O cuidar e o ser cuidado
Daiane Backes
Ellen Kelúbia
Taiane Freitas Lima
Cintia Braghetto Ferreira
RESUMO
Devido as enormes modificações nos padrões de saúde-doença no mundo, cujos
reflexos são o aumento da expectativa de vida e, ao mesmo tempo, o aumento dos casos
de doenças crônico-degenerativas, fez-se necessário um estudo sobre a relação
cuidador-cuidado. A presença do câncer modifica decisivamente, todos os aspectos da vida do
indivíduo, podendo alterar profundamente a rotina de vida conforme o comprometimento da
capacidade. As mudanças da integridade físico-emocional por desconforto, dor, desfiguração,
dependência e perda da autoestima são relatadas por esses doentes que percebem a qualidade de
suas vidas sendo profundamente decomposta em um espaço de tempo muito curto. A própria
palavra 'câncer' carrega consigo um simbolismo de ameaça à vida, trazendo com ela uma
associação direta a morte. Dessa maneira, o objetivo deste trabalho foi compreender a

relação existente entre o cuidador direto o qual zela pelo bem-estar, saúde, alimentação,
higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da pessoa que é cuidada (paciente
com doença crônica), assim como vários aspectos que envolvem o processo da saúdedoença crônica-cuidado. O cuidador acompanha e auxilia a pessoa cuidada e nem sempre é
alguém escolhido pelo paciente, e esse ato de cuidar é nobre, embora muito complexo, já que a
convivência é permeada por uma mistura de sentimentos bons e contraditórios. O cuidar vai
além de cuidados físicos, pois se deve observar que o sofrimento está atrelado a questões
emocionais, à história de vida e aos sentimentos e emoções da pessoa a ser cuidada. O estudo

realizado foi do tipo qualitativo-interpretativo e realizado em uma cidade situada no
Sudoeste do Estado de Goiás. Após a aprovação de um Comitê de Ética em Pesquisa,
um primeiro contato telefônico foi feito com as pessoas cadastradas em uma instituição
que acolhe pacientes com câncer, no referido município, com o objetivo de agendar uma
visita em seus domicílios para a realização das entrevistas. Foram feitas entrevistas
semiestruturadas com quatro pacientes oncológicos e quatro cuidadores diretos. Todas
as entrevistas foram gravadas, transcritas na íntegra, lidas de forma exaustiva e
organizadas nas seguintes temáticas: saúde-doença-cuidado; religião; cuidado e gênero
e, relação cuidador-cuidado, sendo que todas essas temáticas foram analisadas à luz do
referencial

construcionista

social.

A

ideia

básica

dessa

corrente

teórica

“Construcionismo Social” postula que a criação de sentido para as coisas ocorre por
meio de nossas atividades colaborativas, a construção social não é de autoria única, ela
pressupõe um compartilhamento. O Construcionismo dá importância não ao indivíduo,
mas as relações que eles têm entre si. Foram observados que a posição de cuidado
reservado à figura feminina também é reafirmada a partir do desconforto relatado por
uma das participantes ao se perceber no lugar de ser cuidada. Mesmo assim, alegaram
que é inevitável a mudança de atitudes, pensamentos e convicções após o tratamento e
vivência dessa enfermidade. As famílias envolvidas no processo saúde-doença-crônica
reorganizam a vivência familiar e os cuidados em vários aspectos de suas vidas, as
definições de saúde para paciente e cuidador se diferenciaram. A maioria dos pacientes
entrevistados se atentaram às questões psíquicas que envolvem a enfermidade,
demonstrando que, às vezes, a repercussão do câncer como símbolo de morte pode ser
mais ameaçadora e adoecedora do que a própria doença. Um fator interessante é que
alguns dos pacientes atribuíram o equilíbrio mental mais à saúde e identificaram o estar
doente a um desequilíbrio físico. Acrescenta-se também que a religiosidade influenciou
fortemente a maneira de experienciar o câncer, servindo como amparo e esperança para
os entrevistados perante o processo de adoecimento e tratamento da doença. Um ponto
em comum entre pacientes e cuidadores foram as mudanças relacionais entre eles, pois
afirmaram haver transformações no cuidado entre si, questionamentos de valores,
conceitos, ações e pensamentos, ou seja, na maioria das vezes, experienciar o câncer
pôde permitir as pessoas obterem uma ressignificação de suas vidas. Esta produção
científica além de proporcionar um maior entendimento no que diz respeito à relação
cuidador direto e paciente oncológico, acrescenta ainda a compreensão sobre o cuidado
informal, já que na maior parte dos artigos encontrados prevalecem análises referentes à
relação cuidador profissional-pacientes.
Palavras – Chave: Psicologia; Cuidado; Oncologia.

Resumo expandido

  • 1.
    O cuidar eo ser cuidado Daiane Backes Ellen Kelúbia Taiane Freitas Lima Cintia Braghetto Ferreira RESUMO Devido as enormes modificações nos padrões de saúde-doença no mundo, cujos reflexos são o aumento da expectativa de vida e, ao mesmo tempo, o aumento dos casos de doenças crônico-degenerativas, fez-se necessário um estudo sobre a relação cuidador-cuidado. A presença do câncer modifica decisivamente, todos os aspectos da vida do indivíduo, podendo alterar profundamente a rotina de vida conforme o comprometimento da capacidade. As mudanças da integridade físico-emocional por desconforto, dor, desfiguração, dependência e perda da autoestima são relatadas por esses doentes que percebem a qualidade de suas vidas sendo profundamente decomposta em um espaço de tempo muito curto. A própria palavra 'câncer' carrega consigo um simbolismo de ameaça à vida, trazendo com ela uma associação direta a morte. Dessa maneira, o objetivo deste trabalho foi compreender a relação existente entre o cuidador direto o qual zela pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da pessoa que é cuidada (paciente com doença crônica), assim como vários aspectos que envolvem o processo da saúdedoença crônica-cuidado. O cuidador acompanha e auxilia a pessoa cuidada e nem sempre é alguém escolhido pelo paciente, e esse ato de cuidar é nobre, embora muito complexo, já que a convivência é permeada por uma mistura de sentimentos bons e contraditórios. O cuidar vai além de cuidados físicos, pois se deve observar que o sofrimento está atrelado a questões emocionais, à história de vida e aos sentimentos e emoções da pessoa a ser cuidada. O estudo realizado foi do tipo qualitativo-interpretativo e realizado em uma cidade situada no Sudoeste do Estado de Goiás. Após a aprovação de um Comitê de Ética em Pesquisa, um primeiro contato telefônico foi feito com as pessoas cadastradas em uma instituição que acolhe pacientes com câncer, no referido município, com o objetivo de agendar uma visita em seus domicílios para a realização das entrevistas. Foram feitas entrevistas semiestruturadas com quatro pacientes oncológicos e quatro cuidadores diretos. Todas as entrevistas foram gravadas, transcritas na íntegra, lidas de forma exaustiva e organizadas nas seguintes temáticas: saúde-doença-cuidado; religião; cuidado e gênero e, relação cuidador-cuidado, sendo que todas essas temáticas foram analisadas à luz do referencial construcionista social. A ideia básica dessa corrente teórica “Construcionismo Social” postula que a criação de sentido para as coisas ocorre por meio de nossas atividades colaborativas, a construção social não é de autoria única, ela
  • 2.
    pressupõe um compartilhamento.O Construcionismo dá importância não ao indivíduo, mas as relações que eles têm entre si. Foram observados que a posição de cuidado reservado à figura feminina também é reafirmada a partir do desconforto relatado por uma das participantes ao se perceber no lugar de ser cuidada. Mesmo assim, alegaram que é inevitável a mudança de atitudes, pensamentos e convicções após o tratamento e vivência dessa enfermidade. As famílias envolvidas no processo saúde-doença-crônica reorganizam a vivência familiar e os cuidados em vários aspectos de suas vidas, as definições de saúde para paciente e cuidador se diferenciaram. A maioria dos pacientes entrevistados se atentaram às questões psíquicas que envolvem a enfermidade, demonstrando que, às vezes, a repercussão do câncer como símbolo de morte pode ser mais ameaçadora e adoecedora do que a própria doença. Um fator interessante é que alguns dos pacientes atribuíram o equilíbrio mental mais à saúde e identificaram o estar doente a um desequilíbrio físico. Acrescenta-se também que a religiosidade influenciou fortemente a maneira de experienciar o câncer, servindo como amparo e esperança para os entrevistados perante o processo de adoecimento e tratamento da doença. Um ponto em comum entre pacientes e cuidadores foram as mudanças relacionais entre eles, pois afirmaram haver transformações no cuidado entre si, questionamentos de valores, conceitos, ações e pensamentos, ou seja, na maioria das vezes, experienciar o câncer pôde permitir as pessoas obterem uma ressignificação de suas vidas. Esta produção científica além de proporcionar um maior entendimento no que diz respeito à relação cuidador direto e paciente oncológico, acrescenta ainda a compreensão sobre o cuidado informal, já que na maior parte dos artigos encontrados prevalecem análises referentes à relação cuidador profissional-pacientes. Palavras – Chave: Psicologia; Cuidado; Oncologia.