretamente sua taxa e duração22-27. Em sua
formação tradicional, o pediatra é treinado para detectar
problemas e resolvê-los; usa, para o seu raciocínio clínico,
a queixa verbalizada pela mãe, porém nem sempre atinge
o problema real vivenciado por ela. A mãe, ao procurá-lo,
traz a expectativa de uma boa assistência e da resolução de
seus problemas, mas freqüentemente não encontra espaço
para expor seus sentimentos e contextualizar suas dificul-
dades, talvez pela falta de domínio do profissional de como
fazer a ponte da teoria à prática. Sendo assim, o momento
entre o pediatra e a mãe (que deveria ser vivido na sua
plenitude) não se efetiva satisfatoriamente. Dentro desse
cenário, com freqüência se observam as seguintes situa-
ções: mães que começam a amamentar de maneira satis-
fatória, mas iniciam a alimentação complementar e/ou
param de amamentar poucas semanas após o parto; e
pediatras, mesmo conhecedores do manejo da amamenta-
ção, que nem sempre conseguem dar ajuda satisfatória.
Saber compreender mais profundamente os problemas
que cercam uma consulta de maneira a diagnosticá-los
corretamente e, assim, ajudar efetivamente uma mãe a
resolver seu problema é o cerne do aconselhamento28. O
aconselhamento em amamentação é uma ferramenta espe-
cialmente recomendada desde 1994 pela Força-Tarefa Ca-
nadense no Cuidado da Saúde Preventiva (CTFPHC) e pela
Força-Tarefa Americana de Serviços Preventivos dos Esta-
dos Unidos (USPSTF). As recomendações são baseadas em
evidências de revisões da efetividade das intervenções de
promoção do aleitamento materno no mundo. As evidências
mostram que as taxas e o tempo de duração da amamen-
tação aumentam quando a mulher recebe aconselhamento
em amamentação29-31.
Aconselhamento
Aconselhamento é definido por McKinney et al.32 como
“uma relação interpessoal na qual o conselheiro assiste o
indivíduo na sua totalidade psíquica a se ajustar mais
efetivamente a si próprio e ao seu ambiente”. É considera-
do, ainda, como “ajuda na tomada de decisões das pessoas
para resolverem os seus próprios problemas, abrangendo
informações objetivas que possibilitam uma melhor utiliza-
ção dos recursos pessoais”33.
É importante entender a diferença entre o simples ato de
aconselhar e aconselhamento. Aconselhar ou dar conselho
é dizer à pessoa o que ela deve fazer; aconselhamento é
uma forma de atuação do profissional com a mãe onde ele
a escuta, procura compreendê-la e, com seus conhecimen-
tos, oferece ajuda para propiciar que a mãe planeje, tome
decisões e se fortaleça para lidar com pressões, aumentan-
do sua autoconfiança e auto-estima28.
Aconselhamento em amamentação no Brasil
Desde 1995 vem sendo implementado o curso de “Acon-
selhamento em Amamentação: um Curso de Treinamento”,
com o suporte do Ministério da Saúde, de secretarias de
saúde e do Instituto de Saúde de São Paulo. O curso nasceu
da iniciativa do Programa de Controle das Doenças Diarréi-
cas (Control of Diarrhoeal Diseases - CDD) em colaboração
com UNICEF/OMS, os quais idealizaram e implantaram o
curso, testado pela primeira vez em 1991 nas Filipinas, em
1992 na Jamaica e em 1993 em Bangladesh. Desde então,
vários países no mundo adotaram esse curso, que tem como
objetivo treinar o profissional de saúde em algumas habili-
dades específicas para facilitar a comunicação e atingir uma
ação construtiva, considerando as bases fisiológicas da
lactação. O curso conta com uma carga horária de 40 horas
e oferece estratégia didática de comunicação entre profis-
sionais de saúde (conselheiros) e a mãe28.
Uma avaliação sobre o curso de aconselhamento em
amamentação feita no Brasil concluiu que os participantes
adquirem habilidades de aconselhamento; porém, para que
os mesmos passem a aplicar o aprendizado na prática, há
necessidade de reforçar o manejo clínico da lactação e
também de uma supervisão continuada34.
As habilidades recomendadas no aconselhamento em
amamentação da OMS/UNICEF são resumidas na Tabela 1.
Aplicações práticas do aconselhamento em
amamentação
Pré-natal com aconselhamento em amamentação
Durante a gestação, a mulher encontra-se numa situa-
ção diferente da habitual, com suas dúvidas, insegurança e
medo. Isso a torna mais sensível e suscetível frente às
pressões de familiares, profissionais de saúde e amigos
quanto à sua capacidade de amamentar. Além disso, a mãe
pode estar em conflito consigo mesma sobre a decisão de
amamentar. Nesse contexto, a mãe pode facilmente perder
sua confiança e auto-estima e estar muito propensa a
oferecer mamadeira ao seu bebê.
A mãe com auto-estima assegurada é capaz de resistir
a pressões contra a amamentação. As seguintes reco-
mendações são particularmente úteis no acompanha-
mento pré-natal:
– Dar muita atenção aos sentimentos da mãe, respeitando
sua opção na escolha do que é melhor para ela e seu filho
Aconselhamento em amamentação e sua prática – Bueno LGS e Teruya KM
S128 Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(supl), 2004
e não induzindo preocupações ou dúvidas sobre sua
capacidade de produzir leite.
– Deixar que a decisão final seja tomada pela mãe e
mostrar que ela é capaz de optar sobre o que é melhor
para ela e seu filho, cabendo ao profissional dar suges-
tões e informações relevantes, com evidências científi-
cas, numa linguagem simples e clara. A mãe sempre tem
o seu saber, cabendo ao profissional compartilhar com
ela seus conhecimentos sobre amamentação.
– Reconhecer o real motivo de sua consulta. A identifi-
cação da queixa real (que nem sempre é a relatada)
é o ponto-chave para sugestões corretas sobre ama-
mentação.
– Corrigir idéias erradas e dar informações corretas de
maneira positiva, sem que soem como críticas. Ao dar
informação, o pediatra se apresenta como um expert no
assunto. Porém, discorrendo excessivamente sobre a
questão, suas informações e sugestões podem não ser
bem compreendidas nem tampouco acatadas pela mãe.
Assim, o importante é selecionar apenas uma ou duas
informações relevantes de modo positivo e de modo tal
que ela perceba o que deve ser modificado, sempre
mantendo uma atitude humilde.
– Fortalecer a compreensão da importância da consulta.
Esta pode ter vários significados para a mãe: interrom-
per a sua rotina, expor seus sentimentos, aguardar
assistência, despender dinheiro e tempo. Uma simples
consulta é sempre muito importante para a mãe que
busca apoio e/ou orientação.
– Estar atento ao comportamento verbal e não-verbal
tanto da mãe quanto do profissional. Este é o primeiro
passo da consulta, que, por vezes, desenvolve-se sem
a percepção da diferença contida nas entrelinhas da
comunicação do olhar sem ver e do ouvir sem escutar.
Mesmo antes de falar ou mesmo sem nada falar, o
profissional pode facilitar a comunicação ou, ao contrá-
rio, provocar o desinteresse da mãe. Assim, a comuni-
cação entre o profissional e a mãe numa consulta pode
ocorrer sem expressão verbal, mas por meio de expres-
são corporal. Com forte convicção, de modo natural e
por uma representação corporal, a seguinte mensagem
deve ser passada para a mãe: “eu estou interessado em
recebê-la e em escutar o que você quer contar para
mim”.
– Manter uma corrente de atenção desde a porta de
entrada do hospital/unidade básica até a saída da mãe.
Nessa atenção se insere o acolhimento, que é o primeiro
passo para o estabelecimento da boa relação médico-
paciente.
Uma técnica utilizada no Centro de Lactação de Santos
(HGA/UNILUS) no acompanhamento pré-natal é a imple-
mentação da dinâmica de grupo33 nas salas de espera com
as gestantes e acompanhantes. A apresentação de todos os
participantes é importante para o aquecimento da reunião.
Todos os participantes devem sentir-se inclusos, com liber-
dade para expor suas dúvidas, aprender com as experiên-
cias e vivências dos outros, resolver os problemas e cons-
truir sua decisão sobre a amamentação. Para atingir um
melhor aproveitamento, o coordenador da dinâmica de
grupo deve lembrar e explicar em linguagem simples as
informações relevantes não mencionadas durante a reu-
nião, sem exceder 30 minutos de duração.
Sala de parto com aconselhamento em amamentação
Na sala de parto existe a recomendação de que mãe e
filho não devem ser separados após o nascimento, a não ser
que exista uma razão médica aceitável35. O pediatra, ao
assistir o recém-nascido (RN) na sala de parto, poderá estar
frente a duas situações quanto ao apoio à amamentação:
parturiente preparada durante o acompanhamento pré-
natal e parturiente não preparada.
Para a parturiente não preparada, recomenda-se uma
fala prévia sobre a relevância do contato precoce (na
primeira hora pós-parto) pele a pele/olhos nos olhos, sendo
sugerido que esse contato ocorra ao nascer. A linguagem
deve ser simples e direta. Termos técnicos podem não ser
entendidos pelas mães. Em vez de dar ordens, deve-se
sempre sugerir. As ordens diminuem a autoconfiança e
desviam a tomada da decisão que cabe à mãe.
Caso a parturiente não preparada aceite a sugestão, a
assistência daí em diante será idêntica à oferecida para
parturientes preparadas. Deve ser oferecido todo apoio e
ajuda prática para que se estabeleça o contato precoce. Por
exemplo: ajudar a mãe a segurar o RN para que o contato
pele a pele ocorra. Uma ajuda prática pode desencadear na
mãe, além de sentimento de gratidão, uma abertura de
comunicação com o profissional. A mãe, ao se sentir
confortável, fica atenta às informações e sugestões do
profissional. Por outro lado, quando a mãe está desconfor-
tável, cansada, com sede ou já recebeu muitas informa-
ções, uma ajuda prática é melhor que muitas palavras.
Tabela 1 - Habilidades para o aconselhamento em amamentação
Habilidades de ouvir e aprender
Use comunicação não-verbal útil
Mantenha a cabeça no mesmo nível
Preste atenção
Remova barreiras
Dedique tempo
Toque de forma apropriada
Faça perguntas abertas
Repita o que a mãe diz com suas palavras
Use expressões e gestos que demonstrem interesse
Demonstre empatia – mostre que você entende como a mãe se
sente
Evite palavras que demonstrem julgamento
Habilidades para aumentar a confiança e dar apoio
Aceite o que a mãe pensa e sente
Reconheça e elogie o que a mãe estiver fazendo certo
Dê ajuda prática
Dê poucas informações, selecionando aquelas que são relevantes
Use linguagem simples
Dê sugestões, e não ordens
Aconselhamento em amamentação e sua prática – Bueno LGS e Teruya KM
Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(Supl), 2004 S129
É imprescindível que seja respeitado o ritmo desenvol-
vido pela mãe e seu filho nesse contato, para assegurar o
sucesso do passo seguinte: a mãe colocar o recém-nascido
para mamar espontaneamente.
Amamentação no alojamento conjunto com
aconselhamento
Quando o profissional de saúde se apresenta com um
sorriso, com um meneio da cabeça, demonstra que está ali
para auxiliar, abrindo um canal de comunicação positivo e
bastante propício para a promoção da amamentação.
No puerpério imediato e nos primeiros dias pós-parto, a
habilidade mais importante do aconselhamento é a ajuda
prática. Por exemplo: observar o entorno da mãe para que
ela se acomode e descanse, além de sentir-se apoiada
(travesseiros, poltronas, cadeiras, oferecer água, provi-
denciar analgésico para dor, etc.).
No alojamento conjunto, outra habilidade importante do
aconselhamento é a empatia. Ela é a chave do processo de
aconselhamento e, ao mesmo tempo, a chave de todo o
trabalho de identificação e compreensão entre pessoas;
trabalha sentimentos, e não apenas conversa sobre eles.
Esse processo visa estimular a autodescoberta da mãe. A
empatia não é um processo mágico, muito embora seja
misterioso. Parece ser de difícil compreensão exatamente
por ser tão comum e fundamental.
Empatia não deve ser confundida com simpatia (que
denota sentir com sentimentalidade); esta, ao invés de
facilitar, pode bloquear a comunicação, deslocando o foco
de atenção da mãe. Na consulta onde prevalece a simpatia,
o pediatra sente pelo que acontece à mãe e olha a situação
sob seu ponto de vista. Já na empatia, ele escuta a mãe e
demonstra a ela que entendeu seus sentimentos, sob do
ponto de vista dela; o foco deve se manter na mãe e em seus
sentimentos. O relacionamento mãe/profissional é fortale-
cido quando a empatia é praticada, a mãe é escutada com
atenção e é elogiada no que faz certo.
Outras habilidades do aconselhamento a serem desen-
volvidas, principalmente para uma melhor observação e
avaliação das mamadas, incluem: sugerir – e não ordenar
– que a mãe coloque o RN para mamar; avaliar uma
mamada inteira, sem demonstrar pressa; e intervir só
quando for solicitado e/ou autorizado pela mãe.
Seguimento da amamentação com aconselhamento
Para a manutenção da amamentação, a mãe precisa
receber apoio e ajuda centrada nas dificuldades específi-
cas ou nas suas crises de autoconfiança. No seguimento,
a atenção ao acolhimento é semelhante à do acompanha-
mento pré-natal. A dinâmica de grupo antes das consultas
oferece às mães informações relevantes, deixando-as
mais tranqüilas e facilitando a comunicação com o profis-
sional durante a assistência.
A ajuda prática também é importante e se traduz em
diferentes fases da assistência, como: ter porteiros trei-
nados para receberem as mães com sorriso e carinho,
indicando o local de assistência; evitar burocracia ou fila
de espera; acomodar as mães de maneira adequada
durante a espera. Outra ajuda prática é estabelecer o
hábito de oferecer às mães lanche, suco ou apenas água.
Após a dinâmica, segue-se uma consulta individual onde
atitudes facilitadoras devem ser utilizadas (Tabela 1).
O modo como as perguntas são formuladas é importan-
te. Perguntas abertas, além de estimular a mãe a falar mais
e a colocar o que realmente sente, racionalizam o tempo de
consulta. As perguntas abertas geralmente iniciam a frase
com as seguintes palavras: “como”, “que”, “quem”, “onde”,
“de que modo”, “em que”, etc. As perguntas fechadas, cujas
respostas se resumem por um “sim” ou “não”, além de
induzir a uma informação imprecisa, podem bloquear a
comunicação. Entretanto, às vezes as perguntas fechadas
são necessárias, como, por exemplo, em: “Fez acompanha-
mento pré-natal?”. Perguntas específicas dão continuidade
à comunicação; exemplo: “Quando você iniciou a amamen-
tação?”. No entanto, às vezes verdadeiras inquisições são
feitas com as mães, obtendo-se respostas inúteis e levan-
do-as a falar menos.
O profissional, ao devolver para a mãe o que ela disse,
demonstra que entendeu o que ela está dizendo. Sendo
assim, ela provavelmente falará mais sobre o assunto e
poderá ajudar a direcionar a conversa para fatos que ele
precisa conhecer mais. Um simples meneio de cabeça,
sorriso ou respostas simples como “Ah é?”, “Aha!”, “Mmm”,
“Nossa!”, “E aí?”, “Sei, sei”, etc. são maneiras de demons-
trar que o profissional está escutando e que a mãe pode
contar com ele, além de estimular a mãe a falar.
Uma mãe que amamenta facilmente perde a confiança
em si mesma e pode se tornar suscetível à pressão de
familiares e conhecidos para que desmame. É importante
que o profissional faça a mãe se sentir confiante e bem
consigo mesma, evitando o emprego de certas palavras
(certo, errado, bem, mal, bastante, adequado, direitinho,
normalmente, suficiente, problema) que podem ter conota-
ção de julgamento.
Todas as habilidades do aconselhamento devem ser
atentamente usadas na consulta, com ênfase na empatia:
aceitar o que a mãe diz, não julgá-la, não “cobrar” dela
posturas e atitudes frente à amamentação, elogiar, infor-
mar e sugerir para que a mãe possa decidir o que é melhor
para o seu filho.
A passagem da ponte do conhecimento do profissional à
mãe é uma tarefa árdua a ser vencida. O profissional deve
estar sempre alerta e preparado para modificações na sua
rotina e postura e lembrar que, mesmo errando, é importan-
te procurar acertar. Mudar o paradigma do atendimento
com a ajuda do aconselhamento em amamentação é um
desafio que deve ser enfrentado e vencido.
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Correspondência:
Keiko Miyasaki Teruya
Rua Piauí, 32
CEP 11065-420 - Santos, SP
Fone: (13) 3202.1355/3237.3322
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Aconselhamento em amamentação e sua prática – Bueno LGS e Teruya KM

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Aconselhamento em Amamentação: prática efetiva?

  • 1. S126 1. Professora de Pediatria, Curso de Ciências Médicas, Centro Universitá- rio Lusíada (UNILUS), Santos, SP. 2. Doutora em Medicina Preventiva pela USP. Como citar este artigo: Bueno LGS, Teruya KM. Aconselhamento em amamentação e sua prática. J Pediatr (Rio J). 2004;80(5 Supl):S126- S130. Abstract Objective: To provide health professionals with information on theory and practice of breastfeeding counseling. Sources of data: MEDLINE, Bireme library, Lilacs, relevant Internet websites, scientific journals, technical books, essays, theses, and national and international publications were selected, studied and used to provide information on the topic. The most important sources of data were: a publication by the World Health Organization (WHO - 1993) and the authors’ experience and clinic practice in the assistance of mothers, children and families. Summary of the findings: A trained pediatrician plays an important role in the increase of breastfeeding rates and its duration. To improve this performance, in 1993, WHO designed a 40-hour course using an important didactic strategy aimed at health professionals and mothers. The goal was to protect, promote and support maternal nursing. It is a professional way of dealing with the mother by listening and trying to understand her, offering her help on planning, taking decisions, and getting strength on how to deal with pressures, thus increasing her confidence and self-esteem. Conclusion: Scientific evidences prove the effectiveness of Breastfeeding Counseling. Moreover, health professional’s knowledge and practice are very important to increase breastfeeding rates. J Pediatr (Rio J). 2004;80(5 Supl):S126-S130: Breastfeeding, counseling, breastfeeding counseling, maternal nursing, medical education, pediatrician. Resumo Objetivo: Proporcionar aos profissionais de saúde informações referentes ao aconselhamento em amamentação com base em teoria e prática. Fontes dos dados: Foram selecionadas, analisadas e utilizadas informações relevantes ao tema provindos dos sistemas MEDLINE, Bireme, Lilacs e sites relevantes da Internet, além de revistas científi- cas, livros técnicos, dissertações e teses e publicações de organismos nacionais e internacionais. As principais fontes foram: publicações da Organização Mundial da Saúde (1993) e experiências e vivências clínicas na assistência a mãe/filho/família das autoras. Síntese dos dados: O pediatra treinado em “aconselhamento em amamentação” pode desempenhar papel relevante no aumento das taxas e duração do aleitamento materno. A principal fonte de treina- mento é o curso de 40 horas elaborado pela Organização Mundial da Saúde, em 1993, que emprega uma importante estratégia didática de comunicação entre profissionais de saúde e a mãe para a proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno. Aconselhamento em ama- mentação implica o profissional escutar, compreender e oferecer ajuda às mães que estão amamentando, fortalecendo-as para lidar com pressões, promovendo sua autoconfiança e auto-estima e preparando- as para a tomada de decisões. Conclusão: Evidências científicas comprovam a efetividade do aconselhamento em amamentação. Seu conhecimento e prática pelos profissionais de saúde constitui um importante instrumento para o aumento das taxas e duração da amamentação. J Pediatr (Rio J). 2004;80(5 Supl):S126-S130: Amamentação, aconselhamento, aconselhamento em amamentação, aleitamento ma- terno, educação médica. Aconselhamento em amamentação e sua prática The practice of breastfeeding counseling Lais Graci dos Santos Bueno1, Keiko Miyasaki Teruya2 0021-7557/04/80-05-Supl/S126 Jornal de Pediatria Copyright © 2004 by Sociedade Brasileira de Pediatria Introdução A espécie Homo sapiens – a mais adaptável da escala zoológica – encontrou desde cedo fontes alternativas ao leite humano para alimentar sua cria1. Essa prática tem sido intensamente explorada, levando o homem a distanciar-se cada vez mais de sua condição de mamífero2. Paga-se um alto preço por essa quebra de paradigma, pois o leite materno, além de diminuir o risco de infecção e até mesmo de morte infantil, aumenta o vínculo mãe-filho, o que possibilita uma melhor qualidade de vida futura, entre outras vantagens3-15. O aprimoramento das fontes alterna- tivas ao leite materno explica o declínio da duração e das taxas de amamentação no mundo, sobretudo no século passado16. Nas capitais brasileiras, a mediana de amamen- tação é de 10 meses. No entanto, a mediana de amamen- tação exclusiva é de apenas 23 dias, havendo variações regionais17. Para reverter essa situação, várias ações têm sido propostas e implementadas por grupos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Fundo das Nações ARTIGO DE REVISÃO
  • 2. Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(Supl), 2004 S127 Unidas para a Infância (UNICEF), a Academia Americana de Pediatria e o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecolo- gia18-20, e nacionais, tais como o Ministério da Saúde, o Instituto da Saúde de São Paulo, secretarias de estado21, a Sociedade Brasileira de Pediatria, dentre outras. Essas ações incluem educação em amamentação, treinamento de profissionais de saúde e aconselhamento em amamenta- ção, entre outras. Em relação à educação em amamentação, uma pesquisa da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da OMS realizada no Brasil em 1994 constatou que os cursos de medicina, que contam com cerca de 8.345 horas em média, dedicam apenas 26 horas (0,13% da carga horária total) ao ensino do aleitamento materno. Desde então, tem havido progressos quanto à carga horária e ao ensino do manejo do aleitamento materno, graças aos esforços do Ministério da Saúde com seus centros de referência em treinamento de aleitamento e também de alguns dos órgãos citados. O pediatra treinado em aleitamento materno desempe- nha um importante papel na promoção da amamentação, influenciando diretamente sua taxa e duração22-27. Em sua formação tradicional, o pediatra é treinado para detectar problemas e resolvê-los; usa, para o seu raciocínio clínico, a queixa verbalizada pela mãe, porém nem sempre atinge o problema real vivenciado por ela. A mãe, ao procurá-lo, traz a expectativa de uma boa assistência e da resolução de seus problemas, mas freqüentemente não encontra espaço para expor seus sentimentos e contextualizar suas dificul- dades, talvez pela falta de domínio do profissional de como fazer a ponte da teoria à prática. Sendo assim, o momento entre o pediatra e a mãe (que deveria ser vivido na sua plenitude) não se efetiva satisfatoriamente. Dentro desse cenário, com freqüência se observam as seguintes situa- ções: mães que começam a amamentar de maneira satis- fatória, mas iniciam a alimentação complementar e/ou param de amamentar poucas semanas após o parto; e pediatras, mesmo conhecedores do manejo da amamenta- ção, que nem sempre conseguem dar ajuda satisfatória. Saber compreender mais profundamente os problemas que cercam uma consulta de maneira a diagnosticá-los corretamente e, assim, ajudar efetivamente uma mãe a resolver seu problema é o cerne do aconselhamento28. O aconselhamento em amamentação é uma ferramenta espe- cialmente recomendada desde 1994 pela Força-Tarefa Ca- nadense no Cuidado da Saúde Preventiva (CTFPHC) e pela Força-Tarefa Americana de Serviços Preventivos dos Esta- dos Unidos (USPSTF). As recomendações são baseadas em evidências de revisões da efetividade das intervenções de promoção do aleitamento materno no mundo. As evidências mostram que as taxas e o tempo de duração da amamen- tação aumentam quando a mulher recebe aconselhamento em amamentação29-31. Aconselhamento Aconselhamento é definido por McKinney et al.32 como “uma relação interpessoal na qual o conselheiro assiste o indivíduo na sua totalidade psíquica a se ajustar mais efetivamente a si próprio e ao seu ambiente”. É considera- do, ainda, como “ajuda na tomada de decisões das pessoas para resolverem os seus próprios problemas, abrangendo informações objetivas que possibilitam uma melhor utiliza- ção dos recursos pessoais”33. É importante entender a diferença entre o simples ato de aconselhar e aconselhamento. Aconselhar ou dar conselho é dizer à pessoa o que ela deve fazer; aconselhamento é uma forma de atuação do profissional com a mãe onde ele a escuta, procura compreendê-la e, com seus conhecimen- tos, oferece ajuda para propiciar que a mãe planeje, tome decisões e se fortaleça para lidar com pressões, aumentan- do sua autoconfiança e auto-estima28. Aconselhamento em amamentação no Brasil Desde 1995 vem sendo implementado o curso de “Acon- selhamento em Amamentação: um Curso de Treinamento”, com o suporte do Ministério da Saúde, de secretarias de saúde e do Instituto de Saúde de São Paulo. O curso nasceu da iniciativa do Programa de Controle das Doenças Diarréi- cas (Control of Diarrhoeal Diseases - CDD) em colaboração com UNICEF/OMS, os quais idealizaram e implantaram o curso, testado pela primeira vez em 1991 nas Filipinas, em 1992 na Jamaica e em 1993 em Bangladesh. Desde então, vários países no mundo adotaram esse curso, que tem como objetivo treinar o profissional de saúde em algumas habili- dades específicas para facilitar a comunicação e atingir uma ação construtiva, considerando as bases fisiológicas da lactação. O curso conta com uma carga horária de 40 horas e oferece estratégia didática de comunicação entre profis- sionais de saúde (conselheiros) e a mãe28. Uma avaliação sobre o curso de aconselhamento em amamentação feita no Brasil concluiu que os participantes adquirem habilidades de aconselhamento; porém, para que os mesmos passem a aplicar o aprendizado na prática, há necessidade de reforçar o manejo clínico da lactação e também de uma supervisão continuada34. As habilidades recomendadas no aconselhamento em amamentação da OMS/UNICEF são resumidas na Tabela 1. Aplicações práticas do aconselhamento em amamentação Pré-natal com aconselhamento em amamentação Durante a gestação, a mulher encontra-se numa situa- ção diferente da habitual, com suas dúvidas, insegurança e medo. Isso a torna mais sensível e suscetível frente às pressões de familiares, profissionais de saúde e amigos quanto à sua capacidade de amamentar. Além disso, a mãe pode estar em conflito consigo mesma sobre a decisão de amamentar. Nesse contexto, a mãe pode facilmente perder sua confiança e auto-estima e estar muito propensa a oferecer mamadeira ao seu bebê. A mãe com auto-estima assegurada é capaz de resistir a pressões contra a amamentação. As seguintes reco- mendações são particularmente úteis no acompanha- mento pré-natal: – Dar muita atenção aos sentimentos da mãe, respeitando sua opção na escolha do que é melhor para ela e seu filho Aconselhamento em amamentação e sua prática – Bueno LGS e Teruya KM
  • 3. S128 Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(supl), 2004 e não induzindo preocupações ou dúvidas sobre sua capacidade de produzir leite. – Deixar que a decisão final seja tomada pela mãe e mostrar que ela é capaz de optar sobre o que é melhor para ela e seu filho, cabendo ao profissional dar suges- tões e informações relevantes, com evidências científi- cas, numa linguagem simples e clara. A mãe sempre tem o seu saber, cabendo ao profissional compartilhar com ela seus conhecimentos sobre amamentação. – Reconhecer o real motivo de sua consulta. A identifi- cação da queixa real (que nem sempre é a relatada) é o ponto-chave para sugestões corretas sobre ama- mentação. – Corrigir idéias erradas e dar informações corretas de maneira positiva, sem que soem como críticas. Ao dar informação, o pediatra se apresenta como um expert no assunto. Porém, discorrendo excessivamente sobre a questão, suas informações e sugestões podem não ser bem compreendidas nem tampouco acatadas pela mãe. Assim, o importante é selecionar apenas uma ou duas informações relevantes de modo positivo e de modo tal que ela perceba o que deve ser modificado, sempre mantendo uma atitude humilde. – Fortalecer a compreensão da importância da consulta. Esta pode ter vários significados para a mãe: interrom- per a sua rotina, expor seus sentimentos, aguardar assistência, despender dinheiro e tempo. Uma simples consulta é sempre muito importante para a mãe que busca apoio e/ou orientação. – Estar atento ao comportamento verbal e não-verbal tanto da mãe quanto do profissional. Este é o primeiro passo da consulta, que, por vezes, desenvolve-se sem a percepção da diferença contida nas entrelinhas da comunicação do olhar sem ver e do ouvir sem escutar. Mesmo antes de falar ou mesmo sem nada falar, o profissional pode facilitar a comunicação ou, ao contrá- rio, provocar o desinteresse da mãe. Assim, a comuni- cação entre o profissional e a mãe numa consulta pode ocorrer sem expressão verbal, mas por meio de expres- são corporal. Com forte convicção, de modo natural e por uma representação corporal, a seguinte mensagem deve ser passada para a mãe: “eu estou interessado em recebê-la e em escutar o que você quer contar para mim”. – Manter uma corrente de atenção desde a porta de entrada do hospital/unidade básica até a saída da mãe. Nessa atenção se insere o acolhimento, que é o primeiro passo para o estabelecimento da boa relação médico- paciente. Uma técnica utilizada no Centro de Lactação de Santos (HGA/UNILUS) no acompanhamento pré-natal é a imple- mentação da dinâmica de grupo33 nas salas de espera com as gestantes e acompanhantes. A apresentação de todos os participantes é importante para o aquecimento da reunião. Todos os participantes devem sentir-se inclusos, com liber- dade para expor suas dúvidas, aprender com as experiên- cias e vivências dos outros, resolver os problemas e cons- truir sua decisão sobre a amamentação. Para atingir um melhor aproveitamento, o coordenador da dinâmica de grupo deve lembrar e explicar em linguagem simples as informações relevantes não mencionadas durante a reu- nião, sem exceder 30 minutos de duração. Sala de parto com aconselhamento em amamentação Na sala de parto existe a recomendação de que mãe e filho não devem ser separados após o nascimento, a não ser que exista uma razão médica aceitável35. O pediatra, ao assistir o recém-nascido (RN) na sala de parto, poderá estar frente a duas situações quanto ao apoio à amamentação: parturiente preparada durante o acompanhamento pré- natal e parturiente não preparada. Para a parturiente não preparada, recomenda-se uma fala prévia sobre a relevância do contato precoce (na primeira hora pós-parto) pele a pele/olhos nos olhos, sendo sugerido que esse contato ocorra ao nascer. A linguagem deve ser simples e direta. Termos técnicos podem não ser entendidos pelas mães. Em vez de dar ordens, deve-se sempre sugerir. As ordens diminuem a autoconfiança e desviam a tomada da decisão que cabe à mãe. Caso a parturiente não preparada aceite a sugestão, a assistência daí em diante será idêntica à oferecida para parturientes preparadas. Deve ser oferecido todo apoio e ajuda prática para que se estabeleça o contato precoce. Por exemplo: ajudar a mãe a segurar o RN para que o contato pele a pele ocorra. Uma ajuda prática pode desencadear na mãe, além de sentimento de gratidão, uma abertura de comunicação com o profissional. A mãe, ao se sentir confortável, fica atenta às informações e sugestões do profissional. Por outro lado, quando a mãe está desconfor- tável, cansada, com sede ou já recebeu muitas informa- ções, uma ajuda prática é melhor que muitas palavras. Tabela 1 - Habilidades para o aconselhamento em amamentação Habilidades de ouvir e aprender Use comunicação não-verbal útil Mantenha a cabeça no mesmo nível Preste atenção Remova barreiras Dedique tempo Toque de forma apropriada Faça perguntas abertas Repita o que a mãe diz com suas palavras Use expressões e gestos que demonstrem interesse Demonstre empatia – mostre que você entende como a mãe se sente Evite palavras que demonstrem julgamento Habilidades para aumentar a confiança e dar apoio Aceite o que a mãe pensa e sente Reconheça e elogie o que a mãe estiver fazendo certo Dê ajuda prática Dê poucas informações, selecionando aquelas que são relevantes Use linguagem simples Dê sugestões, e não ordens Aconselhamento em amamentação e sua prática – Bueno LGS e Teruya KM
  • 4. Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5(Supl), 2004 S129 É imprescindível que seja respeitado o ritmo desenvol- vido pela mãe e seu filho nesse contato, para assegurar o sucesso do passo seguinte: a mãe colocar o recém-nascido para mamar espontaneamente. Amamentação no alojamento conjunto com aconselhamento Quando o profissional de saúde se apresenta com um sorriso, com um meneio da cabeça, demonstra que está ali para auxiliar, abrindo um canal de comunicação positivo e bastante propício para a promoção da amamentação. No puerpério imediato e nos primeiros dias pós-parto, a habilidade mais importante do aconselhamento é a ajuda prática. Por exemplo: observar o entorno da mãe para que ela se acomode e descanse, além de sentir-se apoiada (travesseiros, poltronas, cadeiras, oferecer água, provi- denciar analgésico para dor, etc.). No alojamento conjunto, outra habilidade importante do aconselhamento é a empatia. Ela é a chave do processo de aconselhamento e, ao mesmo tempo, a chave de todo o trabalho de identificação e compreensão entre pessoas; trabalha sentimentos, e não apenas conversa sobre eles. Esse processo visa estimular a autodescoberta da mãe. A empatia não é um processo mágico, muito embora seja misterioso. Parece ser de difícil compreensão exatamente por ser tão comum e fundamental. Empatia não deve ser confundida com simpatia (que denota sentir com sentimentalidade); esta, ao invés de facilitar, pode bloquear a comunicação, deslocando o foco de atenção da mãe. Na consulta onde prevalece a simpatia, o pediatra sente pelo que acontece à mãe e olha a situação sob seu ponto de vista. Já na empatia, ele escuta a mãe e demonstra a ela que entendeu seus sentimentos, sob do ponto de vista dela; o foco deve se manter na mãe e em seus sentimentos. O relacionamento mãe/profissional é fortale- cido quando a empatia é praticada, a mãe é escutada com atenção e é elogiada no que faz certo. Outras habilidades do aconselhamento a serem desen- volvidas, principalmente para uma melhor observação e avaliação das mamadas, incluem: sugerir – e não ordenar – que a mãe coloque o RN para mamar; avaliar uma mamada inteira, sem demonstrar pressa; e intervir só quando for solicitado e/ou autorizado pela mãe. Seguimento da amamentação com aconselhamento Para a manutenção da amamentação, a mãe precisa receber apoio e ajuda centrada nas dificuldades específi- cas ou nas suas crises de autoconfiança. No seguimento, a atenção ao acolhimento é semelhante à do acompanha- mento pré-natal. A dinâmica de grupo antes das consultas oferece às mães informações relevantes, deixando-as mais tranqüilas e facilitando a comunicação com o profis- sional durante a assistência. A ajuda prática também é importante e se traduz em diferentes fases da assistência, como: ter porteiros trei- nados para receberem as mães com sorriso e carinho, indicando o local de assistência; evitar burocracia ou fila de espera; acomodar as mães de maneira adequada durante a espera. Outra ajuda prática é estabelecer o hábito de oferecer às mães lanche, suco ou apenas água. Após a dinâmica, segue-se uma consulta individual onde atitudes facilitadoras devem ser utilizadas (Tabela 1). O modo como as perguntas são formuladas é importan- te. Perguntas abertas, além de estimular a mãe a falar mais e a colocar o que realmente sente, racionalizam o tempo de consulta. As perguntas abertas geralmente iniciam a frase com as seguintes palavras: “como”, “que”, “quem”, “onde”, “de que modo”, “em que”, etc. As perguntas fechadas, cujas respostas se resumem por um “sim” ou “não”, além de induzir a uma informação imprecisa, podem bloquear a comunicação. Entretanto, às vezes as perguntas fechadas são necessárias, como, por exemplo, em: “Fez acompanha- mento pré-natal?”. Perguntas específicas dão continuidade à comunicação; exemplo: “Quando você iniciou a amamen- tação?”. No entanto, às vezes verdadeiras inquisições são feitas com as mães, obtendo-se respostas inúteis e levan- do-as a falar menos. O profissional, ao devolver para a mãe o que ela disse, demonstra que entendeu o que ela está dizendo. Sendo assim, ela provavelmente falará mais sobre o assunto e poderá ajudar a direcionar a conversa para fatos que ele precisa conhecer mais. Um simples meneio de cabeça, sorriso ou respostas simples como “Ah é?”, “Aha!”, “Mmm”, “Nossa!”, “E aí?”, “Sei, sei”, etc. são maneiras de demons- trar que o profissional está escutando e que a mãe pode contar com ele, além de estimular a mãe a falar. Uma mãe que amamenta facilmente perde a confiança em si mesma e pode se tornar suscetível à pressão de familiares e conhecidos para que desmame. É importante que o profissional faça a mãe se sentir confiante e bem consigo mesma, evitando o emprego de certas palavras (certo, errado, bem, mal, bastante, adequado, direitinho, normalmente, suficiente, problema) que podem ter conota- ção de julgamento. Todas as habilidades do aconselhamento devem ser atentamente usadas na consulta, com ênfase na empatia: aceitar o que a mãe diz, não julgá-la, não “cobrar” dela posturas e atitudes frente à amamentação, elogiar, infor- mar e sugerir para que a mãe possa decidir o que é melhor para o seu filho. A passagem da ponte do conhecimento do profissional à mãe é uma tarefa árdua a ser vencida. O profissional deve estar sempre alerta e preparado para modificações na sua rotina e postura e lembrar que, mesmo errando, é importan- te procurar acertar. Mudar o paradigma do atendimento com a ajuda do aconselhamento em amamentação é um desafio que deve ser enfrentado e vencido. Referências 1. 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