FORMAS DE TRATAMENTO E
ESTRUTURAS SOCIAIS
BIDERMAN, M. T. C. Formas de tratamento e estruturas sociais. Alfa.
Marília, 18(19): 339-381,1972/73.
Doutorandas: Lorena Rodrigues
Raquel Costa
Introducão̧
Brown e Gilman "The Pronouns of Power and Solidarity"
constitui um marco na sociolinguística americana
contemporanea - aŝ formas de tratamento, relacionando-
as com as estruturas sociais nas sociedades latinas, -
Península Ibérica e na América Latina.
I. Brown e Gilman - sociedade é polarizada entre duas
forcas:̧ o poder e a solidariedade. Nos tempos modernos
- a solidariedade. Pronomes de tratamento em
sociedades modernas ocidentais - ingles, frances,̂ ̂
italiano, espanhol e alemão e outras línguas da Europa,
África e índia.
Na Idade Média - sociedades fechadas que imperaram outrora
na Europa
Índia - Dhanesh K. J a i n evidencia a força da
semantica do poder na sua sociedade indiana - Ô
"status" social determina as regras que devem ser
observadas por cada um deles. relacão simétrica Ȩ
assimétrica.
Relações simétricas e assimétricas (líder religioso e rei -
topo da hierarquia social; homem-mulher)
Na Europa, nos séculos que se seguiram à Idade Média,
preservaram-se costumes do passado e os sinais linguísticos̈
que veiculavam essas formas de comportamento. Um fóssil
desse passado aristocrático pode ser reconhecido em todas as
sociedades ocidentais que se nutriram da m ã e Europa: a
etiqueta.
II. A) 1 . N a Romania medieval̂
A estrutura social exibia tres distintos "status": a nobreza, ô
clero e o povo
Relacão assimétrica: entre os dois sexos e pais e filhos.̧
➔ Frei Antonio Brandão, Na Cronica de D. Afonso Henriques,̂ ̂
fornece curiosas informacões sobre tratamentos e poder: noş
comecos das monarquias lusitana e castelhana, só se usava o̧
título de Dom (rei e seus filhos legítimos) - Dom > dominus >
senhor
➔ Final do século X I I, os cronistas comecam a usá-lo referindo̧
aos ricos-homens e senhores feudais, embora
impropriamente.
➔ No século XIII se generaliza ainda mais. Nesse tempo
multiplicaram-se os títulos de conde, marques e duque e, juntô
com esses, o de Dom. A nobreza amplia, os privilégios
estendem-se a mais e mais indivíduos; por conseguinte, se
desgastam.
➔ Século XVIII - não distingue apenas nobres.
➔ Século X I X - Juan de Arona satirizava a extensão do título de
Dom até mesmo à criadagem de Lima, muitos deles
descendentes de escravos. Atribui tal paradoxo aos "males
2. Na Idade Média - um conjunto simples de formas de tratamento
a) A Renascenca – Itália - desenvolveram um maneirismo de tratamento̧
complexo entre a senhoria local e os seus cortesãos - "Maestro,
Reverendo, Signor, Signor mio, V.S., Ilustríssimo, Illustríssimo Signore, V
ostra Illustrissima Signoria, V os- tra Eccellenzia, Reverendíssimo e
Magnífico, Loro Signorie Reverendissime, Madama, V ostra Maestà,
Sereníssima Regina, II Re Cristianissimo, V ostra Santità".
b) Outras cortes da época, como a inglesa, adotaram algumas f o r m a s:
Your Excellency, Your Grace, Master.
c) Passa a ser comum na Itália renascentista o uso de formas pronominais
da 3. pessoa — ella, lei — para substituir voi. Tal prática comeca a seŗ
corrente em outras culturas romanicas: na Espanha e em Portugal̂
circulavam tanto como na Itália.
d) As cortes italianas entram em decadencia e os títulos honoríficoŝ
consuetudinários seguiram a mesma sorte. Entretanto, alguns se
mantiveram na cultura italiana e em outras culturas latinas que os
importaram da Itália. Sua Eccellenza vai desaparecendo no século XVII e
lei e ella triunfam como formas quase exclusivas de tratamento cortes em̂
italiano. Contemporaneamente - lei é hoje a forma universal de
tratamento cortes.̂
3. Na Franca̧
➔ as formas de tratamento foram sempre mais simples.
Desde a Idade Média o tratamento mais comum entre os
nobres, era vous, trato de iguais. O tu - variante estilística -
emocão, ou para marcar a intimidade (classes inferioreş
usavam).
➔ O vous se estende como marca de "bienséance" (respeito
as regras de polidez), bons costumes, e no "grand siècle"
(preciosismo e pelo burlesco) quase elimina o tu totalmente
na linguagem dos salões.
➔ Os nobres não recebem formas de tratamento específicas,
além de Monsieur, Madame et Mademoiselle. As formas de
tratamento são as mesmas básicas de sempre: tu (para
inferiores e também para íntimos, ou para marcar a
-emocão) ȩ vous entre as pessoas bem nascidas (para
iguais).
➔ A língua francesa marcava a diferenca daş
posicões hierárquicas pelo uso assimétrico dȩ
tu (superior ao inferior) e vous (inferior ao
superior). No caso do rei — passou-se a usar a
3. p., acompanhada de formas de tratamento
como Sire e Votre Majesté.
➔ Quanto ao pronome tu, a Revolucão Francesa̧
triunfante, quis fazer dele uma bandeira dos
seus ideais igualitários. Mas Vous e tu
continuaram lado a lado.
➔ Os pronomes de tratamento em frances - maiŝ
de 2.000 anos de existencia do mesmô
sistema:
➔ latim — tu, vos frances — tu, vouŝ
4. América Latina
✗ A estrutura social e os padrões de comportamento trazidos
para a América Latina foram basicamente os mesmos
existentes na Península Ibérica ao tempo da colonizacão.̧
✗ Os colonos portugueses e espanhóis que imigraram - classe
média inferior, baixa e muitos deles marginais indesejados nas
suas pátrias de origem.
✗ A populacão dominada e escravizada eram: o índio e o negro̧
africano
✗ Fundando a família patriarcal, ainda hoje típica do mundo
latino-americano e que se pode generalizar para a América
Latina: a mãe: o filho: a filha: o pai
✗ as sociedades arcaicas da América Latina: no matrimonio ô
marido é tirano; a mulher é escrava; o criado é servo - as
relacões assimétricas.̧
B. Estudo diacrônico
1. Formas de tratamento no mundo de fala espanhola:
Espanha
1. Idade Média
Essas formas de tratamento são geralmente acompanhadas dos
vocativos: señor, rey y supremo señor, gran señor (3.a pes.)
Observações:
1. vos é singular, ou forma plural de endereçamento a uma
audiência de mais de um, em todos os níveis.
2. tu pode marcar a superioridade (do homem sobre a mulher,
p.ex.), ou movimentos emotivos: o desprezo..
a) Cárceres - sobre a evolucão do tratamento dȩ
"vuestra merced" - sobre o uso de vos no século XVI
e XVII e a razão porque usted substituiu vos como
forma cortes de tratamento.̂
b) No comeco do século XVII tratar dȩ vos um fidalgo
corresponderia a uma ofensa.
No século XVII vos passa a denotar dois valores:
1) tratamento dado a um inferior, um criado
2) tratamento dado a amigo íntimo, ou pessoa com que
se tem familiaridade. Logo a casa de tratamento de
cerimonia e respeito fora deixada vazia no sistema.̂
c) Daí o preenchimento dessa necessidade por uma
forma mais longa "vuestra merced", que já surgira no
século anterior.
c) O uso de vos indiferenciado ocasionou o desgaste do valor social
dessa forma de trata- mento;
d) O largo uso de vos, disseminado pela América Latina - "voseo".
● Os colonos rústicos trouxeram provavelmente o uso do sistema
tripartido: Ui — vos — vuestra merced > usted.
● Em algumas regiões o sistema era -{tu, usted}- Peru (é hoje o
sistema vigente).
e) Em largas porções da América Espanhola tem-se hoje um sistema
misto:
● tu-vos, usted - como é o caso da Argentina e até certo ponto do
Chile
● Esse sistema misto implica em predomínio do tu (Chile), ou do
vos (Argentina) como forma de tratamento familiar, informal.
h) Frida Weber - em Buenos Aires o uso de tu se deve à
pressão da escola;
i) em Madrid é -{tu, usted}- esse deve ser considerado o
padrão "correto" e é ele que deve ser ensinado na escola.
j) Brasil e Portugal - mentalidade de coloniâ
l) sistema espanhol inicial -{tu, vos}- há apenas
resíduos. Os sistemas equivalentes hoje s ã o :
{tu, usted - na Espanha, Peru, México, Chile, etc.
{vos, usted na Argentina.
2. Formas de tratamento no mundo de fala portuguesa.
I - íntimas (marido e mulher; relacões amorosas; pais e filhos; tios e sobrinhos)̧
Entende-se aqui por inferior (S) a relacão -[mais moco-mais velho}-, como entre filho e pai.̧ ̧
c) O tu era, pois, marca dupla:
1) intimidade, afeto, emotividade;
2) inferioridade.
d) O vós:
1) marca de não-intimidade, distancia;̂
2) respeito, superioridade.
a) Na relacão <marido-mulher> o mesmo esquema se repete. A relacão <marido-̧ ̧
mulher> o mesmo esquema se repete. Pode-se constatar o poder do homem
sobre a esposa.
b) Porém, a mulher transforma-se num ser superior, objeto de culto na literatura
trovadoresca. Aliás, esse esquema não é exclusivamente literário. Nas
sociedades arcaicas da América Latina, ainda se observa a mesma
dualidade ambígua
c) No episódio "A fonte da Virgem" na mesma Demanda do Santo Graal o
donzel Nabor trata a donzela por vós e recebe tu
(S) a relacão -[mais moco-mais velho}-, como entre filho e pai.̧ ̧
D significa: desconhecido ou pessoa conhecida mas com quem não se tem
intimidade.
O tratamento de Vossa Mercê deve ser importado da Espanha. Ora, no
final do século XVI e primeira metade do século XVII, Portugal estava
sob o domínio espanhol.
(1) Algumas dessas formas de tratamento eram exclusivas da linguagem
escrita como: Exmo. Sr. Dr., Exmo. Sr. (?), pois não há continuidade de
uso dessas formas na linguagem oral no Brasil do século X X , embora
elas circulem no Portugal contemporaneô
(2) Até meados do século X I X - você trato do superior ao inferior, a
saber:
1) critério de idade (pais a filhos, tios a sobrinhos) ;
2) de posicão (magistrado a cidadãos comuns, professor a aluno) ;̧
3) iguais não íntimos, ou de relacão assimétrica (homem e mulher,̧
quando primos).
(3) No Brasil ocorreu a substituicão do̧ tu por voce,̂ como forma de
tratamento familiar e íntima - século XIX para o XX.
5. Século XX
(1) O tratamento de o(a) senhor dado a um íntimo
(superior) já não é generalizado no Brasil
contemporaneo - trata-se os pais de voce.̂ ̂
(2) Quando se trata de alguém da mesma classe
social e contemporaneo etário o tratamento "̂ o(a)
senhor " pode alternar com "voce"̂
(3) No caso de um inferior, pessoas que preferem
es- tabelecer distancias por não apreciarem̂
familiaridade, podem também utilizar o senhor, a
senhora, ao invés de voce.̂
Algumas formas de tratamento como V. Excia., V.
Senhoria, que, para nós, são esteriótipos amorfos
da escrita comercial e burocrática, vivem no trato
humano em Portugal.
No Brasil, de fato, só temos dois pronomes de tratamento:
1) você (familiar);
2) o senhor (formal) -{tu, vous} ou - {T, V} conforme a
caracterizacão de Brown e Gilman.Títulos relativamentȩ
frequentes, temos: doutor e professor.
3) Você ainda não tem, em Portugal, o uso generalizado
que tem no Brasil.
4) O senhor em Portugal (sinhor, sior, sio, sor, so, s'nhor,̂ ̂ ̂ ̂ ̂
nhor), como no Brasil (sinho, sio, nhor, nhozinho, nhonho,̂ ̂ ̂ ̂
nho, so, seu).̂ ̂
5) Antecedendo o nome próprio, ou de família, seu é
altamente frequente no Brasil moderno (Seu Antonio, Seû
Correia).
5) e admitirmos que você e o senhor, no Brasil, preencheram as casas
vazias deixadas pelos extintos -{tu, vós}- do sistema anterior, aquelas
formas devem ser consideradas como legítimas representantes da 2. p.
— a pessoa com que se fala coincidindo as formas verbais da 2a e da
3a pessoas.
6) Em Portugal se usa de uma forma indireta de tratamento - o
referente (3." p.) como substitutivo respeitoso da 2. p. (não só de voce,̂
o senhor, mas também de tu).
Exs.
"O pai está aborrecido?" (interlocutor: o pai do locutor)
"A mãe quer acúcar?" "̧
A Luzia não vai sair?"
III. A estrutura social depende das relacões estabelecidaş
entre os indivíduos. Assim, tudo se resume a relacõeş
interpessoais.
a) Américas Hispanica e Portuguesa as relacões entre oŝ ̧
indivíduos partem do contexto familiar.
 Estrutura familiar extensa - numerosíssimas formas
de tratamento que definem as relacões entre os seuş
membros - o grande número de tratamentos afetivos
de que essas línguas se servem; esse fato dá
testemunho da profundidade das relacões entre oş
membros do clã familiar
 as pessoas do diálogo compõem hoje os seguintes
sistemas de díades pronominais nas sociedades ibero-
americanas
b) Espanha -{tu, usted]
Peru -{tu, usted}-
Chile -{tu, usted}-
Argentina - -{vos, usted}-
Brasil - -{voce, o senhor}̂
c) Portugal apresenta um sistema tripartido: {tu, voce, o senhor}.̂
Assim, vós desapareceu de todas essas sociedades, conservando-se,
enquanto forma, apenas na Argentina, com o valor, porém, de T e não
de V (caracterizacão de Brown e Gilman)̧ .
OBRIGADA!!!
BOM ALMOÇO

FORMAS DE TRATAMENTO E ESTRUTURAS SOCIAIS

  • 1.
    FORMAS DE TRATAMENTOE ESTRUTURAS SOCIAIS BIDERMAN, M. T. C. Formas de tratamento e estruturas sociais. Alfa. Marília, 18(19): 339-381,1972/73. Doutorandas: Lorena Rodrigues Raquel Costa
  • 2.
    Introducão̧ Brown e Gilman"The Pronouns of Power and Solidarity" constitui um marco na sociolinguística americana contemporanea - aŝ formas de tratamento, relacionando- as com as estruturas sociais nas sociedades latinas, - Península Ibérica e na América Latina. I. Brown e Gilman - sociedade é polarizada entre duas forcas:̧ o poder e a solidariedade. Nos tempos modernos - a solidariedade. Pronomes de tratamento em sociedades modernas ocidentais - ingles, frances,̂ ̂ italiano, espanhol e alemão e outras línguas da Europa, África e índia.
  • 3.
    Na Idade Média- sociedades fechadas que imperaram outrora na Europa Índia - Dhanesh K. J a i n evidencia a força da semantica do poder na sua sociedade indiana - Ô "status" social determina as regras que devem ser observadas por cada um deles. relacão simétrica Ȩ assimétrica. Relações simétricas e assimétricas (líder religioso e rei - topo da hierarquia social; homem-mulher) Na Europa, nos séculos que se seguiram à Idade Média, preservaram-se costumes do passado e os sinais linguísticos̈ que veiculavam essas formas de comportamento. Um fóssil desse passado aristocrático pode ser reconhecido em todas as sociedades ocidentais que se nutriram da m ã e Europa: a etiqueta.
  • 4.
    II. A) 1. N a Romania medieval̂ A estrutura social exibia tres distintos "status": a nobreza, ô clero e o povo Relacão assimétrica: entre os dois sexos e pais e filhos.̧
  • 5.
    ➔ Frei AntonioBrandão, Na Cronica de D. Afonso Henriques,̂ ̂ fornece curiosas informacões sobre tratamentos e poder: noş comecos das monarquias lusitana e castelhana, só se usava o̧ título de Dom (rei e seus filhos legítimos) - Dom > dominus > senhor ➔ Final do século X I I, os cronistas comecam a usá-lo referindo̧ aos ricos-homens e senhores feudais, embora impropriamente. ➔ No século XIII se generaliza ainda mais. Nesse tempo multiplicaram-se os títulos de conde, marques e duque e, juntô com esses, o de Dom. A nobreza amplia, os privilégios estendem-se a mais e mais indivíduos; por conseguinte, se desgastam. ➔ Século XVIII - não distingue apenas nobres. ➔ Século X I X - Juan de Arona satirizava a extensão do título de Dom até mesmo à criadagem de Lima, muitos deles descendentes de escravos. Atribui tal paradoxo aos "males
  • 6.
    2. Na IdadeMédia - um conjunto simples de formas de tratamento a) A Renascenca – Itália - desenvolveram um maneirismo de tratamento̧ complexo entre a senhoria local e os seus cortesãos - "Maestro, Reverendo, Signor, Signor mio, V.S., Ilustríssimo, Illustríssimo Signore, V ostra Illustrissima Signoria, V os- tra Eccellenzia, Reverendíssimo e Magnífico, Loro Signorie Reverendissime, Madama, V ostra Maestà, Sereníssima Regina, II Re Cristianissimo, V ostra Santità". b) Outras cortes da época, como a inglesa, adotaram algumas f o r m a s: Your Excellency, Your Grace, Master. c) Passa a ser comum na Itália renascentista o uso de formas pronominais da 3. pessoa — ella, lei — para substituir voi. Tal prática comeca a seŗ corrente em outras culturas romanicas: na Espanha e em Portugal̂ circulavam tanto como na Itália. d) As cortes italianas entram em decadencia e os títulos honoríficoŝ consuetudinários seguiram a mesma sorte. Entretanto, alguns se mantiveram na cultura italiana e em outras culturas latinas que os importaram da Itália. Sua Eccellenza vai desaparecendo no século XVII e lei e ella triunfam como formas quase exclusivas de tratamento cortes em̂ italiano. Contemporaneamente - lei é hoje a forma universal de tratamento cortes.̂
  • 7.
    3. Na Franca̧ ➔as formas de tratamento foram sempre mais simples. Desde a Idade Média o tratamento mais comum entre os nobres, era vous, trato de iguais. O tu - variante estilística - emocão, ou para marcar a intimidade (classes inferioreş usavam). ➔ O vous se estende como marca de "bienséance" (respeito as regras de polidez), bons costumes, e no "grand siècle" (preciosismo e pelo burlesco) quase elimina o tu totalmente na linguagem dos salões. ➔ Os nobres não recebem formas de tratamento específicas, além de Monsieur, Madame et Mademoiselle. As formas de tratamento são as mesmas básicas de sempre: tu (para inferiores e também para íntimos, ou para marcar a -emocão) ȩ vous entre as pessoas bem nascidas (para iguais).
  • 8.
    ➔ A línguafrancesa marcava a diferenca daş posicões hierárquicas pelo uso assimétrico dȩ tu (superior ao inferior) e vous (inferior ao superior). No caso do rei — passou-se a usar a 3. p., acompanhada de formas de tratamento como Sire e Votre Majesté. ➔ Quanto ao pronome tu, a Revolucão Francesa̧ triunfante, quis fazer dele uma bandeira dos seus ideais igualitários. Mas Vous e tu continuaram lado a lado. ➔ Os pronomes de tratamento em frances - maiŝ de 2.000 anos de existencia do mesmô sistema: ➔ latim — tu, vos frances — tu, vouŝ
  • 9.
    4. América Latina ✗A estrutura social e os padrões de comportamento trazidos para a América Latina foram basicamente os mesmos existentes na Península Ibérica ao tempo da colonizacão.̧ ✗ Os colonos portugueses e espanhóis que imigraram - classe média inferior, baixa e muitos deles marginais indesejados nas suas pátrias de origem. ✗ A populacão dominada e escravizada eram: o índio e o negro̧ africano ✗ Fundando a família patriarcal, ainda hoje típica do mundo latino-americano e que se pode generalizar para a América Latina: a mãe: o filho: a filha: o pai ✗ as sociedades arcaicas da América Latina: no matrimonio ô marido é tirano; a mulher é escrava; o criado é servo - as relacões assimétricas.̧
  • 11.
    B. Estudo diacrônico 1.Formas de tratamento no mundo de fala espanhola: Espanha 1. Idade Média
  • 13.
    Essas formas detratamento são geralmente acompanhadas dos vocativos: señor, rey y supremo señor, gran señor (3.a pes.) Observações: 1. vos é singular, ou forma plural de endereçamento a uma audiência de mais de um, em todos os níveis. 2. tu pode marcar a superioridade (do homem sobre a mulher, p.ex.), ou movimentos emotivos: o desprezo..
  • 15.
    a) Cárceres -sobre a evolucão do tratamento dȩ "vuestra merced" - sobre o uso de vos no século XVI e XVII e a razão porque usted substituiu vos como forma cortes de tratamento.̂ b) No comeco do século XVII tratar dȩ vos um fidalgo corresponderia a uma ofensa. No século XVII vos passa a denotar dois valores: 1) tratamento dado a um inferior, um criado 2) tratamento dado a amigo íntimo, ou pessoa com que se tem familiaridade. Logo a casa de tratamento de cerimonia e respeito fora deixada vazia no sistema.̂ c) Daí o preenchimento dessa necessidade por uma forma mais longa "vuestra merced", que já surgira no século anterior.
  • 17.
    c) O usode vos indiferenciado ocasionou o desgaste do valor social dessa forma de trata- mento; d) O largo uso de vos, disseminado pela América Latina - "voseo". ● Os colonos rústicos trouxeram provavelmente o uso do sistema tripartido: Ui — vos — vuestra merced > usted. ● Em algumas regiões o sistema era -{tu, usted}- Peru (é hoje o sistema vigente). e) Em largas porções da América Espanhola tem-se hoje um sistema misto: ● tu-vos, usted - como é o caso da Argentina e até certo ponto do Chile ● Esse sistema misto implica em predomínio do tu (Chile), ou do vos (Argentina) como forma de tratamento familiar, informal.
  • 18.
    h) Frida Weber- em Buenos Aires o uso de tu se deve à pressão da escola; i) em Madrid é -{tu, usted}- esse deve ser considerado o padrão "correto" e é ele que deve ser ensinado na escola. j) Brasil e Portugal - mentalidade de coloniâ l) sistema espanhol inicial -{tu, vos}- há apenas resíduos. Os sistemas equivalentes hoje s ã o : {tu, usted - na Espanha, Peru, México, Chile, etc. {vos, usted na Argentina.
  • 19.
    2. Formas detratamento no mundo de fala portuguesa. I - íntimas (marido e mulher; relacões amorosas; pais e filhos; tios e sobrinhos)̧ Entende-se aqui por inferior (S) a relacão -[mais moco-mais velho}-, como entre filho e pai.̧ ̧
  • 20.
    c) O tuera, pois, marca dupla: 1) intimidade, afeto, emotividade; 2) inferioridade. d) O vós: 1) marca de não-intimidade, distancia;̂ 2) respeito, superioridade.
  • 21.
    a) Na relacão<marido-mulher> o mesmo esquema se repete. A relacão <marido-̧ ̧ mulher> o mesmo esquema se repete. Pode-se constatar o poder do homem sobre a esposa. b) Porém, a mulher transforma-se num ser superior, objeto de culto na literatura trovadoresca. Aliás, esse esquema não é exclusivamente literário. Nas sociedades arcaicas da América Latina, ainda se observa a mesma dualidade ambígua c) No episódio "A fonte da Virgem" na mesma Demanda do Santo Graal o donzel Nabor trata a donzela por vós e recebe tu
  • 22.
    (S) a relacão-[mais moco-mais velho}-, como entre filho e pai.̧ ̧ D significa: desconhecido ou pessoa conhecida mas com quem não se tem intimidade.
  • 25.
    O tratamento deVossa Mercê deve ser importado da Espanha. Ora, no final do século XVI e primeira metade do século XVII, Portugal estava sob o domínio espanhol. (1) Algumas dessas formas de tratamento eram exclusivas da linguagem escrita como: Exmo. Sr. Dr., Exmo. Sr. (?), pois não há continuidade de uso dessas formas na linguagem oral no Brasil do século X X , embora elas circulem no Portugal contemporaneô (2) Até meados do século X I X - você trato do superior ao inferior, a saber: 1) critério de idade (pais a filhos, tios a sobrinhos) ; 2) de posicão (magistrado a cidadãos comuns, professor a aluno) ;̧ 3) iguais não íntimos, ou de relacão assimétrica (homem e mulher,̧ quando primos). (3) No Brasil ocorreu a substituicão do̧ tu por voce,̂ como forma de tratamento familiar e íntima - século XIX para o XX.
  • 26.
  • 28.
    (1) O tratamentode o(a) senhor dado a um íntimo (superior) já não é generalizado no Brasil contemporaneo - trata-se os pais de voce.̂ ̂ (2) Quando se trata de alguém da mesma classe social e contemporaneo etário o tratamento "̂ o(a) senhor " pode alternar com "voce"̂ (3) No caso de um inferior, pessoas que preferem es- tabelecer distancias por não apreciarem̂ familiaridade, podem também utilizar o senhor, a senhora, ao invés de voce.̂ Algumas formas de tratamento como V. Excia., V. Senhoria, que, para nós, são esteriótipos amorfos da escrita comercial e burocrática, vivem no trato humano em Portugal.
  • 29.
    No Brasil, defato, só temos dois pronomes de tratamento: 1) você (familiar); 2) o senhor (formal) -{tu, vous} ou - {T, V} conforme a caracterizacão de Brown e Gilman.Títulos relativamentȩ frequentes, temos: doutor e professor. 3) Você ainda não tem, em Portugal, o uso generalizado que tem no Brasil. 4) O senhor em Portugal (sinhor, sior, sio, sor, so, s'nhor,̂ ̂ ̂ ̂ ̂ nhor), como no Brasil (sinho, sio, nhor, nhozinho, nhonho,̂ ̂ ̂ ̂ nho, so, seu).̂ ̂ 5) Antecedendo o nome próprio, ou de família, seu é altamente frequente no Brasil moderno (Seu Antonio, Seû Correia).
  • 31.
    5) e admitirmosque você e o senhor, no Brasil, preencheram as casas vazias deixadas pelos extintos -{tu, vós}- do sistema anterior, aquelas formas devem ser consideradas como legítimas representantes da 2. p. — a pessoa com que se fala coincidindo as formas verbais da 2a e da 3a pessoas. 6) Em Portugal se usa de uma forma indireta de tratamento - o referente (3." p.) como substitutivo respeitoso da 2. p. (não só de voce,̂ o senhor, mas também de tu). Exs. "O pai está aborrecido?" (interlocutor: o pai do locutor) "A mãe quer acúcar?" "̧ A Luzia não vai sair?"
  • 32.
    III. A estruturasocial depende das relacões estabelecidaş entre os indivíduos. Assim, tudo se resume a relacõeş interpessoais. a) Américas Hispanica e Portuguesa as relacões entre oŝ ̧ indivíduos partem do contexto familiar.  Estrutura familiar extensa - numerosíssimas formas de tratamento que definem as relacões entre os seuş membros - o grande número de tratamentos afetivos de que essas línguas se servem; esse fato dá testemunho da profundidade das relacões entre oş membros do clã familiar  as pessoas do diálogo compõem hoje os seguintes sistemas de díades pronominais nas sociedades ibero- americanas
  • 33.
    b) Espanha -{tu,usted] Peru -{tu, usted}- Chile -{tu, usted}- Argentina - -{vos, usted}- Brasil - -{voce, o senhor}̂ c) Portugal apresenta um sistema tripartido: {tu, voce, o senhor}.̂ Assim, vós desapareceu de todas essas sociedades, conservando-se, enquanto forma, apenas na Argentina, com o valor, porém, de T e não de V (caracterizacão de Brown e Gilman)̧ .
  • 34.