O poema descreve o sujeito poético sentado junto ao mar ouvindo seu lamento enquanto interroga as forças da natureza em busca de respostas para suas inquietações, mas só encontra silêncio.
OCEANO NOX -Antero de Quental
Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,
Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...
Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais?
Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...
3.
OCEANO NOX -Antero de Quental
Estrutura externa | Soneto
• 2 quadras e 2 tercetos
• 14 versos, predominantemente decassilábicos
• Esquema rimático
• 1.ª estrofe: ABBA
• 2.ª estrofe: ABBA
• 3.ª estrofe: CCD
• 4.ª estrofe: EED
• Rimas interpoladas e emparelhadas
• Última estrofe: chave de ouro > conclusão do
poema
Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,
Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...
Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais?
Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...
4.
OCEANO NOX -Antero de Quental
Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,
Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...
Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais?
Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...
Estrutura interna
• 1.ª parte - Versos 1-6 [Auscultação]
• O sujeito poético senta-se junto ao mar, ouve
a sua «trágica voz rouca», e olha «o céu
pesado e nevoento»
• 2.ª parte - Versos 7-11 [Interpelação]
• O sujeito poético interroga «os seres
elementares» da Natureza
• 3.ª parte - Versos 12-14 [Incomunicabilidade]
• O sujeito poético escuta os bramidos da
Natureza, sem colher as respostas que
procura para a sua inquietude
5.
OCEANO NOX -Antero de Quental
Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,
Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...
Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais?
Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...
Aspetos temáticos / topoi literários
• Mar revolto Noite escura > Locus horribilis
• Indagação da Natureza [seres elementares / força
transcendente]
• Procura de sentido para a vida
• Busca de respostas para as incertezas
• Mudez da Natureza > Ausência de respostas
• Identificação entre a Natureza e o estado de
espírito do sujeito poético
• Angústia
• Inquietude
• Solidão
6.
OCEANO NOX -Antero de Quental
Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,
Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...
Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais?
Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...
Recursos expressivos - exemplos
• Anáfora
«Junto do mar […] / Junto do mar […]»
• Personificação
«trágica voz rouca»
• Comparação
«como o voo dum pensamento»
• Adjetivação
«inquieto e intermitente»
«pesado e nevoento»
• Apóstrofe
«Seres elementares, força obscura»
• Enumeração
«Um bramido, um queixume, e nada mais…»
7.
OCEANO NOX -Antero de Quental
«Antero indaga o Céu em busca de resposta, e só encontra o Nada.
Ao sentimento dilacerante de que o equilíbrio é já impossível,
soma-se agora o duma catastrófica solidão íntima ecoando a
profunda mudez cósmica, como se pode ver no "Oceano Nox".»
Massaud Moisés, A Literatura Portuguesa, São Paulo, Editora Cultrix, 1985 (21.ª ed.)
8.
INTERTEXTO 1 Océu, a terra, o vento sossegado...
As ondas, que se estendem pela areia...
Os peixes, que no mar o sono enfreia...
O nocturno silêncio repousado...
O pescador Aónio, que, deitado
onde co vento a água se meneia,
chorando, o nome amado em vão nomeia,
que não pode ser mais que nomeado:
– Ondas (dezia), antes que Amor me mate,
torna-me a minha Ninfa, que tão cedo
me fizestes à morte estar sujeita.
Ninguém lhe fala; o mar de longe bate,
move-se brandamente o arvoredo;
leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita.
Luís de Camões
9.
INTERTEXTO 2
O céu,de opacas sombras abafado,
Tornando mais medonha a noite feia; Mugindo sobre
as rochas, que salteia,
O mar, em crespos montes levantado;
Desfeito em furacões o vento irado;
Pelos ares zunindo a solta areia;
O pássaro nocturno, que vozeia
No agoireiro cipreste além pousado,
Formam quadro terrível, mas aceito,
Mas grato aos olhos meus, grato à fereza
Do ciúme e saudade, a que ando afeito.
Quer no horror igualar-me a Natureza;
Porém cansa-se em vão, que no meu peito
Há mais escuridade, há mais tristeza.
Bocage