Amor é um fogo …


 Luís Vaz de Camões
Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

 Luís Vaz de Camões
 O que é que o sujeito poético pretende com este
 soneto?
 Qual é a palavra / elemento lexical que nos
 transmite a impressão de definição?
 Amor, s.m. Afeição profunda de uma pessoa a
 outra.

 O que é se procura nesta definição:
a objetividade ou a subjetividade?
 Numa definição procura-se a objetividade , o
 consenso, o sentido denotativo.



 Foi isso que fez o sujeito poético?
elementos identificados com o AMOR:




 Amor é:

          o   um fogo que arde
          o   ferida que dói
          o   um contentamento
          o   dor
          o   um não querer mais
          o   um andar solitário
          o   um nunca contentar-se
          o   um cuidar que ganha
          o   querer estar preso
          o   servir a quem vence
          o   ter lealdade


 Qual é a figura de estilo que subjaz a toda esta
  enumeração?
 Qual é a importância deste recurso estilístico
 na construção do soneto?

 É mais expressivo dizer:


        “O Amor é como um fogo”?
                   Ou
             “Amor é fogo”?
 Amor é:

   um fogo que arde
   ferida que dói
   um contentamento         Trata-se de um
   dor                      entendimento
   um não querer mais
                             original do amor?
   um andar solitário
   um nunca contentar-se
   um cuidar que ganha
   querer estar preso
   servir a quem vence
   ter lealdade
 Como é que se consegue inovar?


 O poeta desenvolve a definição de Amor através de
 um pensamento antitético. A antítese é uma figura de
 estilo pela qual se aproximam dois pensamentos de
 sentido contrário (triste e leda, branco e preto, dia e
 noite).

 O oxímoro (oxy – agudamente + morós - néscio)
 consiste na fusão num só enunciado de dois
 pensamentos que se excluem mutuamente. Espécie
 de antítese concentrada ou reforçada (ex. ilustre
 desconhecido) (expressão de um paradoxo)
Fogo que arde            Manifestação      Invisível                Sem se ver

Ferida que dói            Sofrimento       Insensível            E não se sente

Contentamento             Felicidade       Infeliz               Descontente

Dor que desatina          Sofrimento       Indolor               Sem doer

Não querer mais           Humildade        Ambiciosa             De bem querer

Andar solitário           Isolamento       Acompanhado           Entre a gente

Nunca contentar-se       Insatisfação      Satisfeita            De contente

Cuidar que ganha            ilusão         Frustrada/ desfeita   Em se perder

Querer estar preso        liberdade        Limitada              Por vontade

É o vencedor servir   Devoção/ dedicação   Imerecida             A quem vence

Ter lealdade              fidelidade       Traída                Com quem nos mata
Mas como causar pode seu favor
   Nos corações humanos amizade,
   Se tão contrário a si é o mesmo Amor?



“Mas” – a conjunção adversativa provoca um corte com o que anteriormente foi
  dito.

1ª parte: definição do Amor | 2ª parte: chave de ouro – conclusão.

1ª quadra :   sentimento - deseja explicitar o amor enquanto sentimento
               Nomes concretos / nomes abstractos {estatismo}
2ª quadra : ponto de vista de quem ama - amador
              Infinitivos substantivados{dinamismo}
1º terceto: relação (subentendida) entre duas pessoas:
                               está-se preso a alguém
                                serve-se um vencido
                             é-se leal a quem nos mata
2º terceto: complexidade do AMOR – SENTIMENTO CONTRÁRIO A SI MESMO

um (artigo indefinido)  parte, diversidade
mesmo  todo, unidade
Plano morfológico


Amor é um fogo que arde sem
    se ver,
É ferida que dói, e não se sente;    Princípio e fim: Amor
É um contentamento
    descontente,                     Repetições:
É dor que desatina sem doer.            Amor – 2 vezes
É um não querer mais que bem            É – vezes
   querer;
É um andar solitário entre a            Que – 5
   gente;
                                        Um- 5
É nunca contentar-se de
   contente;
                                        É – 12 vezes
É um cuidar que ganha em se
   perder.                              Relação um / mesmo
É querer estar preso por                coincidentia
    vontade;                              oppositorum
É servir a quem vence, o
    vencedor;
É ter com quem nos mata,
    lealdade.

Mas como causar pode seu
  favor
Plano Fonológico


Amor é um fogo que arde sem
    se ver,                         Amor é um fogo que arde sem
                                        se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
                                    É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento
    descontente,                    É um contentamento
                                        descontente,
É dor que desatina sem doer.
                                    É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem
   querer;                          É um não querer mais que bem
                                       querer;
É um andar solitário entre a
   gente;                           É um andar solitário entre a
                                       gente;
É nunca contentar-se de
   contente;                        É nunca contentar-se de
                                       contente;
É um cuidar que ganha em se
   perder.                          É um cuidar que ganha em se
                                       perder.

É querer estar preso por
    vontade;                        É querer estar preso por
                                        vontade;
É servir a quem vence, o
    vencedor;                       É servir a quem vence, o
                                        vencedor;
É ter com quem nos mata,
    lealdade.                       É ter com quem nos
                                        mata, lealdade.

Mas como causar pode seu
  favor                             Mas como causar pode seu
«Odi et amo,
 quare id faciam,
fortasse requiris
 Nescio, sed fieri sentio et excrucior»
Catulo

            Odeio e amo,
            porquê,
            perguntar-me-ás
            Não o sei, mas é assim que o sinto e sofro).

Amor é um fogo

  • 1.
    Amor é umfogo … Luís Vaz de Camões
  • 2.
    Amor é umfogo que arde sem se ver, É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente, É dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; É um andar solitário entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor?  Luís Vaz de Camões
  • 3.
     O queé que o sujeito poético pretende com este soneto?
  • 4.
     Qual éa palavra / elemento lexical que nos transmite a impressão de definição?
  • 5.
     Amor, s.m.Afeição profunda de uma pessoa a outra.  O que é se procura nesta definição: a objetividade ou a subjetividade?
  • 6.
     Numa definiçãoprocura-se a objetividade , o consenso, o sentido denotativo.  Foi isso que fez o sujeito poético?
  • 7.
    elementos identificados como AMOR:  Amor é: o um fogo que arde o ferida que dói o um contentamento o dor o um não querer mais o um andar solitário o um nunca contentar-se o um cuidar que ganha o querer estar preso o servir a quem vence o ter lealdade  Qual é a figura de estilo que subjaz a toda esta enumeração?
  • 8.
     Qual éa importância deste recurso estilístico na construção do soneto?  É mais expressivo dizer: “O Amor é como um fogo”? Ou “Amor é fogo”?
  • 9.
     Amor é:  um fogo que arde  ferida que dói  um contentamento  Trata-se de um  dor entendimento  um não querer mais original do amor?  um andar solitário  um nunca contentar-se  um cuidar que ganha  querer estar preso  servir a quem vence  ter lealdade
  • 10.
     Como éque se consegue inovar?  O poeta desenvolve a definição de Amor através de um pensamento antitético. A antítese é uma figura de estilo pela qual se aproximam dois pensamentos de sentido contrário (triste e leda, branco e preto, dia e noite).  O oxímoro (oxy – agudamente + morós - néscio) consiste na fusão num só enunciado de dois pensamentos que se excluem mutuamente. Espécie de antítese concentrada ou reforçada (ex. ilustre desconhecido) (expressão de um paradoxo)
  • 11.
    Fogo que arde Manifestação Invisível Sem se ver Ferida que dói Sofrimento Insensível E não se sente Contentamento Felicidade Infeliz Descontente Dor que desatina Sofrimento Indolor Sem doer Não querer mais Humildade Ambiciosa De bem querer Andar solitário Isolamento Acompanhado Entre a gente Nunca contentar-se Insatisfação Satisfeita De contente Cuidar que ganha ilusão Frustrada/ desfeita Em se perder Querer estar preso liberdade Limitada Por vontade É o vencedor servir Devoção/ dedicação Imerecida A quem vence Ter lealdade fidelidade Traída Com quem nos mata
  • 12.
    Mas como causarpode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor? “Mas” – a conjunção adversativa provoca um corte com o que anteriormente foi dito. 1ª parte: definição do Amor | 2ª parte: chave de ouro – conclusão. 1ª quadra : sentimento - deseja explicitar o amor enquanto sentimento Nomes concretos / nomes abstractos {estatismo} 2ª quadra : ponto de vista de quem ama - amador Infinitivos substantivados{dinamismo} 1º terceto: relação (subentendida) entre duas pessoas: está-se preso a alguém serve-se um vencido é-se leal a quem nos mata 2º terceto: complexidade do AMOR – SENTIMENTO CONTRÁRIO A SI MESMO um (artigo indefinido)  parte, diversidade mesmo  todo, unidade
  • 13.
    Plano morfológico Amor éum fogo que arde sem se ver, É ferida que dói, e não se sente;  Princípio e fim: Amor É um contentamento descontente,  Repetições: É dor que desatina sem doer.  Amor – 2 vezes É um não querer mais que bem  É – vezes querer; É um andar solitário entre a  Que – 5 gente;  Um- 5 É nunca contentar-se de contente;  É – 12 vezes É um cuidar que ganha em se perder.  Relação um / mesmo É querer estar preso por  coincidentia vontade; oppositorum É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor
  • 14.
    Plano Fonológico Amor éum fogo que arde sem se ver, Amor é um fogo que arde sem se ver, É ferida que dói, e não se sente; É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente, É um contentamento descontente, É dor que desatina sem doer. É dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; É um não querer mais que bem querer; É um andar solitário entre a gente; É um andar solitário entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É nunca contentar-se de contente; É um cuidar que ganha em se perder. É um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata, lealdade. É ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor Mas como causar pode seu
  • 15.
    «Odi et amo, quare id faciam, fortasse requiris Nescio, sed fieri sentio et excrucior» Catulo Odeio e amo, porquê, perguntar-me-ás Não o sei, mas é assim que o sinto e sofro).