Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
E82
Estratégias de Comunicação e relações públicas/ Organização: Maria Ivete
Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Caporal Soares – Belo
Horizonte - MG: Poisson, 2024
Formato: PDF
ISBN: 978-65-5866-363-8
DOI: 10.36229/978-65-5866-363-8
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
1. Comunicação 2. Relações Públicas. I. FOSSÁ, Maria Ivete Trevisan
II. FERNANDES, Fabio Frá III. SOARES, Gibsy Lisiê Caporal IV. Título
Sônia Márcia Soares de Moura – CRB 6/1896
CDD-659.2
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
SUMÁRIO
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PREFÁCIO
Maria Aparecida Ferrari
13 INTRODUÇÃO
Complexidades e desafios comunicacionais enfrentados
pelas organizações em um cenário midiático em constante
mudança
Fabio Frá Fernandes
PRIMEIRA PARTE
Novos olhares sobre as Relações Públicas
28 CAPÍTULO
1
Las Relaciones Públicas ante la crisis de la
desinformación [DOI: 10.36229/978-65-5866-363-8.CAP1]
Ana Almansa Martínez
Francisco Javier Godoy Martín
40 CAPÍTULO
2
Estratégias e táticas organizacionais integradas
de Relações Públicas: da ideação à práxis
propositiva de programas de comunicação e
relacionamento interno
[DOI: 10.36229/978-65-5866-363-8.CAP2]
Fabio Frá Fernandes
71 CAPÍTULO
3
A abordagem narrativa como fundamento à
investigação em Comunicação Organizacional e
Relações Públicas [DOI: 10.36229/978-65-5866-363-8.CAP3]
Larissa Conceição dos Santos
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
99 CAPÍTULO
4
Função política de Relações Públicas: o equilíbrio
do conflito-cooperação nas organizações
[DOI: 10.36229/978-65-5866-363-8.CAP4]
Valmíria Antonia Balbinot
SEGUNDA PARTE
Aplicações para a prática das Relações Públicas em
cenários vulneráveis
124 CAPÍTULO
5
Cenários para um metaverso organizacional:
entre o real e o virtual
[DOI: 10.36229/978-65-5866-363-8.CAP5]
André Quiroga Sandi
153 CAPÍTULO
6
Inteligência artificial e RP: usos, impactos e
discussões [DOI: 10.36229/978-65-5866-363-8.CAP6]
Carolina Frazon Terra
172 CAPÍTULO
7
Contextos Educacionais Emergentes: digressões
possíveis por entre comunicação e educação
[DOI: 10.36229/978-65-5866-363-8.CAP7]
Liana Estela Merladete de Souza Pozeczek
Koltermann
208 CAPÍTULO
8
Trajeto 4-5-8: jornada compreensiva do conceito
de Comunicação Funcional ou Relações Públicas
Plenas (Full PR) baseado na formação única,
brasileira, do bacharelado em Relações Públicas
[DOI: 10.36229/978-65-5866-363-8.CAP8]
Manoel Marcondes Machado Neto
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
253 CAPÍTULO
9
Entre a teoria, o método e a prática: Comunicação
Organizacional e Design Thinking articulados para
conferir visibilidade e legitimidade midiática ao
Mestrado Profissional em Comunicação e
Indústria Criativa (PPGCIC)
[DOI: 10.36229/978-65-5866-363-8.CAP9]
Fabio Frá Fernandes
Marcela Guimarães e Silva
TERCEIRA PARTE
Comunicação, ciência, cultura e trabalho nas organizações
278 CAPÍTULO
10
Comunicando ciência: revisão de conceitos
[DOI: 10.36229/978-65-5866-363-8.CAP10]
Maria Luiza de Carvalho de Grandi
296 CAPÍTULO
11
Práticas culturais, comunicativas e administrativas
na preservação de valores organizacionais
[DOI: 10.36229/978-65-5866-363-8.CAP11]
Maria Ivete Trevisan Fossá
333 CAPÍTULO
12
A implementação de Política de Comunicação
para o desenvolvimento da comunicação
integrada, pública e estratégica
[DOI: 10.36229/978-65-5866-363-8.CAP12]
Solange Prediger
368 CAPÍTULO
13
Pensando o mundo virtual a partir da
Comunicação e do Trabalho: um desafio
necessário [DOI: 10.36229/978-65-5866-363-8.CAP13]
Gibsy Lisiê Caporal Soares
393 SOBRE
OS AUTORES
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
PREFÁCIO
Ao ler o título do livro Estratégias de Comunicação e
Relações
Públicas
em
contextos
organizacionais
emergentes a primeira sensação é de que essa temática já foi
amplamente esgotada por obras anteriores. Porém, cada vez
mais a Comunicação e as Relações Públicas têm ocupado lugar
central no debate acadêmico e profissional, mostrando que,
apesar dos avanços tecnológicos e científicos, profissionais e
organizações estão cada vez mais carentes de uma
comunicação dialógica e humana. E é aí que se encontra a
importância dessa obra, uma vez que seus textos suscitam
novos olhares e reflexões sobre o processo de Comunicação e
a profissão de Relações Públicas.
Nos últimos dois anos muitos pesquisadores têm refletido
sobre como a crise sanitária do Covid-19, que alastrou o mundo,
pode ser considerada um divisor de águas, uma vez que os
processos comunicativos foram afetados durante a pandemia,
obrigando pessoas e organizações a buscar alternativas para se
comunicar com seus diferentes interlocutores e, quase todos os
caminhos estiveram relacionados com as tecnologias e as
plataformas digitais (MOURÃO; MAFRA, 2023).
Esse cenário desafiou os modelos conhecidos, baseados
em contextos estáveis com atores já identificados, com níveis
controlados de interação e resultados previsíveis. O que ocorreu
foi a passagem entre uma ordem econômica conhecida com
padrões de estabilidade e previsibilidade para um modelo global
indefinido com tendências e rupturas desafiantes; sua aplicação
impôs uma nova comunicação baseada no afeto e no diálogo, e
não o simples monólogo, como frequentemente ocorria.
O foco desse livro está relacionado com temáticas já
conhecidas, porém com um tratamento diferenciado, imposto
pelas mudanças do novo contexto em que vivemos. A
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
permanência das incertezas tem levado a mudanças profundas.
Por um lado, há um novo cenário instável que amplia situações
inéditas e aumenta a volatilidade das previsões à medida que
avançamos quase na metade da segunda década do século XXI.
Por outro, ocorreram mudanças no comportamento dos
indivíduos causadas pela necessidade de desenvolver novas
competências para enfrentar essa instabilidade estrutural. O
impacto dessas mudanças pode ser descrito com algumas
palavras: complexidade, incertezas e vulnerabilidades.
Essa obra traz como pano de fundo a Comunicação como
um processo de produção de sentidos e as Relações Públicas
como uma profissão que, por meio do ativismo pretende dar
sentido à vida organizacional de forma consciente, ativa, ética e
responsável, principalmente quando sabemos que o cotidiano
contemporâneo requer tolerância frente ao caos e a
complexidade e resistência diante das práticas antiéticas
(HOLTZHAUSEN, 2016).
Dividida em três partes, a obra organizada por Maria
Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes e Gibsy Lisiê
Soares Caporal, pesquisadores da Universidade Federal de
Santa Maria, juntamente com um grupo de estudiosos, tem como
objetivo buscar novos olhares sobre as Relações Públicas e a
Comunicação. Os autores e autoras trazem aportes
contemporâneos em cenários vulneráveis, apontam novas
estratégias e táticas e destacam a ciência, a cultura e o mundo
do trabalho como áreas a serem cuidadas para as reflexões
propostas.
A primeira parte do livro, Novos olhares sobre as
Relações Públicas, trata das Relações Públicas como prática
social e profissional, discutida à luz da teoria dos conflitos,
segundo Simões (1984) que, tendo nos brindado com o seu
arcabouço teórico na década de 1980, mostra-se mais atual que
nunca. Se no momento em que Simões (1984) nos apresentou
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
sua teoria ainda éramos mais analógicos do que digitais, hoje a
busca do equilíbrio do conflito-cooperação nas organizações
passa por questões de desinformação e das “fake news”. Daí a
relevância das Relações Públicas como uma atividade cujo
objetivo é a cooperação mútua entre as partes do sistema
organização-públicos, visando a consecução da missão
organizacional. Seu exercício ético e transparente pode
contribuir para lutar contra um dos flagelos das sociedades
ocidentais na atualidade. Essas reflexões nos levam a dois
outros pontos importantes. O primeiro é o olhar para as
organizações como espaços de construção e circulação de
narrativas e, também de conceber as “narrativas
organizacionais” como processo e como produto da
comunicação organizacional. O segundo aspecto diante do
cenário complexo, defende que é preciso pensar em estratégias
e táticas para melhor se relacionar com os públicos internos que
são o motor das organizações.
Composta de cinco textos, a segunda parte do livro,
Aplicações para a prática das Relações Públicas em
cenários vulneráveis, apresenta propostas e indagações sobre
o cenário atual. Observamos como assuntos associados à
tecnologia fazem parte da prática da Comunicação e das
funções das Relações Públicas. Podemos dizer que esta
segunda parte do livro traz mais perguntas que respostas, pois
no mundo contemporâneo, fenômenos como a fragmentação
dos meios e suas audiências, o uso da inteligência artificial
gerando novas formas de comunicação e relacionamento
provocam questionamentos sobre a função do comunicador.
Afinal, estaremos à serviço da inteligência artificial ou seremos
os estrategistas a definir a utilidade da inteligência artificial?
Também é tratada a indústria criativa e o processo de design
thinking, modelando novos métodos e práticas em programas de
mestrado profissional, por exemplo.
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Finalmente a terceira parte, Comunicação, Ciência,
Cultura e trabalho nas organizações, oferece ao leitor, por
meio de quatro textos, a importância que a ciência, cultura e
comunicação têm para o comunicador e suas práticas
cotidianas. Tais dimensões são a base do exercício profissional
e das reflexões acadêmicas, uma vez que formam o referencial
teórico e epistemológico para o desempenho, de forma ética e
ativista, o trabalho de comunicação nas organizações, fruto de
constantes articulações, arranjos, conflitos e negociações.
Sabemos que não há teoria ou prática de Comunicação e
Relações Públicas que seja neutra ou objetiva, em especial no
campo das ciências sociais e humanas, pois são profundamente
comprometidas pelas culturas e as sociedades nas quais são
exercidas. Portanto, as lentes que aqui são apresentadas pelos
autores, nos ajudam a pensar em formas e comportamentos que
levem em consideração a ética e a transparência como
requisitos para a construção de uma sociedade mais justa.
A obra oferece uma visão contemporânea e alternativa da
teoria e da prática da Comunicação e das Relações Públicas no
contexto atual. A defesa de um novo olhar, de uma nova lente é
fundamental para avançarmos na direção de que sempre haverá
necessidade de rever conceitos, analisar cenários e buscar
novas formas de contribuir para sociedades com justiça social.
Boa leitura!
Maria Aparecida Ferrari
Referências
HOLTZHAUSEN, D. Las Relaciones Públicas como activismo: enfoques
posmodernos. Barcelona: UOC, 2016.
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
MOURÃO, I. G. e MAFRA, R. Comunicação, contextos organizacionais e
regionalidades: leituras possíveis sobre a pandemia da Covid-19. Revista
Dispositiva, v.12, n. 21, p. 20 – 34, jan./jun., 2023.
SIMÕES, R. P. Relações Públicas: função política. Porto Alegre: Sagra,
1984.
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
INTRODUÇÃO
Complexidades e desafios comunicacionais enfrentados pelas
organizações em um cenário midiático em constante mudança
As mudanças na mídia e nas comunicações ao longo de
nossa história têm redefinido as formas e processos de
sociabilidade no âmbito dos indivíduos. No entanto, esse
movimento também afeta as organizações. O digital tem
reconfigurado o ecossistema midiático, influenciado as formas
de comunicação, construção de identidade e legitimação tanto
de pessoas quanto de organizações na sociedade.
Cada vez mais, a comunicação organizacional utiliza
estratégias reconfiguradas à luz das mídias emergentes no
ecossistema, potencializando a geração de novas formas de
sociabilidade e a modificação de antigas formas de
relacionamento. Isso cria situações diferenciadas para ação e
interação que acaba por reestruturar as relações existentes
entre as organizações e a sociedade.
Percebemos que a lógica midiática se expandiu para além
dos domínios tradicionais, ou seja, tornou-se midiatizada. Tanto
organizações quanto indivíduos estão cada vez mais
incorporando lógicas e estratégias provenientes do campo da
mídia em suas comunicações e relacionamentos. Esse ambiente
midiatizado cria novos fluxos de comunicação e formatos
organizacionais para as instituições.
Os ambientes de mídia, com o digital, permitiram aos
indivíduos com acesso às tecnologias, aos meios e aos recursos
necessários tornarem-se atores estratégicos no processo de
ressignificação da sociabilidade, no mesmo nível que as
instituições midiáticas e as organizações sociais. Com a
democratização das tecnologias de hardware e software
baseadas em computação, e com seu desdobramento em
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
tecnologias vestíveis como smartphones, qualquer indivíduo
com acesso à internet pode produzir conteúdo na mesma
medida em que consome, além de estabelecer amplas e
multiculturais redes de relacionamento.
Frente à interdependência dos ambientes de mídia e à
qualificação do ecossistema midiático com o advento das
tecnologias digitais, a sociedade vivenciou a inversão dos polos
emissor e receptor. Ou seja, nas comunicações irradiadas,
esses polos ocupavam posições bem definidas, mas com o
acesso às tecnologias, aos meios e aos recursos necessários
por parte dos indivíduos, percebemos certa alteração em suas
posições. Isso ocorre devido aos processos comunicacionais e
relacionais em ambientes de mídia digital, tão contínuos e
flexíveis que, por diversas vezes, tornam a identificação da
dicotomia emissor-receptor desnecessária.
Nesse complexo conjunto de redes e nós, códigos e
lógicas midiáticas que se misturam e remisturam com os
interesses dos conglomerados de comunicação, dos indivíduos,
suas sociedades e organizações, a apropriação de todo e
qualquer dispositivo técnico para comunicação passa a ocupar
posição reflexiva na significação do meio e das mensagens,
porém, de modo indissociável. As organizações, ao redefinir a
posição dos ambientes no ecossistema midiático, a partir de
suas apropriações e usos, tornam-se orientadoras também de
conteúdo.
Assim como a mídia, as organizações expandem sua
atuação como meras provedoras de bens ou serviços e passam
a exercer um papel mais direto nos processos simbólicos dos
indivíduos na sociedade. Ao ampliarem seus relacionamentos,
essas organizações midiatizadas assumem um papel cada vez
mais relevante nas questões coletivas. Os discursos das
organizações midiatizadas trazem à tona e, ao mesmo tempo,
reproduzem, reforçam e questionam valores sociais, normas de
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
conduta e padrões comportamentais que moldam a cultura
contemporânea.
Logo, as práticas de comunicação empreendidas pelas
organizações adotam uma postura mais ativa na produção de
conteúdo cultural, em vez de apenas promovê-los. Observa-se
uma ampliação de seu papel como protagonistas culturais, ao
disponibilizarem discursos e referenciais na esfera pública como
forma de engajar e interagir com seu público de interesse,
visando garantir sua própria sobrevivência.
Experienciamos,
assim,
uma
indiscutível
interdependência da mídia, nas mais variadas formas de
apresentações, como as redes sociais, aplicativos para troca de
mensagens e, mais recentemente, as tecnologias baseadas em
inteligência não-humana que têm ocupado, cada vez mais, lugar
de grande importância na dinâmica social, relacional,
econômica, informacional, mas também organizacional do
mundo nesta segunda década do século XXI. Este contexto nos
direciona a refletir sobre os elos de convergência entre os
sistemas, códigos, algoritmos, lógicas, conteúdo, formato e força
dos ambientes midiáticos no empoderamento dos indivíduos,
suas implicações nas instituições midiáticas e nas organizações.
As tecnologias estão postas à sociabilidade e não devem
recuar, senão de modo relativo. Tanto a presença quanto a
evolução contínua das tecnologias são inegáveis. Contudo, é
essencial reconhecer que elas são meios poderosos que
moldam as interações sociais, organizacionais, culturais,
econômicas e políticas, para o bem ou para o mal, a depender
dos interesses daqueles que detêm o poder de configurá-las.
Por isso, é fundamental que a adoção dessas tecnologias
seja pautada por reflexões críticas que considerem os valores
éticos e suas orientações estéticas, para garantir uma
apropriação que não comprometa a qualidade do humano nas
diversas esferas da vida em comunidade. Dessa forma, espera-
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
se que as organizações participem de um diálogo efetivo junto
aos indivíduos para tornar as oportunidades oferecidas pelas
diversas tecnologias de comunicação, abrangendo todas as
esferas do ecossistema midiático, como uma matriz de práticas
sociais e comunicacionais que respeitem a pluralidade da vida
em sociedade.
Nesse contexto, os profissionais de comunicação,
especialmente os relações-públicas, são os agentes principais
na mediação entre as tecnologias, a sociedade e suas
organizações. A reflexão ética sobre o impacto dos meios de
comunicação na construção de relações interpessoais e na
formação de identidades é fundamental. É preciso assegurar
que as interações simbólicas promovam estratégias
comunicacionais pluralizadas, onde a individualidade dos
sujeitos não seja eclipsada pelos objetivos desenvolvimentistas
das organizações e pelos aparatos midiáticos orientados pelo
capital.
Os relações-públicas, como facilitadores dessa interação,
devem ser agentes ativos na promoção de uma comunicação
humanizada, capaz de equilibrar a eficiência das tecnologias
com a preservação da individualidade e da ética nas relações.
Isso implica a criação de narrativas que respeitem a diversidade,
garantam a transparência nas práticas comunicacionais e
incentivem a participação ativa dos indivíduos na construção do
discurso organizacional.
A incorporação das tecnologias na comunicação na
sociedade e em suas organizações exige uma abordagem
responsável e ética. Os profissionais de comunicação devem
orientar suas práticas em direção a uma interação que, mesmo
mediada por tecnologias, respeite a individualidade e promova a
pluralidade em todos os matizes comunicacionais e
interacionais.
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
O desafio, para tanto, encontra-se no direcionamento dos
processos e das práticas comunicacionais de forma qualitativa,
centrada nos indivíduos, e não apenas no avanço midiáticotecnológico. Isso implica em considerar as necessidades,
valores e diversidade das pessoas envolvidas, garantindo que
as estratégias de comunicação não apenas atendam aos
objetivos organizacionais, mas também promovam uma
experiência autêntica e significativa para os públicos.
Para ampliar as discussões em torno das mídias, da
comunicação e das estratégias de relações públicas em
contextos organizacionais emergentes, o Grupo de Pesquisa
em Comunicação Institucional e Organizacional da
Universidade Federal de Santa Maria (Gcinco/UFSM/CNPq)
organizou esta obra. Reunimos pesquisadores-profissionais
referenciados nacional e internacionalmente para, junto aos
seus integrantes, atualizar teorias e práticas no campo das
Relações Públicas e da Comunicação. Nosso propósito é refletir
sobre as complexidades e os desafios comunicacionais
enfrentados pelas organizações em um cenário midiático em
constante mudança.
O Gcinco, desde 1995, tem se dedicado a investigar as
complexas interações entre o midiático-tecnológico e as
relações sócio-organizacionais ao longo da história humana.
Seus pesquisadores têm desenvolvido pesquisas para qualificar
teorias, metodologias, mas também as práticas e as profissões
vinculadas às Relações Públicas e à Comunicação nas
organizações em meio às mudanças na mídia. Suas reflexões
abrangem desde a invenção da imprensa mecanizada até os
impactos contemporâneos das tecnologias baseadas em
inteligência não-humana, o trabalho por plataformas e as
configurações algorítmicas
da
comunicação
e
dos
relacionamentos midiatizados nas organizações.
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Ao longo desse percurso histórico, mas também teóricometodológico, nosso Grupo busca tensionar os desdobramentos
das transformações tecnológicas, como a eletrificação das
sociedades, o advento do rádio, televisão, cinema e, mais
recentemente, a digitalização e as inteligências artificiais
generativas para desvelar as implicações que a mediação de
tudo por meio de tecnologias tem na construção sócioorganizacional da realidade.
O olhar das Relações Públicas nesse contexto torna-se
essencial, uma vez que a comunicação institucional e
organizacional é impactada diretamente pelas mudanças no
panorama
midiático-tecnológico.
Os
relações-públicas
desempenham papel fundamental na gestão da imagem e na
construção de narrativas, adaptando-se continuamente às
dinâmicas emergentes no binômio conflito-cooperação entre as
organizações e seus públicos. Compreender as nuances das
tecnologias contemporâneas, como as plataformas digitais e as
inteligências não-humanas, torna-se basilar para que as
estratégias de comunicação sejam eficazes e alinhadas com as
demandas sociais e organizacionais, de modo a priorizar a ética
da comunicação, ante a estética das tecnologias de mídia.
Dessa forma, o Gcinco contribui não apenas para a
compreensão histórica dessas transformações, mas também
para a aplicação prática desses conhecimentos no campo da
Comunicação e suas especialidades, como as Relações
Públicas, o Jornalismo, a Publicidade, a Propaganda e a
Comunicação Organizacional, mas também para campos afins
como a Administração, a Ciência da Computação, a Engenharia
de Dados e além, promovendo uma abordagem informada e
estratégica diante dos desafios contemporâneos.
Os treze capítulos do livro Estratégias de Comunicação
e Relações Públicas em contextos organizacionais
emergentes procuram mapear e analisar temáticas essenciais
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
para ambos os campos, tratadas de modo diferenciado, à luz de
teorias e metodologias atualizadas para dar conta de fenômenos
muito voláteis, impostos por esse contexto sócio-organizacional
exponencialmente mediado em que vivemos, trabalhamos e nos
relacionamos. Essas mudanças refletem não apenas desafios,
mas também oportunidades para repensar as abordagens
tradicionais nas Relações Públicas e na Comunicação. Nesse
cenário dinâmico e complexo, a adaptação torna-se crucial para
o sucesso das organizações, exigindo estratégias flexíveis e
inovadoras.
Em síntese, o livro não apenas examina as
complexidades do cenário sócio-organizacional midiatizado
atual, mas também oferece ferramentas e perspectivas para
aqueles que buscam aprimorar suas práticas e estratégias
comunicacionais e relacionais em contextos organizacionais
emergentes. Sua abordagem diferenciada e atualizada busca
compreender e antecipar tendências, ao passo de oferecer
percepções valiosas para profissionais, pesquisadores e
estudantes interessados em avançar os estudos em Relações
Públicas, Comunicação e suas intersecções com o midiáticotecnológico.
Nosso livro conta com um substancioso prefácio da
pesquisadora Maria Aparecida Ferrari, renomada estudiosa
nas áreas de ensino e didática em Relações Públicas,
interculturalidade e diversidade nas organizações e gestão da
cultura organizacional. Seu texto, que enriquece o conteúdo
desta obra, leva o leitor a uma profunda reflexão sobre o lugar
central que tanto as Relações Públicas quanto a Comunicação
ocupam no debate acadêmico-profissional, uma vez que, apesar
dos avanços tecnológicos e científicos, os profissionais e as
organizações estão cada vez mais carentes de uma
comunicação dialógica e humana.
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Convalidando a relevância da temática abordada nesta
obra, Maria Aparecida acentua, enfaticamente, a importância de
permanecermos constantemente atentos às mudanças sócioorganizacionais, especialmente aquelas relacionadas ao
midiático-tecnológico. Um processo fundamental para que as
Relações Públicas, em sua essência, possam conferir
significado à vida organizacional de maneira consciente, ativa,
ética e responsável. Esse imperativo torna-se ainda mais
premente quando consideramos que o cenário contemporâneo
demanda tolerância perante o caos e a complexidade, e
resistência diante de práticas antiéticas.
O livro está estruturado em três partes, cujos títulos
deixam entrever como os diferentes textos se sucedem e se
concatenam de uma forma bastante lógica: Novos olhares
sobre as Relações Públicas; Aplicações para a prática das
Relações Públicas em cenários vulneráveis; e a intersecção
entre Comunicação, ciência, cultura e trabalho nas
organizações. Cada parte contribui para uma compreensão
holística e atualizada do campo das Relações Públicas em
contextos organizacionais emergentes e dinâmicos em meio às
mudanças da mídia.
Na primeira parte, Ana Almansa Martínez, pesquisadora
da Universidade de Málaga, e Francisco Javier Godoy Martín,
pesquisador da Universidade de Cádiz, com o texto Las
Relaciones Públicas ante la crisis de la desinformación,
discorrem sobre a comunicação organizacional nas últimas
décadas, marcada pelo avanço da Web 2.0 e das redes sociais.
Os autores recuperam tanto os benefícios dessa mudança na
lógica das mídias quanto o desafio da desinformação, que tem
se acentuado nos últimos anos. A disseminação rápida de
notícias falsas, especialmente evidente durante a pandemia da
COVID-19 e processos eleitorais, destaca a importância do
jornalismo e de empresas de verificação de fatos. O texto
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
evidencia como as práticas éticas e transparentes nas relações
públicas são fundamentais para enfrentar esse problema
persistente nas sociedades ocidentais.
Fabio Frá Fernandes, no artigo Estratégias e táticas
organizacionais integradas de Relações Públicas: entre a
ideação e a práxis propositiva de programas de comunicação e
relacionamento interno reflete sobre a consecução planejada de
estratégias e táticas organizacionais de relações públicas,
buscando integrar a comunicação e os relacionamentos com o
público interno ao gerenciamento global da organização. Essa
abordagem visa tornar o processo participativo, diversificado,
inclusivo, transparente, empático e, acima de tudo, humanizado.
Por meio de um diálogo teórico-prático, o relações-públicas da
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e
pesquisador da Universidade Federal de Santa Maria apresenta
um processo não-linear para a elaboração e implementação de
programas de comunicação e relacionamento interno. Seu
objetivo é orientar estudantes, pesquisadores e profissionais a
desenvolverem o planejamento de relações públicas para além
de sua função essencial.
Avanços nas pesquisas sobre a perspectiva narrativa nas
organizações resultam em novas abordagens para a
comunicação organizacional, fundamentadas na narratologia.
Larissa Conceição dos Santos, em A abordagem narrativa
como fundamento à investigação em Comunicação
Organizacional e Relações Públicas, reflete a influência dessa
abordagem nas ciências da gestão e estudos organizacionais,
especialmente em pesquisas de comunicação, como narrativas
jornalísticas, publicitárias e midiáticas. Esses avanços
contribuem para a formação de uma abordagem narrativa da
comunicação organizacional, caracterizada por uma visão
sistêmica. Na visão da pesquisadora da Universidade de
Sorbonne e da Universidade Federal do Pampa, nas áreas de
21
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Comunicação Organizacional e Relações Públicas, essa
abordagem percebe as organizações como espaços de
construção e circulação de narrativas, concebendo as narrativas
organizacionais como processo e produto comunicacional.
Valmíria Antonia Balbinot, em seu artigo Função política
de Relações Públicas: o equilíbrio do conflito-cooperação nas
organizações, recupera a teoria do nosso saudoso Roberto
Porto Simões para tensionar a mediação de conflito como uma
das funções essenciais na área. Segundo a doutoranda em
Comunicação na Universidade Federal de Santa Maria, por meio
da função política, os profissionais de relações públicas
identificam e diagnosticam impasses. No entanto, a resolução
efetiva dos conflitos em direção à cooperação requer a função
mediadora, onde a comunicação se destaca como estratégia
principal. Nesse contexto, é fundamental que o profissional
assuma um papel estratégico, atuando como mediador de
conflitos organizacionais.
Na segunda parte, o capítulo Cenários para um
metaverso organizacional: entre o real e o virtual, escrito por
André Quiroga Sandi, discute as ramificações das tecnologias
digitais nas organizações, com foco no debate sobre o
metaverso a partir de 2020. O pesquisador da Universidade
Federal de Ouro Preto, ao analisar o Second Life como caso de
estudo, identifica 10 cenários relevantes para entender como as
organizações entram e se apropriam de ambientes virtuais.
Esses
cenários,
aplicáveis
aos
metaversos
em
desenvolvimento, proporcionam insights para estratégias de
posicionamento. Além disso, o texto explora as fronteiras entre
o real e o virtual, ressaltando a influência dessas nuances nos
espaços digitais e nas interações com os públicos.
Carolina Frazon Terra, no artigo Inteligência Artificial e
RP: usos, impactos e discussões, explora os conceitos de
inteligência artificial e examina como essas tecnologias
22
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
influenciam nossa área. A pesquisadora, da Universidade de
São Paulo, realiza uma pesquisa bibliográfica e documental,
complementada por exemplos práticos envolvendo marcas e
organizações. Seu texto objetiva mapear oportunidades de
convergência entre a inteligência artificial e as Relações
Públicas, mantendo uma abordagem crítico-reflexiva.
No artigo Contextos educacionais emergentes:
digressões possíveis por entre comunicação e educação, de
Liana Estela Merladete de Souza Pozeczek Koltermann, a
ênfase recai sobre a relevância da Comunicação Organizacional
em ambientes educacionais em transformação digital. Por meio
de uma pesquisa bibliográfica, a autora destaca a interconexão
entre Comunicação e Educação, enfrentando os desafios da
convergência midiática. Ao refletir sobre o papel da
Comunicação na transformação e criação de novos arranjos
organizacionais educacionais, aponta para uma sinergia vital
diante da incessante busca por inovação e competitividade.
Manoel Marcondes Machado Neto, no texto Trajeto 4-58: jornada compreensiva do conceito de Comunicação Funcional
ou Relações Públicas Plenas (Full PR) baseado na formação
única, brasileira, do bacharelado em Relações Públicas,
apresenta a jornada "Trajeto 4-5-8", resultante de uma década
de pesquisa conceitual iniciada em 2010 na Comissão
Acadêmico-Científica do Conselho de Profissionais de Relações
Públicas da 1ª Região. Esta pesquisa, fundamentada em
abordagens qualitativas e quantitativas, observou práticas
comunicacionais de mercado e aplicou o construto teórico em
organizações reais. Como desdobramento, o pesquisador da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro desenvolve o conceito
de "Comunicação Funcional" ou "Relações Públicas Plenas",
uma visão 720 graus que integra 360 graus da Comunicação
com 360 graus da Administração.
23
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Apropriando-se de métodos ágeis, Fabio Frá Fernandes
e a pesquisadora da Universidade Federal do Pampa, Marcela
Guimarães e Silva, exploram, no artigo Entre a teoria, o método
e a prática: Comunicação Organizacional e Design Thinking
articulados para conferir visibilidade e legitimidade midiática ao
Mestrado Profissional em Comunicação e Indústria Criativa
(PPGCIC), um exercício teórico-prático no contexto da
comunicação e indústria criativa. Utilizando o Design Thinking
como método, o texto relata um processo de diagnóstico, análise
e intervenção junto ao PPGCIC, culminando em um
planejamento de Comunicação Organizacional para promover,
dar visibilidade e legitimar o Programa. Sua implementação
resultou em técnicas e instrumentos inovadores para a geração
de imagem e engajamento público, destacando a importância de
explorar métodos, técnicas e teorias diversas na concepção e
execução de estratégias de comunicação.
Na última parte, Maria Luiza de Carvalho de Grandi é
autora do artigo Comunicando ciência: revisão de conceitos. Ao
explorar características divergentes e semelhantes na
comunicação e divulgação científica, destaca a longa história
desse processo, que tem evoluído junto com as ciências e a
tecnologia. Atualmente, há uma variedade de formas de
divulgação, desde eventos e publicações até museus, internet e
mídia audiovisual. A autora busca ampliar conceitos familiares
no meio científico, como Difusão Científica, Disseminação
Científica, Comunicação Científica e Jornalismo Científico,
proporcionando uma compreensão mais abrangente desses
termos.
Maria Ivete Trevisan Fossá, no texto Práticas culturais,
comunicativas e administrativas na preservação de valores
organizacionais, busca compreender a dinâmica que envolve a
formação de vínculos afetivos entre empregados e organizações
familiares. A pesquisadora da Universidade Federal de Santa
24
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Maria e vice-líder do Gcinco recupera, em seu artigo, a ideologia
básica – valores e objetivos essenciais – que perdura em todas
as fases do desenvolvimento organizacional. Considera a
declaração dos valores, sua continuidade histórica e a coerência
entre o que é declarado como essencial e o que é vivido no
cotidiano empresarial. A autora observa que a identificação dos
empregados com os valores organizacionais pode ser explicada
pela forma como os empregados se apropriam dos valores
difundidos, pela política de recursos humanos e de comunicação
interna, e pelos elementos simbólicos da cultura organizacional
que fortalecem o imaginário coletivo e solidificam as
significações acerca da ideia de empresa como uma grande
família.
Por sua vez, Solange Prediger, no texto A
implementação de Política de Comunicação para o
desenvolvimento da comunicação integrada, pública e
estratégica, busca compreender como os processos de
comunicação são estruturados e desenvolvidos por meio da
implementação de uma Política de Comunicação. A relaçõespúblicas considera essa política como estratégica para o
desenvolvimento de uma comunicação organizacional
integrada, pública e estratégica. O texto tem como objetivo
propor um modelo operacional para a implementação de uma
Política de Comunicação em Instituições Federais de Ensino
Superior, utilizando a experiência da UFSM como referência.
O último artigo do nosso livro, Pensando o mundo virtual
a partir da comunicação e do trabalho: um desafio necessário,
de autoria de Gibsy Lisiê Caporal Soares, explora conceitos
que definem o mundo virtual, o ambiente online, plataformas e
redes sociais, contextualizando essas ideias nas relações entre
comunicação e trabalho. A pesquisadora do Instituto Federal
Farroupilha e doutoranda em Comunicação na Universidade
Federal de Santa Maria, destaca a importância de compreender
25
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
teoricamente esses conceitos e autores, enquanto busca
articular esses elementos de forma sistematizada em um texto
de referência para pesquisadores da área de comunicação.
Todos os capítulos de Estratégias de Comunicação e
Relações
Públicas
em
contextos
organizacionais
emergentes
representam
trabalhos
instigantes
que
proporcionam reflexões sobre as complexidades e desafios
enfrentados pelas organizações em um cenário midiático em
constante transformação. As autoras e autores, em sua maioria,
são pesquisadores-profissionais referência em suas áreas de
atuação, cujas ideias provocam discussões, estimulam novos
debates e inspiram pesquisas sobre questões contemporâneas
que impactam nas relações das organizações com os demais
setores da sociedade. Além disso, o livro agrega a essas
referências outros autores que estão trilhando suas pesquisas,
e mesmo sendo iniciais, já possuem o mérito de estar
ressignificando o campo das Relações Públicas e da
Comunicação Organizacional.
Em parceria com as professoras Maria Ivete Trevisan
Fossá e Gibsy Lisiê Soares Caporal, que organizaram este
livro junto comigo, e com o apoio incansável dos membros do
Grupo de Pesquisa em Comunicação Institucional e
Organizacional da Universidade Federal de Santa Maria,
dediquei-me à elaboração desta obra com carinho. Cada tema
escolhido reflete nossas inquietações e busca contribuir para o
avanço do nosso campo de estudo e práticas. Espero que este
livro instigue outros pesquisadores-profissionais a refletirem
criticamente sobre as Relações Públicas e a Comunicação
Organizacional, campos pelos quais temos grande apreço e
paixão.
Boa leitura.
Fabio Frá Fernandes.
26
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
LAS RELACIONES PÚBLICAS ANTE LA
CRISIS DE LA DESINFORMACIÓN
PUBLIC RELATIONS IN THE FACE OF THE
MISINFORMATION CRISIS
Ana Almansa Martínez
Francisco Javier Godoy Martín
Resumen: La comunicación de las organizaciones en las primeras décadas
del siglo XXI ha estado marcada irremediablemente por el
surgimiento y desarrollo de la Web 2.0 y las diferentes
aplicaciones y redes sociales que han favorecido una mayor
democratización de las relaciones entre entidades y públicos.
Este hecho, que, sin duda, ha traído numerosos efectos positivos,
ha potenciado también uno muy negativo: la desinformación. Los
rumores y las noticias falsas o que desprestigian han existido
siempre, pero el ritmo al que se difunden y la magnitud que en
ocasiones pueden alcanzar son una consecuencia directa de la
comunicación online. La preocupación por las denominadas fake
news se ha incrementado especialmente a partir de la pandemia
de COVID-19, pero son otros muchos los campos en los que
tienen influencia, como la guerra de Ucrania o los diferentes
procesos electorales. De esta manera, el periodismo y las
empresas de fact-checking han cobrado una enorme importancia.
Sin embargo, un ejercicio ético y transparente de las relaciones
públicas también puede contribuir a luchar contra una de las
lacras de las sociedades occidentales en la actualidad.
Palabras
clave:
Desinformación. Fake news. Relaciones
Relaciones con medios. Redes sociales.
públicas.
Abstract: The communication of organizations during the first decades of the
XXI century has been inevitably determined by the development of
Web 2.0, as well as the applications and social networking sites that
have favoured more democratic relations between organizations
and the public. Even if we cannot get away from the fact that this
has brought about numerous positive effects, it has also boosted a
28
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
very negative one: misinformation. Discrediting rumours and fake
news have always existed, but the pace at which they spread and
the importance they may be given on some occasions stem directly
from online communication. The concern for fake news has
increased, especially since the COVID-19 pandemic. Nevertheless,
these have influence in many other fields, such as the war in
Ukraine or the different electoral processes, to name but a few.
Hence, journalism and fact-checking organizations have gained
significant importance. However, the ethical and honest exercise of
public relations may also contribute to fighting against one of the
biggest blots on current occidental societies.
Keywords: Misinformation. Fake news. Public Relations. Media relations.
Social Media.
La crisis permanente de la sociedad
Vivimos en una sociedad en crisis. Al menos, si la
entendemos como esa situación o momento de incertidumbre
(DE LA CIERVA, 2015) al que todos debemos enfrentarnos en
algún momento de nuestra vida y que, especialmente en el caso
de las organizaciones, puede afectar de forma negativa a su
imagen, es decir, a esa construcción que los públicos crean en
su mente a partir de todos los inputs que reciben sobre ellas
(VILLAFAÑE, 2008b), así como a su reputación o consolidación
de la imagen corporativa en el tiempo (VILLAFAÑE, 2008a).
El enfoque sistémico permite observar que, ya desde el
pasado siglo, y de forma creciente en este siglo XXI, las
organizaciones están obligadas a desarrollar su actividad en
entornos cada vez más complejos. Los avances tecnológicos y
el surgimiento e implantación de las redes sociales no han hecho
más que acelerar esta dinámica. Se enfrentan, por tanto, a
procesos comunicativos en los que participan un mayor número
de actores, entre los que existe una comunicación horizontal que
permite la interacción directa y en tiempo real entre
organizaciones y públicos, perdiendo a priori su carácter
29
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
unidireccional (LOSADA DÍAZ, 2018). En efecto, los factores que
contribuyeron al desarrollo de la web 2.0, con todos sus efectos
beneficiosos desde el punto de vista comunicativo e incluso
democrático, también han hecho posible la creación, difusión y
aceptación de las denominadas fake news (ALMANSAMARTÍNEZ et al., 2022; JAHNG et al., 2020).
Aparte de ser una oportunidad para la presencia del periodismo
profesional, el universo de las redes sociales se erige como un
espacio liberalizado en el que cualquiera puede difundir
información a potenciales audiencias masivas. Los intereses, la
preparación y el cuidado que esos informantes ponen en la
generación y difusión de esa información capaz de tener un largo
alcance en extensión e impacto son muy diversos. Y de aquí se
deriva una de las grandes preocupaciones en las democracias
contemporáneas: como todo parece valer lo mismo, el
crecimiento de la desinformación y de las fake news en los flujos
comunicativos, unido al auge de los populismos (Alonso, 2017;
González, 2019), puede tener importantes efectos en la salud de
las democracias (SÁNCHEZ DE LA NIETA y FUENTE, 2020, p.
17).
Por lo tanto, al mismo tiempo que tienen la capacidad de
crear vínculos, las redes sociales también pueden provocar el
efecto contrario: la división (JOHNSON et al., 2022). Es lo que
ocurrió, por ejemplo, con las informaciones falsas difundidas
durante la pandemia de COVID-19 con el objetivo de polarizar y
desestabilizar la sociedad (MOREJÓN-LLAMAS, 2020). En ese
sentido, cuando las organizaciones se convierten en
protagonistas de esas noticias falsas, su reputación puede verse
seriamente afectada (VAFEIADIS y XIAO, 2021). De hecho, la
investigación de Jahng et al. (2020) revela que los profesionales
de las relaciones públicas encuestados consideran que las fake
news son una amenaza para la reputación corporativa. La
proliferación de bulos, rumores y noticias falsas a través de
30
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
redes sociales ha generado lo que Sánchez Illán (2021, p. 144)
denomina “ecosistema desinformativo”.
El fenómeno de la desinformación
La desinformación se ha convertido en un problema
destacado de la sociedad en la actualidad, lo que ha captado el
interés de investigadores de diferentes disciplinas (RÚASARAÚJO y PANIAGUA-ROJANO, 2023), y también ha afectado
a la práctica profesional de las relaciones públicas (MEHTA et
al., 2021). Mehta et al. (2021) definen este fenómeno como
aquella información inconsistente, especulativa o falsa sobre
algún aspecto relacionado con una crisis que sufre una
organización.
El objetivo de la desinformación consiste en elaborar un mensaje
de contenido persuasivo, integrado por elementos inciertos,
distorsionados, incompletos, falsedades, pero que así mismo
concurren y participan de elementos verdaderos para poder
ofrecer un aspecto de credibilidad. Aquí reside su gran potencial,
en el sentido que alcanza la verdadera significación cuando
concita un grado suficiente de certeza. La principal finalidad de
la desinformación consiste en deformar las percepciones,
pensamientos de la instancia receptora mediante la
manipulación informativa (CASTILLO ESPARCIA, 2010, p. 45).
La complejidad del fenómeno de la desinformación se
muestra en el estudio de Mehta et al. (2021), cuyos participantes
identificaron diferentes tipos de crisis en función de la naturaleza
de la información. Así, diferenciaron entre crisis por información
inconsistente, como aquella aportada por la propia organización
que genera contradicciones; crisis por información especulativa
o no contrastada acerca de la organización; crisis por
información falsa difundida deliberadamente acerca de la
organización; y crisis por información malinterpretada, que se
31
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
produce cuando no se comprenden todos los aspectos de una
determinada situación.
Petratos (2021), por su parte, recoge la diferenciación
entre misinformation, como aquella información errónea
difundida, pero sin intención de hacer daño; disinformation o
difusión de información deliberadamente falsa; y fake news, que
son aquellas noticias que incorporan información falsa o errónea
de forma consciente. Boman y Schneider (2021) recuperan
también de la literatura sobre el tema la distinción entre
misinformation y disinformation, poniendo el foco en la intención
de afectar la imagen de la organización.
En su estudio acerca de la gestión de fake news por parte
de los profesionales de las relaciones públicas, Jahng et al.
(2020) observaron que estos identifican dos elementos clave en
relación con este tipo de informaciones: la motivación para
engañar, que puede responder a un intento de manipular la
opinión pública o de beneficiar los propios intereses, y el
contenido erróneo, cuando hace referencia a la ausencia de
hechos que apoyen una información, a la exageración, a la
inclusión de emociones como el miedo y el predominio de
opiniones, o a la generación de polémicas.
Otro fenómeno que ha reaparecido con fuerza en los
últimos años en relación con la desinformación es el astroturfing,
es decir, “campañas de desinformación para promover intereses
de las entidades que lo promocionan” (GARCÍA-OROSA, 2021,
p. 5). Estas campañas se basan en la movilización de las bases
(BOMAN y SCHNEIDER, 2021). En ese sentido, los bots pueden
formar parte de este tipo de movimientos (GIOVANELLI y
PÉRSIGO, 2022).
La idea de que existan organizaciones que ponen en
marcha campañas orquestadas con el fin de manipular a la
opinión pública y así obtener un beneficio propio o perjudicar a
sus rivales nos lleva a los conceptos de Black PR y Dark PR:
32
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
A falta de un corpus teórico en español sobre el tema, se observa
que ambos conceptos son utilizados indistintamente para
denominar las campañas de influencia negativas que buscan
afectar la reputación de un competidor o adversario político.
Ambas se vinculan a las prácticas de desinformación y
desprestigio implementadas por el gobierno ruso en la década
de los 90, también extendidas al ámbito empresarial y
corporativo. No obstante, parece que Black PR se utiliza en
mayor grado para describir estas acciones, mientras que Dark
PR aparece posteriormente, englobando también más parcelas
del ámbito digital (RODRÍGUEZ FERNÁNDEZ, 2023, p. 16).
Pese a la importancia que tienen los fenómenos descritos
hasta el momento, el estudio de Casero-Ripollés et al. (2023) y
el de Fernández-Torres et al. (2021) muestran que los
ciudadanos españoles no tienen una percepción alta de la
desinformación y sus efectos sobre su vida, aunque sí
desconfían de los medios de comunicación y de los políticos.
Estrategias de crisis frente a la desinformación
Ante la incertidumbre que supone una crisis, los públicos
de cualquier organización desempeñarán un papel activo en la
búsqueda de información (CASERO-RIPOLLÉS, 2020), incluso
comentando en redes sociales y, contribuyendo, en muchos
casos, a profundizar en ella y hacerla más grave.
No cabe duda, por tanto, de que, aunque no sean las
causantes de la crisis, las organizaciones tienen la
responsabilidad de poner en marcha estrategias de defensa ante
los posibles riesgos a los que se enfrentan. Y, pese a que existen
opciones como la del silencio, las últimas investigaciones
sugieren que la organización actúe siempre de alguna manera,
ya que, en un mundo interconectado, cualquiera podrá lanzar los
mensajes que quiera en ausencia de la voz de la entidad. Por
33
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
ello, Jahng et al. (2020) recomienda que los profesionales de las
relaciones públicas reconozcan la amenaza que suponen las
fake news para la reputación corporativa, recurrir siempre a las
fuentes primarias para contrastar las informaciones, estar
actualizados en cuanto al uso de sistemas de fact-checking y de
redes sociales y establecer redes de expertos para realizar
consultas (Jahng et al., 2021).
A partir de sus entrevistas con 31 profesionales de las
relaciones públicas, Mehta et al. (2021) plantearon algunas
estrategias de respuesta ante las crisis de desinformación. La
primera de ellas pasa por reconocer la crisis con el objetivo de
ganar tiempo y preparar mejor la respuesta. Por otra parte,
mencionan la estrategia de corrección, con la cual se pretende
corregir la información incorrecta y/o convertir a la organización
en fuente de referencia. Otras alternativas fueron ampliar la
información con el objetivo de que los stakeholders moderen su
postura o permanecer en silencio, a la espera de que sea otro
actor el que se pronuncie.
La encuesta de Jahng et al. (2020) a 206 profesionales
de las relaciones públicas reveló estrategias como la verificación
de la información a través de diferentes fuentes fiables, como los
medios de comunicación u otros profesionales. Con el objetivo
de diferenciar los contenidos de la organización de las fake
news, los encuestados apuntaron tres estrategias: establecerse
como fuente oficial de información, evitar respuestas que
incluyan polémicas políticas y trabajar bajo estándares éticos.
Boman y Schneider (2021) recogen también de otros
autores algunas estrategias, como la proactiva, que supone
trabajar de forma preventiva con el objetivo de que la crisis no
llegue a existir. En esta modalidad encontramos la estrategia del
silencio; la estrategia de apoyo, por la cual se ofrecen
argumentos para reforzar actitudes positivas en los individuos
con carácter previo al estallido de una crisis; y la estrategia pre34
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
bunking o de inoculación, por la cual se envían mensajes
advirtiendo de lo que pueden hacer o decir otros actores sobre
nuestra organización, de manera que se desactivan sus
mensajes.
Pero, más allá de las estrategias de gestión de crisis que
tenga cada organización, no hay que olvidar un elemento de las
sociedades democráticas que puede y debe combatir
igualmente las acciones de desinformación. Nos referimos,
evidentemente, a los medios de comunicación y, en particular, a
la profesión periodística. Si bien es cierto que son muchas las
críticas que se hacen a esta labor como consecuencia de una
cierta falta de confianza, “en un momento de infodemia como el
que se encuentra la sociedad actual, el periodismo se convierte
en un aliado estratégico de la ciencia para combatir las fakes”
(MARTIN-NEIRA et al., 2023, p. 10). Junto a los medios de
comunicación, las empresas de verificación de datos o factcheking también tienen una importante labor en este sentido: “el
periodismo de comprobación tiene en la verificación, credibilidad
y transparencia algunos de sus principales pilares para mantener
la confianza de la sociedad como herramienta eficaz para hacer
frente al problema de los bulos” (SANAHUJA y LÓPEZ
RABADÁN, 2022, p. 19), pero también la tienen las relaciones
públicas GOMES GONÇALVES et al., 2022).
Es importante mantener acciones de relaciones con los
medios de comunicación, tradicionalmente uno de los públicos
preferentes (ALMANSA MARTÍNEZ et al., 2018), y a través de
las cuales las organizaciones pueden mostrar su actividad de
forma transparente y generando un clima de credibilidad.
Las relaciones públicas ante la desinformación
La lucha contra las prácticas desinformativas es una tarea
que deben llevar a cabo todos los actores de la sociedad. En ese
35
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
sentido, es necesario que la ciudadanía comprenda también el
problema de las fake news (MOREJÓN-LLAMAS, 2020).
La alfabetización mediática es más necesaria que nunca, un
conjunto de habilidades de pensamiento crítico y analítico, que
se movilizan para la búsqueda de información fiable, para
proteger incluso nuestra salud física y la salud de la propia
comunidad global. Es trascendental que el público sepa
contrastar adecuadamente y cuáles son las fuentes fiables de
información. Y esto es así, sobre todo, porque los nuevos medios
y los movimientos políticos y sociales alternativos solo disponen
de los cauces no convencionales para difundir sus programas y
se han lanzado a este universo de la falacia comunicativa con
auténtica voracidad (SÁNCHEZ ILLÁN, 2021, p. 146).
Pero mientras ese proceso, que se presupone a largo
plazo, ocurre, junto a los medios de comunicación y a las
estrategias defensivas de comunicación de crisis, los
profesionales de las relaciones públicas tienen un arma más
contra la desinformación: la ética. Las organizaciones tienen que
defenderse de ataques relacionados con las fake news, pero,
sobre todo, deben evitar llevar a cabo esos ataques. Así no
habrá necesidad de que nadie se defienda. Se trata, sin duda,
de un planteamiento un tanto idealista, pero “los relacionistas
públicos deben pregonar los beneficios y perjuicios de sus
actividades de comunicación, y deben tener la tenacidad moral
para decir que sí o que no” (STORTINI, 2011, p. 118).
En ese aspecto, merece la pena recordar la conveniencia
de apostar por modelos de relaciones públicas bidireccionales y
simétricos, ya que, en ellos, los comportamientos poco éticos
tienen menor cabida, pues se basan en la negociación y el
entendimiento mutuo.
36
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
ESTRATÉGIAS E TÁTICAS
ORGANIZACIONAIS INTEGRADAS DE
RELAÇÕES PÚBLICAS: da ideação à práxis
propositiva de programas de comunicação e
relacionamento interno
INTEGRATED ORGANIZATIONAL STRATEGIES
AND TACTICS OF PUBLIC RELATIONS: from
ideation to proactive praxis of internal communication
and relationship programs
Fabio Frá Fernandes
Resumo: neste capítulo, à luz das minhas experiências acadêmicoprofissionais, apresento não um modelo de como gerenciar a
comunicação interna em uma organização, mas sim um
pensamento sistêmico, uma práxis propositiva para a consecução
planificada de estratégias e táticas organizacionais de relações
públicas. Esse pensamento está imbuído em tornar a
comunicação e os relacionamentos com o público interno um
processo integrado à gestão global da organização, além de
participativo, diverso, inclusivo, transparente, empático e, acima
de tudo, humanizado. Por meio de um diálogo teórico-prático,
sistematizo um processo não linear para elaboração e
implementação de programas de comunicação e relacionamento
interno, com o objetivo de orientar estudantes, pesquisadores e
profissionais a desenvolverem o planejamento de relações
públicas para além de sua função essencial.
Palavras-chave:
Relações Públicas. Planejamento Estratégico de
Comunicação Interna. Comunicação Institucional e
Organizacional. Mídias e Estratégias Comunicacionais.
Abstract: in this chapter, based on my academic and professional
experiences, I present not a model for managing internal
communication in an organization, but rather a systemic thinking,
40
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
a proactive praxis for the planned achievement of organizational
strategies and tactics of public relations. This thinking is imbued
with making communication and relationships with the internal
public an integrated process within the overall management of the
organization, as well as being participatory, diverse, inclusive,
transparent, empathetic, and, above all, humanized. Through a
theoretical-practical dialogue, I systematize a non-linear process
for the development and implementation of internal communication
and relationship programs, aiming to guide students, researchers,
and professionals in expanding the scope of public relations
planning beyond its essential function.
Keywords: Public Relations. Strategic Planning of Internal Communication.
Institutional and Organizational Communication. Media and
Communication Strategies.
Introdução
Em minha trajetória profissional, há mais de dez anos
trabalho com o ensino, a pesquisa e a prática em Relações
Públicas1 e Comunicação Organizacional2. Na academia,
busquei equacionar as transformações sociotécnicas que o
fenômeno da midiatização tem demandado ao pensamento
crítico-reflexivo comunicacional, visando aos contextos
organizacionais emergentes, a fim de produzir e atualizar os
conhecimentos da área. Mas, principalmente, formar
profissionais e pesquisadores preparados para um mundo que
já não se movimenta com a mesma velocidade com a qual
estávamos acostumados. As mudanças sócio-organizacionais
são tantas e imediatas que, às vezes, o pensar e o fazer da
comunicação organizacional não conseguem acompanhar.
Na área técnica, tanto como analista quanto como gestor
de Comunicação e Relações Públicas, em organizações
privadas, públicas ou não-governamentais, concentrei meus
esforços em propor sistemas planejados para equilibrar as
41
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
tensões comuns e necessárias entre a gestão organizacional, o
planejamento estratégico comunicacional e as relações
mantidas e preteridas por essas organizações com seus
públicos de interesse.
As organizações, alinhadas à visão de Robert Park
(1915), foram e continuam sendo meus laboratórios, locais para
experimentação prática dos conhecimentos que adquiri. Não
obstante, essas mesmas organizações e seus fenômenos,
inspirados pelo pensamento de Vera França (2015), tornam-se
meus objetos empíricos que, por meio das lentes das Relações
Públicas e da Comunicação Organizacional, são acionados para
a proposição de processos estratégicos de gestão
comunicacional, com o intuito de alcançar o tão desejado
equilíbrio entre públicos e organizações. No entanto, esses
fenômenos retornam comigo à academia, diuturnamente, para
efetivar a manutenção contínua da produção de conhecimento.
Neste capítulo, apresento não um modelo de como
gerenciar a comunicação interna em uma organização, mas sim
a sistematização de um pensamento, uma práxis propositiva
para a consecução planificada de estratégias e táticas
organizacionais de Relações Públicas, que busca integrar a
comunicação e os relacionamentos como um processo
integrado à gestão global de uma organização. Além disso, esse
pensamento é participativo, diverso, inclusivo, transparente,
empático e, acima de tudo, humanizado.
Todavia, antes de chegar a esse ponto, é necessário
elaborar alguns diálogos para que tal proposição seja aderente
e claramente compreendida. Para esse propósito, foi
fundamental revisar as acepções que tangenciam o
planejamento estratégico organizacional, situar o processo de
planejamento como função essencial da atividade de relações
públicas, além de objetivar a concepção teórico-prática sobre a
classificação e ordenação de públicos nas organizações atuais.
42
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Além disso, é importante posicionar os programas de relações
públicas nesse contexto como instrumentos excelentes para
planejar os relacionamentos e a comunicação com o público
interno.
Por fim, sistematizo um processo para elaboração e
implementação de programas de relações públicas orientados à
comunicação e ao relacionamento interno nas organizações.
Esse pensamento prático propositivo atravessa os limites das
organizações em que trabalho ou trabalhei, das salas de aula e
laboratórios das universidades das quais fui professor e
pesquisador, visando gerar conhecimentos teóricos que,
aplicados no mercado, retornam à academia, mantendo sempre
atualizada a produção de conhecimentos em Relações Públicas
e Comunicação Organizacional.
Planejamento de Relações Públicas: estratégias e táticas
organizacionais para públicos de interesse
Planejar pressupõe o pensamento sistemático e racional
posto para analisar uma determinada situação ou realidade.
Envolve estudos, questionamentos, pesquisas, diagnósticos,
tomada de decisões, estabelecimento de objetivos, estratégias,
alocação de recursos e avaliação contínua. Compreende, se não
o mais importante, um dos principais instrumentos para os
processos gerenciais em todas as áreas. O planejamento
desempenha papel fundamental na administração e visa a
eficiência,
eficácia
e
efetividade
das
organizações
(CHIAVENATO; SAPIRO, 2023), quando está intrinsecamente
ligado à missão, visão, valores e princípios organizacionais.
No contexto das organizações, o planejamento ocorre em
três níveis: estratégico, tático e operacional. O nível estratégico
desempenha um papel central, relacionado às grandes decisões
da organização. É de longo prazo e está em constante sintonia
43
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
com os ambientes interno e externo. Já o nível tático atua em
uma dimensão mais restrita e de curto prazo, sendo mais
específico e pontual, voltado para atender demandas imediatas
por meio de ações administrativas e técnicas setoriais eficientes.
O planejamento operacional, por sua vez, é responsável pela
formalização, por meio da documentação organizacional, de
todo o processo e das metodologias a serem adotadas
(THOMPSON; STRICKLAND, 2003; OLIVEIRA, 2007;
KUNSCH, 2008). Em outras palavras, ele é responsável por
transformar as metas e objetivos do nível estratégico em ações
reduzidas e executáveis em fluxos diários de trabalho.
Para as relações públicas, planejamento é um processo
inerente às suas funções essenciais (ANDRADE, 1993). O que
significa que a natureza estratégica e excelente das atividades
dos relações-públicas nasce e se desenvolve pelo planificar do
binômio conflito-cooperação entre organizações e seus públicos.
Os relacionamentos são, inclusive, o principal objeto de
intervenção e análise da profissão. Em outras palavras, sendo o
binômio relacional organização-públicos baseado no equilíbrio
processual entre conflito-cooperação, os relações-públicas
devem trabalhar para alinhar as atitudes e ações da organização
com as expectativas e necessidades dos públicos com os quais
se relacionam. Trata, per se, “da aplicação científica das ciências
sociais aos importantíssimos campos do ajustamento e da
comunicação” (BERNAYS, 1972, p. 211).
As relações públicas, portanto, estão constantemente
envolvidas com públicos e com a opinião pública, em geral. Isso
torna evidente a necessidade de maximizar cuidados ao ser
sistematizado suas atividades. O que será possível mediante
planejamento. Por isso, trata-se de uma função básica, mas
imprescindível para o seu exercício profissional diário
(KUNSCH, 2003). As intervenções em busca do equilíbrio da
relação organização-públicos pressupõem um pensar antes de
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
agir, ou seja, um plano de ideias, um planejamento. Para que
melhor se efetive a comunicação, será preciso “definir o que
dizer, a quem dizer, de que forma e o resultado pretendido”
(BASEGGIO, 2012, p. 15). Nesse sentido, os relações-públicas
se dedicam ao estudo e à prática da compreensão e gestão da
função comunicacional política das organizações (SIMÕES,
2009).
Planejar, em relações públicas, implica análise e
diagnóstico de cenários. Na administração, o processo de
planejamento inicia com a identificação de forças e fraquezas no
ambiente interno, e das oportunidades e ameaças no ambiente
externo. No âmbito da comunicação e dos relacionamentos
organizacionais, a premissa é a mesma. Para tanto, os relaçõespúblicas precisam definir objetivos (o que se deseja alcançar)
amparados em metas (medidas de desempenho) e indicadores
(nível de desempenho desejado) para definir, o mais exato
possível, os resultados esperados com o plano de relações
públicas, bem como das atitudes programadas dos públicos de
interesse frente a esse movimento (BERNAYS, 1972).
Em paralelo, será necessário conduzir pesquisas e
auditorias organizacionais, estas que determinaram se as metas
estabelecidas são exequíveis e, se o forem, como poderão ser
atingidas, avaliadas e controladas. Com sua confirmação ou
ajustes, quando necessário, inicia-se o processo de definição
das estratégias e das táticas, ou seja, dos métodos pelos quais
serão executadas cada ação empreendida à luz dos objetivos de
comunicação, relacionamento e de gestão organizacional.
A ação de planejar a comunicação nas organizações,
para os relações-públicas, implica, também, a identificação dos
públicos, ao passo de compreender suas necessidades,
expectativas e interesses, em visada de alinhá-los aos
interesses organizacionais. Em meio ao fenômeno da
midiatização das práticas e processos sócio-organizacionais,
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
onde a interdependência e a inter-relação das pessoas e suas
organizações com as tecnologias, em especial as mídias digitais,
planejar a comunicação organizacional tem se apresentado em
desafios complexos para os relações-públicas. Afinal, noções
fundantes do pensamento comunicacional e administrativo
mudam diariamente, os polos emissor-receptor estão invertidos,
e os públicos são internos e externos às organizações em
simultâneo, para além das lógicas jurídicas das relações de
trabalho e comerciais.
Por isso, torna-se fundamental, à luz das especificidades
de cada profissional, da organização em que atua e dos
ambientes dos quais faz parte, classificar e definir seus públicos.
Saber identificar e classificar os públicos é a matéria-prima da
atividade de relações públicas (ANDRADE, 1989). Posso dizer,
inclusive, que esta é a tarefa, primeira, para toda e qualquer
ação planificada de comunicação organizacional.
Até muito recentemente, os públicos nas organizações
eram classificados em internos, externos e mistos (MARSTON,
1979; LAMMERTYN, 1997). Também foram adotados,
especialmente na administração e no marketing, classificações
como clientes interno e externo (BRUM, 2017) para tratar os
públicos, indiferente de sua posição geográfica na organização,
enquanto clientes essenciais e potenciais. Edward Freeman
(1984) elaborou o conceito de stakeholders na tentativa de
aproximar mais as tensões e interferências no binômio
organização-público, mas também para situar o interesse deles
para com a organização.
José Porto Simões (1995, p.132-135), baseado nas
pesquisas de Lucien Matrat, classifica os públicos em quatro
categorias: “de decisão, de consulta, de comportamento e de
opinião”. Para Simões (1995), tal classificação seria mais
fidedigna com a real abstração do conjunto de pessoas com
interesses comuns entre si e referentes às organizações.
46
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Fábio França (2009), ao ler essas e outras tipologias e
estruturas classificatórias, foi além, e propôs uma conceituação
mais lógica para os públicos em Relações Públicas. Segundo o
pesquisador da Universidade de São Paulo, os públicos seriam
organizados em três níveis: essenciais, não-essenciais e
públicos de redes de interferência.
Frente a esta multiplicidade de interpretações e
classificações para os públicos de uma organização, mas
buscando simplificar e acionar termos mais equânimes, postos
comumente nos discursos organizacionais, sendo inclusive,
melhor compreendidos pela gestão, opto por empregar o termo
públicos de interesse. Todavia, organizados entre públicos de
interesse interno (toda e qualquer pessoa com relações de
trabalho direta e indireta com a organização) e públicos de
interesse externo (pessoas cujas relações não são funcionais,
mas se relacionam com a organização a partir de seus produtos
e serviços).
Vale destacar que, indiferente da nomenclatura
empregada para classificar os públicos em Relações Públicas ou
nas organizações, as características fundantes de suas relações
organizacionais devem ser identificadas com base em
pesquisas, análises de ambientes e de mercado. Ao identificar e
classificar os segmentos grupais e individuais de pessoas, o
processo de seleção será orgânico, com estratégias
segmentadas e dirigidas. Ou seja, será mais fácil propor
programas, projetos e campanhas de comunicação, personalizar
os relacionamentos, encontrar e empreender ações em nichos
de mercado, além de elaborar um posicionamento de marca
unificado, capaz de atender as especificidades de cada público.
Desta forma, torna-se viável o planejamento de relações
públicas, que, sendo mais assertivo e coerente com as
dinâmicas da comunicação no contexto das organizações, se
torna estratégico e tático.
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Em relações públicas, usualmente, desenvolvemos dois
tipos principais de planejamento, um orientado ao pensamento
sistematizado da comunicação abarcando todos os âmbitos
prático-processuais da organização, ou seja, a comunicação
administrativa, a interna, a comunicação institucional e a
mercadológica. E outro, dirigido a cada um desses âmbitos,
operacionalizado por meio de programas multissetoriais,
campanhas de relacionamento e projetos tematizados.
Conforme nos lembra Margarida Kunsch (2003), indiferente de
ser amplo ou dirigido, o planejamento de relações públicas deve
ser amparado e norteado por metodologias ágeis em convergir
o olhar da administração e o olhar da comunicação, em
estratégias de relacionamento.
Todo planejamento de relações públicas deve ser
orientado ao futuro, seja ele em âmbito global, ou dirigido a um
público específico. Este pode ser curto, médio ou de longo prazo,
a depender dos objetivos e metas anteriormente definidos.
Precisa ter suas ações segmentadas conforme estratégias e
táticas, mas baseada nos públicos de interesse (interno, externo
ou ambos) e no seu objeto de intervenção (realidade, situação,
problema). Também necessita definir os meios, produtos,
técnicas, processos comunicacionais e seus responsáveis para
dar conta dos objetivos, além de estabelecer os fluxos referentes
à tomada de decisões, tanto comunicacionais quanto
administrativas.
Para mais, precisa determinar a temporalidade esperada
e possível para executar o planejamento, ao passo de elaborar
e propor sistemas de controle e avaliação orientados pelos
resultados almejados. Nesse sentido, é importante documentar
todas as atividades por meio de relatórios para que, no futuro,
possam ser consultados como fontes de referência, mas
principalmente para demonstrar o valor e a importância das
relações públicas para as organizações.
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Ao reconhecer que por meio do planejamento as relações
públicas podem exercer o gerenciamento estratégico da
comunicação nas organizações e atuar numa perspectiva mais
integrada, fica evidente que esse processo, mais que uma
função essencial da profissão, é um fator determinante para
suas atividades, permitindo a eficácia na harmonização das
relações organização-públicos, a depender do seu
direcionamento: interno, externo ou ambos.
Na sequência, ao tratar do processo de planificação de
estratégias e táticas orientadas à comunicação e aos
relacionamentos interno nas organizações, exploro como as
relações públicas podem desenvolver estratégias eficazes para
alcançar uma comunicação interna sólida, promovendo o
engajamento dos colaboradores, o alinhamento de objetivos e a
construção de um ambiente organizacional saudável por meio
de programas dessa natureza.
Programas de comunicação e relacionamento interno:
proposta de elaboração e implementação
O equilíbrio e harmonização entre públicos e organização
dependem, principalmente, da gestão dos processos
comunicacionais administrativos, internos, institucionais e
mercadológicos, ou seja, da comunicação organizacional.
Entretanto, antes de pensarmos para fora, em acionar o
mercado por meio de ações de legitimação e visibilidade
organizacional externa, é preciso cuidar dos relacionamentos
internos.
A comunicação interna, como um processo sistêmico,
precisa ser percebida, pensada e operada como um ambiente
planejado com objetivos que possibilitem e qualifiquem os fluxos
de informações, a comunicação interpessoal e os
relacionamentos intraorganizacionais.
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
De modo pragmático, a comunicação interna se
apresenta como a materialização de um conjunto de práticas e
produtos comunicacionais efetivados para engajar as pessoas
que tornam possíveis a subsistência de toda e qualquer
organização.
São
funcionários
efetivos,
temporários,
terceirizados, estagiários e tantos outros que, direta ou
indiretamente, colaboram com a organização mediante seu
conhecimento técnico-especializado, sua dedicação, mas
principalmente, por meio de sua força de trabalho. Inclusive,
optamos nesse texto, empregar o termo colaborador para definir
e agrupar todo o sistema funcional-laboral das organizações.
Com a comunicação interna, temos a premissa de que
todos ficam sabendo, ou não, do que ocorre no dia a dia da
organização e compartilham, ou não, os objetivos, ideais e
valores organizacionais. O que significa que as trocas simbólicas
e discursivas entre atores organizacionais ocorrem
independentemente de uma posição estratégica da gestão. As
informações circulam, os boatos se espalham e o
desentendimento pode ser instaurado.
Para evitar a desinformação, ao exercer a gestão
estratégica da comunicação interna, os relações-públicas
maximizam os fluxos informacionais para que a comunicação
ocorra de forma dialogal e circular. Constituem redes formais
que, com conteúdo contínuo e ampla publicização dos atos
administrativos da organização, minimizam a formação de redes
informais e, assim, alinham os processos que põem em comum,
organização e o público interno. Ou seja, tornam estratégicos a
comunicação, que para além de um processo orgânico e
intrínseco à natureza das organizações, precisa ser planejada e
direcionada à luz dos objetivos organizacionais.
A organização, ao ter a comunicação interna planificada,
consegue comunicar o que acontece e oferece conteúdo que
agregue valor ao dia a dia dos seus colaboradores. Também
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
amplia a participação do público interno, de modo colaborativo,
em projetos da organização e das tarefas que lhes são
designadas, além de otimizar o alcance das informações. Com
informações acessíveis, equipes engajadas e com oportunidade
de participar dos processos decisórios da gestão, mas também
da produção de conteúdo, a comunicação interna alcança o seu
principal objetivo: equilibrar e alinhar colaboradores e
organização na mesma direção.
Para tanto, o planejamento de relações públicas
orientado à comunicação interna precisa cumprir com os
requisitos mínimos pressupostos pela administração, acrescido
das características do âmbito comunicacional. Assim, o
planejamento de comunicação precisa ter:
1. Método: procedimentos e técnicas coerentes com a
realidade da organização e de seus públicos para
diagnosticar e projetar o planejamento. Buscar
sempre métodos ágeis em combinação com métodos
tradicionais.
2. Gestão especializada: são os comunicadores, em
especial os relações-públicas, os profissionais com
expertise para gerenciar, se não o setor de
comunicação,
o
processo
de
comunicação
organizacional, especialmente a interna.
3. Sistemas de capacitação multissetorial: o sucesso
e envolvimento dos públicos ante o planejamento de
relações públicas terá relação sistemática com o
conhecimento de todos sobre a área, sendo
fundamental capacitação, treinos e avaliação
constante das equipes multissetoriais.
4. Cultura Organizacional: desenvolvida enquanto um
organismo comunicante, pois envolve a troca
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
constante de informações, valores, crenças e normas
entre os membros da organização, mas, também,
comunicada ao ser transmitida aos membros da
organização por meio de símbolos, rituais, histórias,
políticas e práticas.
São os programas de relações públicas, nesse contexto,
excelentes instrumentos para planificar os relacionamentos e a
comunicação com públicos de interesse. Programas são um
conjunto sistematizado, contínuo, mas flexível de ações
estratégicas que buscam articular os interesses da organização
com os interesses de seus públicos em vista de ampliar o
alcance dos demais processos gerenciais (BYOIR, 1972). Eles
objetivam potencializar políticas e práticas comunicacionais,
mas direcionado aos anseios e perfis dos públicos definidos ante
sua proposição (KUNSCH, 2003).
Para a comunicação interna, os programas de relações
públicas pretendem institucionalizar a cultura da organização,
reconhecer e valorizar a diversidade, promover a inclusão, mas
principalmente, manter todas as pessoas informadas sobre o
que acontece na organização. Os programas de relações
públicas ainda objetivam consolidar a consciência interna sobre
a missão, visão, valores, propósitos e princípios organizacionais,
facilitar as trocas relacionais entre gestores e equipes, motivar e
qualificar a vida funcional dos colaboradores.
Deste modo, a comunicação interna ganha nova
conotação, deixando de ser algo burocrático e cotidiano, para
tornar-se engajador, motivador e produtor de experiências
(BRUM, 2017). Indo além, ela vai tentar integrar os processos
formais e informais de comunicação administrativa, institucional
e mercadológica, buscando a coerência e harmonia nos
relacionamentos intraorganizacionais: organização e seus
colaboradores.
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Ademais, a comunicação interna contribui para
desenvolver e manter um clima positivo, propício ao
cumprimento dos objetivos da organização, ao passo de
estabelecer metas de crescimento continuado de suas
atividades, serviços e à expansão de suas linhas de produtos
(TORQUATO, 2011). Todavia, para concretizar esses objetivos,
será necessário a definição de intenções a serem implantadas
em tempo e espaço determinado, bem como dos objetivos
estratégicos e táticos de relações públicas.
Ao seguir os pressupostos sobre planejamento, tanto no
âmbito da gestão quanto de comunicação e de relações
públicas, conforme dialogado, o primeiro passo para elaborar e
implementar um programa orientado à comunicação e ao
relacionamento interno, será formar equipes multidisciplinares e
multissetoriais responsáveis por iniciar o processo de
programação. Uma boa dica para a formação dessas equipes, é
tentar mapear líderes e formadores de opinião, pessoas com boa
aderência entre os diferentes grupos internos. Esses poderão
ser, em outro momento, os atores estratégicos para a
consolidação do programa. Ademais, permitirá que ele aconteça
de forma descentralizada, transparente, com a participação ativa
de todos e baseado na experiência real da comunidade interna
da organização.
Com as equipes de responsáveis formadas, o próximo
passo será explorar o ambiente interno da organização. Tal
exploração tem o intuito de entender não apenas a realidade dos
públicos, mas os fluxos, redes e barreiras comunicacionais, para
então agir sobre as necessidades e expectativas da gestão com
sua implementação. Sistematicamente, proponho que os
responsáveis por sua elaboração façam uma ambientação por
meio da diagnose situacional profunda e analítica sobre a
organização, seus processos intrínsecos de comunicação
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
interna, mas em interface com os processos (planejados ou não)
de comunicação administrativa, institucional e mercadológica.
Serão os resultados desse diagnóstico o que permitirá
analisar e propor ações concretas, dirigidas, ao passo de idear
todo o conjunto de estratégias para tornar o programa efetivo.
Por isso é fundamental envolver o máximo de pessoas possíveis
nesse momento, pois os olhares diversos, vão garantir a
dimensão correta das necessidades comunicacionais e
informativas dos grupos, bem como os graus de aderência aos
anseios do público interno.
O trabalho de ideação de um programa de comunicação
e relacionamento interno, baseado nas evidências obtidas com
a diagnose, iniciará com a proposição dos objetivos estratégicos
e táticos. Aqui é fundamental ficar claro para qual finalidade esse
programa será constituído, afinal, não estamos falando apenas
da organicidade das relações e da comunicação entre as
pessoas, mas de um conjunto sistematizado de ações para:
1. Identificar e mitigar as barreiras comunicacionais:
problemas de ordem mecânica, semântica, fisiológica
ou psicológica que afetam a comunicação, como, por
exemplo, materiais informativos ineficazes ou
desatualizados, excesso de pessoalidade nos
processos organizacionais, uso equivocado da
linguagem e sistemas de poder em demasia
centralização ou descentralização.
2. Administrar as redes formal e informal de
comunicação: sendo a formal composta pelos
processos administrativos informacionais, que
expressam as normas e regem o comportamento e a
responsabilidade dos integrantes da organização.
Enquanto a informal emerge das relações sociais
entre as pessoas, alheia ao sistema formal,
geralmente baseada em boatos e conversas paralelas
54
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
ao discurso oficial da organização. No entanto, não é
pior nem melhor, pois ao ser gerenciada de forma
estratégica, poderá favorecer a formação de
lideranças informais ajustadas enquanto porta-vozes
extraoficiais.
3. Normalizar os fluxos comunicacionais: ou seja, os
caminhos, as técnicas e os meios pelo qual as
informações deverão circular para tornar colaborativa
a comunicação interna.
4. Gerenciar o ecossistema midiático: tanto a
organização quanto seus públicos têm, na palma de
suas mãos, um incomensurável quantitativo de
tecnologias midiáticas que os tornam, de igual forma,
um ambiente midiático. Ambos podem produzir e
consumir conteúdo, influenciando os paradigmas
comportamentais uns dos outros. A organização, por
meio do midiático, existe para além de suas paredes,
e seus colaboradores vivem a organização sem a
necessidade da presencialidade física. Esse contexto,
influenciado pela midiatização, complexifica o
planejamento de comunicação, não apenas o externo,
mas principalmente o interno, pois suas propriedades
tornam-se obliteradas. Portanto, é fundamental no
planejamento de comunicação e relacionamento
interno não apenas compreender as lógicas
configuracionais desse ecossistema midiático
compartilhado entre organização e seus públicos, mas
também normatizar e orientar as mensagens-chave,
os níveis de interação, o tempo de respostas dessas
interações, entre outras implicações provenientes das
interações público-organização-mídia.
Tal sistematização também precisará definir e apresentar
um conjunto de valores para orientar todas as ações
comunicacionais dirigidas ao público interno. Não podemos
55
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
apenas mitigar as barreiras, administrar as redes e normalizar
os fluxos comunicacionais, mas detalhar como essas ações
serão concretizadas, quais serão seus impactos e quais fatores
éticos serão empregados para isso. Alguns parâmetros podem
balizar esse processo, como: transparência, respeito, diálogo,
colaboração, inclusão, empatia e humanização.
Munidos dessa parametrização, os objetivos devem ser
formulados à luz dos processos que precisam ser reorganizados
e qualificados, tais como:
•
•
•
•
•
•
Motivar e integrar os colaboradores aos objetivos de
desenvolvimento institucional da organização.
Orientar a cultura organizacional para estabelecer um
clima interno positivo e favorável à sinergia
intraorganizacional e interpessoal.
Aperfeiçoar os processos e técnicas comunicacionais.
Racionalizar e direcionar os esforços e a tomada de
decisão de forma colaborativa.
Promover o comportamento inovador e o pensamento
disruptivo entre os colaboradores.
Garantir que todos os colaboradores tenham
conhecimento sobre a razão de ser da organização,
bem como suas atividades-meio e finalísticas.
Como sequência, sugiro prototipar o programa de
comunicação e relacionamento interno, iniciando por sua
estrutura administrativa, identidade visual e plano de ações
atemporal, ou seja, que seja duradouro apesar das mudanças
que podem acontecer nos ambientes interno e externo da
organização.
Acredito que todo processo de planejamento, indiferente do
objetivo almejado, precisa contar com a participação de todos,
ou pelo menos, de representantes de grupos de interesse. Como
visto, ao envolver equipes multidisciplinares e multissetoriais na
56
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
elaboração de programas de relações públicas, as chances de
sucesso são maiores. Entretanto, a gestão de um programa
também precisa ser descentralizada quando de sua
implementação. É sabido que, em todos os sistemas de
governança participativa, há a figura de gestores principais,
assessorados por gestores de áreas específicas e que ainda
contam com atores que deverão replicar aquilo que foi
planejado, decidido e logo executado em toda a organização.
Para programas de comunicação e relacionamento interno,
serão esses gestores, assessores e atores os responsáveis por
questões mais técnicas, como a reorganização da infraestrutura
de comunicação interna, a otimização dos recursos, definição de
métricas e indicadores de avaliação e controle, mas
principalmente, por garantir sua efetividade no âmago da
organização.
Ao prezar pela colaboração e participação ativa de todos os
atores organizacionais, o sistema gestor desse tipo de
programa, precisa ser formado por um grupo menor que chamo
de Comitê Gestor. De modo complementar, um grupo mais
ampliado, que denomino como Conselho Curador, além de
ramificações individuais e coletivas ao longo da organização,
compreendidos enquanto Agentes Estratégicos.
O Comitê Gestor do programa deve ser constituído como
instrumento superior para o planejamento, execução e avaliação
do processo de comunicação interna. Sua composição vai
sempre variar conforme a natureza da organização.
Prioritariamente, deve ser composto pelo: gestor da organização
(proprietário, sócio majoritário, presidente executivo); gerente de
comunicação; gerente de recursos humanos; analista de
relações públicas, analista de gestão com pessoas; e psicólogo
organizacional.
Seu trabalho consistirá em encontros periódicos para
planejamento e deliberação sobre o programa, de modo a propor
57
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
políticas de comunicação interna, normalização das práticas e
produtos de comunicação, eventos institucionais e outros. É
também incumbência do Comitê, orientar o trabalho do Conselho
Curador. Este, por sua vez, deverá ser formado por alguns
membros do Comitê Gestor (analista de relações públicas,
analista de gestão com pessoas e psicóloga organizacional) e
por representantes setoriais. O Conselho deve auxiliar no
processo de planejamento, avaliação, mas principalmente na
execução das ações de comunicação e relacionamento interno,
além de munir à gestão da organização dos resultados
alcançados com as estratégias e táticas do programa. O
conselho também deve se reunir periodicamente para avaliar e
replanejar sistemicamente as atividades do programa.
Já os Agentes Estratégicos, são a representação do
programa em cada um dos setores ou unidades da organização.
São eles que devem conduzir o diálogo entre o Comitê,
Conselho e com os demais públicos internos. Este agente será
responsável por operar as ações de comunicação e
relacionamento junto às equipes, medir e verificar os indicadores
de resultados, além de coletar informações para qualificar as
ações do programa. Cada setor ou unidade deve indicar um
representante efetivo e um suplente. É fundamental que esses
representantes tenham uma boa articulação com seus pares, ou
seja, ser legitimado, ter perfil de liderança e ser formador de
opinião.
No
infográfico
a
seguir,
represento,
visual
e
esquematicamente, como deve ser constituído esse sistema
gestor e de que forma devem estar interconectados para
viabilizar os processos e práticas de comunicação e
relacionamento interno.
58
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Infográfico 01 – Sistema de gestão para programas de
comunicação e relacionamento interno
Fonte: elaborado pelo autor
Ainda no âmbito de sua prototipação, será necessário
delinear algumas diretrizes para guiar a proposição de
estratégias e táticas de relações públicas. Geralmente essas
diretrizes podem ser relacionadas aos desafios indicados no
Plano de Desenvolvimento Institucional da organização, no seu
Planejamento Estratégico de Gestão, ou na sua Política
Institucional de Comunicação Organizacional. Todavia,
precisam ser formulados como um direcionador das ações de
comunicação e relacionamento interno. Dito de outro modo, as
59
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
diretrizes organizam e objetivam as ações a partir de núcleos
comuns, vinculados aos objetivos do programa, às suas
estratégias e táticas, além de serem balizadas pelo conjunto de
valores organizacionais de comunicação interna.
Essas diretrizes visam garantir a consistência da
comunicação e dos relacionamentos internos, alinhadas aos
valores, objetivos à cultura da organização. Algumas diretrizes
comuns incluem:
● Clareza e objetividade: estabelecer a importância de
uma comunicação clara, direta e concisa, evitando
ambiguidades e garantindo que as mensagens sejam
compreendidas pelos colaboradores.
● Transparência: incentivar a transparência na
comunicação interna, compartilhando informações
relevantes e importantes de maneira aberta e honesta.
● Meios de comunicação: definir os meios de
comunicação interna a serem utilizados, como
sistemas de compartilhamento e troca de mensagens
instantâneas, intranet, encontros deliberativos ou
formativos, eventos de celebração, entre outros,
garantindo que todos os colaboradores tenham
acesso às informações de maneira adequada.
● Coerência de mensagens: assegurar que as
mensagens sejam consistentes em diferentes
contextos e se alinhem com a estratégia e
posicionamento da organização.
● Fortalecer o diálogo: estimular a cultura do diálogo
aberto, encorajando os colaboradores a expressarem
suas opiniões, fazerem perguntas e compartilharem
suas ideias.
60
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
● Inclusão e diversidade: valorizar a inclusão e a
diversidade na comunicação interna, considerando
diferentes perspectivas e garantindo que todos os
colaboradores se sintam representados.
● Linguagem adequada: utilizar uma linguagem clara,
acessível e adequada ao público interno, evitando,
jargões ou terminologias complexas que possam
gerar confusão.
● Valorização dos colaboradores: reconhecer e
valorizar as contribuições e conquistas dos
colaboradores por meio da comunicação interna,
promovendo um ambiente de reconhecimento e
motivação.
Da generalização nesses exemplos, podemos objetiválos também com base naquilo que foi diagnosticado no processo
de ambientação do grupo responsável por iniciar a proposição
do programa. Acredito que, por mais excelente e planificada que
seja uma organização, algumas questões serão sempre
prioritárias e essenciais para garantir a gestão excelente da
comunicação organizacional, especialmente no âmbito interno.
Por isso, costumo pensar as diretrizes de um programa de
comunicação e relacionamento interno a partir de questões
norteadoras como: informação e conectividade; relacionamento
e interação; desenvolvimento do colaborador; excelência e
resultado.
Tais diretrizes tornam-se, nessa perspectiva, pilares de
sustentação do fazer estratégico e tático do programa. Cada
uma delas dinamiza um conjunto de ações prioritárias para
serem desenvolvidas continuamente, mas complementadas por
ações pontuais e sazonais, conforme necessidade da
organização, e projetada no âmbito do Comitê Gestor, do
61
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Conselho Curador e dos Agentes Estratégicos. Vejamos como
elas podem ser apresentadas e aplicadas em processo de
generalização organizacional:
I.
Informação e conectividade
● Atualizar os produtos informacionais (foco
no colaborador)
● Qualificar o conteúdo midiático (linguagem,
recursos gráficos e visuais)
● Promover a conectividade móvel (em
sintonia com as transformações nos
modelos de trabalho)
● Reduzir a fragmentação e ruídos no
consumo informacional.
II.
Relacionamento e interação
● Promover campanhas temáticas a partir de
datas comemorativas
● Realizar eventos de integração
● Promover eventos de acolhimento (tanto
para os novos quanto para os colaboradores
veteranos)
● Propor eventos de celebração (conquistas
da organização)
● Promover ações sócio-comunitárias (com
retornos diretos à comunidade no entorno
da organização).
III.
Desenvolvimento do colaborador
● Realizar palestras, oficinas, rodas de
conversa e afins sobre temas relacionados
ao ambiente de trabalho, rotinas e qualidade
laboral
● Ofertar capacitações sobre temas gerais e
específicos
● Promover campanhas afirmativas e sócio
motivacionais
62
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
● Realizar atividades de estímulo à saúde e
ao bem-estar.
IV.
Excelência e resultado
● Promover a otimização de processos
● Melhorar a entrega de resultados
● Qualificar o atendimento ao público
● Qualificar o atendimento intersetorial
● Otimizar o uso de recursos e do tempo
● Incentivar o pensamento inovador
disruptivo.
e
Cumprido essas etapas, é possível testar o protótipo,
acionando suas estratégias em grupos focais e dirigidos. Aqui
deverão ser identificados todo e qualquer problema que possa
prejudicar não apenas a efetivação do programa, mas os desvios
que as estratégias podem gerar à comunicação interna, caso
não tenha a aderência necessária. Sua implementação,
somente será eficaz, mediante os ajustes identificados na
testagem dos protótipos comunicacionais.
Por fim, ainda no coletivo, faz-se imperativo projetar
sistemas de avaliação para garantir que o fluxo comunicacional
seja circular, ou seja, retroalimentado sem hierarquias
opressoras, e dinamizado conforme as especificidades de
grupos, setores, sempre baseados no dia a dia funcional de
todos que operam as atividades-meio e finalísticas da
organização.
Quanto aos sistemas de avaliação para o programa, este
precisará ocorrer sistematicamente durante todo o processo, do
planejamento à implementação e execução das estratégias de
comunicação interna. Ao Comitê Gestor, Conselho Curador e
Agentes Estratégicos, cabe a observância de todas as reações
da operacionalização do programa, mensurando e
63
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
documentando os resultados, positivos e negativos, percebidos
em cada situação.
Isso pode ser feito por meio de sondagens formais, via
auditorias, pesquisas de clima e grupos focais, e informais, a
partir dos retornos obtidos pelos Agentes Estratégicos. Tais
sondagens devem investigar a proposição, implantação e
desenvolvimento do programa, de modo a captar a percepção
do público interno e, assim, ajustar possíveis desvios no
processo posterior à testagem, ou seja, em meio a
implementação.
Os sistemas para mensuração, avaliação e controle
precisam ser, também, propostos a partir da colaboração
assistida entre Comitê, Conselho e Agentes. Vale destacar aqui,
a existência de múltiplos sistemas e aplicações para automatizar
os sistemas de avaliação, trazendo dados em tempo real,
permitindo ações imediatas frente a qualquer desvio do
planejamento, ou mesmo, interferência intraorganizacional.
No infográfico a seguir, sintetizo o método apresentado
para a planificação de programas de relações públicas, estes
que podem ser acionados para diferentes fins, ou seja, para
qualificar a comunicação e os relacionamentos tanto com os
públicos de interesse interno quanto externo.
64
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Infográfico 02 – Método ágil para planejar programas de
relações públicas
Fonte: elaborado pelo autor
Por fim, complementando o método apresentado no
infográfico 2, descrevo de forma esquemática e visual um fluxo
operacional padrão para tornar mais concreta a proposição e
implementação de programas de comunicação e relacionamento
interno. Isso proporcionará uma melhor compreensão prática do
processo.
65
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Infográfico 03 – Fluxo operacional para implementação de
programas de comunicação e relacionamento interno
Fonte: elaborado pelo autor
Isto posto, ressalto mais uma vez que tais proposições,
na forma de implementação de programas dessa natureza, não
devem ser seguidas rigidamente, mas sim utilizadas como base
para orientar futuras práticas em diferentes organizações, ou
para reavaliar os processos de comunicação interna já
estabelecidos. É fundamental considerar as especificidades e
66
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
características ambientais das organizações e de seus públicos
de interesse, pois, elas devem estar sempre presentes, prontas
para
direcionar
as
estratégias
empregadas
no planejamento das estratégias e táticas relacionais.
Considerações finais
Imbuído de sistematizar o processo organizacional para
elaboração e implementação de programas de comunicação e
relacionamento interno, este capítulo dialogou sobre o
planejamento enquanto função essencial da atividade de
relações públicas. Para mais, destacou a importância de
classificar e ordenar os públicos conforme os interesses das
organizações, ao passo de situar os programas, nesse contexto,
enquanto excelentes instrumentos para orientar, de modo
flexível, seu processo comunicacional e relacional.
Transposto para o ambiente interno das organizações,
enfatizei a importância de pensar na comunicação e nos
relacionamentos com o público interno como estratégia primeira
e basilar para o planificar de estratégias comunicacionais
orientadas à visibilidade e legitimidade organizacional
(comunicação institucional) e às relações com o mercado
(comunicação mercadológica). Afinal, antes de qualquer ação
externa, é necessário organizar os processos que tornam a
organização possível, buscando o equilíbrio entre a gestão
organizacional e seus colaboradores, com base na cooperação
e no gerenciamento de conflitos.
Após dialogar sobre essas questões, desenhei um
método para propor e implementar programas de relações
públicas dessa natureza, detalhando ações comuns a todo
planejamento, qualificado à luz da minha experiência
acadêmico-profissional em Relações Públicas e Comunicação
Organizacional.
67
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Dessa forma, fica evidente a necessidade de pensar a
comunicação interna não apenas como um processo orgânico e
intrínseco às organizações, mas sim como um sistema
estratégico que garante o engajamento dos colaboradores e a
construção de um ambiente de trabalho produtivo e harmonioso.
Essa abordagem sistêmica, participativa e adaptativa das
estratégias e táticas organizacionais integradas de relações
públicas é essencial para o sucesso e o crescimento das
organizações, alinhando as expectativas internas e fortalecendo
os vínculos entre todos os envolvidos.
Por fim, é importante destacar que este capítulo não teve
a pretensão de apresentar modelos completos ou fechados para
o gerenciamento da comunicação interna nas organizações.
Pelo contrário, é um convite para o diálogo aberto, um exercício
que busca orientar outras abordagens e ampliar o escopo
teórico-prático sobre a gestão da comunicação e dos
relacionamentos internos nas organizações. Ademais, ao
posicionar os relações-públicas, munidos de sua função
essencial, o planejamento, em articulação à sua matéria-prima,
os relacionamentos entre os públicos e estes com as
organizações, enfatizamos os programas enquanto estratégias
profícuas para agir sobre equilíbrio das relações de conflitocooperação no ambiente organizacional interno.
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Notas do capítulo
1
Adotamos a convenção de que Relações Públicas com iniciais maiúsculas refere-se ao seu
campo teórico-epistemológico, enquanto relações públicas com iniciais minúsculas
representam suas atividades profissionais. Já relações-públicas com hífen refere-se aos seus
profissionais.
2
Comunicação Organizacional, quando apresentada com iniciais maiúsculas, refere-se ao
conjunto teórico-epistemológico da área. No entanto, ao ser escrita com iniciais minúsculas,
representa a abordagem prática e processual da comunicação no contexto das organizações.
70
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
A ABORDAGEM NARRATIVA COMO
FUNDAMENTO À INVESTIGAÇÃO EM
COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E
RELAÇÕES PÚBLICAS
THE NARRATIVE APPROACH AS A FOUNDATION
TO ORGANIZATIONAL COMMUNICATION AND
PUBLIC RELATIONS RESEARCH
Larissa Conceição dos Santos
Resumo: Com os avanços nas investigações sobre a perspectiva narrativa
aplicada às organizações, surgem novas vertentes para o estudo
da comunicação organizacional pautadas nos princípios da
narratologia. Salienta-se a influência dos estudos narrativos nas
ciências da gestão, nos estudos organizacionais, e, recentemente,
nas pesquisas comunicacionais com foco em narrativas
jornalísticas, publicitárias e midiáticas, que contribuem ao
desenvolvimento da chamada ‘abordagem narrativa da
comunicação organizacional’. Os estudos concebidos a partir do
prisma narrativo ou narratológico, diferenciam-se por adotar uma
visão sistêmica da organização, a partir da qual a comunicação se
origina, como resultado da interação dos indivíduos e da
construção coletiva de sentidos. Dessa forma, as investigações
em Comunicação Organizacional e Relações Públicas, sob a ótica
da “abordagem narrativa,” possibilitam observar as organizações
como espaços de construção e circulação de narrativas, mas,
igualmente, conceber as “narrativas organizacionais” como
processo e, também, como produto da comunicação
organizacional.
Palavras-Chave:
Comunicação Organizacional.
Narrativa. Teoria. Epistemologia.
Relações
Públicas.
Abstract: From the advances in investigations on the narrative perspective
applied to organizations, new strands for the study of organizational
communication based on the principles of narratology emerge. The
71
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
influence of narrative studies in management sciences,
organizational studies, and, recently, in communicational research
focusing on journalistic, advertising and media narratives, which
contribute to the development of the so-called 'narrative approach
to organizational communication', is highlighted. The studies
conceived from the narrative or narratological prism, differ by
adopting a systemic view of the organization, from which
communication originates, because of the interaction of individuals
and the collective construction of meanings. Thus, the
investigations in Organizational Communication and Public
Relations, from the perspective of the "narrative approach," make it
possible to observe organizations as spaces of construction and
circulation of narratives, but also to conceive of "organizational
narratives" as a process and as a product of organizational
communication.
Keywords: Organizational Communication. Public Relations. Narrative.
Theory. Epistemology.
As relações públicas e a comunicação nas organizações
As organizações se constituem, se desenvolvem e
interagem com os diferentes públicos, com o mundo que as
rodeia, por meio de processos comunicacionais. A natureza
constitutiva da comunicação revela “que as organizações
existem pela comunicação e se constituem pelas relações de
interação que acontecem no seu interior e na ligação com o
exterior” (RUÃO; KUNSCH, 2014, p.8).
Nesse sentido, as organizações são concebidas como
sistemas abertos, que estabelecem trocas com o meio,
influenciando-o, mas sendo também por ele influenciadas. Da
mesma forma, salienta-se o papel central ocupado pela
comunicação enquanto condição de existência a toda e qualquer
organização, bem como um “ponto central para a análise da
produção e reprodução organizacionais” (DEETZ, 2010, p.84).
Faz-se necessário reconhecer também a dimensão
dialógica e interacional subjacente à comunicação das
72
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
organizações através da qual são trabalhados “os fluxos
informacionais e relacionais, de modo a contribuir para a
construção de sentido sobre as ações da organização e do
ambiente” (OLIVEIRA; PAULA, 2007, p. 21).
Assim, a comunicação que se processa nas
organizações, que circula em seu interior, mas também que se
destina a seu entorno, testemunha o dialogismo organizacional,
isto é, a maneira como a organização dialoga com a sociedade
e com os atores sociais.
A fala organizacional, ou as formas pelas quais a
organização interage com o meio, como ela se apresenta e se
representa para a sociedade, podem ser observadas através de
seus discursos, seus relatos, mas também por meio de suas
narrativas.
Neste estudo, e de maneira específica no presente
capítulo, pretende-se analisar a dimensão simbólica da
comunicação organizacional (HALLIDAY, 1987; 2009),
observada por meio das narrativas organizacionais, no intuito de
comunicar sobre os diferentes aspectos de sua atividade, mas,
sobretudo, com a finalidade de legitimar suas ações, sua
trajetória e sua própria existência.
A comunicação organizacional, a partir dessa ótica, pode
ser examinada a partir da produção de narrativas nas
organizações, como um processo constante de citação e
recitação de si (D’ALMEIDA, 2001, 2007), por meio do qual as
organizações se autorrepresentam e atribuem sentido ao fazer
organizacional, mas também estabelecem uma coerência em
suas práticas ao longo do tempo.
Destaca-se, nesse sentido, a presença, construção e
circulação de narrativas nas organizações como fenômeno
inerente à comunicação e, nesse sentido, propõe-se o estudo
fundamentado da abordagem narrativa, com vistas à sua
compreensão, bem como, à apresentação dos constructos que
73
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
balizam a inclusão de uma nova perspectiva epistemológica aos
estudos em comunicação organizacional e relações públicas.
Entre outros, entende-se que a temática é de fundamental
importância para a análise e entendimento das dinâmicas e
processos organizacionais que, mediados pela comunicação,
encontram na narratividade um mecanismo para a sua
legitimação (SANTOS, 2022).
Assim, o capítulo estrutura-se em quatro partes: 1) a
apresentação das origens e alicerces da teoria narrativa; 2) a
relação triádica narrativa-comunicação-organizações; 3) os
fundamentos da abordagem narrativa da comunicação
organizacional; e 4) o processo de validação teórica e
epistemológica pela comunidade científica nacional e
internacional.
O estudo das narrativas: origens, alicerces e teorias
fundantes
A origem dos estudos sobre a narrativa data do período
de Aristóteles, o qual em sua obra denominada Poética descreve
as características de um bom drama, ligado ao teatro e à poesia.
A tradição das narrativas orais é inaugurada por Ésopo (séc. VI
a.C.) na Grécia através da narração de fábulas, por meio das
quais ele contava suas apologias bem como relatos familiares.
As fábulas são narrativas que têm por finalidade um
ensinamento moral. As narrativas de Ésopo deram origem ao
gênero da fábula e influenciaram, posteriormente, escritores
como o francês Jean de La Fontaine, considerado o maior
fabulista do período clássico (WEST et al., 1984).
Em 1776, François Joseph Bérardier de Bataut publicou
uma obra intitulada Essai sur le récit ou entretien sur la manière
de raconter no qual destacava o papel do relato como uma forma
de instrução que possibilitaria o conhecimento de certos
74
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
eventos, por vezes ignorados, ou conhecidos apenas
vagamente. Para Bérardier de Bataut (1776), seria essa a
natureza de toda narrativa: através dela algo é conhecido e
partilhado. O autor destaca ainda as lições doadas pelas
narrações, sua capacidade em inspirar, e mesmo moldar a
conduta humana, dependendo do tipo de relato narrado.
O estudo das narrativas esteve associado inicialmente à
corrente literária, ocupando-se da análise interna das narrativas,
de onde origina-se o conceito de narratologia. O nascimento
dessa linha de investigação foi impulsionado pelo estruturalismo
e pelas pesquisas conduzidas pelos formalistas russos,
especialmente por Vladimir Propp, especialmente a partir da
publicação da sua obra Morfologia do conto. Entre 1920 e 1930,
os formalistas russos aplicam os conceitos de Aristóteles às
narrativas da cultura popular com a finalidade de analisar a
estrutura e a construção dos contos populares.
Vladimir Propp buscava estabelecer, no conto, uma
morfologia, ou seja, descrever o chamado “Conto Maravilhoso”
a partir de suas partes constituintes e, também, as relações
existentes entre as partes e o conjunto. Suas pesquisas visavam
desvendar os mecanismos por detrás da profusão dos contos
folclóricos, com base em três pontos fundamentais: (a) a forma
dos contos de magia, (b) as transformações ocorridas entre os
contos, e que, por sua vez, produziam novos contos, e (c) a
origem destes contos.
No entanto, a obra de Propp, Morfologia do conto, escrita
em 1928, obtém a primeira tradução apenas em 1959 na
Inglaterra, e posteriormente em língua francesa em 1960. Quase
40 anos após a publicação original russa, as investigações sobre
a narratologia baseadas no estruturalismo chegam ao seu
apogeu, já nos anos 60. A tradução da obra de Propp em inglês
e francês obteve grande repercussão na Europa e suscitou
discussões entre os pesquisadores da época, tais como Roland
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Barthes, Claude Lévi-Strauss, Algirdas Julien Greimas, Claude
Bremond e Tzvetan Todorov. Como resultado, é publicada em
1966 uma coletânea de artigos no número 8 da revista
Communications, inteiramente dedicada à análise estrutural da
narrativa.
O centro de interesse da narratologia é o estudo das
narrativas enquanto objetos linguísticos (REUTER, 2007),
buscando encontrar o que os textos narrativos têm em comum,
as características essenciais e a estrutura que os definem como
narrativas. A narratologia se concentra na análise da função
interna das narrativas, sua forma e seus princípios de
composição, sendo considerada, assim, como uma teoria da
narrativa de inspiração estruturalista (PRINCE, 2008) tal como
pode ser observado nos trabalhos de Gérard Genette, Claude
Brémond, Tzvetan Todorov, Algirdas Greimas e Roland Barthes
(em seus primeiros estudos). Todorov (1969) em seu livro
Grammaire du Décaméron, emprega, pela primeira vez, o termo
narratologia para denominar o que ele caracteriza como a
“Ciência da narrativa”.
De acordo com a classificação estabelecida por Herman
(1997) e retomada nos trabalhos de Prince (2008), classificamse os estudos narratológicos de origem estruturalista, tais como
os trabalhos literários e linguísticos desenvolvidos nos anos 60
e 70, denominando-os de narratologia clássica. Em
contrapartida, denomina-se narratologia pós-clássica a linha de
investigações posteriores, reconhecida pela ampliação da
abordagem clássica, englobando também os estudos de origem
hermenêutica, e integrando também o contexto, o papel do
receptor, as características das narrativas específicas (tais como
as organizacionais) e o papel da história nessas construções.
As pesquisas desenvolvidas pela corrente narratológica
estão, portanto, na origem dos estudos sobre a narrativa. Antes
centrada nas investigações linguísticas e literárias, a
76
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
narratologia começa a influenciar diversos estudos em
diferentes áreas, tais como a antropologia (LÉVI-STRAUSS,
1958), a filosofia (RICOEUR, 1983), a psicologia (BRUNER,
1991), a comunicação (FISHER, 1984; MUMBY, 1987;
D’ALMEIDA, 2001), a história (CARR, 1986; WHITE, 1987) e a
gestão, dentre as quais sublinhamos o domínio organizacional
(BARRY; ELMES, 1997; CZARNIAWSKA, 1998; BOJE, 2001;
RHODES; BROWN, 2005).
Uma obra de bastante repercussão e que contribuiu com
a virada narrativa, expandindo o olhar para além do
funcionamento interno das narrativas, foi a publicação The
political unconscious: narrative as a socially symbolic act, de
Fredric Jameson. O autor analisa e apresenta a forma narrativa
como um ato simbólico e ideológico, que tem por intuito criar
soluções formais ou imaginárias para contradições políticas e
sociais não resolvidas (JAMESON, 1981).
Salienta-se ainda, na obra de Jameson (1981), a
aproximação entre narrativa e história, e os contextos histórico e
político que delimitam a produção narrativa. O sentido
empregado é, portanto, amplo. A narrativa ultrapassa o
horizonte literário sendo entendida como um modo de
construção social e de apreensão do mundo.
Uma perspectiva semelhante é defendida pelo psicólogo
americano Jerome Bruner ao afirmar que os indivíduos
organizam suas experiências e suas memórias por meio de
narrativas, sustentando sua tese da construção narrativa da
realidade. Os relatos funcionariam como um instrumento mental,
auxiliando os sujeitos na formação simbólica da realidade (ou de
uma versão desta) (BRUNER, 1991).
Já Ricoeur (1983) analisa a importância da narrativa
como forma de vivenciar a experiência humana do tempo.
Assim, para o autor, a narrativa possui um caráter mediador e
legitimante que torna a experiência temporal acessível, pois
77
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
através dos relatos rememoramos um passado distante, mas
também podemos prever ou imaginar um futuro, ainda que
incerto.
De acordo com o tema e o contexto específico, as
narrativas adquirem um significado particular ou mesmo geral,
sendo capazes de nos fazer entender a ação do outro através
da identificação com a história narrada. Nossas vidas podem
então ser compreendidas como narrativas. No entanto, nossa
racionalidade nos conduz a questionar a validade e a
fidedignidade dos relatos, analisando sua coerência e sua
veracidade.
Também Walter Benjamin observa a narrativa como
forma de expressão das experiências humanas. Para o autor, as
experiências são fontes para a narração. Quanto mais se
aproximarem das histórias cotidianas, contadas pelos
narradores ordinários, melhores serão as narrativas escritas.
Dessa forma, Benjamin (1994) define os elementos essenciais
que compõem o fazer narrativo.
Sobre a figura do narrador e sua existência plena, o autor
distingue dois grupos: o narrador como o viajante que vem de
terras longínquas (marinheiro comerciante); ou aquele
conhecedor de seu país e dos mitos e tradições aí cultivados
(camponês sedentário). Estes constituem os tipos fundamentais
(ou originários) de narradores. No entanto, segundo Benjamin
(1994), o espectro narrativo completo precisa compreender a
interpenetração desses dois grupos, de maneira a permitir sua
troca de experiências (conhecimento do mundo e do passado).
O autor destaca haver uma valorização do sentido prático
nos narradores “natos”. Valorizando a transmissão de
experiências e a dimensão utilitária das narrativas, através de
ensinamentos morais, provérbios ou conselhos.
O narrador também é aquele que dá conselhos, por mais que
atualmente exista uma desvalorização das lições morais,
78
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
relacionada à pouca comunicabilidade das experiências, pois
conforme anuncia Benjamin (1994, p. 200-201).
A arte de narrar está definhando porque a sabedoria – o
ado épico da verdade – está em extinção. [...] Na realidade, esse
processo, que expulsa gradualmente a narrativa da esfera do
discurso vivo e ao mesmo tempo dá uma nova beleza ao que
está desaparecendo, tem-se desenvolvido concomitantemente
com toda uma evolução secular das forças produtivas.
O autor atenta ainda para o que ele denomina de “morte
anunciada da narrativa”, decorrente do surgimento dos
romances, e agravada, posteriormente, com a supremacia da
informação. De acordo com Benjamin (1994) seria possível
observar através da ascensão da burguesia, impulsionada pela
imprensa, uma nova forma de comunicação, decisiva e influente,
denominada “informação”.
Assim, o declínio da narrativa deve-se também ao apogeu
da informação. Passamos a apreender os fatos seguidos de uma
explicação, distanciando-os, dessa forma, das narrativas e
acercando-os da informação. Para Benjamin (1994), há, no
entanto, uma lacuna entres essas duas formas de comunicação:
a informação possui seu valor enquanto é nova, ou seja, quando
é atual, enquanto a narrativa conserva seu sentido de surpresa,
sua lição, podendo ser lida em qualquer época sem perder o seu
valor.
Benjamin (1994) considera a narrativa como uma forma
artesanal de comunicação, que contém em si a marca de seu
narrador e imprime traços/ vestígios nas coisas narradas
(qualidades dos personagens ou do narrador). As mudanças de
ordem temporal que afetam a sociedade são também
observadas como elementos responsáveis pelo declínio das
narrativas, à medida que reduz a “comunicabilidade da
experiência”. O tempo se atrofia, vivemos em um ritmo
79
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
acelerado, onde inclusive o ideal de eternidade se vê
ultrapassado.
Existem diferenças temporais e no estatuto histórico entre
narrativa e romance: no romance, a questão central reside no
“sentido da vida”, enquanto na narrativa prevalece a “moral da
história”. Há um interesse do ouvinte em conservar aquilo que
foi narrado, a história contada. Assim, a memória torna-se a
musa da narrativa (BENJAMIN, 1994).
O narrador incorpora no relato suas próprias
experiências, mas também as dos outros, tirando proveito disso
para proferir suas lições. Nesse caso, o conceito de narrativa
evocado se aproxima daquele outrora defendido por Bérardier
de Bataut (1776), de um relato visando ensinar/ contar algo
novo, proporcionar um conhecimento sobre algo, ou proferir
lições.
Inspirado nos preceitos de Benjamin (1994) e Ricoeur
(1983), Walter Fisher destaca a importância da narração para os
estudos comunicacionais através da sua proposição do
paradigma narrativo da comunicação.
Em um artigo intitulado Narration as a human
communication paradigm: the case of public moral argument,
Fisher (1984) apresenta os conceitos de seu paradigma
narrativo e define o indivíduo como um homo narrans, isto é, o
homem observado como essencialmente um narrador ou um
contador de histórias. Seus estudos destacam o papel da
narração sob o prisma da comunicação.
O autor enfatiza o caráter narrativo da comunicação
humana, oferecendo uma visão alternativa da comunicação ao
criticar o paradigma racional do mundo, baseado na razão e na
padronização. A perspectiva de Fisher (1984) apoia-se na
hipótese do homem como um narrador (indicativo de uma forma
genérica de construção simbólica) e da narrativa como essência
da comunicação humana. Nesse sentido, as “estórias” seriam os
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
meios de comunicação dos símbolos produzidos, a fim de
atribuir uma ordem à experiência humana e estabelecer as
regras de vida em comunidade.
Para Fisher (1984), o homem constrói a realidade social
através da narrativa de histórias dramáticas compostas de fatos,
bem como de crenças, as quais possuem uma força persuasiva
comparável aos contos de fada e são julgadas em função de
critérios de coerência e fidedignidade.
Dessa forma, a vivência, a experiência e conhecimento
do mundo outorgam ao sujeito narrador uma certa “autoridade
de conselheiro”, conforme enfatiza Bosi (2004, p.34): “quando o
velho narrador e a criança se encontram, os conselhos são
absorvidos pela história: a moral da história faz parte da narrativa
como um só corpo, gozando as mesmas vantagens estéticas (as
rimas, o humor...)”.
Nos dias atuais, tais premissas assumem novas formas e
as narrativas ganham outras roupagens. A tradição oral de
transmissão de ensinamentos, que outrora atravessava as
gerações, é substituída pelas narrativas midiáticas, publicitárias,
e jornalísticas, e a moral da história agora conduz os indivíduos
a adotarem determinadas práticas (culturais, de consumo, de
comportamento), muitas vezes incitando-os à ação, à reflexão e
ao engajamento para com diferentes causas.
Os estudos observados a seguir, aplicados ao contexto
organizacional e à comunicação das organizações, são em
grande parte inspirados, direta ou indiretamente, pelos conceitos
e perspectivas narrativas analisados precedentemente. Faz-se
necessário indicar, igualmente, que o destacado trabalho de
Fisher (1984), e seu paradigma narrativo, foram aqui
precocemente introduzidos por sua influência não apenas nas
pesquisas em comunicação, mas também nos mais variados
estudos organizacionais.
81
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Interface narrativa, comunicação e organizações
No cenário atual, observa-se a presença de narrativas em
diferentes esferas e sob variadas representações, entre elas a
proliferação de narrativas midiáticas (jornalísticas, publicitárias,
fílmicas) e, sobretudo, organizacionais.
O encontro entre narrativa e organização, e mais
precisamente o reconhecimento da narrativa entre os estudos
organizacionais, fez emergir uma diversidade de perspectivas:
funcionalista, crítica, interpretativa, processual, pós-moderna,
entre outras (GIROUX; MARROQUIN, 2005) e, mais
recentemente, destaca-se a perspectiva narrativa aplicada ao
campo da comunicação organizacional (D’ALMEIDA, 2001).
Rhodes e Brown (2005) afirmam que os primeiros estudos
empregando metodologia narrativa aplicada à gestão, voltados
em especial às organizações, podem ser observados na década
de 70 com os trabalhos de Clark (1972) sobre as sagas
organizacionais, e de Mitroff e Kilmann (1975) sobre os mitos
épicos nas organizações.
Destaca-se que em grande parte dos estudos norteamericanos (PUTNAM et al., 2012; MUMBY, 1987; CLEGG,
1993) voltados à comunicação e à produção de narrativas nas
organizações, o termo “narrativa” relaciona-se a um ato
simbólico, através do qual são expressos ideais, valores e
representações.
Observa-se precocemente essa tendência, no estudo de
Mumby (1987) sobre a função política da narrativa nas
organizações, onde o autor classifica a narrativa
(organizacional) como uma forma simbólica por meio da qual são
constituídas as estruturas de poder e a ideologia organizacional.
A narrativa é observada, por Mumby (1987), como um
instrumento de legitimação, uma instância material de
ideologias, que privilegia certas visões do mundo, selecionando
82
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
determinados elementos, que serão mostrados, em detrimento
de outros, omitidos. A função simbólico-ideológica da narrativa
seria, assim, responsável pela estruturação das práticas
organizacionais, legitimando, perante os atores organizacionais,
certas ações, alinhadas com os interesses dos grupos
hegemônicos (níveis mais altos na hierarquia organizacional, por
exemplo).
Também nos estudos de Putnam et al. (2012) sobre as
metáforas da comunicação e da organização, apesar da
aproximação
entre
os
estudos
organizacionais
e
comunicacionais, aborda-se as narrativas de forma reducionista,
observando-as apenas como símbolos que permitem aos
indivíduos planificar a as atividades organizacionais e estruturar,
cronológica ou sequencialmente, os eventos, conferindo-lhes
sentido.
Assim, ao classificar as narrativas no âmbito da metáfora
dos símbolos, os autores enfatizam o papel ideológico, como
mecanismos de representação da ação organizacional. Porém
ignoram o caráter processual inerente à produção, difusão,
circulação e apreensão das narrativas organizacionais. Por esta
ótica, as narrativas são compreendidas enquanto formas de
comunicação simbólica da organização que revestem de sentido
o fazer organizacional.
A metáfora do símbolo fornece uma ligação direta entre
representação e interpretação. Símbolos como narrativas,
metáforas, ritos e rituais, paradoxos e ironias são tropos literários
usados para lavrar textos organizacionais. [...] São mais do que
manifestações de uma cultura organizacional; são os meios
pelos quais o ato de organizar é realizado com sucesso
(PUTNAM et al. 2012, p. 98).
Os fundamentos que inspiram tais estudos estão
relacionados ou influenciados pelos trabalhos de Fredric
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Jameson, mencionados anteriormente, para quem as narrativas
eram observadas como atos simbólicos.
Na perspectiva de Barbara Czarniawska a narrativa pode
ser entendida como um meio de aprendizado para as
organizações, em alternativa às formas tradicionais, técnicas e
lógico-científicas. A autora destaca o aporte das narrativas à
construção de sentido por meio de um processo retrospectivo.
No entanto, haveria um conflito, entre a cronologia retrospectiva
da narrativa e a ordem prospectiva, que orienta nossa vida
(CZARNIAWSKA, 1998; 2000).
A autora associa os relatos organizacionais, as histórias
(ou estórias) contadas com o intuito de passar uma lição ou gerar
aprendizado, com as parábolas. Muitas dessas “narrativas”
cristalizam práticas e normas que a organização busca difundir
entre os trabalhadores. As narrativas também servem à
descrição de processos organizacionais. Ou seja, com a
finalidade de serem comunicadas aos mais diferentes públicos
as práticas organizacionais também podem ser “narrativizadas”.
No sentido empregado e analisado por Barbara
Czarniawska, as narrativas são entendidas como uma forma de
descrição, de relato de fatos, ações, acontecimentos, pelo qual
estes são expressos. A narrativa torna-se um meio de expressão
e de comunicação humana (FISHER, 1984) mas, também, um
modo alternativo de conhecimento (LYOTARD, 1979; BRUNER,
1991), que permite relatar as ações e eventos de maneira
inteligível. Finalmente, Czarniawska (2000) assinala que a
perspectiva narrativa pode auxiliar as organizações, igualmente,
como uma ferramenta de análise textual.
Andrew Brown também concebe as narrativas como
formas de expressão, observando especialmente como, através
da construção e difusão dos relatos, os membros da organização
expressam e formam uma identidade conjunta a partir de
diferentes perspectivas. O autor salienta a pertinência da
84
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
abordagem narrativa na constituição da identidade coletiva,
sendo está o resultado de um conjunto de narrativas que os
membros da organização elaboram sobre ela (BROWN, 2006).
A narrativa é observada, por Barry e Elmes (1997), como
um mecanismo de transmissão, mas também uma abordagem
para a análise das estratégias organizacionais. Os autores
sugerem o emprego da perspectiva narrativa para a descrição
da estratégia e exame de seus modos de consolidação na
empresa (relações de poder, dominação e autoridade), e no
estudo das estórias contadas em torno dela (relatos alternativos,
contra-hegemônicos, ou de reforço das decisões).
Inscritos em uma abordagem narrativa pós-moderna
(GIROUX; MARROQUIN, 2005), os autores Barry e Elmes
(1997) salientam ainda as potencialidades da visão narrativa
como forma de revelar o aprisionamento gerado pela imposição
de uma estratégia, ou do discurso estratégico nas organizações,
de maneira a silenciar certas visões e vozes alternativas em
favor de uma história dominante. Nesse sentido, as narrativas
podem auxiliar no exame das relações de poder e dominação
que permeiam as organizações.
Outra perspectiva de estudo narrativo aplicado às
organizações é proposta por Boje (2001), que analisa as
narrativas organizacionais (oficiais) e a circulação de estórias
através do storytelling. Para ele, as organizações contam
estórias (storytelling) através das quais dão sentido às suas
ações e constroem um sentido partilhado com seus membros.
Teríamos assim, na visão de Boje (2001), duas
perspectivas narrativas coabitando as organizações: os relatos
oficiais, coerentes e organizados, entendidos como narrativas
(produto, o que é narrado); e os relatos coletivos, informais, não
organizados e parcelares, a “contação” inexata de estórias,
denominada pelo autor como antenarrativa. O autor sugere
analisar as passagens anteriores às narrativas (antenarrativas),
85
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
como elementos dispersos, não lineares, coletivos e
heterogêneos que auxiliam na compreensão da narrativa. As
antenarrativas são componentes que constituem o enredo e,
portanto, precedem a narrativa, podendo refletir as múltiplas
perspectivas organizacionais, como uma memória coletiva
anterior à narrativa oficial da empresa.
De acordo com Boje (2001) a antenarrativa estaria
relacionada ao presente, ao dia a dia das ações organizacionais,
por isso apresenta-se de maneira fragmentada e não linear,
enquanto as narrativas seriam as formas institucionalizadas, a
posteriori, por meio das quais as atividades são sistematizadas
narrativamente (linearmente, contendo começo, meio e fim). As
estórias, dessa forma, constituem o substrato de ambas as
formas narrativas. A estória é antenarrativa em seu estado
fragmentado,
desestruturado
e, portanto,
dificilmente
organizado, coerentemente, de forma retrospectiva. Ao mesmo
tempo a estória pode se transformar em narrativa por meio de
um ordenamento, de um enredo que lhe proporcione coerência.
A perspectiva adotada por Boje (1995; 2001) sugere
analisar as organizações como “contadoras” de estórias, através
de um sistema de narração coletiva – storytelling - que considera
as diferentes vozes dentro da organização e onde a performance
das estórias relatadas cumpre um papel fundamental. O autor
analisa o processo narrativo por meio do conceito de storytelling,
como um relato múltiplo e interativo no interior das organizações.
Na esteira dos trabalhos de Boje (1995; 2001) sobre o
storytelling, Denning (2005, p.165) enfatiza que as estórias e
narrativas permeiam cada aspecto do funcionamento
organizacional, servindo à conduta e à liderança das empresas.
Na visão de Mary Helen Brown, as estórias organizacionais se
tornam relevantes aos atores organizacionais por serem
capazes de traduzir não apenas as perspectivas empresariais
(corporativas), mas também aquelas de seus membros
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
(pessoais e interpessoais). Assim, na visão da autora, as
estórias organizacionais seriam capazes de fornecer
informações sobre as organizações (valores, condutas, etc.) e,
dessa forma, reduzir a insegurança (dúvidas e incertezas) de
seus integrantes. Por conseguinte, as estórias poderiam
construir sentido (sensemaking), por meio de um enredo
conforme às expectativas e valores organizacionais, salientando
também a importância e singularidade da organização e
daqueles que a compõem (BROWN, 1990).
Também inspirada na perspectiva de Boje (1995; 2001),
a pesquisadora Mary E. Boyce (1995; 1996) observa as estórias
e storytelling nas organizações como uma expressão da cultura
organizacional (BOYCE, 1996), ou seja, através delas seria
possível não apenas compreender, mas também intervir na
cultura. Isso significa que o relato de tais estórias, via storytelling,
poderia captar a atenção do grupo e, ainda, servir à criação de
uma unidade coletiva. A autora apoia-se na perspectiva
construtivista e no interacionismo simbólico, compreendendo o
relato de estórias (storytelling process) como um mecanismo de
construção social da realidade.
Os parênteses abertos em torno do conceito de story e
storytelling intentam apresentar diferentes estudos ou visões
pelas quais o processo narrativo é observado nas organizações.
Convém destacar, nesse sentido, a multiplicidade de pesquisas
focalizadas na narração, construção (e desconstrução em Boje,
2001) e apropriação de narrativas nas organizações, sob a ótica
do storytelling.
Essa vertente de estudos fundamenta-se, sobretudo, na
perspectiva de David Boje, defensor da pertinência do
storytelling, enquanto construção inacabada e fragmentada de
relatos, formada por diferentes vozes que interagem na
(co)produção de significados (atribuídos às estórias e à própria
organização). Tais pesquisas voltam-se à análise dos relatos de
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
estórias em construção, inacabadas e não oficiais (ou não
institucionais).
Em contrapartida, o viés adotado na presente pesquisa
privilegia outra perspectiva, pois focaliza-se nas narrativas e
discursos organizacionais, e interessa-se pela história
organizacional (oficializada ou autorizada), e não pelas estórias
alternativas difundidas nas organizações.
De acordo com Giroux e Marroquin (2005), muitos
estudos possuem apenas a narrativa em seu nome, sem remeter
verdadeiramente a um estudo narrativo. Da mesma forma,
afirmam que definição do que se entende por um texto narrativo
varia entre os autores observados. As autoras salientam, ainda,
que, entre os estudos analisados (anglo-saxônicos), poucos se
apoiam na literatura francesa sobre a narratologia, mas utilizam,
em contrapartida, referências anglófonas sobre folclore e análise
literária.
Por essa razão, Giroux e Marroquin (2005) afirmam existir
uma oportunidade de contribuição efetiva a partir dos estudos
franceses por seu conhecimento dos métodos e teorias
narratológicas. Tal alternativa é enfatizada no presente estudo a
partir das pesquisas sobre a abordagem narratológica aplicada
à comunicação das organizações (D’ALMEIDA, 2001).
Há, portanto, diferentes caminhos possíveis pelos quais a
abordagem narrativa pode ser empregada no estudo
organizacional, ressaltando que os pesquisadores podem
combinar o uso de uma ou mais metodologias, ou, ainda,
mobilizá-las de acordo com a realidade observada. Mas, se no
âmbito acadêmico o viés narrativo serve de arcabouço teórico
ou como uma lupa à observação dos fenômenos, no dia a dia
das organizações os usos e interpretações das narrativas podem
ser ainda mais diversificados, restando, portanto, um vasto
campo aberto à investigação.
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Nesse sentido, ao desenvolver a abordagem narrativa
como uma perspectiva singular, inspirada nas pesquisas de
D’Almeida (2001), onde as narrativas são observadas enquanto
formas de comunicação organizacional, ou seja, inseridas em
um processo comunicacional pelo qual as organizações se
expressam, comunicam, representam e legitimam suas ações
aos diferentes públicos, assume-se a importância e pertinência
desta corrente teórica como fundamento a partir do qual as
investigações em comunicação organizacional e relações
públicas possam estar apoiadas.
A narrativa nos estudos comunicacionais: fundamentos da
abordagem narrativa da comunicação organizacional
Com os avanços nas investigações sobre a perspectiva
narrativa aplicada às organizações, surgem novas vertentes
para o estudo da comunicação organizacional pautadas nos
princípios da narratologia. Além da influência dos estudos
narrativos (narratologia, teoria narrativa etc.) e de gestão,
também as pesquisas comunicacionais relacionadas às
narrativas midiáticas contribuem ao desenvolvimento da
abordagem narrativa da comunicação organizacional.
As pesquisas comunicacionais concebidas a partir do
prisma narrativo ou narratológico, diferenciam-se por adotar uma
visão sistêmica da organização, a partir da qual a comunicação
se origina, como resultado da interação dos indivíduos e da
construção coletiva de sentidos (D’ALMEIDA, 2001).
Tal perspectiva nos desafia a repensar a comunicação
organizacional em sua totalidade, e em todos os seus níveis de
atuação e articulação, tendo por base o binômio comunicaçãoorganização, pois considera a comunicação organizacional
“como algo que engloba dispositivos, práticas e processos
comunicacionais que constituem dinâmicas de construção social
89
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
das organizações num sentido mais amplo” (D’ALMEIDA;
ANDONOVA, 2008, p. 32).
Dessa forma, as investigações em comunicação
organizacional apoiadas na narratologia (D’ALMEIDA, 2001),
possibilitam observar as organizações como espaços de
construção e circulação de narrativas. Através da análise das
narrativas, contos e legendas empresariais, é possível conceber
a comunicação organizacional a partir da produção de relatos
que visam a estruturar e configurar um grupo e uma ação
coletiva. Assim, os discursos e textos produzidos pelas
organizações podem ser analisados enquanto narrativas
(D’ALMEIDA, 2001).
As narrativas organizacionais compreendem, tanto a
produção textual, relatos escritos, documentos oficiais, quanto à
produção discursiva. Pode-se ainda observar a narrativa
enquanto processo e, também, como produto. Os textos e os
discursos organizacionais são concebidos como narrativas
devido à estrutura a partir da qual são constituídos, bem como à
sua abrangência explicativa e unificadora.
A produção de narrativas, isto é, a capacidade de
transformar os eventos em narrativas, de formalizar a
experiência de um grupo, pode ser compreendida como uma
maneira de introduzir uma dimensão específica e
autenticamente humana em um universo produtivo cada vez
menos compreensível (D’ALMEIDA, 2001, p. 10).
A disseminação das narrativas organizacionais seria,
portanto, uma resposta ao imediatismo imposto pelo capitalismo:
as organizações configuram e (re) configuram seus relatos como
uma forma de atender a uma temporalidade que se encolhe,
uma resposta política que reconstrói a história em uma
perspectiva de unificação temporal (D’ALMEIDA, 2006).
A coerência, o sentido e a cronologia dessas narrativas
são construídos face às exigências e aos objetivos da
90
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
organização, expressos por meio de narrativas recitadas pela
comunicação organizacional que lhe permite dar visibilidade e
legitimar seus feitos.
As empresas constroem narrativas com objetivos
específicos, visando à midiatização ou à autopromoção
(publicitária). Tais relatos produzidos em razão das atividades
econômicas são denominados por D’Almeida (2001) como
“narrativas econômicas”. Elas surgem em resposta à crise das
metanarrativas, tal como preconizava Lyotard (1979), propondo
à sociedade uma nova visão explicativa e legitimante
(D’ALMEIDA, 2001).
Dessa forma, conceitua-se a narrativa econômica como
“um conjunto de narrações que propõem um sentido, uma
significação e uma finalidade, na qual a empresa é contada ao
contar o mundo” (D’ALMEIDA, 2006, p.147).
As narrativas econômicas remetem aos relatos
produzidos pelos atores econômicos, os quais dão visibilidade à
sua atividade e, muitas vezes, conduzem de tal forma o sistema
midiático que acabam por instalar-lhes seus valores, propondo
um sentido para si, para seus atos e, ainda, uma identificação
para com seus públicos.
De acordo com a proposição de D’Almeida (2001) as
narrativas econômicas podem ser classificadas em duas
categorias: narrativas da casa e as narrativas de engajamento.
As narrativas da casa, produzidas pelas empresas com base em
seus valores internos e sua identidade, têm como finalidade
coligar o público interno. Já as narrativas de engajamento
referem-se aos relatos universais das empresas.
As narrativas da casa caracterizam-se por reforçar o
sentido comunitário e de pertencimento no interior das
empresas. O senso de unidade no grupo de trabalho, e o ideal
de formação de uma comunidade organizacional são buscados
através de narrativas integrativas, que relatam a empresa como
91
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
um espaço privado, uma espécie de família da qual os
colaboradores fazem parte. Para tanto, as narrativas da casa,
visualizadas principalmente nas palavras do presidente e de
veículos de comunicação interna (house-organs, boletins,
murais etc.), são construídas apoiando-se no emprego do
pronome nós. Tal recurso retórico visa conquistar a adesão do
público interno ao torná-lo partícipe da história narrada,
partilhando os triunfos da empresa com o grupo. Ao destacar o
comunitário, o nosso, em detrimento do particular, a organização
visa ao comprometimento do grupo através da partilha e da
unificação (D’ALMEIDA, 2001).
Por outro lado, as narrativas de engajamento visam
legitimar as ações da organização, recorrendo aos valores
universais. Nesse sentido, a narrativa é voltada ao público
externo, mercado, clientes, acionistas, governo, de maneira a
prestar contas sobre seus atos e atender às exigências de uma
sociedade cada vez mais informada e crítica com relação à
postura e às responsabilidades organizacionais.
Aproximar a abordagem narratológica aos estudos de
comunicação organizacional possibilita ampliar a visão desse
campo para além da perspectiva funcionalista, ainda bastante
expressiva entre as pesquisas francesa e latino-americana. A
narratologia, por meio de sua vertente estrutural, permite revelar
certas invariantes, bem como, através de sua vertente
hermenêutica, nos convida a repensar a visão de mundo
proposta pelas organizações, reavaliando o sentido que nutre as
representações e comportamentos de um grupo (D’ALMEIDA,
2006).
Os estudos de Nicole D’Almeida diferenciam-se daqueles
de Czarniawska (1998) e Boje (2001), entre outros, em virtude
do papel central atribuído à narratologia, bem como dos
questionamentos de cunho pós-moderno sobre a crise dos
grandes relatos (LYOTARD, 1979) investigados a partir do
92
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
diálogo frutífero com a hermenêutica narrativa de Ricoeur
(1983).
Abordagem narrativa da comunicação organizacional:
processo de validação teórica e epistemológica
As bases teóricas, bibliográficas e reflexivas expostas
aqui demonstram o trabalho de pesquisa, problematização e
crítica iniciados em 2011, com foco no estudo narrativo, e que
culminam com a publicação em 2022 da obra intitulada
“Abordagem narrativa da comunicação organizacional: história e
narrativa em foco nas organizações”.
Resultado de pesquisas desenvolvidas nos últimos 12
anos e que foram submetidas a um processo de revisão, análise
e apreciação por investigadores no Brasil e no exterior, em um
processo de validação teórica e epistemológica fundamental à
legitimação de uma nova abordagem ou perspectiva
investigativa.
Nesse contexto, é importante salientar que, como cada
nova teoria ou corrente de investigação proposta, a Abordagem
Narrativa da Comunicação Organizacional desenvolve-se
apoiada em estudos precursores e balizares, tal como a
narratologia (GENETTE, 1972; TODOROV, 1969; HERMAN,
1997; PRINCE, 2008), o estudo narrativo nas organizações
(BARRY; ELMES, 1997; CZARNIAWSKA, 1998; BOJE, 2001;
RHODES; BROWN, 2005; GIROUX;MARROQUIN, 2005) a
perspectiva narratológica da comunicação das organizações
(D’ALMEIDA, 2001; 2004; 2006), colocadas em diálogo,
confrontação e discussão, sob a égide hermenêutica que
sustenta e orienta esta investigação, com vistas à compreensão
do fenômeno narrativo em contexto organizacional, pela ótica
comunicacional.
93
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Como resultante, a obra apresenta um enfoque que
privilegia a observação da narrativa como processo, mas,
também, como produto da comunicação organizacional. Isto
significa compreender o caráter processual da narrativa,
relacionado ao trabalho de “narrativização” operado pelas
organizações no intuito de comunicar sua trajetória aos
diferentes públicos, ou seja, a história organizacional é
submetida a um processo comunicacional graças ao qual ela se
torna “narrável”. Assim como, assumir a narrativa como produto
significa focalizar nos relatos estratégicos construídos pelas
organizações como objetos de análise por meio dos quais são
reveladas suas estratégias discursivas e argumentativas, além
das escolhas estruturais que permitem dar coerência à história
narrada.
Assim, as análises e reflexões a partir dos fenômenos
organizacionais relacionados à construção e circulação de
narrativas, foram empreendidas sob a luz das Ciências da
Informação e da Comunicação, perspectiva a partir da qual a
problemática é investigada e cuja comunidade científica tem
contribuído para a validação, revisão e aperfeiçoamento da
proposta teórica.
Entende-se que o desenvolvimento de uma perspectiva
teórico-epistemológica consiste no trabalho de investigação que
possibilita a compreensão, explicação cerca de fenômenos que
ajudam a revelar a formação do conhecimento de e para uma
determinada área do saber científico e, para tanto, precisa ser
apreciada, analisada, para finalmente ser validada e legitimada
por sua comunidade acadêmica, neste caso, as Ciências da
Informação e da Comunicação.
No que diz respeito à investigação originária, ao
desenvolvimento teórico e conceitual, a concepção da
Abordagem narrativa da Comunicação Organizacional originase no âmago da escola doutoral “Comunicação e Linguagens”,
94
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
do Centro de Altos Estudos em Ciências da Informação e da
Comunicação (CELSA) da Université Paris-Sorbonne (Paris IV)1
e realiza-se em parceria com a Escola da Comunicações e Artes
da Universidade de São Paulo (ECA-USP), sendo, portanto,
submetida à apreciação, revisão e científica em ambas as
instituições.
Além disso, a pesquisa e a abordagem proposta tem sido
destacadas por sua originalidade em eventos nacionais e
internacionais, cuja legitimação científica do enfoque narrativo
ao estudo da comunicação organizacional pode ser observada
em publicações em evento nacionais e internacionais, capítulos
em obras internacionais e artigos em revistas indexadas, além
do convite pelo Prof. Emérito Dr. Lorenzo Vilches Manterola
(Universidad Autónoma de Barcelona) para a inclusão do
conceitos
de
“narrativas
organizacionais”
(SANTOS;
D’ALMEIDA, 2017) e “narrativas histórico-organizacionais”
(SANTOS, 2014) no Diccionário de Teorías narrativas II
elaborado e publicado na Espanha.
Nesse sentido, espera-se que a proposição possa
encontrar acolhida e atenda aos anseios de investigadoras e
investigadores em Relações Públicas e em Comunicação
Organizacional, com interesse nesta temática, de maneira que a
abordagem possa auxiliá-los na compreensão das narrativas e
sua emergência em contextos organizacionais pela ótica das
Ciências da Informação e da Comunicação.
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97
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
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Notas do Capítulo
Hoje denominada aliança “Sorbonne Université”.
1
98
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
FUNÇÃO POLÍTICA DE RELAÇÕES
PÚBLICAS: o equilíbrio do conflito-cooperação
nas organizações
POLITICAL FUNCTION OF PUBLIC RELATIONS:
balancing conflict-cooperation in organizations
Valmíria Antonia Balbinot
Resumo: Relações Públicas não se restringem à atividade/função de
divulgação de informações institucionais, promoção da imagem da
organização (online/offline), organização de eventos e outras
atividades essencialmente operacionais. Para que os profissionais
possam realizar um trabalho efetivo, indo ao encontro do que
Simões (1995) e outros colocam como "mediador de conflitos", é
necessário que se compreenda o real e completo sentido das
funções de relações públicas nas organizações, em especial sua
função política. Este estudo objetiva, a partir de uma pesquisa
bibliográfica, discorrer sobre as funções de Relações Públicas em
busca do equilíbrio do binômio cooperação-conflito nas
organizações a partir dos pontos de vista de Simões (1995) e de
Kunsch (2003). As funções de Relações Públicas se
complementam, sendo difícil estabelecer, na prática, os limites
entre elas. A função política observa, avalia e faz o diagnóstico dos
impasses, mas é por meio da função mediadora, tendo a
comunicação como principal estratégia, que se deve buscar
resolver as desordens organizacionais por meio de ações
adequadas para alcançar o equilíbrio entre o conflito e a
cooperação. Nesse contexto, é essencial que o profissional seja
um estrategista, assumindo efetivamente o papel de mediador de
conflitos organizacionais
.
Palavras-chave: Relações Públicas. Comunicação Organizacional. Funções
de Relações Públicas. Conflitos.
Abstract: Public Relations is not limited to the activity/function of
disseminating
institutional
information,
promoting
the
organization's image (online/offline), organizing events, and other
99
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
essentially operational activities. In order for professionals to carry
out effective work, aligning with what Simões (1995) and others
posit as a "conflict mediator," it is necessary to understand the true
and comprehensive sense of the functions of public relations in
organizations, especially its political function. This study aims,
through a bibliographic research, to expound on the functions of
Public Relations in the pursuit of a balance between cooperation
and conflict in organizations, from the perspectives of and Simões
(1995) and Kunsch (2003). The functions of Public Relations
complement each other, making it challenging to establish
practical boundaries between them. The political function
observes, assesses, and diagnoses impasses, but it is through the
mediating function, with communication as a primary strategy, that
one should seek to resolve organizational disorders through
appropriate actions to achieve a balance between conflict and
cooperation. In this context, it is essential for the professional to
be a strategist, effectively assuming the role of a mediator in
organizational conflicts.
Keywords: Public Relations. Organizational communication. Public
Relations Functions. Conflicts.
Introdução
As relações públicas, em suas diversas funções,
baseiam-se principalmente no fenômeno da opinião pública, e
se tornou cada vez mais valoroso devido ao papel significativo
que desempenha. Em uma sociedade democrática, onde a
opinião pública influencia de maneira determinante o processo
político, os profissionais de relações públicas têm um papel mais
relevante do que apenas fornecer informações institucionais e
promover a imagem das organizações. Considerando que
vivemos em uma sociedade organizacional, a atuação do
profissional de relações públicas em organizações privadas ou
públicas é essencial para estabelecer relacionamentos com os
stakeholders.
A proposição de Etzioni citada por Kunsch (2003) para
conceituar "organização formal" indica as seguintes
características: (a) Divisões de trabalho, poder e
100
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
responsabilidades planejadas para alcançar objetivos
específicos; (b) Presença de centros de poder que coordenam e
direcionam os esforços da organização para seus objetivos,
ajustando sua estrutura para aumentar a eficiência; (c) Prática
de substituição de pessoal, permitindo demissões e designação
de novos membros para tarefas, além de transferências e
promoções para reorganizar os papéis. Considerando esses
atributos e o contexto em que a organização está inserida, podese inferir que a possibilidade de conflitos é iminente.
Kunsch (2003) apresenta como conceito básico de
organização um sistema que trabalha em conjunto para alcançar
objetivos comuns e depende da comunicação, como um
subsistema, para estabelecer relações, coordenar e facilitar
ações eficientes e eficazes. Neste sentido, a comunicação é
essencial para possibilitar que a instituição alcance seus
propósitos de forma efetiva.
Sob essa ótica, as relações públicas desempenham um
papel crucial ao facilitar a comunicação e o entendimento mútuo
entre os grupos afetos à organização, viabilizando o diálogo em
busca de um consenso e de uma convivência harmoniosa.
Assim, as relações públicas destacam-se como um meio para
promover a participação cidadã e o envolvimento da sociedade
nos processos decisórios das organizações. Os profissionais de
relações públicas têm a responsabilidade de ouvir as vozes dos
diversos públicos, representar seus interesses e contribuir para
a construção de políticas e ações mais inclusivas e
responsáveis.
Essas proposições corroboram os estudos de Simões
(1995), que afirmam que, de acordo com a análise dos
momentos decisivos na história da atividade de relações
públicas e nas culturas onde ela floresceu, fica evidente que seu
princípio e sua base residem na dinâmica de poder entre as
organizações e seus públicos, assim como na iminente
101
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
possibilidade de conflito entre eles. Logo, as relações públicas
têm sua base de existência na resolução de conflitos
organizacionais.
Isto justifica Simões (1995, p.83) ao apresentar que "a
atividade de relações públicas é a ‘gestão da função política na
organização’". Assim como Simões, Kunsch (2003) e Grunig
(2005), outros autores conceituam relações públicas como
função política, administrativa, estratégica e mediadora.
Diante o exposto, ratifica-se que o papel de relações
públicas não se restringe à atividade/função de divulgação de
informações institucionais, promoção da imagem da
organização (online/offline) gestão de eventos e outras
atividades operacionais. Para que os profissionais possam
realizar um trabalho efetivo, indo ao encontro do que Simões
(1995) e outros colocam como "mediador de conflitos", é
necessário que se compreenda o real e completo sentido das
funções de relações públicas nas organizações, em especial a
função política. Assim, este estudo objetiva, a partir de uma
pesquisa bibliográfica realizada em artigos, teses e livros,
discorrer sobre as funções de relações públicas em busca do
equilíbrio cooperação-conflito nas organizações, a partir dos
pontos de vista de Simões (1995) e Kunsch (2003).
Este artigo está estruturado em três seções e
considerações. Na primeira parte, são apresentados aportes
teóricos de relações públicas. Na sequência, são apresentadas
as funções de relações públicas na ótica de Simões (1995) e
Kunsch (2003) e, em seguida, as funções de relações públicas
na busca do equilíbrio do conflito-cooperação. Por fim, são
apresentadas algumas considerações.
É importante ressaltar que este artigo é uma parte
introdutória de minha tese de doutoramento onde se pretende
estudar as relações públicas como mediadoras de conflitos
organizacionais. Neste sentido, o aprofundamento de alguns
102
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
temas como “mediação”, “conflitos” e “relações de poder” é
fundamental. No entanto, devido aos limites editoriais, não foi
possível desenvolver o devido aprofundado destes temas. Cabe
pontuar que, para diferenciar a área de Relações Públicas da
atuação profissional do relações públicas, a grafia será com as
iniciais maiúsculas para a primeira e minúsculas no segundo
caso.
Relações Públicas: aportes teóricos
Relações Públicas surge como prática profissional no
início do século XX, principalmente nos Estados Unidos, a partir
de um grande conflito, com o objetivo de ajudar as grandes
corporações e os departamentos governamentais a se
relacionarem de forma mais eficaz com seus públicos, a opinião
pública e a sociedade como um todo. No Brasil, as Relações
Públicas se desenvolveram com a chegada das empresas
multinacionais, que criaram departamentos dedicados a
fortalecer suas atividades no país. A profissão só foi
regulamentada em 1967, pela Lei 5377/67, e o primeiro curso de
graduação foi oferecido na Universidade de São Paulo (USP) no
mesmo ano. No decorrer das décadas, as Relações Públicas no
Brasil foram influenciadas por diferentes fatores, como a
transformação econômica, a abertura política, o estabelecimento
da democracia e o avanço das pesquisas científicas. Isso
resultou em mudanças significativas no setor social, político e
cultural, afetando a forma como as organizações, o governo e a
iniciativa privada conduzem a comunicação organizacional.
Kunsch (2003) coloca que, no decorrer da história, houve
significativas mudanças, na prática das Relações Públicas. No
princípio, Relações Públicas era vista como uma função
puramente técnica e, com o passar do tempo, passou a ser
reconhecida como uma função estratégica essencial para que
103
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
as organizações estabeleçam a sua identidade institucional e
gerenciem eficientemente os seus vínculos com os públicos
específicos. No entanto, ainda há dificuldade de explicar e
compreender o que significa "Relações Públicas".
Segundo Simões (1995), essa falta de entendimento se
dá pelo termo “Relações Públicas” ser polissêmico, isto é, pode
se referir à profissão, atividade profissional ou ainda a uma
função, cargo ou processo. Por consequência, faz com que a
definição conceitual se confunda com objetivos, instrumentos,
concepções. Desta forma, para entender os vários significados
do termo “Relações Públicas”, é necessário ter em mente a ideia
fundamental de um processo multidimensional de iteração entre
a organização (desde a sua criação) e seus diferentes públicos.
Esse procedimento é parte do sistema organização-público,
inserido em processos de sociedades maiores como a cidade, o
estado o país e o mundo.
Em relação à pluralidade de conceitos, Simões (1995)
observa que documentos e pensamentos científicos elaborados
no campo acadêmico de Relações Públicas misturam as esferas
da epistemologia, teoria, prática, mercado de trabalho, aspectos
legais, perspectivas e política. Isto, sem perceber a confusão
que estão gerando nos diversos setores da comunidade de
Relações Públicas. Isso se reflete ou decorre dos conceitos
distintos de Relações Públicas.
Buscando elucidar aspectos confusos, Simões (1995, p.
42) apresenta um “constructo teórico”, que ele denomina
“arcabouço básico da rede teórica”, em que expõe de forma
sistêmica a função estratégica e a base para a sustentação da
função política de Relações Públicas.
Segundo Simões (1995)1, em termos conceituais, as
Relações Públicas podem ser entendidas tanto como uma
ciência quanto como uma atividade. Como ciência, Relações
Públicas abarca o conhecimento científico que explica, prevê e
104
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
controla o exercício de poder no sistema organização-públicos.
Como atividade, é o exercício da administração da função
política organizacional, enfocado por meio do processo de
comunicação da organização com seus públicos. Na definição
operacional, descreve como essa atividade é exercida. Isso
inclui a análise de tendências, a previsão de consequências, o
assessoramento do poder de decisão e a implementação de
programas planejados de comunicação.
Os objetos de estudo e manejo das Relações Públicas
são divididos em duas categorias: material e formal. O objeto
material compreende a organização e os públicos envolvidos,
enquanto o objeto formal refere-se ao conflito no sistema
organização-públicos ou, dialeticamente, à compreensão mútua.
A atividade de Relações Públicas foi identificada e
considerada útil pela sociedade devido à iminência de conflito no
sistema social organização-públicos. Desde a integração dos
interesses até a convulsão social, existe um processo que requer
a atuação das Relações Públicas. No que diz respeito aos níveis
do problema no sistema organização-públicos, o processo
abrange desde a harmonização de interesses até a ocorrência
de perturbações sociais. Essa sintomatologia reflete a
importância de uma gestão adequada das Relações Públicas
para evitar ou resolver conflitos.
O aspecto político é enfatizado no arcabouço, destacando
que a relação é política, sendo a comunicação o instrumento
utilizado. Política e comunicação são dois lados da mesma
moeda, e a compreensão desse aspecto é essencial para a
atuação eficaz nas Relações Públicas.
A informação é a matéria-prima que gera, evita e resolve
conflitos no contexto das Relações Públicas. O acesso à
informação adequada e sua distribuição eficiente desempenham
um papel fundamental na busca pela compreensão mútua e na
administração dos interesses envolvidos.
105
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Os instrumentos utilizados para buscar e enviar
informações no âmbito das Relações Públicas são diversos e
incluem políticas e normas administrativas justas, produtos e
serviços de qualidade, bem como qualquer meio existente ou a
ser criado que leve mensagens da organização aos públicos e
vice-versa.
O objetivo da função e atividade de Relações Públicas é
legitimar as decisões organizacionais. Ao estabelecer uma
comunicação eficaz e estratégica com os públicos envolvidos,
busca-se obter o reconhecimento e o respaldo necessários para
a tomada de decisões da organização. Neste sentido, a
finalidade da busca da legitimidade é facilitar as transações com
os diversos públicos, além dos clientes, e mantê-los fiéis e
multiplicadores. Relações Públicas visam estabelecer relações
duradouras e construtivas, promovendo a fidelidade dos
públicos e incentivando sua participação ativa na promoção dos
interesses organizacionais.
Para Simões (1995), a ética é um componente essencial
das Relações Públicas. Embora a atividade em si seja
considerada ética por sua utilidade para a sociedade, os
problemas éticos podem surgir devido às ações dos profissionais
envolvidos, assim como ocorre em qualquer outra área. No
entanto, a essência da ética está intrinsecamente ligada ao
processo de legitimação das decisões e ações organizacionais.
Além disso, Relações Públicas também busca uma sociedade
mais harmônica e elegante. Ao promover a compreensão mútua
e a integração de interesses, contribui para um ambiente social
mais equilibrado e agradável.
Simões (2001)2 apresenta Relações Públicas a partir de
seus processos e programa, e coloca que as atividades básicas
de pesquisa, diagnóstico, planejamento, assessoria aos
dirigentes nas ações organizacionais, implantação, avaliação e
controle de projetos de comunicação incorporam a função
106
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
administrativa da organização. Da mesma forma, acrescenta
que estão estas relacionam-se à dinâmica das relações de poder
existentes no sistema. Ou seja, essas funções estão
relacionadas à micropolítica. Ele prossegue nas suas
proposições, identificando as funções organizacionais, como
financeiro, marketing, pesquisa e desenvolvimento, recursos
humanos, administração geral e política. Também afirma que a
função política compreende a filosofia, políticas, normas e
atividades organizacionais que visam à cooperação no sistema.
No entanto, ele destaca que essas funções podem se tornar
disfuncionais e gerar conflitos, já que estes são iminentes nas
organizações. Neste sentido, estabelece a cooperação como
objetivo
da
atividade,
considerando
a
dialética,
conflito/cooperação como o objeto formal, enquanto o sistema
organização-público é caracterizado como o objeto material.
Assim sendo, Simões (1995, p. 83) propõe como definição: “a
atividade de Relações Públicas é a gestão da função política da
organização”.
Já Margarida Kunsch (2003) apresenta como definição:
Relações Públicas é a área que trabalha com as organizações e
os públicos promovendo administrando e relacionamentos,
muitas vezes, mediando conflitos, valendo-se para tanto de
estratégias e programas de comunicação, de acordo com
diferentes situações reais do ambiente social (KUNSCH, 2003,
p. 90).
As definições dos autores, apesar de distintas, não se
contrapõem. Pelo contrário, Simões (1995) e Kunsch (2003) se
complementam quando abordam as funções de Relações
Públicas. Enquanto Simões (1995) apresenta Relações Públicas
e a define em suas bases teóricas como disciplina e ciência,
Kunsch (2003) expõe partir da sua realização na prática.
107
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Corroborando com a teoria de Simões (1995), Kunsch
(2003) coloca que Relações Públicas é um subsistema essencial
dentro das organizações, desempenhando funções específicas
no apoio aos demais subsistemas. Além disso, são responsáveis
por facilitar a gestão da comunicação e os relacionamentos entre
a organização e seus públicos.
Kunsch (2003) coloca o que considera funções
indispensáveis para o planejamento e gestão de Relações
Públicas nas organizações. Ela aduz que cada uma destas
funções é fundamentada e se relaciona com teorias específicas:
a função administrativa se relaciona com a teoria
interorganizacional, a função estratégica com a teoria de
gerenciamento, a função mediadora com a teoria da
comunicação e a função política com a teoria de resolução de
conflitos.
As funções nas organizações, em específico as funções
de Relações Públicas, serão abordadas a seguir.
Funções de Relações Públicas
Por “função social”, entende-se a contribuição que uma
atividade social oferece para a manutenção do sistema social
e a sobrevivência das condições necessárias para sua
existência. Na concepção de Kunsch (2003),
as organizações do ponto de vista sistêmico, interagem com o
ambiente e desempenham seu papel na sociedade mediante
ação conjunta de seus vários subsistemas. Neste contexto a
área de relações públicas constitui também um subsistema
organizacional e exerce funções essenciais e específicas
apoiando e auxiliando os demais subsistemas, sobretudo nos
processos de gestão comunicativa e nos relacionamentos das
organizações com seu universo de públicos (KUNSCH, 2003, p.
98-99).
108
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Função Administrativa de Relações Públicas
A partir dos inúmeros conceitos de Relações Públicas,
dos mais diversos estudiosos, as relações públicas são
reconhecidas como uma função administrativa que promove a
interação entre setores, grupos e subgrupos dentro da
organização. Essa função engloba atividades específicas para
estabelecer e manter relações com diversos públicos. Segundo
Simões (1995),
a classificação administrativa justifica-se porque a este cargo
organizacional lhe corresponde pesquisar expectativas,
interesses, opiniões, conjunturas; assessorar as lideranças
organizacionais sobre as políticas; planejar o programa anual de
comunicação; orçar e alocar recursos financeiros e materiais;
executar todos ou alguns dos projetos; supervisionar e motivar
sua equipe, caso exista; controlar as responsabilidades
delegadas; avaliar os resultados em relação aos objetivos
colimados. Todas estas atribuições são, em sua essência,
funções administrativas previstas no mais simples manual de
administração (SIMÕES,1995, p. 83-84).
Ao abordar a função administrativa, Kunsch (2003) coloca
que, na prática, o objetivo das relações públicas é estabelecer e
garantir “relações de confiança e credibilidade entre as
organizações e os públicos com os quais elas se relacionam”.
Segundo a autora, isso demanda investimento de tempo,
pesquisas, auditorias e diagnósticos como objetivo de realizar
uma avaliação da qualidade do relacionamento que a
organização tem com seus públicos. Além disso, “é necessário
planejamento, participação programada, implementação e
avaliação dos resultados” (KUNSCH, 2003, p. 102).
109
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Função Estratégica
Relações
Públicas,
segundo
Simões
(1995),
desempenham uma função estratégica nas organizações,
utilizando pesquisa e planejamento para desenvolver as
melhores estratégias de comunicação e lidar com as reações
dos públicos. Elas administram percepções, promovem
relacionamentos efetivos e trabalham na identidade corporativa.
O sucesso dessa função depende de sua posição na estrutura
organizacional, formação profissional e aplicação dos princípios
da teoria das Relações Públicas. É crucial que as Relações
Públicas participem do planejamento e gestão estratégica da
comunicação, colaborando com outras áreas e influenciando as
decisões da organização.
Kunsch (2003) assevera que é importante evidenciar o
valor econômico das atividades de Relações Públicas,
mostrando resultados tangíveis e contribuindo para o alcance
dos objetivos, missão, visão e valores das organizações. Como
função estratégica, as Relações Públicas ajudam as
organizações a se posicionar na sociedade, destacando sua
missão, valores e princípios. Elas estabelecem canais de
comunicação, constroem confiança mútua, fortalecem a
credibilidade e valorizam o aspecto social da organização.
Também assessoram na identificação de problemas e
oportunidades relacionados à comunicação e imagem
institucional, avaliando o impacto do comportamento dos
públicos e da opinião pública na organização.
Função Mediadora
A “mediação”, está presente em diversos campos e
contextos e, em cada um, possui significados distintos, e
desperta inquietações sobre como se dá esse processo e sua
110
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
usabilidade. Sendo conceito interdisciplinar, a “mediação” se faz
presente em vários campos do saber, como a Comunicação,
Direito, Psicologia, Sociologia e Ciência da Informação, entre
outros, e está estabelecida como uma prática amplamente
aceita, levando em consideração suas demandas e
características específicas. Diante das transformações sociais
ao longo do tempo, observa-se um progresso nos processos de
mediação e sua aplicação em diferentes contextos.
Por questões de formatação e espaço, não será abordada
a mediação de maneira profunda, e sim apenas a partir da
abordagem de Kunsch (2003), que aponta que, em sua função
mediadora, Relações Públicas se coloca como interface na
comunicação entre a organização e seus públicos e, para isso,
utiliza todos os meios de comunicação disponíveis. É importante
frisar que comunicar não se limita apenas a informar, mas sim
estabelecer um relacionamento, baseado no compartilhamento
de informações e na participação da comunidade. Nesse
sentido, Relações Públicas busca estabelecer uma
comunicação que envolva troca, reciprocidade e comunhão de
ideias entre as organizações e os públicos. O objetivo não é
apenas informar, mas também alcançar um verdadeiro
compartilhamento de ideias e atitudes por meio da comunicação.
Kunsch (2003) cita quatro modelos de práticas de
Relações
Públicas:
(1)
o
modelo
“Agência
de
imprensa/divulgação”, que objetiva obter divulgação publicitária;
(2) “Informação pública”, que busca oferecer informações da
organização; (3) modelo “Assimétrico de duas mãos”, que utiliza
pesquisas para persuadir os públicos estratégicos a se
comportarem de acordo com os objetivos da organização; e (4)
o modelo "Simétrico de duas mãos", que busca o equilíbrio e se
baseia em pesquisas, comunicação, administração de conflitos
e colaboração com os públicos estratégicos, sem exigir que a
organização tome partido em questões específicas. Este é o
111
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
modelo ideal para colocar em prática a função Mediadora das
Relações Públicas, pois promove o diálogo e a discussão de
forma ética. Contudo, é o modelo mais difícil de se trabalhar3.
É fato que a participação do “gestor de relações públicas”
no processo estratégico da organização facilita a inclusão dos
públicos nas negociações e discussões que os afetam. Como já
mencionado, o trabalho efetivo de relações públicas vai além da
mera informação: busca promover o diálogo. Isso é possível por
meio da comunicação bidirecional, em que a organização
primeiramente se certifica e compreende as atitudes,
sentimentos e opiniões do público, para depois transmitir suas
mensagens de forma adequada. Isso permite o estabelecimento
do diálogo entre a organização e seus diversos públicos, sendo
essa mediação uma das principais funções desempenhadas por
essa área.
Função Política das Relações Públicas
Ao abordar a política nas organizações, cabe distinguir
alguns conceitos fundamentais, pois não há como dissociar os
termos macropolítica e micropolítica das organizações. A
macropolítica abrange a esfera da política que lida com a tomada
de decisões em grande escala, a distribuição de recursos e o
exercício do poder em uma sociedade, e que as decisões
tomadas influenciam a sociedade e todas as organizações. Já a
micropolítica se refere à política do cotidiano, em que as
relações de poder, negociação e tomada de decisões ocorrem
em contextos mais limitados; explora as dinâmicas de poder,
influência e estratégias utilizadas nas relações interpessoais e
nos grupos pequenos. Em termos organizacionais, é importante
reconhecer que elas estão interconectadas e se influenciam
mutuamente.
112
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Sobre a função política de Relações Públicas, Simões
(1995) aduz que é,
exercida pela filosofia, pelas normas, pelas ações
organizacionais que visam legitimar o poder decisório da
organização junto aos vários públicos, no trato dos interesses
comuns e específicos a fim de melhor trocar com eles os
mesmos interesses (SIMÕES, 1995, p. 107-108).
Como função política, Relações Públicas está associada
a relações de poder e têm a responsabilidade de gerenciar
questões de relacionamento, tanto interna quanto externamente,
utilizando a comunicação como sustentáculo. Isso envolve lidar
com problemas decorrentes do comportamento de determinados
públicos ou de decisões tomadas pela organização. Essas
questões ocorrem tanto no âmbito do poder interno (micro)
quanto no poder externo (macro), e permeiam todo o processo
de negociação e busca por soluções em uma dimensão pública.
Já Sgorla, Fossá e Pérsigo (2011) colocam que uma
função política eficiente representa um passo inicial para
legitimar uma organização. É importante estabelecer uma
relação equilibrada entre a organização e seus públicos, a fim
de harmonizar os objetivos e interesses das partes envolvidas.
A função política está relacionada diretamente com os conflitos
na organização e estes com as relações de poder.
Funções de Relações Públicas nas Organizações: em busca
do equilíbrio do conflito-cooperação
Há concordância junto aos estudiosos da área de
Relações Públicas, entre eles Simões e Kunsch, que as
organizações são ambientes políticos e, neste sentido, possuem
a necessidade do gerenciamento destes contextos. Também há
consenso que uma das atividades das Relações Públicas é a
113
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
“Função Política”. A diferença está na abordagem e no
posicionamento da função na organização.
Como definição conceitual de Relações Públicas, Simões
propõe que a “a atividade de Relações Públicas é a gestão
política da organização (...)” (SIMÕES, 1995, p. 83). Neste
sentido, coloca a função política como a principal e mais
importante das funções organizacionais de relações públicas.
Segundo ele, “administrar função política é a ‘essência’ da
atividade de relações públicas (...), administrar a comunicação é
a ‘aparência’ (...) e administrar o conflito é a circunstância”
(SIMÕES, 1995, p. 84). O autor justifica sua proposição:
O adjetivo político se justifica porque todas as ações desta
atividade reportam-se às implicações que as decisões da
organização poderão gerar junto aos públicos e às
consequências que as decisões dos públicos poderão causar
aos objetivos organizacionais. O fator comunicação, processo,
resultante, e instrumentos participam do cenário como
coadjuvantes. O exercício do poder é realizado através do
processo de comunicação com os instrumentos de
comunicação. (SIMÕES, 1995, p. 84)
Tavares (2018) expõe o constructo teórico de Simões
(1995), que possui um elemento-chave na função política, a
relação entre as bases de poder, constituída de três
perspectivas: a primeira é baseada na ação, em que o sujeito
legitimado toma decisões que buscam o bem comum e atendem
aos interesses legítimos de ambas as partes. A segunda é
marcada pela comunicação, que tem o poder de informar,
seduzir, persuadir e iniciar uma negociação para resolver
conflitos de interesses. A terceira é a base coercitiva, em que
estímulos positivos (recompensa) ou negativos (punição) são
usados para influenciar as decisões dos atores envolvidos.
Conforme Tavares (2018, p. 4), no programa de Relações
Públicas proposto por Simões (2001), as funções de
114
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
“diagnosticar, prognosticar, assessorar as lideranças e
implementar o plano de comunicação” são responsabilidades
das Relações Públicas. Em face a isso, advém a obrigação de
sugerir as políticas que devem ser aplicadas à comunicação das
organizações, bem como planejá-las, levando em consideração
o objetivo da cooperação mútua.
Na perspectiva de Kunsch (2003), Relações Públicas têm
a responsabilidade de gerenciar questões de relacionamento,
tanto
internamente
quanto
externamente,
utilizando
comunicação como sustentáculo. Isso envolve lidar com
problemas decorrentes do comportamento de determinados
públicos ou de decisões tomadas pela organização. Essas
questões ocorrem tanto no âmbito do poder interno (micro)
quanto no poder externo (macro), e permeiam todo o processo
de negociação e busca por soluções em uma dimensão pública.
Kunsch (2003) também dialoga com o pensamento de
Ehling, White e Grunig (1992) sobre a função política das
relações públicas, em que o gerenciamento de relações públicas
nas organizações e, de acordo com a teoria de resolução de
conflitos é função essencial de Relações Públicas, lidar com
disputas, desacordos, crises e outros conflitos. É denominada
função política uma vez que envolve negociações, estratégias
de comunicação e ações concretas para encontrar soluções
para os problemas que as organizações possam enfrentar em
seu relacionamento com os públicos, no ambiente social.
Relações Públicas, “como disciplina acadêmica e
atividade profissional, tem como objeto as organizações de seus
públicos, instâncias distintas que, no entanto, se relacionam
dialeticamente” (KUNSCH, 2003, p. 89), e atua utilizando
estratégias e programas de comunicação, promovendo e
administrando relacionamentos e por vezes mediando conflitos,
buscando equilíbrio.
115
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Considerando a busca do equilíbrio cooperação-conflito,
a atuação das relações públicas enfoca o aspecto institucional e
corporativo das organizações. Assim sendo, realiza o estudo de
públicos, a supervisão e coordenação de programas de
comunicação, e a prevenção e mediação conflitos e crises junto
aos empregados, consumidores, governos, comunidades,
sindicatos, grupos de pressão etc. Para alcançar essa meta, as
organizações não podem negligenciar uma comunicação ativa e
contínua, seguindo uma política de relações públicas.
Neste sentido, Simões (1995) complementa que a
política, como área de conhecimento e prática humana, engloba
diversos elementos relacionados ao exercício de poder, tomada
de decisões, processo de escolha, conflitos, coalizões,
ideologia, normas e negociações. O profissional de relações
públicas, com sua preparação e sensibilidade, contribui para a
percepção de conflitos e a antecipação de situações de crise.
A partir do exposto, cabe lembrar que a função política
das Relações Públicas está intrinsecamente ligada às relações
de poder nas organizações. Simões (1995) define poder como a
capacidade de decisão ou influência de uma parte sobre outra
em um processo de transação. O poder não é uma propriedade
exclusiva de alguém, mas sim uma relação entre pessoas ou
grupos.
As relações de poder entre a organização e seus públicos
são complexas e ocorrem em diferentes níveis. Para cumprir a
função política de maneira efetiva, as Relações Públicas devem
compreender as dinâmicas de poder dentro das organizações e
como elas influenciam as relações com o ambiente externo. Isso
envolve a gestão de controvérsias, crises e conflitos sociais que
podem surgir.
É fato que os conflitos fazem parte da vida em sociedade,
e se constituem partir de divergências de interesses entre
pessoas. Embora pareçam negativos, se não tratados, podem
116
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
levar a uma espiral crescente de ações e reações, desviando
das questões originais, os conflitos podem ser positivos. No
Manual de Mediação Judicial (BRASIL, 2009), o organizador
André Gomma de Azevedo destaca dois tipos de conflitos:
construtivos e destrutivos. Conflitos destrutivos rompem
relações sociais devido ao tratamento inadequado, enquanto
conflitos construtivos fortalecem relações, buscando soluções
criativas e abordando todas as questões relevantes.
O conflito nas organizações é estudado por diferentes
teorias administrativas. Alguns o veem como positivo, outros
como negativo. Concorda-se que os conflitos surgem de
necessidades ou sentimentos não atendidos, por falta de
recursos, relacionamento ou comunicação. Morgan (2009)
destaca a indissociabilidade de "interesse, conflito e poder" nos
modelos organizacionais, gerados em política, jogos de poder e
intrigas. A resolução ocorre de diversas formas, dependendo das
relações de poder e dos tipos de jogos utilizados.
Simões (1995) coloca que se o conflito persistir por um
longo período, acarretará consequências prejudiciais para a
organização, o sistema e a sociedade em geral. Isso porque toda
a energia, principalmente a dos membros da organização, é
direcionada para o conflito, deixando de lado os aspectos
produtivos. Portanto, embora o conflito possa conter elementos
positivos, é importante evitá-lo ou resolvê-lo por meio de
medidas preventivas e corretivas adequadas.
Cabe salientar, conforme Simões (1997), que a
informação desempenha um papel crucial na melhoria do
processo decisório para ambas as partes, no entanto os
problemas não são resolvidos apenas pela comunicação, exceto
quando ocorre a negociação envolvendo trocas e
compensações por perdas. Por todas essas razões, o perfil do
profissional de Relações Públicas não deve ser o de um simples
executor de tarefas, mas sim o de um estrategista.
117
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Neste sentido, os executivos de relações públicas
devem calcular a seriedade e consequentemente a ruptura e
custos atuais e conflito em potencial (disputas, desacordos,
controvérsias ou confrontação). Eles devem fazer isso sabendo,
geralmente por meio de pesquisas, a natureza da colocação
social e a rede de integração das organizações e instituições que
interagem em qualquer corporação, quando os conflitos se
tornam declarados ou deflagrados. Ao mesmo tempo eles
devem determinar quando a comunicação do tipo negocial se
torna apropriada e o meio principal (tipo de ação, estratégia)
para mediar ou abrandar conflitos na procura de pontos para
chegar a um acordo e cooperação (EHLING; WHITE; GRUNIG,
1992 apud KUNSCH, 2003, p. 111-112).
Neste contexto, considerando a essência de Relações
Públicas, pode-se afirmar que sua importância social está na
habilidade de construir “ponte” – conexões, enfatizando a
importância dos relacionamentos, construção do significado e no
desenvolvimento pessoal e social por meio do estabelecimento
de relações de confiança. O diálogo, a legitimidade e a ética
devem ser elementos essenciais para essa atividade. Dessa
forma, relações públicas facilita o desenvolvimento de uma
consciência crítica, da autonomia e empoderamento nas
pessoas envolvidas no processo. É uma abordagem que busca
capacitar e libertar os indivíduos, permitindo-lhes tomar decisões
informadas e participar ativamente na sociedade e dos
subsistemas a que fazem parte, de forma livre e autônoma.
Neste sentido, a função mediadora interage com a função
política.
Kunsch (2003) ancora a afirmação de Ehling, White e
Grunig (1992) quanto à atividade de relações públicas ter suas
raízes no contexto social, em que a cooperação e a coordenação
não ocorrem facilmente. Elas necessitam de comunicação,
negociação e outras estratégias de mediação para dirimir as
118
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
diferenças, reconciliar interesses, minimizar conflitos e buscar
acordos. Essas atividades compõem um processo de
transformação onde impasses são resolvidos, conflitos de
uniões, alianças e relacionamentos são minimizados,
abandonados ou reconstruídos.
Diferentemente de Simões (1995), Kunsch (2003)
percebe as funções de relações públicas estratégica,
administrativa, mediadora e a política como instâncias não
separadas umas das outras. Na realidade, segundo a autora,
“o exercício pleno da atividade requer a soma de todas, numa
interpenetração que ajude as organizações não só a resolver
seus problemas de relacionamentos, mas também a se situar
de forma institucionalmente positiva na sociedade (KUNSCH,
2003, p. 117).
O profissional de relações públicas, a partir da função
política, deve observar e diagnosticar as questões de impasse e
através da função mediadora, onde a comunicação é o
instrumento principal buscar a resolução do conflito utilizando
estratégias adequadas à situação, buscando o equilíbrio do
conflito-cooperação. Nesse sentido, é fundamental um
profissional estrategista para que Relações Públicas possa
assumir o efetivo posto de mediador de conflitos organizacionais
Considerações finais
A partir de uma pesquisa bibliográfica sedimentada
Kunsch (2003) e Simões (1995), o objetivo deste estudo era
apresentar como Relações Públicas, a partir de sua função
política, pode contribuir na resolução de conflitos nas
organizações em busca do equilíbrio conflito-cooperação. Neste
sentido, buscou-se primeiramente apresentar um aporte teórico
de Relações Púbicas, considerando que é um termo
119
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
polissistêmico. Nesse sentido Simões (1997) coloca que
Relações Públicas abrangem a teoria, tecnologia, estratégia e
técnicas relacionadas ao sistema organização-público.
Quando se fala nas funções de relações públicas
administrativa, estratégica, mediadora e política, concebe-se
relações públicas e sua atuação de forma sistêmica nas
organizações e nos demais sistemas que compõem a
sociedade. Observando a partir do aspecto prático, não há como
dizer que a ação é essencialmente administrativa, estratégica,
mediadora ou política, pois as funções se permeiam. A
separação se dá apenas em aspectos didáticos de estudo. São
quatro as funções de Relações Públicas:
1. Função administrativa: tem como propósito promover
a interação entre diferentes setores, grupos e
subgrupos da organização, visando seu pleno
funcionamento e gerenciando os canais de
comunicação interna;
2. Função estratégica: contribui para que as
organizações estabeleçam sua posição perante a
sociedade, comunicando sua missão, valores, cultura
e construindo sua identidade, e procura abrir canais de
comunicação efetivos entre a organização e seu
público;
3. Função mediadora: busca desenvolver a mediação
entre a organização e o público, utilizando o diálogo
como instrumento para promover o entendimento e
relacionamentos saudáveis; e
4. Função política: envolve atividades relacionadas ao
poder nas instituições, gerenciando crises e conflitos
sociais, e busca o equilíbrio para alcançar a
legitimação e oferecer a “harmonia social”.
A função política está relacionada aos conflitos,
controvérsias e crises. No entanto, considerando o aspecto
120
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
humano das organizações e que os conflitos são intrínsecos à
condição humana, a função mediadora se apresenta como mais
concreta e próxima, capaz de efetivamente estabelecer um
relacionamento de comunicação e troca. O papel do profissional
de relações públicas, por meio da função política, é identificar e
analisar os impasses existentes. É através da função mediadora,
utilizando a comunicação como principal instrumento, que se
deve buscar resolver os conflitos por meio de estratégias
adequadas para alcançar o equilíbrio entre o conflito e a
cooperação. Nesse contexto, é essencial que o profissional seja
um estrategista, assumindo efetivamente o papel de mediador
de conflitos organizacionais
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Notas do Capitulo
1
O texto se refere na íntegra ao “Quadro I – O arcabouço básico da rede teórica”, do livro
Relações Públicas: Função Política, de Roberto Porto Simões (1995).
2
Disponível em: https://docplayer.com.br/60377966-Por-uma-rede-teorica-para-relacoespublicas-uma-forma-abreviada-da-teoria.html. Acesso em: 26.06.2023
3
Para mais informações, ver artigo de Grunig publicado em 2003 na revista Comunicação e
Sociedade. Disponível em: https://www.metodista.br/revistas/revistasims/index.php/CSO/article/view/4840/4090. Acesso em: 26.06.2023
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
CENÁRIOS PARA UM METAVERSO
ORGANIZACIONAL: entre o real e o virtual
SCENARIOS FOR AN ORGANIZATIONAL
METAVERSE: between the real and the virtual
André Quiroga Sandi
Resumo: As potencialidades trazidas pelas tecnologias, principalmente as
digitais, causam impactos nas rotinas e processos das
organizações, o debate é amplo e apresenta temáticas e
apropriações distintas, a partir de diversos campos de
conhecimento. Compreender as potencialidades e inovações
destas tecnologias auxilia as organizações a pensarem suas
estratégias, de modo amplo e, principalmente, nas rotinas de
comunicação e aproximação com os públicos. Neste contexto, a
partir de 2020, o debate relacionado ao metaverso retorna ao foco,
tanto pelo campo do desenvolvimento de tecnologia quanto no
campo da comunicação. A partir de um estudo relacionado ao
Second Life, um dos primeiros metaversos conhecidos, foi
possível perceber 10 cenários que aportam uma perspectiva e
reflexão acerca dos processos de entrada e apropriação das
organizações em ambientes virtuais. Estes cenários, quando
aplicados aos metaversos que estão sendo criados pelas
organizações, auxiliam na formulação de estratégias de
posicionamento. Este debate é atrelado, também, à noção de real
e virtual, enquanto fronteiras tênues estabelecidas nos espaços
digitais e assim, nas relações e interações com os públicos.
Compreende-se, por fim, que o metaverso, não sendo um conceito
novo, se apresenta como algo novedoso para as organizações,
mas suas aplicações de fato podem não ser tão inovadoras como
se apresentam na atualidade.
Palavras-chave:
Relações Públicas. Metaverso.
Comunicação Organizacional
Virtual
e
Digital.
Abstract: The potentialities brought by technologies, especially digital ones,
impact the routines and processes of organizations. The debate is
124
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
broad and presents different themes and appropriations from
various fields of knowledge. Understanding the potentialities and
innovations of these technologies helps organizations think about
their strategies, broadly and especially in communication routines
and engagement with audiences. In this context, starting from 2020,
the debate related to the metaverse returns to focus, both in the
field of technology development and in the field of communication.
Based on a study related to Second Life, one of the first known
metaverses, it was possible to identify 10 scenarios that bring a
perspective and reflection on the processes of entry and
appropriation of organizations in virtual environments. These
scenarios, when applied to the metaverses being created by
organizations, assist in formulating positioning strategies. This
debate is also linked to the notion of real and virtual, as subtle
boundaries established in digital spaces and thus in relations and
interactions with audiences. In conclusion, the metaverse, while not
a new concept, presents itself as something novel for organizations,
but its applications may not be as innovative as they appear in the
present.
Keywords: Public Relations. Metaverse. Virtual and Digital. Organizational
Communication.
Introdução
Estudar um mundo virtual em seus próprios termos, não significa
ignorar as múltiplas formas que as ideias do mundo real
“imprimem”
no
virtual,
significa
examinar
essas
correspondências enquanto se manifestam no mundo virtual(...) 1
(BOELLSTORFF, 2008, p. 64).
O uso de tecnologia em todos os âmbitos da estrutura
organizacional é uma realidade inegável, portanto os
investimentos (financeiro, pesquisas, entre outros) neste campo
tem sido cada vez mais alto. Refletir sobre o desenvolvimento
das tecnologias, acompanhar sua aplicação e consolidação no
mercado se torna fundamental para estabelecer um debate e
compreender os movimentos que ocorrem, num contexto de
constante mudanças, sociais e profissionais. No campo da
125
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
comunicação, o reconhecimento progressivamente ampliado
das tecnologias, suas ferramentas, usos, apropriações e
aplicações, contribui para que os profissionais possam ter um
crescente domínio conceitual e técnico, estando habilitados a
explorar todas as potencialidades desses espaços virtuais, sem
a euforia dos que consideram o ciberespaço um universo de
potencialidades infinitas, sem fronteiras e também sem o
reducionismo da consideração agigantada de seus limites.
Neste contexto podemos perceber que há uma nítida
preocupação das organizações em acompanhar os avanços
tecnológicos. Neste sentido, a criação de espaços virtuais no
metaverso2 pode ser a marca de uma busca de reconhecimento
das possibilidades inovadoras, acompanhando uma tendência
de mercado e da sociedade. Notadamente, a partir de 2020, para
aproximar um período, o termo metaverso volta ao centro das
atenções e dos debates, tanto no campo da tecnologia, ou seja,
no desenvolvimento de plataformas e programação, como pela
sociedade, que busca refletir sobre os usos e potencialidades e,
principalmente, a sua real implementação, utilização e
implicação. O metaverso, não sendo um conceito novo, volta a
ser apresentado como algo novedoso (LÓPEZ-DÍEZ, 2021;
NIETO, 2022) para as organizações, mas suas aplicações de
fato podem não ser tão inovadoras como se apresentam na
atualidade. Grandes empresas do ramo da tecnologia3 sinalizam
que o metaverso é o futuro, tendo como caso mais emblemático
a alteração de nome do grupo detentor do Facebook para Meta
(NIETO, 2022). Paradoxalmente, percebemos que outras
empresas do ramo da tecnologia repensando suas estratégias,
como é o caso da Microsoft e da Disney4, e fechando ou
diminuindo suas divisões de realidade virtual. Portanto sua
utilização, com avanços e retrocessos, segue um debate amplo
nos diversos campos que interatuam neste universo que,
126
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
virtualmente, aponta para uma realidade de contribuições para
as organizações.
O significativo aumento do uso de programas que utilizam
plataforma virtual 3D, levanta o debate para os comunicadores,
que se veem desafiados a compreender a tecnologia em si, mas
também os fenômenos que desdobram de seus usos. Essas
plataformas podem ser consideraras um universo virtual e
trazem consigo possibilidades diferenciadas no atual conceito de
navegação, bem como avançam muitos de seus princípios de
“navegação”. Assim, há no Metaverso uma potencialidade de vir
a ser a Internet do futuro, propiciando e ampliando espaços de
simulação e interação on-line (ACCIOLY, 2007).
As possibilidades vislumbras são diversas, sendo que
para o campo da comunicação o estabelecimento de distintos
modos de operar a transmissão de informação e,
potencialmente, as interações com os diversos públicos que se
relacionam com as organizações estão no centro das atenções.
Contudo, podemos afirmar, que ainda estamos buscando
modelos frente aos diferentes cenários que as tecnologias têm
aportado, seja por sua rápida evolução ou, principalmente, pela
mudança constante das plataformas e programas que são
utilizados, bem como a forma como os usuários (atores, na
concepção de WEISSBERG, 2009) se apropriam destes
espaços, o que tem balizado muito a utilização e entendimento.
Neste sentido, buscar ou estabelecer uma definição para
Metaverso não é algo simples, pois “é um conceito cuja definição
ainda é instável5” (NIETO, 2022, p. 41). Se trazemos os aportes
do campo da tecnologia teremos uma definição muito técnica
que, apesar de importante para o desenvolvimento das
plataformas, não contribui para a compreensão necessária de
seu modo de operação. Portanto, entre diversas aceitações, a
que mais se aproxima ao entendimento que devemos ter, no
127
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
campo da comunicação, é proposta por Ball (2021) ao apontar
que
o metaverso é uma rede massivamente dimensionada e
interoperável de mundos e ambientes virtuais 3D renderizados
em tempo real que podem ser experimentados de forma
síncrona e persistente por um número efetivamente ilimitado de
usuários com um senso individual de presença e com
continuidade de dados, como identidade, história, direitos,
objetos, comunicações e pagamentos6 (BALL, 2021).
Apesar da definição apontar o conceito de interoperação,
percebemos que os ambientes tridimensionais elaborados pelas
organizações, em sua maioria, não se interligam. Isso pode
ocorrer por demanda de protocolos segurança, de busca de
padronizações com os demais recursos da organização e,
principalmente, tem seguido um padrão que se mantem na
internet tradicional7, onde as páginas não possuem ligações
(links) com externas. Portanto, podemos apontar que também
são
espaços que emulam não mais uma comunidade de usuários,
mas mundos online com regras compartidas com a legislação do
mundo real. Os diversos metaversos são espaços virtuais
persistentes, cujas ferramentas buscam que o usuário se
movimente, interatue e crie conteúdos nos distintos cenários
habilitados para este fim8 (NIETO, 2022, p. 45).
Para compreender, em grande parte, os cenários que
serão apresentados, é necessário destacar que, historicamente,
a cada surgimento de uma nova tecnologia, está se aproxima de
seus usuários intermediada por metáforas relacionadas a algo já
conhecido. São analogias que têm sentido pelo fato de estarem
vinculadas a referentes reconhecidos, estabelecendo uma
aproximação com o real. As inovações tecnológicas, vinculadas
aos computadores e seus dispositivos e técnicas, incluindo a
realidade virtual, não fogem a essa necessidade de busca de
128
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
metáforas para viabilizar uma relação com seus usuários. A cada
evolução cria-se novas linguagens e maneiras de se apresentar,
envolvendo possibilidades tecnológicas distintas, assim como
modos diferenciados de interação com seus usuários. A
metáfora mais conhecida é a do escritório, no período em que
os computadores passaram a ter um uso doméstico
(DERTOUZOS, 2003), onde a tela do computador (desktop)
seria a mesa do escritório, temos a lixeira e guardamos as
informações, na forma de documentos, em pastas, que, por sua
vez, podem ser arquivadas em outras pastas, estabelecendo
uma relação com o método tradicional de arquivamento no
mundo real. Mas é no metaverso que se aplica a metáfora
geográfica, apresentada por Dertouzos (2003), ao questionar:
e a metáfora geográfica virtual? Eu prefiro esta porque foi a que
sonhei, assim como muitos outros. Os sites de informação
estarão organizados como andares de diferentes edifícios,
situados em ruas e avenidas, aglutinados em cidades e
povoados, todos visíveis em mapas navegáveis na tela. (...) O
diagrama geográfico poderia ser realista, se quer ia ao Louvre,
navega até Paris e depois ao museu 9 (DERTOUZOS, 2003, p.
52).
E neste cenário, de constate evolução que o metaverso
tem se (re)apresentando e as organizações têm se (re)inserido,
buscando novas formas de se reconhecer na relação entre os
atores. Um esforço proveniente de duas grandes áreas, das
grandes empresas de tecnologia, que buscam desenvolver as
ferramentas e software para disponibilizar os espaços virtuais
3D, por muitas denominados metaversos, e das organizações,
como entidades que se relacionam com a sociedade em que
está inserida e buscam criar novos meios de interação.
129
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Realidades, virtuais
Entender a relação entre virtual e real significa considerála mais além de sua compreensão de uso frequente. “As
realidades artificiais e os mundos virtuais nos obrigam a
interrogar-nos novamente, de modo urgente e agudo, sobre a
natureza da realidade real. O virtual nos estimula a colocar de
forma nova a questão do real” (QUÉAU, 2008, p. 99).
O que é considerado real, na visão cotidiana, impregnada
de senso comum, passa pelo que é percebido como concreto,
vinculado ao que é palpável, ao que pode ser captado pelos
sentidos e que tem, muitas vezes, uma existência material,
tangível - mais vinculada aos bens e não propriamente às
pessoas; algo que existe de fato. No reconhecimento do sentido
dado ao real no âmbito deste trabalho, cabe afirmar que sua
compreensão passa pelo entendimento das potencialidades da
percepção humana. Isso porque as mudanças que estão sendo
geradas com a propagação das tecnologias virtuais guardam
uma significativa relação com o campo de novas percepções de
realidade. Assim, o real não se restringe ao existente – o mundo
das coisas, o espaço físico, o material que interage com o
homem -, mas ao que é assim percebido, do mesmo modo que
o virtual.
No sentido usual, corriqueiro, o virtual tem sido visto como
negação, oposição ou complemento do que é concebido como
real. Ao mesmo tempo, temos que pensar que o virtual não pode
ser definido como algo que se opõe ao real, vinculado ao
imaginário, ao ilusório, ao enganoso. Em sua dinâmica de
virtualização, “trata-se, ao contrário, de um modo de ser fecundo
e poderoso, que põe em jogo processos de criação, abre futuros,
perfura poços de sentido sob a platitude da presença física
imediata” (LÉVY,1996, p. 12). Em um entendimento amplo, o
virtual está relacionado com o que existe em potencial, não
130
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
propriamente em ato, e que tende a atualizar-se. Quanto ao
atual, este é o que constitui oposição ao virtual. Essa
constatação mostra que o virtual não se coloca como oposição
ao real, mas sim ao atual (LÉVY, 1996).
A relação do virtual e o real tem caminhado para uma
permeabilidade das fronteiras existentes entre ambos,
incorporando a telerealidade como um componente presente em
nosso tempo. Uma possível linha tênue existente entre esses
dois conceitos não existiria na medida em que as tecnologias
ampliam a exposição e atualizam as técnicas de produção de
imagem de síntese10, amplamente utilizada para criar os
ambientes no metaverso.
As imagens de síntese e os mundos virtuais não revelaram ainda
o seu verdadeiro potencial. É difícil, hoje, dimensionar a
verdadeira revolução em curso no campo da imagem e, de modo
mais abrangente, no campo do tratamento da informação e da
comunicação.
A passagem iminente das tecnologias de
telecomunicação e do audiovisual ao todo-numérico anuncia-se
como a ocasião de uma reconfiguração de saberes e dos
métodos, das escritas e das memórias, dos meios de criação e
de gestão (QUÉAU. 2008, p. 92).
Para Quéau (2008) a mais significativa qualidade que as
imagens de síntese traz é a sua capacidade de autonomia, a sua
resistência incluindo a sua opacidade, ou seja, a sua
potencialidade de oferecer mais possibilidades de expressão do
que as que conseguimos ver nelas hoje e isso está
potencializado pelo metaverso e “seus” avatares, ou quimeras.
Se a imagem de síntese apresenta o virtual, tornando-o real,
podemos apontar que
O virtual no lugar do real corresponde a uma dicotomia
visivelmente exportada das categorias de representação
(imagem no lugar do objeto, máquina no lugar do homem, etc.).
A decodificação de sua trajetória em termos de evicção ou de
131
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
predominância do virtual sobre o real é sem dúvida portadora de
uma interrogação ética salutar. Por outro lado, não é certo que
essa trajetória seja a única em processo. Múltiplas experiências,
pesquisas, aplicações tendem a constituir uma outra cenografia
em que atores (real/virtual, objeto/imagem, conhecimento
humano/programa “inteligente”) ocupam posições inéditas
(WEISSBERG, 2008, p. 119).
Portanto a questão que se coloca está relacionada ao
entendimento do real em sua vinculação com o virtual
percebidas como opostos, uma vez que essas duas esferas
parecem não constituírem uma relação de antagonismo. Pelo
contrário, interligam-se, complementam-se, confundem-se,
mesclam-se.
As
máquinas
consideradas
inteligentes
intensificaram, através de diferentes mecanismos, essa
potencialidade de interação, tornando tênues e até diluindo suas
fronteiras.
Cenários em realidades virtuais
Um dos primeiros metaversos digitais que podemos
apontar foi o Second Life e, quando do seu surgimento, gerou
uma série de debates e oportunidades, em todos os campos de
conhecimento e sociais. Criado há 20 anos11, o Second Life
segue ativo, sendo utilizado por empresas e atores das formas
mais amplas possíveis. Foi a partir de um estudo neste ambiente
(SANDI, 2009), que se reconheceu a aplicação de cenários de
uso, que aportam uma perspectiva e reflexão acerca dos
processos de entrada e apropriação das organizações em
ambientes virtuais tridimensionais. Estes cenários, quando
aplicados aos metaversos, que estão sendo criados pelas
organizações, auxiliam na formulação de estratégias de
posicionamento. Este debate é atrelado, muito, à noção de real
e virtual, enquanto fronteiras tênues que são estabelecidas nos
espaços digitais e em sua potencialidade, impacta as relações e
132
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
interações com os públicos, aqui entendidos como usuários ou
atores.
Para situar a reflexão que se desprende do conjunto de
cenários analisados, é necessário reforçar que os espaços
virtuais, atualmente disponíveis na Internet, apresentam-se para
as organizações como instâncias de constituição de referências
de reconhecimento social, de sociabilidade, que viabilizam o seu
estabelecimento, desenvolvimento e prosperidade no mundo
dos negócios. Criam interações entre virtual e real, que
repassam estímulos, sensações e conteúdos, que estabelecem
uma relação dos públicos com a identidade e marcas
organizacionais, num movimento de afirmação de sua
credibilidade.
Portanto é necessário entender e realizar o
reconhecimento dos cenários dentro do composto virtual e real,
possíveis de serem oferecidos no espaço Metaverso. Neste
sentido, o movimento é de compreensão das operações,
mecanismos de estruturação e funcionamento, expressando o
modo como articulam as relações presentes entre o virtual e o
real e que são significativas para os movimentos
organizacionais, no espaço tridimensional interativo.
A partir dos elementos e observação realizados, são
aportados um total de dez cenários, que se mostraram
expressivos da potencialidade de interpenetrabilidade do virtual
e do real, oferecendo visibilidade para o entendimento do
significado desses espaços para as organizações. O
reconhecimento partiu de seis cenários propostos por Weissberg
(2008) e que resultou na possibilidade de identificação de mais
quatro cenários possíveis. Assim, emergiram quatro expressivos
cenários vinculados à reprodução do real pelo virtual; ampliação
do real pelo virtual; autonomia do virtual frente ao real e, o último,
fantasticamente real a quimera moderna. Todos os cenários
resultantes da relação do real com as imagens virtuais, do real e
133
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
virtual, operadas no ambiente virtual, subsidiam a compreensão
da potencialidade de percepções possíveis geradas por esses
espaços de informação/comunicação e oferecem importantes
referências metodológicas para que as organizações possam
refletir a cerca de seus espaços digitais.
Cenário 1 - Apresentação do real pelo virtual
A condição de simulação, potenciais no Metaverso,
“apresenta o real pelo virtual”, colocando em contato espaços
virtuais com espaços reais e visando, muitas vezes, a aprimorar
os “conhecimentos previamente adquiridos dos elementos
estrategicamente significativos”, no qual “o virtual não substitui,
propriamente falando, o real: torna-se uma de suas formas de
expressão” (WEISSBERG, 2008, p.120).
Sua maior expressão, podemos afirmar, são os
complexos simuladores utilizados pelas empresas áreas para
treinamento de seus pilotos, em um espaço onde se visualiza
todo o conjunto de instrumentos disponíveis na aeronave, bem
como nítidas informações sobre o espaço em que está voando,
realizando os comandos para operá-la. É a cabine do avião, em
sua máxima simulação. Portanto são os sofisticados
simuladores que permitem uma imersão profunda, viabilizada
pela vivência, dentro de espaços especialmente criados, que
visam
simular as percepções humanas, gerando um ambiente virtual
que produz a sensação de realidade, na medida em que os
objetos se movem de acordo com os movimentos e o ponto de
vista do participante, todos controlados por computadores. (...)
Contemporaneamente, a cave, caverna digital, é um meio muito
mais sofisticado para a criação de ambientes simulados que
incorporam, em tempo real, o ponto de vista do participante.
(SANTAELLA, 2004, p. 44)
134
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Treinamentos, que por estarem neste ambiente,
oferecem risco zero, em um ambiente que apresenta as
variáveis do real e que seja o mais próximo deste e que oferecem
as condições de capacitação, habilitação continuada, para o
desenvolvimento permanente do trabalho. Para Quéau (2008)
os espaços virtuais trariam essa simulação pois “os mundos
virtuais dentro do quais podemos mergulhar e navegar darão um
aspecto eminentemente realista, palpável, tangível, e
aparentemente crível, (...) a qualquer tipo de simulação” (p. 97).
Assim, temos que os simuladores domésticos, mesmo longe de
possibilitar a completa imersão, cada vez mais buscam propiciar
espaços progressivamente mais sofisticadas e vem evoluindo a
cada atualização do programa, que apresenta cada vez mais o
real pelo virtual.
Cenário 2 - Interpretação do real pelo virtual
O virtual ajuda a interpretar o real a partir da constituição
de imagens que são mesclas da captação ótica real e de
complementos virtuais. A imagem simulada legitima uma leitura
visual,
oferecendo
uma
visibilidade
mais
profunda
(WEISSBERG, 2008). O fotográfico e as imagens de síntese se
mesclam para ajudar a interpretar, a compreender o real. O
metaverso apresenta, em sua potencialidade e mesmo que de
uma forma adaptada, a possibilidade de criação dos objetos por
meio da imagem de síntese e construção virtual, acrescida de
elementos fotográficos que ajudam a construir e constituir os
ambientes. Em muitos casos, essa junção contribui para
entender os modelos construídos, possibilitando uma
observação maior e detalhada, um aprofundamento. Assim,
essa relação de interpretação do real pelo virtual deveria
propiciar a criação de modelos cuja visualização fosse superior
ao original.
135
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Em muitos casos, os modelos construídos ainda
apresentam uma limitação gráfica muito grande, o que reduz a
possibilidade de interpretar o real pelo virtual, mas a cada
evolução do hardware, ou seja dos equipamentos que geram
essas imagens, o nível de detalhamento e perspectivas se
aprimora. Contudo aqui a potencialidade de visualização não é
ampliada e imersiva e essa constatação inverte, de alguma
forma, o apresentando por Weissberg (2008), de que o virtual
deveria ser melhor que o real para ajudar na sua interpretação.
Esse autor entende que “a simulação valida, pois, uma leitura
visual e restitui sua profundidade. (...) O virtual não substitui o
real, ele ajuda a lhe dar sentido” (WEISSBERG, 2008, p.121).
Ao inserir fotografias do mundo real em conjunto com imagens
de síntese, que irão compor o cenário do mundo virtual, as
organizações supõem que tornam esses espaços e seus
produtos mais críveis, com base na facilidade de aproximação,
correlação e identificação direta.
Cenário 3 - Prolongamento do real no virtual por contiguidade
Ações reais são apresentadas na tela por imagem de
síntese, prolongando assim o seu efeito e simulando a
experiência sob o virtual. Nesse sentido uma
forma de co-presença do real e do virtual é a que prolonga um
no outro. (...) Prolongamento por contiguidade da ação do real
sobre o virtual ou o inverso, o composto real/virtual, (...). O
essencial não está na precedência de um dos termos sobre o
outro, mas na articulação deles em um único sistema
(WEISSBERG, 2008, p. 121).
São muitas as aplicações que participam desse composto
em diferentes campos. Weissberg (2008) anuncia várias destas
que passam também por processos vinculados aos sistemas de
136
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
aprendizagem para o trabalho, de consulta documentária e até
propostas de intervenção artística, onde o usuário tem o controle
real das ações, alterando o virtual. Todas essas aplicações
somente são possíveis a partir da existência de dispositivos que
permitem a intervenção direta do usuário, tais como tela sensível
ao toque, sonorização que cria a ambiência, sensores de
movimento, entre outros.
De modo ampliado somente simuladores dedicados
possuiriam a capacidade de tornar essa experiência, de fato, um
prolongamento do real. Isso ocorre pela complexidade das
imagens utilizadas, que demandam grande poder de
processamento dos computadores e, principalmente, por todos
os equipamentos que são demandados e organizados para
serem comandados no mundo real, tendo seu efeito
apresentado no virtual. Esse tipo de simulador seria a expressão
máxima do “prolongamento do real no virtual por contiguidade”
(WEISSBERG, 2008).
O progressivo avanço das tecnologias e seus
dispositivos, acrescido da redução de custos na sua produção,
possibilitam, hoje, a existência de simuladores acessíveis para o
consumo de massa, ao permitir acoplar dispositivos que os
tornam mais reais. Estes possuem recursos tecnológicos que
propiciam o prolongamento do real através de mecanismos de
controle, tais como volante e marchas para pilotar o carro por
ruas e estradas virtuais. Outro exemplo, até mais simples,
seriam os leitores digitais de livros, que permitem folhear um
livro, realizando a ação sobre a tela, hibridizando o efeito de um
livro físico. Por outro lado, não criam uma imersão total do
usuário, como o cenário 01, mas viabilizam uma sensação muito
próxima do real. Enfim, o que é apresentando aqui é o efeito de
agir “´realmente´ sobre o virtual e, ainda por cima, experimentase ´realmente´ o efeito virtual” (WEISSBERG, 2008, p. 121).
137
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
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Cenário 4 – Injeção do real no virtual
O ator (usuário) tem seus movimentos captados por
câmeras e sua imagem injetada na tela do computador, assim a
ação deste gera movimentos diferenciados sobre os objetos
virtuais. Pode-se tocar uma bateria virtual ou balançar os sinos
“aqui também o movimento real é a condição de animação do
universo virtual” e “o ator torna-se mouse, o mundo real sofre
uma transfusão para o mundo virtual e o anima por homologia”
(WEISSBERG, 2008, p. 122).
Neste cenário, o uso no campo da animação é maior, a
captura dos movimentos, via capacetes, luvas e roupas de
dados, além da câmera gera a ação no virtual, animando o
avatar dentro dos espaços virtuais. São processo ainda muito
caros, para que o usuário doméstico possa ter, bem como para
as organizações. De todos os modos, aqui temos a total
extensão das ações reais no virtual, mas não necessariamente
uma simulação, como em outros cenários, mas sim a aderência
dos movimentos as ações realizadas no ambiente virtual.
Cenário 5 - Ver o virtual por uma janela real
Nesta categoria há uma necessidade de movimento real
dispositivo de visualização, comumente do monitor de vídeo, que
ligado a um computador provocar o aparecimento da imagem
digital. A imagem vai sendo descoberta, conforme o
deslocamento do dispositivo é realizado, num exercício de visão,
do olhar. Se não há um deslocamento, a imagem é estática ou
não há imagens-síntese a serem vistas, “(...) esse gesto
consagra um regime de visibilidade em que a ação real é
condição de uma visão sobre o virtual. (...) A obra inclui sua
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
dissimulação, sua descoberta é tributária de um trajeto de
aceder a ela” (WEISSBERG, 2008, p. 122).
A percepção do virtual está ligada a uma ação real e “a
tela revela sua mutação em órgão de visão” (WEISSBERG,
2008, p. 122). Se por um lado esse cenário parece ser muito
básico, foi bastante utilizado em obras ou instalações de arte e,
atualmente, podemos apontar que nos ambientes de realidade
aumentada (através de óculos ou mesmo do celular com
aplicações próprias) ganha predominância de uso, pois
demandam que se movimente o dispositivo (a tela é o real) para
que possa ser desvelada a imagem renderizada.
Ao mesmo tempo que dispositivos, como os óculos de
realidade aumentada, seguem sendo desenvolvidos, buscando
aprimorar as experiências e, na medida que vão sendo
acrescidos de novos programas e funções vão se consolidando
e possibilitando, de fato, o estabelecimento de experiências
cada vez mais imersivas e realísticas.
Cenário 6 - Telepresença real no virtual
Diversos autores (WEISSBERG, 2008; QUÉAU, 1995;
SANTAELLA, 2004) discutem a noção de telepresença, com
entendimentos diferenciados e nem sempre complementares,
esses autores concordam que é útil para as organizações e para
a sociedade, ao evitar deslocamentos de grandes distâncias
para “estar presente” e ao permitir criar um tipo peculiar de
audiência simultânea, expandida, diversificada. A telepresença
encurta as distâncias e elimina o tempo de locomoção,
promovendo o encontro de pessoas, separadas fisicamente. A
discordância entre os autores passa, fundamentalmente, pelo
modo como ocorre esse “deslocamento” e os dispositivos
envolvidos em sua realização.
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
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Quéau (1995) apresenta uma síntese desses diferentes
entendimentos ao apontar que a expressão telepresença
“coloca, em um mesmo plano, problemas de distintas categorias
e tende a ocultar nuances importantes entre as diversas formas
de contradições entre presença e ausência, presença e
representação e presença e distância” (p. 19). O conceito de
telepresença, para Quéau (1995), guarda relação com a noção
de “técnicas clássicas de representação que nos situam diante
de telas” (p.51). Podemos apontar que se convive com a ideia
não de uma presença à distância, mas de uma presença que é
o contrário de distância. Pode-se estar presente estando
distante, o elemento distância fica subsumido ao presencial.
Ao contrário de todo o senso comum, a noção intrinsecamente
contraditória de “telepresença” tende a dar crédito à ideia de uma
“presença” à distância, quando na realidade a “presença” é o
contrário de “distância” e o único que se transporta “à distância”
são as representações12 (QUÉAU, 1995, p. 19).
Uma outra forma de telepresença, muito mais difundida
para uso organizacional, é constituída pelas videoconferências,
principalmente as que utilizam grandes monitores posicionados
para dar a sensação de que realmente conversamos com “a
pessoa que está a nossa frente”, porém, no vídeo. O aumento
das telas, a alta resolução das imagens (resoluções 8k) e a
qualidade do som (padrões Dolby, DTS) já são características
presentes em computadores com recursos mais avançados,
dando uma percepção cada vez mais real de imersão no
ambiente. Este modelo está projetado para ser utilizado em
palestras, cursos, coletivas de imprensa e todo tipo de evento
envolvendo plateias, utilizando recursos de áudio e vídeo.
Retomando a perspectiva apresentada por Weissberg
(2008) sobre a telepresença real no virtual, percebemos que
apesar dos avanços, seu uso ainda é limitado a algumas
140
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
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corporações e instituições de pesquisa. Para esse autor, a
telepresença, em seu sentido pleno, demanda aparelhagem
especial, como capacetes que dão novo sentido ao campo de
visão, luvas para movimentar o objeto virtual, tudo ligado a
computadores, sendo estes responsáveis por processar e gerar
as imagens. “Composto real/virtual, também aqui, entre a ação
humana ‘real’ e o ambiente ‘virtual’. (...) não se trata apenas de
simulação, mas de presença real no virtual.” (WEISSBERG,
2008, p. 123). Espaço e ferramenta se unem, criando objetos
operados pelo homem real.
No Metaverso, os espaços criados para este fim, são
amplamente utilizados pela organização, estando relacionados
à realização de palestras e treinamentos, tanto para
funcionários, parceiros de negócios vinculados às diversas filiais
geograficamente distantes, quanto para clientes, mesclando o
uso de videochamada ou, mais recentemente, a inserção de
avatares, para criar o entorno necessário para o
desenvolvimento da atividade. Neste sentido, a atenção do
usuário deve estar intensamente direcionada para a tela e,
ainda, por estar representado no ambiente, na figura de um
avatar, faz com que haja uma sensação de presença pelo
“apagamento” dos contornos do computador enquanto uma
máquina
que
estabelece,
naquele
momento,
uma
intermediação.
Cenário 7 - Reprodução do real pelo virtual
Distinto do cenário proposto por Weissberg (2008), da
apresentação do real pelo virtual, onde há o efeito do simulador
e um propósito de uma ação com este, este cenário que
expressa a reprodução do real pelo virtual mostra o
reconhecimento, a identificação dos espaços e formas de
contato com os públicos pela similitude de sua constituição. São
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
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reproduções dos espaços existentes no mundo real, presentes
no mundo virtual, evocando, no usuário, ao mesmo tempo, a
organização no plano real e virtual. Transfere-se para o plano
virtual, disposições semelhantes existentes no mundo real.
É o cenário mais utilizado pelas organizações, uma vez
que o reconhecimento por parte do público é imediato. Assim,
tendo na virtualidade uma possibilidade de desvinculação e
distanciamento atribuída à imagem de síntese, liberada das
referências ao real, o que se percebe é que nos espaços
organizacionais virtuais, essa questão não se realiza
plenamente. As organizações preferem guardar uma relação
direta com o real, buscando assim a manutenção dos
dispositivos de crença já estabelecidos. Portanto, o ambiente
virtual das organizações tem uma necessidade de manter alguns
padrões de identificação e referência com o real, mesmo tendo
em suas configurações possibilidades livres de modelização.
Cenário 8 - Autonomia do virtual frente ao real
Não fazendo parte da proposta de Weissberg (2008), mas
sim uma inferência a partir dos estudos no SL, esse cenário se
alinha ao anterior por oposição, mostrando a possibilidade de
uma autonomia do real frente ao virtual, potencializando a
criação e a inovação em ambientes imersivos tridimensionais.
As imagens de síntese apresentam uma possibilidade de
criação infinita, são imagens sintéticas, modelizáveis,
correspondendo a uma matriz numérica, configurada em pixel,
que se apresenta na tela do computador. Estas características
produzidas tecnicamente têm a possibilidade de distanciamento
do seu referente e podem liberar-se da correspondência aos
aspectos do mundo real, não estabelecendo com este a
condição de seu “duplo”. Parecem possuir uma autonomia frente
ao real.
142
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
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A realidade que a imagem numérica dá a ver é uma outra
realidade: uma realidade sintetizada, artificial, sem substrato
material além da nuvem eletrônica de bilhões de micro-impulsos
que percorrem os circuitos eletrônicos do computador, uma
realidade cuja única realidade é virtual. Nesse sentido, pode-se
dizer que a imagem-matriz digital não apresenta nenhuma
aderência ao real: libera-se dele (COUCHOT, 2008, p. 42).
O universo das imagens de síntese, em princípio, abre as
portas para essa desvinculação da inspiração imaginada no
mundo real. Abre as portas para uma nova virtualidade. A
imagem produzida pela
cadeia modelização – numeralização - programação constituiu a
virtualidade como espaço de experimentação disponível,
intermediário entre o projeto e o objeto, enquanto o virtual
permanecia até então prisioneiro da atividade imaginária
(WEISSBERG, 2008, p. 118).
Compreende-se nestes cenários que as imagens
modelizáveis, para criar os espaços no Metaverso não
necessitam, por exemplo, estar vinculadas as leis da física, para
a construção de um prédio, portanto a criação e imaginação
poderiam fluir, renderizando espaços que no mundo real seriam
impossíveis de existirem e assim, estabelecendo distintos
mecanismos de vínculos e crença entre os avatares/usuários.
Cenário 9 - Ampliação da percepção do real pelo virtual
No mundo real, não é possível a visualização do conjunto
e o entorno do espaço “físico” em uma única aproximação a uma
organização. Para se obter a totalidade de sua apreensão,
seriam necessários muitos movimentos de deslocamento e a
utilização de recursos técnicos mais complexos como
guindastes, helicópteros, para propiciar uma visão aérea. Sem
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
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esses movimentos torna-se complexo, senão impossível,
compreender a dimensão de, por exemplo, um prédio de uma
organização. Como máximo, no cotidiano, obtêm-se uma visão
imediata e pontual dentro do possível e segundo o campo de
visão humana.
Nas organizações que reproduzem, no espaço digital,
muitos de seus elementos do mundo real, o virtual ajuda a
ampliar a percepção do real. Um virtual que produz uma visão
ampliada do real e que permite sua captação expandida, uma
nova virtualidade expressando uma nova atualidade (QUÉAU,
2008). Essa percepção é propiciada, no espaço digital, através
de diferentes possibilidades. Ao ter a possibilidade de
estabelecer múltiplos ângulos de visão, deslocar a pontos que
no real não conseguimos alcançar, algo como observar do céu
um prédio em sua totalidade, o avatar tem um entendimento
alargado da organização, ampliando a percepção do real pelo
virtual. Podemos dizer que o campo visual não está mais restrito
ao do alcance humano, ele se amplia e potencializa pela
possibilidade trazida no virtual.
Assim o espaço virtual oferece uma visão de conjunto, em
todos os ângulos, com toda a sua grandiosidade e imponência,
que ajuda a fazer incorporar um maior reconhecimento da
organização no mundo real, ao identificar os diferentes
componentes, que compõem a sua estrutura e dinâmica.
Cenário 10 - Fantasticamente real: o humano e a quimera
moderna
Criar um avatar traz a possibilidade de expressar um
inconsciente que gera, muitas vezes, figuras que não têm
nenhuma proximidade e semelhança com o humano. Sua
configuração é ficcional, “extraterrestre”, de fato uma Quimera
moderna, como é proposta por Weissberg (2008).
Nos
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
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ambientes virtuais, muito antes do SL, esse tipo de avatar já era
conhecido como furries, animais antropomórficos, muitas vezes
derivados dos desenhos animados. “Os furries também
representam o ápice da experiência de ser um avatar: uma luta
para transcender um alter-ego tão idealizado que não é mais
humano” (AU, 2008, p. 96).
A metáfora da quimera moderna expressa uma nova
relação possível entre o real e o virtual, presente no metaverso,
e que finaliza os cenários virtuais presentes nos ambientes de
espaço digital. A figura da Quimera, associada ao híbrido, ao
heterogêneo, está impregnada nos diferentes dispositivos do
mundo virtual e, de um modo bem visível, se expressa nas
imagens de sínteses modelizáveis dos avatares criados. Vem,
de um modo bem significativo, rompendo padrões, concepções
de imagem, de espaço perceptivo, chegando a “subverter a
nossa relação com nosso próprio corpo” (Quéau, 2008:99). Ao
falar sobre as modificações trazidas nos modos de perceber o
corpo, esse autor aponta um processo vivido no mundo virtual
de
hibridação íntima do corpo real, no qual habitamos desde a
nossa infância, com os formalismos abstratos os mais tangíveis,
com escalas de tempo e curvaturas de espaço arbitrárias, irão
nos levar, provavelmente, a uma certa desapropriação dos
nossos hábitos mais interiorizados (QUÉAU, 2008, p. 99).
Além disso, a própria concepção de presença se modifica
substantivamente nas relações sociais estabelecidas nesses
ambientes digitais. Tradicionalmente denominando avatar, a
quimera moderna, pelo processo de sua construção possui uma
possibilidade ilimitada de expressar um outro, um “novo” ser,
uma imagem de síntese qualquer, desprendida das amarras do
real, modalizável de acordo com a imaginação. Essa imagem
construída, poderá ter maior ou menor relação com as
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
características visuais do usuário no mundo real. Cada vez mais
ao alcance do usuário, avatares bem construídos, demandam
muito tempo de criação e modelização, exatamente por tudo o
que envolve a construção de um corpo idealizado, de algum
modo, relacionado a uma imagem mental, com níveis
diferenciados de identificação por parte do usuário. Todos os
componentes, ao serem customizados, se entrelaçam,
configurando uma determinada imagem com a qual o avatar irá
circular e estabelecer relações sociais no ambiente virtual e a
partir da qual é visto e se vê, enquanto ator/usuário e passam a
se constituírem, o público efetivo e potencial das organizações.
As organizações no mundo real interagem com o seu
público constituído por figuras humanas e essa relação já é
desafiadora no sentido do reconhecimento de suas
características, comportamentos, expectativas, colocando
demandas com relação à atualização de seus processos
comunicacionais. O público circulante dos espaços virtuais,
frutos da criação pela imagem de síntese, pode se apresentar
visualmente de modo extremamente diversificado, idealizado,
não tendo, muitas vezes, correspondência às figuras humanas,
característica marcante dos usuários dos serviços presentes na
dinâmica organizacional do mundo real. A existência de
quimeras modernas coloca um grande desafio para as
organizações que buscam se inserir em espaços virtuais em seu
processo de reconhecimento do cliente/usuário/quimera para
poder planejar uma interação e divulgação que sejam
direcionadas para esse público.
Entender esse “novo” público que se forma em espaços
virtuais 3D interacionais configura-se como algo complexo.
Apesar de que sendo, virtualmente, o mesmo público da página
web organizacional, das campanhas de comunicação, o desafio
que se coloca é como entender e se posicionar frente a esse
perfil. Demanda a criação de métodos de pesquisa e observação
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
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e, principalmente, o entendimento de que as demandas
presentes em ambientes virtuais.
Considerações finais
O percurso realizado buscou apresentar um debate,
complexo, das dinâmicas que se apresentam no espaço do
metaverso, em suas dualidades real e virtual, a partir de imagens
de sínteses, para a criação de cenários que buscam dar
perspectiva aos espaços digitais tridimensionais que as
organizações têm criado. Não sendo, os cenários apresentados,
uma redução das possibilidades, mas sim uma forma de pensar
as realidades e desafios que se apresentam na criação destes
espaços, o trabalho realizado buscou o reconhecimento das
possibilidades trazidas pelo uso de tecnologias computacionais.
O debate acerca da temática é amplo e diverso em teorias
de abordagens e, certamente, depende sempre de uma
aproximação com as questões mais técnicas e tecnológicas, por
parte do profissional que irá estabelecer as estratégias.
Portanto, para o comunicador, é fundamental ter um
conhecimento mínimo desta área, buscando estabelecer um
diálogo com os profissionais que irão, de fato, desenvolver a
ferramenta. Essa abordagem técnica, não é menos importante
que o conhecimento teórico, para o planejamento de ações de
comunicação, sendo complementares, na medida que
velocidade de desenvolvimento das tecnologias são muito
rápidas, mas o conhecimento adquirido no entendimento das
demandas organizacionais é mais amplo que o uso de um
instrumento ou tecnologia.
A imagem de síntese, geradas arquivada em bits, abre
espaço para o estabelecimento de uma relação original
inusitada, criando dinâmicas próprias cujos referenciais são os
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
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mais diferenciados, seja em seus vínculos com o real/atual, seja
com o próprio virtual. Emergem, assim, inter-relações distintas linguagem, espaço, tempo, corpo –, trazendo uma compreensão
inerente para noções que transitam no ciberespaço, tais como,
a de telepresença, a de experiência interativa e a de imersão.
Assim, as imagens de síntese se apresentam como uma
possibilidade de transmutação de modelos de representação
presentes no real. No caso do metaverso, ao incorporar a
perspectiva tridimensional, de movimento e de imersão, têm
potencialmente capacidade para provocar sensações,
idealizações e sonhos, num devir permanente, em que a
simulação produz “mais real”, alarga os limites do modelo,
criando uma virtualidade, e, também, novas atualidades,
incluindo eventos artificiais, tão reais quanto qualquer
acontecimento do mundo real.
Outra compreensão necessária para as organizações é
que cada vez mais, em espaços virtuais vão conviver com seres
fantásticos — quimeras modernas — que apesar de serem
usuários reais, como qualquer avatar “humano”, se apresentam,
enquanto entes diferenciados e assim demandam aproximações
distintas por sua qualidade de clientes efetivos e potenciais.
Os processos de virtualização, expressos na constituição
da relação virtual /real presente nesses espaços, trazem consigo
a possibilidade de rupturas com os referentes vinculados ao real.
No entanto, na materialização desses processos, as
organizações reiteradamente se referenciam às situações
análogas ao mundo real que, em um primeiro momento,
parecem constituir a referência dominante. Sendo necessário
observar no metaverso existe uma estreita convivência com uma
outra dimensão que se distancia da necessidade de importar
padrões estéticos do mundo do real.
Os cenários debatidos não esgotam ou limitam as várias
dimensões possíveis, considerando que o desenvolvimento de
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
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novas plataformas, modos de operar e de interagir com os
espaços virtuais tridimensionais geram um infinito modo de
percepção dos espaços gerados. Assim, os cenários
apresentados buscaram aportar, no amplo debate, uma visão
possível de um dado recorte, no momento em que a pesquisa foi
desenvolvida. Não são, portanto, um modo de aplicação, e muito
menos um manual de instruções de como se estabelecer, mas
uma abordagem que, somado a outros campos de
conhecimento, possibilitam ampliar o modo como observamos o
virtual, em suas múltiplas potencialidades, que se apresentam
como reais.
O metaverso, em sua potencialidade, ainda está longe da
nossa realidade, pode-se dizer que estamos em um segundo
estágio de implementação, ao considerar que o primeiro estágio
foram as redes sociais e aplicações que traziam as primeiras
noções, hoje fundamentais para se considerar que há um
metaverso. As apostas, de várias organizações, sejam
tecnológicas ou de serviços é que o metaverso possa se tornar
um padrão de navegação, sendo que a adesão e uso destas são
o marco deste processo. Mas há ainda muito a evoluir, seja em
termos de programação e dos recursos computacionais, seja
pelo entendimento de qual uso será realizado pelas
organizações, que se permitem virtualizar e entendem que há
muito a ser experenciando neste campo. Assim, podemos
apontar que os movimentos atuais presentes nos espaços
digitais, e cada mais utilizados no metaverso, geram
aproximações, cada vez mais singulares, e apontam para a
necessidade de entendimentos que devem ser incorporados
pelas organizações.
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
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Notas do Capítulo
1
Do original: Studyng a virtual world in its own terms does not mean ignoring the myriad ways
that ideas from the actual world impinge upon it; it means examining those interchanges as they
manifest in the virtual world. (BOELLSTORFF, 2008, p. 64).
2
A palavra Metaverso é um neologismo criado por Neal Stepheson no romance Snow Crash
(1992), apropriado pela cibercultura (Au, 2008) “According to Stephenson, he wrote the novel
influenced by Macintosh “Apple Human Interface Guidelines”, and he created the neologism
because “existing words (such as ‘virtual reality) were simply too awkward to use”. (LÓPEZDÍEZ, 2021, p. 301 apud STEPHENSON, 1992, p. 458). “Meta é um prefixo muito utilizado na
tecnologia da informação que significa ‘uma definição ou descrição subjacente’. (...) Meta
deriva do grego e significa ‘entre, com, depois, mudança’. Em algumas palavras, esse prefixo
indica ‘mudança’, enquanto, em outras, significa ‘mais compreensiva ou fundamental’”
(BARBOSA, 2001, p. 524). Assim, pode-se dizer que o metaverso é um universo paralelo, entre
dois mundos, o real e o virtual.
3
O link aponta uma lista de empresas e suas tecnologias utilizadas:
https://metamandrill.com/es/metaverso-empresas
4
Notícias a respeito da mudança de rumo da empresa: https://computerhoy.com/realidadvirtual/microsoft-metaverso-despidos-division-industrial-1199262 e
https://www.eleconomista.es/tecnologia/noticias/12211997/03/23/El-abandono-del-metaversoDisney-Meta-y-Microsoft-se-tiran-del-barco-.html
5
Tradução do autor. Do original: “es un concepto cuya definición es todavía inestable”.
6
Tradução do autor. Do original: “Metaverse is a massively scaled and interoperable network of
real-time rendered 3D virtual worlds and environments which can be experienced
synchronously and persistently by an effectively unlimited number of users with an individual
sense of presence, and with continuity of data, such as identity, history, entitlements, objects,
communications, and payments.”
7
Entende-se, de modo amplo, por internet tradicional as páginas web (www) que necessitam
navegadores (browser) para o acesso, que majoritariamente são páginas 2D e que utilizam
recursos tradicionais de foto, texto e vídeo para transmitir uma informação.
8
Tradução do autor. Do original: “Espacios que emulan ya no comunidades de usuarios, sino
mundos online con reglas compartidas con la legislación del mundo real. Los diversos
metaversos son espacios virtuales persistentes cuyas herramientas buscan que el usuario se
mueva, interactúe y cree contenido en distintos escenarios habilitados para tal fin.”
9
Tradução do autor, do original “¿Y la metáfora geográfica virtual? Yo prefiero ésta porque es la
que soñé...indudablemente con muchos otros. Los sitios de información están organizados
como pisos de distintos edificios, ubicados sobre calles y avenidas, acumulados en ciudades y
pueblos, todos visibles en mapas navegables en la pantalla. (...) El diagrama geográfico podría
ser realista; si quiere ir al Louvre, navega hasta París y luego al museo.”
10
“imagens sintéticas ou infográficas, que são inteiramente computacionais. Estas são resultado
da correspondência de uma matriz numérica com uma configuração em pixels elementares que
podem ser visualizados na tela de um monitor” (SANTAELLA, 2005: 295). Denominada por
Quéau (2008) de imagem calculada, traz uma série de novas relações com a linguagem, o
espaço, o tempo, o corpo - seus gestos e movimentos -, a noção de presença, a experiência
interativa e de imersão, as comunidades virtuais, a circulação em redes interativas. Sem
dúvida, a atualização do virtual, hoje, passa pela imagem de síntese.
11
Em 2023 o Second Life (SL) completou 20 anos de existência, estando ativo e com uma base
de 70 milhões de usuários registrados, sem 200.000 ativos diariamente
151
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
(https://secondlife.com/sl20b). Foi criado pela empresa Liden Lab (https://lindenlab.com/). Neste
texto não será abordado o debate sobre o SL e, nem tão pouco, se ele ou não um metaverso
em sua plenitude, tendo em vista que o próprio conceito é divergente entre autores.
12
Do original: En contra de todo sentido común, la noción intrínsecamente contradictoria de
“telepresencia” tiende a dar crédito a la idea de una “presencia” a distancia, cuando en realidad
la “presencia” es lo contrario de “distancia” y lo único que se transporta “a distancia” son
representaciones.
152
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E RP: usos,
impactos e discussões
ARTIFICAL INTELLIGENCE AND PUBLIC
RELATIONS: uses, impacts and discussions
Carolina Frazon Terra
Resumo: A discussão em torno dos impactos, avanços e problemas da
Inteligência Artificial (IA) vem mobilizando a mídia, a academia e,
sobretudo, o mercado. E tais consequências não excluem o campo
da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas (RP).
Mais do que uma visão fatalista ou pessimista, nosso objetivo com
o artigo é discutir os conceitos de inteligência artificial, como tais
tecnologias e ferramentais influenciam na nossa área, bem como
levantar e discutir possibilidades e usos, sem perder de vista os
aspectos crítico-reflexivos. Para isso, vai se valer de uma pesquisa
bibliográfica e documental, adicionada de exemplos cotidianos
envolvendo marcas e organizações com fins de mapeamento de
oportunidades de confluências entre a IA e as RP.
Palavras-Chave:
Inteligência Artificial. Comunicação Organizacional.
Relações Públicas. Impactos da IA. Tecnologias de IA.
Abstract: The discussion surrounding the impacts, advancements, and
issues of Artificial Intelligence (AI) has been mobilizing the media,
academia, and, above all, the market. And such consequences do
not exclude the field of Organizational Communication and Public
Relations (PR). More than a fatalistic or pessimistic view, our
objective with this article is to discuss the concepts of artificial
intelligence, how such technologies and tools influence our field,
as well as to raise and discuss possibilities and uses, without
losing sight of critical-reflexive aspects. To achieve this, it will rely
on bibliographic and documentary research, supplemented with
everyday examples involving brands and organizations for the
purpose of mapping opportunities for convergence between AI
and PR.
153
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Keywords: Artificial Intelligence. Organizational Communication. Public
Relations. AI Impacts. AI Technologies.
Inteligência artificial: conceitos e possibilidades
Para Santaella (2019), as pesquisas ligadas à inteligência
artificial datam de 1950 e estavam, inicialmente, associadas às
ciências cognitivas. O poder computacional, o desenvolvimento
das redes neurais e o crescimento do volume de dados, segundo
a autora (Id. Ibid.), impulsionaram os estudos, pesquisas e o
interesse pelo tema da inteligência artificial. Entre os fatores de
explosão do assunto está o montante de dados gerados por
meio das plataformas de mídias sociais e suas consequências
positivas (a possibilidade de realização de investigações) e
negativas (as questões ligadas ao controle, vigilância e afins).
Gabriel (2022) acredita que a IA tem sido o principal
condutor das mudanças tecnológicas ocorridas no planeta,
trazendo ferramentas intuitivas (que conseguem prever
situações futuras sem intervenção humana) inéditas. A autora
também sinaliza uma transição do homo sapiens para o homo
digitalis que se caracterizaria, sob os efeitos das tecnologias de
IA, em um misto de orgânico com artificial.
O contexto de mudanças em velocidade acelerada leva a
rupturas, as quais talvez não estejamos preparados, como nos
modelos de funcionamento do mundo, por exemplo. Os impactos
desembocam em alterações nas regras sociais e econômicas.
Uma música1 do rapper Drake em parceria com The Weeknd,
gerada por um usuário no TikTok, por meio de IA, é de autoria
de quem? Do cantor ou de quem usou a ferramenta? Percebem
como o modus operandi é totalmente novo para todos?
Segundo a futurista Amy Webb (2020, p. 13), uma
inteligência artificial (IA) é um sistema que toma decisões
autônomas. Para Cossetti (2018), “(...) é um avanço tecnológico
154
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
que permite que sistemas simulem uma inteligência similar à
humana — indo além da programação de ordens específicas
para tomar decisões de forma autônoma, baseadas em padrões
de enormes bancos de dados”. A origem do termo é creditada
ao professor John McCarthy que o usou, pela primeira vez em
1956, em uma conferência de especialistas em Darmouth
Colege, chamada “O Eros Eletrônico”, e que definiu como “a
ciência e a engenharia de produzir máquinas inteligentes” (ID.
IBID.).
Por inteligência artificial, o Chat GPT (2023), uma
ferramenta criada pela empresa Open A.I., entende que seja o
desenvolvimento de sistemas de computador capazes de
realizar tarefas que normalmente exigiriam inteligência humana,
envolvendo a criação de algoritmos e modelos computacionais
que permitem que as máquinas processem informações,
aprendam a partir delas, tomem decisões, solucionem
problemas e interajam com os seres humanos e com o ambiente
de maneiras inteligentes.
Para simplificar e para partirmos para a discussão dos
impactos da IA no campo da comunicação, entendemos que
uma definição passe pela capacidade das máquinas de
aprender e escolher percursos a serem seguidos, de maneira
racional, e diante de determinadas situações.
Segundo dados da Mckinsey (BUGHIN ET. AL., 2018), a
inteligência artificial vai crescer mais de 50% até 2025 e de
acordo com a PwC (2017), a contribuição da IA, até 2030, para
o PIB Mundial, será de 15,7 bilhões de dólares. Números
inflados fazem jus ao barulho que o tema tem tanto no âmbito do
mercado, quanto da academia. Se tomarmos como exemplo, o
interesse pelo termo “inteligência artificial” na busca do Google,
entre junho de 2022 e junho de 2023, percebe-se que é um
assunto em crescimento, como podemos ver abaixo:
155
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Imagem 1 - Buscas pelo termo “inteligência artificial” no Google
Fonte: Google trends, 2023 (período de junho de 2022 a junho de 2023).
Outro assunto recorrente quando falamos de IA é uma de
suas vertentes: a inteligência artificial generativa. Um dos
exemplos mais conhecidos é o Chat GPT, já mencionado
anteriormente, e seus parentes próximos como Perplexity AI
(para criação de textos), Dall-E e MidJourney (para criação de
imagens), Wisecut (para a criação de vídeos), entre outros. O
Chat GPT é baseado em um modelo de linguagem AI chamado
GPT-3.5, desenvolvido pela OpenAI que foi treinado – até
setembro de 2021 - em uma enorme quantidade de textos de
diversos tipos, como livros, artigos, sites da internet etc. A
ferramenta usa esses textos para aprender sobre a linguagem
humana e ser capaz de gerar respostas que fazem sentido.
Em resumo, o Chat GPT é um programa de computador
inteligente que usa a Inteligência Artificial para entender o que
156
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
você escreve e responder da melhor forma possível, com base
em seu treinamento em uma ampla variedade de textos.
A inteligência artificial generativa (IAG) é uma tecnologia
que permite que os computadores criem conteúdos originais de
imagens, músicas, textos, vídeos, interações e códigos de
programação porque foram treinados por seres humanos a partir
de documentos, artigos, desenhos, artes, filmes e todo o tipo de
conteúdos armazenados em bases de dados.
A atenção e a visibilidade que o assunto tem advém da
popularização dos assistentes de voz e virtuais, possibilidade de
automatizar interações e ganho de tempo, alto grau de
personalização e escalabilidade. Por outro lado, há uma
discussão latente que passa pela validade dos conteúdos
criados (são originais mesmo?), pela ética de todo o processo e
pela veracidade do produto gerado por tais ferramentas. Há
várias perguntas que são feitas às ferramentas de IAG e que têm
respostas erradas. Não se pode, portanto, confiar cegamente,
nem delegar a produção de um conteúdo, apenas à tecnologia.
Supervisão humana – AINDA - se faz imprescindível.
Feita a contextualização do que é IA, falaremos, na
sequência, sobre aplicações e exemplos na área de
comunicação. Para aprofundamentos e conceitos mais
completos acerca do tema, recomendamos Martha Gabriel
(2022) e Lúcia Santaella (2019) e as demais publicações de
ambas as autoras a respeito de tal temática.
Aplicações e exemplos de IA em comunicação
Santaella (2019) afirma que a inteligência artificial vai se
tornando onipresente e invisível, à medida em que vai se
espraiando pela vida humana, industrial, dos negócios e até
artística. Não são poucos os exemplos que mostram músicas2 e
peças de teatro3 feitas por ferramentas de IA, como também
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
robôs autônomos que fazem pizzas4 e até escrevem matérias
jornalísticas5.
No campo da comunicação, a automatização de
processos repetitivos são as aplicações que se mostram mais
óbvias, como por exemplo: redigir textos para os mais diversos
fins; criar imagens para conteúdos diversos; monitorar menções
em mídias sociais; criar robôs de conversas para marcas e
negócios; e previsão de tendências, entre outras possibilidades.
De acordo com o Chat GPT (2023), a análise de
sentimentos é uma das aplicações mais comuns da inteligência
artificial e suas utilizações são:
A. Coleta de dados: comentários em mídias sociais,
avaliações de produtos e de clientes etc.
B. Categorização de dados: atribuição de rótulos (como
positivo, negativo ou neutro) a cada texto, indicando o
sentimento expresso.
C. Aplicação do modelo: com o modelo treinado, é
possível realizar a análise de sentimentos em novos
textos, de maneira automática.
Na área específica de Relações Públicas, as aplicações
potenciais, segundo esse mesmo Chat GPT (2023), giram em
torno de automatizações de processos, tais como:
A. Análise de sentimento: nas opiniões expressas nas
mídias sociais, notícias e outros conteúdos online. Ajuda
a compreender a percepção do público em relação à
marca, produtos ou campanhas, permitindo uma resposta
rápida a eventos ou crises.
B. Chatbots: alimentados por IA, podem ser usados para dar
respostas automatizadas e interagir com o público em
plataformas digitais (sites, redes sociais e aplicativos de
mensagens).
158
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
C. Personalização de conteúdo: com base em dados,
preferências e comportamentos, a IA pode ajudar na
personalização de conteúdos e mensagens para
diferentes públicos de interesse, tendo como potenciais
resultados o aumento da relevância e do engajamento
com a audiência.
D. Previsão de tendências e ideias: por meio da análise de
volumes de dados, é possível identificar padrões,
tendências e ter ideias a partir de tais movimentos. De
posse disso, é possível adaptar estratégias de
comunicação e antecipar potenciais problemas e
oportunidades.
E. Automação de tarefas: tarefas rotineiras e repetitivas,
como monitoramento de mídia, classificação de
conteúdo, envio de comunicados de imprensa, entre
outros.
Especificamente na comunicação interna, a empresa
Progic (s.d.) propõe os seguintes usos da IA: criação de chatbots
para resolução de dúvidas e problemas em tempo real;
personalização
de
conteúdo
(entregando
conteúdos
direcionados aos perfis dos funcionários); automatização de
processos (envio de lembretes, comunicados e notificações);
análise de sentimento (mensuração da percepção do público
interno sobre a organização); reconhecimento de voz (com o
objetivo de encurtar caminhos na comunicação entre
funcionários e organização); e análise de dados (para avaliar a
performance da comunicação interna e retroalimentação desse
processo). O quadro abaixo sumariza os possíveis usos.
159
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Imagem 2 – Possíveis usos da IA na comunicação interna
Fonte: Progic (s.d.).
Como exemplos que a IA pode gerar para o campo da
comunicação, de maneira geral, iremos, a seguir, ilustrar
oportunidades que algumas organizações fizeram uso da
tecnologia para se autopromover ou publicizar seus produtos,
serviços ou campanhas.
A Nestlé usou a IAG para criar um livro de receitas de
Moça. Para isso, as principais características (tom de voz,
atributos da marca) da personagem virtual – a Moça6 – foram
consideradas e a marca desenvolveu um promp7 complexo e
relacional, desenhado especialmente para o sistema.
Adicionalmente, a criação de receitas levou em conta
sazonalidades e ingredientes sugeridos pela equipe da marca.
As receitas foram testadas na cozinha experimental da Nestlé
para depois se tornarem o livro de receitas8 da marca. O Chat
160
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
GPT, assim, pode ser utilizado para falar de acordo com o tom
de voz de uma marca, com suas características marcantes, suas
especificidades e, claro, depois lapidado por alguém que
conheça bem a organização. Detalhamento da tarefa a ser
solicitada, contextualização e indicação do formato esperado
são cruciais para que os resultados estejam em consonância
com as expectativas de quem está “brifando” a ferramenta. O
que a Nestlé conseguiu com o produto final – o seu livro de
receitas – é uma potencial pauta que poderia ser trabalhada
junto à imprensa, às redes sociais próprias, a influenciadores ou
como mote de comunicação interna e para se relacionar com
embaixadores da marca, apenas para citar alguns exemplos.
Como forma de angariar mídia espontânea e chamar a
atenção para a marca, a personagem Lu 9, de Magazine Luiza,
realizou previsões dos jogos da Copa do Mundo de 2022,
ocorrida em novembro do mesmo ano. Segundo informações do
site Mundo RH (REDAÇÃO MUNDORH), a área de tecnologia
da companhia desenvolveu um modelo matemático para
calcular a probabilidade de vitória de todas as partidas do
torneio. O modelo de inteligência artificial analisou todos os
jogos da Copa, desde 1992, além de um ranking da Fifa com
escalações e pontos de cada setor do campo, gol, defesa, meiocampo e ataque. Mais de 10 mil cenários foram criados para
calcular as probabilidades de cada partida. Aqui, podemos
destacar que a IA foi utilizada para fazer previsões não com a
função mercadológica, mas com o intuito de promover a Lu de
maneira institucional, próxima à população brasileira em um
momento em que as atenções de praticamente todos estão
voltadas à Copa. A estratégia da marca se deu com fins de
geração de repercussão na mídia e com o objetivo de solidificar
o relacionamento da personagem com as suas audiências. Vale
lembrar que a Lu tem mais de 30 milhões de seguidores nas
plataformas sociais digitais.
161
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
No carnaval de 2023, a marca Boticário criou um site para
que ideias de maquiagem fossem geradas por meio de IA. Com
o nome de FOL.I.A (uma alusão ao termo folia e IA), a marca
mapeou as expectativas do público dentro e fora das redes
sociais, a fim de identificar o que as comunidades buscam como
referência para se expressar por meio de makes:
Em seguida, a ferramenta Midjourney gerou as imagens em IA
que visam inspirar os consumidores a recriarem com ineditismo
e interpretação única. O projeto faz parte da jornada do Boticário
no universo da tecnologia e dá continuidade às inovações da
marca no carnaval, após terem criado uma folia imersiva no
Avakin Life em 2021 e 2022. Também traduz a natureza de
Quem Disse, Berenice?, que é referência em make, tendências
e proximidade com a GenZ (FOLIA, 2023)
Para complementar a ação – baseada no portifólio de
produtos – a marca ainda convidou um time de influenciadores10
para reproduzirem as maquiagens. Com isso, a ação das
maquiagens criadas por IA tiveram potencial de pautar a mídia
especializada em beleza, estilo de vida, mas também sob os
aspectos de marketing, do trade de negócios e afins.
Outra marca que apostou na IA para se relacionar com o
seu público foi McDonald’s. A ferramenta criada pela marca
previa a geração de um sanduíche11 por parte do usuário. O
resultado final era uma imagem que poderia ser compartilhada
nas redes pessoais do consumidor, assim como um cupom de
desconto para ser usado no restaurante. Como consequências
da ação, temos o usuário fornecendo dados para a marca do que
gosta em um lanche, informações pessoais e, se porventura,
usasse o cupom, McDonald’s ainda conseguiria saber quanto a
iniciativa se converteu em vendas efetivas. Também podemos
apontar o potencial de divulgação da ação para a imprensa, para
influenciadores e amantes da marca.
162
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Ainda no universo das marcas de fast food, uma pergunta
feita a uma ferramenta de IAG foi transformada em publicidade
pela marca McDonald’s. Na ocasião, a empresa perguntava ao
chat qual era o hambúrguer mais icônico do mundo. Como forma
de responder, viralizar e ainda causar impacto, seu concorrente,
o Burger King, reagiu questionado a mesma IAG sobre qual seria
então o maior hambúrguer disponível. Nas imagens a seguir é
possível ver a disputa entre as duas marcas.
Imagem 3 – Anúncios de McDonald’s e Burger King
gerados por IA
Fonte: Imagem disponível no Meio e Mensagem 12.
A provocação gerou repercussão na mídia e entre os
usuários, sobretudo nas mídias sociais, contribuindo para a
lembrança de ambas as marcas.
O potencial da IA também pode se dar no
desenvolvimento de produtos, assim como se vê em ações de
duas marcas: Boticário13 e Avon14. Ambas usaram ferramentas
de varredura de comentários nas mídias sociais para
163
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
desenvolver um perfume e uma máscara de cílios,
respectivamente. Como resultado, ambas as marcas pautaram
suas divulgações na inovação do processo de criação de um
produto, bem como na relevância que os comentários de seus
potenciais e consumidores exerceram nesses casos, pois
partiram de menções nas mídias sociais. A criação dos dois
produtos foi gerada a partir de IA, porém, baseando-se em
dezenas de milhares de comentários de usuários – potenciais
consumidores – sobre o que buscavam em uma máscara de
cílios ou em um perfume ideais.
Para finalizarmos o tópico, vale ressaltar, de acordo com
o próprio Chat GPT (2023), que: “É importante lembrar que a IA
não substitui as habilidades humanas na área de Relações
Públicas, mas pode ser uma ferramenta poderosa para melhorar
a eficiência, a precisão e a personalização das estratégias de
comunicação”. Nos casos acima citados, a IA foi utilizada como
ferramenta geradora de produtos, campanhas e situações
inovadoras com grande potencial de relacionamento com a
mídia, com influenciadores e com o público consumidor. Assim,
naturalmente, geraram o que chamamos em RP de mídia
espontânea ou PR Stunt15.
A partir de agora, vale entendermos o papel do
profissional de Comunicação e RP diante da IA.
Papel do profissional de Comunicação e RP
Diante de tantas transformações e de tanta aceleração em
tais processos evolutivos, nos resta a opção de entendermos
criticamente a IA, seus usos, suas possibilidades e seus
impactos. Para isso, é crucial o profissional:
A. Encarar a IA como ferramenta e não como ameaça.
164
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
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Se olharmos para a IA com vieses unicamente
catastrofistas, talvez percamos a chance de a utilizarmos
como um instrumento para nos auxiliar em nosso
cotidiano, sem perder de vista, claro, os seus aspectos
éticos, regulatórios e de apagamento de atividades e
profissões
B. Aprender a trabalhar com dados
Acreditamos que o uso de dados em nossa área seja mais
do que um acessório. Trata-se de obrigação. Em artigo para
a Revista Interfaces, Terra e Raposo (2023, p. 4) discutiram
a importância e a necessidade do profissional de RP
entenderem como os dados impactam o seu dia a dia e como
podem ser encarados como um diferencial e não como um
problema:
Transformar contatos, contextos e conversas em
valiosos insights, métricas e indicadores é uma das
principais vantagens trazidas pelo digital às
organizações, bem como – por que não dizer – às
Relações Públicas e à Comunicação Organizacional.
Para detalhamentos de como usar os dados em RP,
sugerimos a consulta do artigo de Terra e Raposo (2023).
C. Preocupação constante com ética e transparência
Uma vez fazendo uso de uma ferramenta de IAG para
produzir um comunicado para um cliente de uma agência ou
165
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
para a própria organização em que se trabalha, será que não
mencionar o fato pode ser considerado antiético? A autoria de
tal texto recai sobre quem? Para a agência ou para a
ferramenta? Se coloco questões estratégicas, confidenciais ou
delicadas na ferramenta, estou infringindo alguma regra de
compliance? As dúvidas são muitas e apenas uma políticas de
comunicação específica poderá ajudar a respondê-las. As
organizações – talvez pelo intermédio das áreas de
comunicação, jurídico e afins – tenham a missão de desenvolver
normativas e diretrizes para o uso (ou não) de ferramentas de IA
para se produzir conteúdos das mais diversas naturezas.
Com a constante evolução e avanço das tecnologias de IA,
como ficam as questões éticas? Como será quando a IA for
totalmente autônoma e não prescindir do controle humano? O
gráfico abaixo elucida que, dentro de 10 ou 15 anos, a Super IA,
mais inteligente que os humanos, predominará.
Imagem 4 – Evolução da IA
Fonte: Santander16 – Inteligência Artificial (2023).
166
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Até lá, temos um percurso para pensar vantagens, riscos,
impactos e consequências da IA em todos os campos. Nós,
profissionais da comunicação, idem. Já somos – e seremos
ainda mais – impactados por tais transformações. Cabe-nos
entender o contexto e discutir o que fazer, como fazer e de que
maneira chegar a cenários que respeitem pessoas e seus
direitos.
Para Curcio (AYRES, 2023), a IA, a exemplo de outras
tecnologias, gera um processo de transformação na sociedade
e requer adaptação. A incorporação dessas ferramentas de
maneira ética, consciente, além de uma política clara de
comunicação, é fundamental para que todos saibam o que pode
e o que não se pode fazer com elas.
Considerações finais
Instabilidade, impermanência e aprendizado constante e
contínuo são motes que devem ser absorvidos pelo profissional
de comunicação e de RP, independente de qual tecnologia ou
ferramenta seja “a da vez”.
Vivemos tempos instáveis e voláteis, em que o
imediatismo e o tempo real imperam. Saber planejar e
desenvolver estratégias de comunicação que dialoguem com tal
impermanência pode ser extremamente cansativo, mas
necessário para sobreviver a tempos tão líquidos e incertos. Em
uma era em que uma comunicação dura apenas alguns
segundos e se perde em menos de um dia, entender essa
dinâmica é crucial.
A questão do aprendizado continuado vem de vários
gurus. A expressão da moda – lifelong learning (GABRIEL, 2022)
– já nos dá o tom do que nos espera. Quando a gente acha que
167
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
domina uma tecnologia, uma ferramenta, um modus operandi, a
“coisa” já tomou uma outra dimensão e já está obsoleta. Ter
disposição para aprender, reaprender, recomeçar e não ter
medo do novo são condições compulsórias para quem quer
atuar em comunicação.
Para finalizar, sugiro que você faça um exercício: abra o
chat GPT ou uma ferramenta similar e digite: o quão pronto você
está para o futuro. Com certeza, a tecnologia não vai te dar
nenhuma resposta satisfatória. Sabe por quê? Porque é algo que
depende única e exclusivamente da nossa capacidade de
seguir.
Imagem 5 – Pergunta ao Chat GPT
Fonte: Chat GPT.
168
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Não perca a curiosidade, nem a vontade de evoluir. Boa
jornada!
Referências
AYRES, Aurora. O uso da inteligência artificial na comunicação corporativa
é tema de reunião do comitê aberje de inovação. 12/05/2023. Site Aberje.
Disponível em: https://www.aberje.com.br/o-uso-da-inteligencia-artificial-nacomunicacao-corporativa-e-tema-de-reuniao-do-comite-aberje-de-inovacao/.
Acesso em 12/06/2023.
BUGHIN, J. et. al. Notes from the AI frontier: Modeling the impact of AI on
the world economy. 04/09/2018. McKinsey Global Institute. Disponível em:
https://www.mckinsey.com/featured-insights/artificial-intelligence/notes-fromthe-ai-frontier-modeling-the-impact-of-ai-on-the-world-economy. Acesso em
12/06/2023.
COSSETTI, Melissa C. O que é inteligência artificial. 2018. Site Tecnoblog.
Disponível em: https://tecnoblog.net/responde/o-que-e-inteligencia-artificial/.
Acesso em 12/06/2023.
FOL.I.A traz maquiagem de carnaval feita com inteligência artificial.
13/02/2023. Site Boticário. Disponível em:
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Disponível em: https://arquivos.progic.com.br/blogs/Infografico-InteligenciaArtificial.pdf?utm_source=ActiveCampaign&utm_medium=email&utm_conte
nt=Aqui+est%C3%A1+seu+Infogr%C3%A1fico++Intelig%C3%AAncia+Artificial+na+Comunica%C3%A7%C3%A3o+Interna
%21&utm_campaign=Tyemail-infografico-inteligencia-artificial. Acesso em
12/06/2023.
169
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
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PWC’s Global Artificial Intelligence Study: Exploiting the AI Revolution. 2017.
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REDAÇÃO RH. 24/11/2022. Usando Inteligência Artificial, Lu, do Magalu,
vai prever resultados de jogos da Copa do Mundo. Site MundoRH.
Disponível em: https://www-mundorh-combr.cdn.ampproject.org/c/s/www.mundorh.com.br/usando-inteligenciaartificial-lu-do-magalu-vai-prever-resultados-de-jogos-da-copa-domundo/amp/. Acesso em 12/06/2023.
SANTAELLA, L. (org.). Inteligência artificial e redes sociais. São Paulo,
EDUC, 2019.
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orientadas aos dados: realidade ou necessidade contemporânea? Revista
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https://www.revistas.usp.br/interfaces/article/view/211495. Acesso em
13/06/2023.
WEBB, Amy. 2020 Tech Trend Report: Strategic trends that will influence
business, government, education, media and society in the coming year.
Future Today Institute, 2020.
Notas do capítulo
1
Disponível em: https://www.tiktok.com/@ghostwriter977/video/7222852197883694378. Acesso
em 13/06/2023.
2
Disponível em: https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/406609/usuario-do-tiktok-criamusica-como-se-fosse-de-dra.htm. Acesso em 13/06/2023.
3
Disponível em: https://www.theaitre.com/. Acesso em 13/06/2023.
4
Ver o robô pizzaiolo da Pizza Hut aqui:
https://www.instagram.com/reel/CZSpxvdIXt6/?utm_medium=share_sheet. Acesso em
13/06/2023.
5
Ver o robôs-jornalista que escreve até 30 mil matérias por mês aqui:
http://www.abi.org.br/robo-jornalista-do-google-escreve-30-mil-noticias-por-mes/. Acesso em
13/06/2023.
6
Disponível em: https://www.instagram.com/p/ClwPtYcv1mY/. Acesso em 13/06/2023.
7
Trata-se de um comando à plataforma para direcionar o modelo de resposta que ela deve dar
ao receber uma entrada de texto, geralmente, uma pergunta.
8
Disponível em: https://www.receitasnestle.com.br/entrar?destination=/system/files/202305/ebook_MOC%CC%A7A-compressed_1.pdf. Acesso em 12/06/2023.
9
Disponível em: https://www.instagram.com/magazineluiza/. Acesso em 13/06/2023.
1
Ver exemplo aqui:
https://www.tiktok.com/@amandapieroni/video/7200054405645831430?embed_source=121352
282%2C121351166%2C121331973%2C120811592%2C120810756%3Bnull%3Bembed_blank
&refer=embed&referer_url=www.boticario.com.br%2Fdicas-de-beleza%2Ffolia-traz-
170
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
maquiagem-de-carnaval-feita-com-inteligenciaartificial%2F&referer_video_id=7200054405645831430. Acesso em 12/06/2023.
11
Disponível em: https://cloud.news.mcdonalds.com.br/unrealburger. Acesso em 12/06/2023.
12
Disponível em: https://www.meioemensagem.com.br/comunicacao/mcdonalds-e-burger-kingusam-chatgpt-para-brigar-em-anuncios. Acesso em 12/06/2023.
13
Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/software/135520-boticario-usa-ia-ibm-criar-1perfume-desenvolvido-algoritmos.htm. Acesso em 12/06/2023.
14
Disponível em: https://www.meioemensagem.com.br/marketing/criticas-o-novo-ingredienteda-maquiagem-avon. Acesso em 12/06/2023.
15
Por PR Stunt, entendemos que seja uma ação ou evento planejados com o objetivo de atrair
atenção e visibilidade da mídia e dos usuários de mídias sociais para uma marca, uma pessoa,
uma situação, um lançamento, um produto ou um serviço. Quando se tem êxito com algo
assim, há cobertura por parte da imprensa, há burburinho nas redes sociais e as atenções
ficam voltadas para tal fato.
16
Disponível em: https://www.santanderprivatebanking.com/insights/articles-andperspectives/why-artificial-intelligence-is-important?utm_source=newsletterext&utm_medium=email&utm_campaign=thematics#. Acesso em 12/06/2023.
171
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
CONTEXTOS EDUCACIONAIS
EMERGENTES: digressões possíveis por
entre comunicação e educação
EMERGING EDUCATIONAL CONTEXTS: possible
digressions between communication and education
Liana Estela Merladete de Souza Pozeczek Koltermann
Resumo: um mundo imparável - de volume de dados, informações e
conhecimentos jamais vistos - com organizações se
(trans)formando (em) digitais. E, tudo que isso implica produzindo
à Comunicação – e essa a tais – o firmamento de seu papel e/ou
a conquista de novos lugares de ação, inclusive em contextos
educacionais. É ante essa percepção que o presente artigo
desvela a importância da Comunicação Organizacional em
Contextos
Organizacionais
Educacionais
Emergentes,
perpassando por demarcações que pautaram surgimento e/ou
adaptação de contextos educacionais presenciais, de educação a
distância, híbridos e/ou virtuais, sob a seguinte indagação: em que
medida a Comunicação dita novos arranjos organizacionais
educacionais? Elucidando e problematizando essa questão
norteadora, o trabalho, sustentado por uma pesquisa bibliográfica,
transcorre, primeiramente, pelas organizações, apresentando um
breve panorama sobre contextos educacionais, pontuando as
modalidades mais (re)conhecidas; a seguir, reflete sobre
Comunicação e Educação, a partir da sua interconexão, por entre
o ensinar, o aprender e os desafios que a convergência midiática
impõe. Por fim, reflete sobre o lugar da Comunicação na
(trans)formação e prenúncio de novos arranjos organizacionais
educacionais. As digressões, antecedidas de percepções
transversais, apontam para um papel sinérgico da Comunicação
Organizacional ao lado da contínua demanda por inovação e
permanência em cenários de competitividade. Não se espera, por
certo, esgotar o tema, a proposta de estudo e os tensionamentos
retratados. Mas, sim, rememorar ideias, apresentar novos ângulos
de visão e contribuir para o amadurecimento da questão em tela.
172
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Palavras-chave: Organizações. Contextos Organizacionais Educacionais
Emergentes. Comunicação. Comunicação Organizacional.
Educação. Midiatização.
Abstract: An unstoppable world - with an unprecedented volume of data,
information, and knowledge - sees organizations (trans)forming
into digital entities. And all of this has implications for
Communication - both in terms of reaffirming its role and
conquering new areas of action, including educational contexts.
Against this backdrop, this article unveils the importance of
Organizational Communication in Emerging Educational
Organizational Contexts, delving into the developments that have
shaped the emergence and/or adaptation of face-to-face, distance,
hybrid, and/or virtual educational settings, guided by the following
question: to what extent does Communication shape new
educational organizational arrangements? By elucidating and
problematizing this guiding question, the paper, supported by a
bibliographic research approach, firstly explores organizations,
providing a brief overview of educational contexts and highlighting
the most recognized modalities. It then reflects on the intersection
of Communication and Education, considering the intertwined
dynamics of teaching, learning, and the challenges posed by media
convergence. Finally, it contemplates the role of Communication in
(trans)forming and heralding new educational organizational
arrangements. These discussions, preceded by cross-cutting
insights, point to a synergistic role of Organizational
Communication alongside the ongoing demand for innovation and
competitiveness in these scenarios. It is not intended, of course, to
exhaust the subject matter, the proposed study, or the tensions
depicted. Rather, the aim is to revisit ideas, present new
perspectives, and contribute to a deeper understanding of the topic
at hand.
Keywords: Organizations. Emerging Educational Organizational Contexts.
Communication. Organizational Communication. Education.
Mediatization.
Introdução
Não é de agora que percebemos - e vivenciamos - uma
espécie de (r)evolução. Por todos os lados e conosco. A verdade
é que estamos escutando, falando, vendo, sentido, e tanto mais,
não como outrora, mas constante e intensamente quando o
173
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
assunto é acesso ao conhecimento. Só o fato de sermos parte
desse contexto, no mínimo dinâmico, nos faz afirmar que sim,
no mundo globalizado, a internet e, por conseguinte, suas faces,
produtos e serviços relacionados, assumiram um papel
preponderante na vida, convivência e até no aprendizado dos
cidadãos. E mais: para e nas organizações de todos os nichos,
inclusive em contextos educacionais.
Enquanto verdadeiros imigrantes digitais se relacionam
com nativos digitais nas mais distintas relações de aprendizado,
YouTube, Twitter, Facebook, Instagram, TikTok, e não só isso,
parecem representar novas fontes de dados, informação e
conhecimento. E isso, cremos, é tão expressivo quanto é antigo
o surgimento de organizações educacionais, ou melhor, que as
formas de prover o ensino. Desde o início da civilização,
sabemos, afinal, que as pessoas têm buscado meios para
passar o conhecimento adiante. Com o passar do tempo, as
organizações educacionais, da forma que mais conhecemos, de
escolas às faculdades, com suas tradicionais fileiras de classes,
espaço em evidência para o professor, quadro e giz, evoluíram
para se tornarem mais complexas, adotando novos métodos,
sustentados nas modalidades de ensino (hoje educação) a
distância (EAD), as aulas híbridas e as aulas virtuais.
Como partícipes da (r)evolução do ensinar e do aprender,
primariamente, testemunhamos o EAD introduzido como uma
maneira de estudar a partir de casa, e as aulas híbridas, por sua
vez, combinando o ensino presencial e a distância. Por fim, as
aulas virtuais, que são essencialmente aulas ao vivo
transmitidas pela internet, trouxeram um novo nível de interação
entre o professor e o aluno. Isso é o que já sabíamos - ou
vivenciamos. E, de tudo e tanto, para além de softwares de redes
e dispositivos - e muito mais - que tornaram e tornam esses
contextos possíveis, muito inquieta.
174
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Kenski (2013), já discorria criticamente sobre os tempos
vivenciados atualmente e sobre a definição de tais enquanto
múltiplos, apressados, urgentes e mais difíceis para as
organizações, modelos e/ou modalidades educacionais. A
pesquisadora demarcou a questão do tempo dedicado pelos
professores diante do que ela aparentemente determina como
uma “nova versão”, onde o espaço da sala de aula e a duração
de seus ensinamentos quase perdem o sentido perante os
canais virtuais de interação e comunicação que só fazem crescer
e representar opções diversas para as também diversas
demandas do público de interesse, do educando, que vai para
além daquele em formação escolar e/ou universitária para
também aquele que busca qualificação, aprofundamento e
diferencial profissional. O ponto é que Kenski (2013) traz à baila
não só a escassez múltipla do tempo, mas o prenúncio de
contextos organizacionais educacionais emergentes e,
desencadeia, nas artífices do presente trabalho, de alguma
forma, curiosidade perante o papel da Comunicação, seja
enquanto processo, sistema ou fenômeno. E mais: enquanto
questão e atuação sinérgica. A verdade é que, de antemão, as
mediações tecnológicas impõem uma nova maneira de lidar com
as questões do ensino às organizações do segmento, dado o
“seu redimensionamento de escala planetária, provocando
novos desafios e práticas” (KENSKI, 2013, p. 35), contudo, os
alunos, àqueles os quais destacamos como digitais, são, talvez,
os protagonistas de novos modelos organizacionais
educacionais, pelo fato de, enquanto retratos da
instantaneidade, ditarem uma demanda de renovação. Para
atendê-la, inevitavelmente, crê-se, as organizações do nicho,
nasceram, cresceram, perduraram - ou não -, acompanharam
tendências, se reinventaram ou se reinventam e à Comunicação,
deve caber, lugar, papel e, por conseguinte, impacto.
175
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Isso porque a atualidade, nesse contexto, demanda
personalização. E isso significa necessidade de atenção - e
tempo - no que concerne ao campo de interesse e experiência
de cada aluno. Do paradigma da cultura da então convergência
midiática, onde, de acordo com Jenkins (2008), autuam-se
interações nunca propiciadas pelas mídias tradicionais e até
alternativas, os alunos, do nosso então novo tempo, fazem parte
de um também novo nicho de papéis, no qual as passadas
relações, inclusive de aprender e ensinar, são desconstruídas
pela concepção de cultura participativa, que sugere novos
arranjos cada vez mais complexos - e atraentes, completos e
acessíveis, haja vista a proliferação de plataformas de cursos
online.
Na expectativa de perpassar por esses pressupostos,
mas, substancialmente, responder à questão norteadora do
presente, “em que medida a Comunicação dita novos arranjos
organizacionais educacionais?”, estruturam-se as digressões
aqui a partir dos seguintes objetivos específicos: discorrer sobre
as modalidades educacionais mais (re)conhecidas, as
demarcando, brevemente, perante o tempo e aparentes
demandas da sociedade; refletir sobre as relações entre a
comunicação e educação, por entre o ensinar, o aprender e os
desafios que a convergência midiática impõe e; concatenar,
processual, fenômeno ou sistematicamente, a Comunicação à
(r)evolução em contextos educacionais, desvelando a
importância da Comunicação Organizacional nessa emergência.
Para tanto, subdividem-se as reflexões em três correspondentes
seções, a saber: das organizações, um breve panorama de
contexto e modalidades educacionais em suas principais
demarcações; da Comunicação e da Educação: a interconexão
por entre o ensinar e o aprender e os desafios que a
convergência midiática impõe e; por fim, o lugar da
176
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Comunicação na (trans)formação e prenúncio dos novos
arranjos organizacionais educacionais.
No que se refere à motivação para a articulação desses
pontos traz-se uma justificativa pessoal, uma vez que as autoras
acreditam que a Comunicação é parte integrante da gestão de
projetos educacionais e questão estratégica - também sinérgica
- quando, cada vez mais, se incita a concepção do sujeito aluno
por entre competências e habilidades, produção e performance
humanas e técnicas, numa conjuntura de educação para a
autonomia. Como não poderia deixar de ser, na esfera social,
acadêmico-científica, justificam-se as digressões neste, tecidas
pela expectativa comum por entre todas as produções das
autoras, sejam técnicas ou científicas, sendo a de perpassar
significativamente pela construção e reconstrução dos saberes.
Mas, essencialmente, em prol da responsabilidade de
preocupar-se com a democratização da ideia de que, conforme
temos por Martín-Barbero (2014), a comunicação na educação
é uma excelente estratégia para formar cidadãos em uma
sociedade na qual a informação e o conhecimento valem cada
vez mais. Percebe-se, afinal, que isso não muda, a despeito de
que incansável, gradativa e constantemente, cenários e
contextos organizacionais educacionais se (trans)formem.
Serão sempre novos. A comunicação também. A medida, nesse
contexto, é sinérgica e vital, como será possível refletir, porque
novos arranjos provêm de melhores práticas. É a tudo e tanto
que se dedicam as linhas a seguir.
Das organizações, um breve panorama de contexto e
modalidades educacionais em suas principais
demarcações
Toda a organização, já dizia MAXIMIANO (2007), “é uma
combinação de esforços individuais para alcançar propósitos
177
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
coletivos”. Seja qual for o segmento de atuação, elas, essa parte
fundamental da sociedade, com íntima relação com o
fornecimento de empregos, produtos e serviços, sabemos,
influenciam a política, a economia e as relações sociais. Sociais,
civis, não-governamentais, governamentais, públicas, privadas,
empresarial, seja qual for o tipo, organizações são, natural e
essencialmente, dinâmicas. Toda organização se estabelece
como um instrumento social, nesse sentido. E isso se dá através
da ação humana, da combinação de recursos, entre outros
aspectos que convergem num verdadeiro processo que faz com
que as necessidades da sociedade sejam satisfeitas - ou não.
Segundo Moraes (2004), aliás, os elementos humanos e
materiais, que fazem parte das organizações, possuem forte
ligação e interdependência do meio ambiente, no qual estão
inseridas, e a este fazendo trocas constantes. Ou seja, além de
dinâmicas, as organizações são diferentes entre si. Podem ser
finitas ou, simplesmente, sucumbir repentinamente, por pura e
simplesmente não serem sistemas perfeitos. É o que pode
acontecer no não acompanhamento à aceleração da
digitalização, conforme colocam Kartajaya, Setiawan e Kotler
(2021). Eles dizem que, com a pandemia de Covid-19, as
organizações não podiam mais adiar a digitalização,
“considerando que sua sobrevivência passou a depender disso”
(KARTAJAYA, SETIAWAN & KOTLER, 2021, p.102).
Ocorre, nesse contexto, conforme o que os estudiosos
lecionam, que o mundo contemporâneo vem testemunhando um
crescimento exponencial no volume de dados, informações e
conhecimentos, impulsionado pela rápida evolução da
tecnologia e essa explosão de informações tem transformado
profundamente
as
organizações,
levando-as
a
se
(trans)formarem em digitais para se manterem relevantes no
contexto atual. Em organizações educacionais não é diferente.
Elas não estão imunes a essa onda e a educação, por
178
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
conseguinte, é um campo que pode se beneficiar
significativamente do uso das tecnologias digitais para melhorar
a acessibilidade, a flexibilidade e a qualidade do ensino, tanto
que as modalidades de ensino à distância (EAD), virtual e híbrida
surgem como soluções inovadoras para atender às
necessidades de aprendizagem em um mundo digitalizado.
Mas, isso, por sua vez, nos remonta ao básico. Nos leva,
primariamente, à organização e à estrutura de sistemas nesse
contexto para que, minimamente, demarquemos o tempo e as
aparentes necessidades da sociedade da qual fazemos parte.
Para além de escolas, faculdades, universidades, cursos,
enquanto organizações, aliás, é preciso atentar, por exemplo,
para a Lei de n. 9.394 de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece a
finalidade da educação no caso do Brasil, como esta deve estar
organizada, quais são os órgãos administrativos responsáveis,
quais são os níveis e modalidades de ensino, entre outros
aspectos em que se define e se regulariza o sistema de
educação brasileiro com base nos princípios constantes na
Constituição.
Os órgãos responsáveis pela educação, em nível federal,
são o Ministério da Educação (MEC) e o Conselho Nacional de
Educação (CNE). Em nível estadual, temos a Secretaria
Estadual de Educação (SEE), o Conselho Estadual de Educação
(CEE), a Delegacia Regional de Educação (DRE) ou a
Subsecretaria de Educação. E, por fim, em nível municipal,
existem a Secretaria Municipal de Educação (SME) e o
Conselho Municipal de Educação (CME). Fato é que cada
organização ou braço de organização que essas estruturas
podem representar ou impactar têm sua complexidade e
especificidade que aqui não cabem. Outrossim, aqui cabe, as
modalidades e, por conseguinte, contextos que perpassam por
toda essa estrutura, do presencial, a hoje Educação a Distância
179
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
(EaD), ao híbrido e virtual, perante àquelas demarcações que
prenunciam desafios vigentes à capacidade das organizações
educacionais de abraçar a era digital e aproveitar plenamente as
oportunidades que ela oferece.
Começando pela educação presencial, segundo Menezes
(2023), vale pontuar, estamos falando do dito ensino
convencional, o tradicional para alguns. Nessa modalidade, a
transmissão do conhecimento é o processo protagonista. As
aulas são expositivas e um local físico, a sala de aula, é requisito.
Ou seja, podemos dizer, sem pretensões de aprofundamento
histórico, que o presencial data aqui desde 1549, com as
primeiras escolas jesuítas. Mas o termo, em si, também vale
ponderar, passou a ser adotado ao mesmo passo em que as
tecnologias passaram a prenunciar a inserção e aprimoramento
do ensino à distância. Aqui, segundo a já referenciada LDB,
aliás, o ensino fundamental deve ser presencial, sendo o ensino
à distância utilizado em situações especiais. Dessa forma, a
possibilidade de estudar a distância abre-se em dois casos
atualmente, nesse nível: como complementação da
aprendizagem (enriquecimento e aprofundamento do currículo,
recuperação e aceleração de estudos para alunos com atraso
escolar, dentre outras) e em situações emergenciais, quando se
fala em educação formal.
A EaD, por outro lado, tem seus primeiros indícios no
mundo remontados ao século XVIII, quando um curso por
correspondência foi divulgado por uma instituição de Boston
(EUA), haja vista, em 1728, um professor chamado Caleb
Phillips ter oferecido um curso de taquigrafia, com materiais
enviados semanalmente pelo correio (Alves, 2009, apud Santos;
Menegassi, 2018). No Brasil, Franco, Costa, Fávero, Gelatti e
Locatelli (2006, p. 2) a datam desde 1920. Os pesquisadores
explicam que, no que concerne às diferenças entre o nosso país
e o mundo, encontra-se a restrição a níveis supletivos e à
180
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
formação profissional. Existiu, segundo os autores, uma
percepção de que o ensino regular era inviável nesses moldes.
Alves (2009, apud Santos e Menegassi, 2018), revela, a
partir de pesquisas realizadas pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), que no final do século XIX já havia
oferta de cursos de datilografia por correspondência no Rio de
Janeiro. A verdade é que, entre esses e outros fatos e feitos, a
modalidade sempre acompanhou as tecnologias da informação
e comunicação. Entre as demarcações do tempo, identificamos
que até os anos 1910, os cursos eram feitos por
correspondência, baseados em materiais impressos. Depois,
slides e recursos audiovisuais ganharam vez. E, insta constar,
ainda, que entre as décadas de 1910 até 1940, período que
compreendeu as duas grandes guerras mundiais, o rádio foi
utilizado para transmitir conteúdos. E, já em 1950, com a
invenção da TV, as primeiras experiências de telecursos
passaram a protagonizar o campo.
Em meio a tudo e tanto, a evolução e o acompanhamento
das tendências persistiu, tanto que na década de 1970, com as
TVs via satélite e a cabo, a transmissão de conteúdos ganhou
outro patamar. Da mesma forma e, fundamentalmente, com o
início dos cursos por computador, com o advento, na década de
1990, do CD-ROM e, claro, pela internet. Atualmente, conforme
coloca Alves (2009, apud Santos e Menegassi, 2018), diz-se que
os cursos, dos mais variados níveis, de educação formal ou não,
são multiplataforma. Os computadores, nossos celulares,
tablets, tudo e tanto, de qualquer lugar, nos levam a também a
qualquer lugar. O Plano Nacional de Educação, aprovado em
janeiro de 2001 e que foi exigência da referenciada LDB,
inclusive, aborda a educação a distância e as tecnologias
educacionais, se referindo à modalidade, como um meio auxiliar
de indiscutível eficácia.
181
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Nesse contexto, é válido destacar que, no Brasil, segundo
leciona Kenski (2013), a Educação a Distância está prevista em
vários documentos oficiais do governo. A autora explica que o
decreto que a regulamenta é o de n. 5.622/05 e que ele a
caracteriza como modalidade educacional na qual a mediação
didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem
ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e
comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo
atividades educativas em lugares ou tempos diversos. O seu §
1º - a autora relembra e destaca - determina, ainda, que a
“educação a distância organiza-se segundo metodologia, gestão
e avaliação peculiares” (KENSKI, 2013, p. 110).
Mas Bates (2016) classifica o desdobramento disso
enquanto era digital, trazendo, como nos interessa, a
Comunicação à baila. Ele explica que estamos rodeados e
imersos em tecnologia e que essa não tem quaisquer sinais de
abrandamento. Para o estudioso, a evolução dela está (nos)
levando a mudanças consideráveis na economia e, por
conseguinte, crê-se, na Comunicação. Ele diz que isso é visto
pela forma como nos comunicamos, nos relacionamos e, para
ele, cada vez mais, na forma com a qual aprendemos que,
necessariamente, implica comunicação não tão somente por
entre o ensinar e o aprender, mas das organizações
educacionais com os seus alunos, com o mercado e com a
sociedade. Faz refletir que a despeito de tudo que significa
ensinar e aprender, sobretudo ao campo da Educação, as
organizações que trabalham com ela precisam de alunos para
se manter, permanecer e crescer. E faz uma ponderação aí:
“nossas instituições educacionais foram construídas em grande
parte para outra era, baseadas em uma era industrial, em vez de
digital” (BATES, 2016, p. 55). Ainda assim, as tecnologias
digitais foram mudando o cenário educacional e novas
realidades foram, ora demandadas, ora impostas.
182
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
O autor questiona, aliás, nesse contexto, as escolas,
faculdades,
universidades,
enquanto
organizações
educacionais, precisam mudar a forma pelas quais ensinam. E
é frente a questionamentos dessa ordem que as novas
realidades, segundo ele, apareceram e seguem a aparecer.
Para se adaptarem ao mundo digital, as organizações
educacionais que (re)conhecemos, como as já citadas aqui,
escolas, faculdades e universidades, estão se (trans)formando,
ou melhor, se adaptando, ele revela. E, isso, como nos leciona
o autor, implica na adoção de tecnologias avançadas, como
inteligência artificial, big data, computação em nuvem e Internet
das Coisas (IoT), para impulsionar suas operações, melhorar a
eficiência e oferecer novos produtos e serviços inovadores.
Com tudo e tanto, percebe-se que a transformação digital
permite que as organizações alcancem maior agilidade, eficácia
e competitividade em um cenário de negócios cada vez mais
dinâmico e complexo. Um dos exemplos nesse sentido é o
ensino híbrido, que, em linhas gerais, combina a proximidade do
contato presencial com a independência do offline. A verdade é
que essa modalidade ganhou status de aposta recente,
denotando o atendimento pela busca pela personalização da
aprendizagem e inserindo, talvez ainda mais forte - e
estrategicamente - as ferramentas tecnológicas no processo de
ensino.
Bates, ao refletir sobre a temática, afirmando isso, se
ancora nas experiências mundo afora. Ele comenta que
“algumas instituições estão agora desenvolvendo planos para
mover uma parte substancial do seu ensino para modos mais
híbridos ou flexíveis” (BATES, 2016, p. 75). O termo,
especificamente, surgiu em meados dos anos 60 nos Estados
Unidos e isso porque a Terceira Revolução Industrial, a
chamada Revolução Eletrônica, trouxe o início da produção
massiva de computadores que logo foram incorporados à
183
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
educação acadêmica. Trocando em miúdos, é a mescla dos dois
modelos de ensino já conhecidos, presencial e EAD, que formam
o híbrido. A tecnologia e novas metodologias representam o
centro desse processo. O autor leciona que essa combinação,
do presencial que acontece em sala de aula e do virtual, que
funciona através da tecnologia, considera um processo contínuo
e mutável, que se distancia da ideia de padronização.
Ele fala que são muitas as faces da aprendizagem online
e é aí que entra a última modalidade que consideramos neste, a
virtual. Na verdade, o autor traz várias nomenclaturas para
representar o além do tradicional. Mas destaca, justamente, pelo
menos três modalidades: primeiro, o ensino em sala de aula, que
seria o presencial, e fala do já referido híbrido, num segundo
momento, que, por sua vez, pode englobar uma grande
variedade de estilos e possibilidades, desde ambientes virtuais
de aprendizagem, a redesign do ensino e; por fim, discorre sobre
a aprendizagem inteiramente online, que seria a modalidade
integralmente virtual, que utiliza potencial da tecnologia, para
reduzir distâncias e garantir, por exemplo, a sincronicidade.
De tudo, aqui brevemente retratado e demarcado, tem-se
pistas de uma interconexão indissociável entre a Comunicação
e a Educação. E, com isso, não parece exagero dizer que não
há e nem haverá mais educação sem tecnologia e, por
conseguinte, comunicação sem a mesma. Professores, alunos e
organizações educacionais viveram, recentemente, a já citada
aceleração digital e, concomitantemente, o escancarar de seus
limites, dada a pandemia causada pela Covid-19. Mas, oportuna
ou não, a transformação digital em organizações educacionais
se tornou algo obrigatório e urgente. O setor educacional, assim
como outros segmentos, não pode ficar parado. Assim como
Kartajaya, Setiawan e Kotler (2021) falam, num cenário mais
amplo, parece prenunciar-se nos contextos educacionais, essa
exigência enquanto vital, e a comunicação, cremos, para além
184
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
de processo, sistema ou fenômeno, intrínseca ao ensinar e ao
aprender como aqui, de certa forma, elucidado, mas, do ponto
de vista organizacional, deve representar um lugar que vai além
de se estabelecer as expectativas de proporcionar flexibilidade
ao ensino, mas de permanência no mercado. É o que se começa
a construir com a aproximação - interconexões e convergência entre a Comunicação e a Educação a seguir.
Comunicação e Educação: a interconexão por entre o
ensinar e o aprender e os desafios que a convergência
midiática impõe
Goerck (2002) fala que a Comunicação e a Educação são
duas áreas extremamente abrangentes. A pesquisadora diz que
ambas permeiam todas as ramificações da configuração social.
Para ela, “todas as questões da sociedade são impregnadas de
um caráter educativo, pois podem ser objeto de ensino e de
aprendizagem” (GOERCK, 2002, p.92). Ela diz que, ao mesmo
tempo, “a comunicação está presente em todos os espaços”.
Kenski (2008), na mesma linha, destaca os temas como amplos
e complexos. Para ela, aliás, as possibilidades de exploração
das interfaces entre as searas são inesgotáveis. A autora
comenta que “transcendem os espaços das escolas e não se
esgotam na análise dos produtos oferecidos pelas mídias”
(KENSKI, 2008, p. 649).
Com essa concepção, que remonta a ideia de que os
estudos vão além da educação escolarizada e da comunicação
midiática, a pesquisadora leciona sobre uma dita relação
biunívoca em que se interconectam e convergem educação e
comunicação: essa relação “engloba os mais diferenciados
assuntos, concepções e linhas teóricas, práticas, sujeitos,
tempos e processos formais e não-formais conscientes e
determinados, ou nem tanto assim” (KENSKI, 2008, p.649). A
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
estudiosa fala que envolve, ainda, manifestações humanas
expressivas, mediadas ou não, em um sentido de transformação
e continuidade das relações interpessoais.
Kenski (2002), com isso, desvela que Comunicação e
Educação abrangem a autonomia para a produção e a
realização de conteúdos midiáticos contextualizados e mais,
segundo ela: “as próprias inovações, as interconexões possíveis
entre processos e produtos comunicacionais; as montagens e
edições como aprendizagens e descobertas” (KENSKI, 2008,
p.649). E, genuinamente, nesse contexto, ela relembra, a partir
de Pretto (2008, p.13), Paulo Freire, que fala que "o ato de
educar é um ato de comunicação". Por isso, talvez, no contexto
das modalidades educacionais, do presencial, à educação a
distância, contextos híbridos e virtuais, como fora visto
anteriormente, se presuma não haver educação sem tecnologia
e nem comunicação sem a mesma. A questão, percebe-se,
extrapola esses contextos. Fato é que a informação circula livre
e agilmente a despeito das modalidades do próprio cenário
educacional. Notavelmente, conteúdos e plataformas diversas
apresentam uma nova configuração e o equilíbrio entre
tecnologia, indústria, mercados, gêneros, públicos e muito mais,
outro fato, denota um cruzamento, consequente de mídias
alternativas e de massa, que representa a era da convergência
midiática, cuja cultura é tratada por Jenkins (2008).
Quando trazemos esse autor à baila, sob o viés dessas
transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e
sociais, latentes no cenário contemporâneo da comunicação,
encontramos três pontos cruciais de uma nova equação: a
própria convergência midiática, a inteligência coletiva e a cultura
participativa. Acerca do primeiro ponto, a convergência
midiática, estamos falando de forma de consumo e mais: um
processo conjunto, e também uma fonte de poder, o que pode
ser pensado no viés de contextos educacionais. E, como não
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
poderia deixar de ser, isso remete à Bauman e May (2010). Fato
é que desse rememorar se dá uma perspectiva que classifica a
cultura atual enquanto de oferta, que trata de uma sociedade que
supervaloriza, justamente, o consumo, centro de uma economia
líquido-moderna que, entre outros indicadores, apresenta a
nossa condição volátil e até assustadora:
O futuro não é mais um tempo a ser esperado com impaciência:
ele só vai aumentar as dificuldades atuais, incrementando de
modo exponencial a quantidade de conhecimento que já nos
atordoa, nos sufoca e que bloqueia a salvação que ele próprio
oferece de forma sedutora (BAUMAN; MAY, 2010, p. 58).
De outro ângulo, a cultura participativa, por sua vez,
denota
o
comportamento
do
consumidor
midiático
contemporâneo, apontando, surpreendentemente – ou não –,
ainda assim, uma postura cada vez mais distante da sua antiga
posição de receptor passivo, outro ponto sobre o qual podemos
equiparar à condição do aluno de hoje, de necessidade
protagonista e não mais mero receptor. A partir dessa
articulação, a convergência midiática, retomando Jenkins
(2008), é encarada como um processo cultural e não somente
tecnológico, representado como um conceito de economia
afetiva, que serve para pensar o comportamento de
consumidores - a exemplo dos alunos - e produtores na
contemporaneidade - a exemplo, podemos dizer aqui, de
professores e organizações educacionais.
Jonas (2006) nos provoca, nessa linha, para a reflexão
em torno da mudança tecnológica e sobre o quanto ela interfere
nesses atos, justamente quando o assunto é o ensinar, o
aprender e onde temos essa experiência. O estudioso permite a
reflexão de que não estamos aprendendo somente quando nos
deparamos e/ou fazemos uso da tecnologia para absorver
conhecimento ou ampliar o repertório. No caso de uma
187
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
organização educacional, com forte presença digital, estamos
conectados e integrados a ela, ele leciona. Fava (2011), por sua
vez, em âmbito educacional, diz que esse intenso cenário de
convergência representa o trânsito e a circulação de conteúdos
por meio de diferentes sistemas de informação e, ainda, reforça
seu papel cultural:
A convergência na educação não deve ser compreendida
apenas como um processo tecnológico dentro ou fora do
ambiente de ensino e aprendizagem. Mais que isso, a
convergência representa uma transformação cultural, uma vez
que os estudantes são incentivados a procurar e a colocar novas
informações nos mais diversos sistemas e fazer conexões em
meio a conteúdos de informação dispersos, criando, assim, a
cultura participativa, e não apenas interativa (FAVA, 2011, p. 3).
O autor, que trabalha, entre outros aspectos, com o que
chama de Educação 3.0, que perpassa por uma ótica do aluno
gerenciado e não controlado, coloca, nesse espectro cultural, as
redes sociais virtuais - e ambientes virtuais de aprendizagem,
entende-se, por representarem redes de relacionamento - como
fortes aliadas nesse cenário de participação e interação e, crêse, de vínculo entre a Comunicação e Educação. Ele permite
refletir que o público digital quer organizações digitais para
estudar. Diz que o fato é que estamos 24 horas conectados e,
nesse contexto, que estamos diante de uma conjuntura em que
os estudantes estão permanentemente enviando e recebendo
notícias, namorando, compartilhando, interagindo, relacionandose por nada mais, nada menos, que sempre novas redes sociais.
Essas devem ter ou representar, também, ele sugere, as
organizações educacionais.
O autor reflete que a midiatização na educação é
profunda. Em contextos organizacionais educacionais não
implica apenas o uso e a disseminação de mídias, mas também
a incorporação dessas mídias em todas as esferas da vida
188
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
cotidiana do seu público. Ele faz refletir que envolve a
transformação da cultura, da comunicação e das interações
sociais, à medida que as tecnologias e as mídias digitais se
tornam elementos centrais na construção e na disseminação de
conhecimento, na formação de identidades e na organização
social. Esse processo traz consigo implicações significativas
para as organizações educacionais porque precisam repensar
suas práticas e estratégias pedagógicas diante desse novo
ambiente midiático, mas também porque a adaptação a essa
realidade implica o desenvolvimento de habilidades digitais e
críticas por parte dos educadores e estudantes, bem como a
reflexão sobre o papel das mídias e tecnologias na construção
do conhecimento e na formação dos indivíduos.
É uma questão de foco e forma de atuação da sociedade,
se lançarmos mão de Couldry e Hepp (2017). Eles sugerem,
afinal, que nos deslocamos, no que concerne ao domínio social,
com relação a um único meio, para uma variedade de diferentes
meios de comunicação, construindo distintos domínios e o ponto
é que quanto mais entrelaçada for a mediação da construção
social, mais enredada serão as interdependências entre as
próprias mídias.
A Educação 3.0, já dizia Fava (2014), essa que tem esse
entrelace e enredo como alicerce, chegou, o autor resume. E,
para ele, “se a busca da aprendizagem já foi mais silenciosa e
passiva, os novos estudantes são agora mais ativos,
barulhentos e públicos” (FAVA, 2014, XV). Esses alunos e
potenciais alunos são mais poderosos, hiperpoderosos, na
verdade. E buscam por escolas, faculdades, universidades,
cursos que denotem esse mesmo poder. Com esse termo, aliás,
é possível rememorar Tapscott e Williams (2007). Num
panorama de exploração da inteligência e da genialidade do
coletivo, em prol da inovação e do desenvolvimento, eles
conceituam e fomentam a importância das plataformas para
189
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
colaboração em rede, que possibilitam a conexão de pessoas e
a integração de recursos com outros ambientes, como ocorre na
adaptabilidade das organizações educacionais, que exploram
cursos alicerçados na educação a distância e hibritude.
Em todas as expressões de plataformas que os autores
apresentam, eles apontam para o protagonismo - e poder - do
cidadão e, sobretudo, para a potencialidade da generosidade
coletiva de seus colaboradores. Dessa nova dinâmica, que pode
ser, tranquilamente, equiparada à citada Educação 3.0, um novo
pensamento ganha espaço. E, o pensar diferente representa,
justamente, abrir-se para a colaboração, desafiando uma dita
sabedoria convencional. O cidadão “hiperpoderoso”, como
retratam Tapscott e Williams (2007), consome e produz. Só que,
para que isso ocorra em âmbito de contextos organizacionais
educacionais, também carecemos reprogramar o nosso
pensamento enquanto educadores, gestores na seara e
comunicadores, estratégicos nesse processo, inclusive quando
se trata do (re)conhecimento de competências e habilidades:
atentando para o feedback dos nossos alunos; valorizando e
incentivando a construção de massa crítica; subsidiando-os de
estrutura e ambiente para a colaboração e; entre outros pontos,
disseminando a imagem de tanto. Diferente disso, estamos
ofertando limitação na comunicação, lecionam os autores.
Aliás, dessa lição de Tapscott e Williams (2007) podemos
ir além nesse aspecto. Formular e pactuar objetivos; externar
intenções; trocar experiências e; ainda, compartilhar recursos,
dividindo responsabilidades e proporcionando avaliação em prol
do atendimento da expectativa discente parecem ser novas
responsabilidades
comunicacionais
de
organizações
educacionais e isso representa um verdadeiro ciclo para
organização educacional e aluno co-construírem e
transformarem-se continuamente. Ou seja, a comunicação, aí, é
processo, é sistema, é fenômeno, antes de qualquer coisa.
190
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Podemos, para tanto, trazer Curvello (2009), que comenta
que a tradição funcionalista resume a comunicação como
processo a partir da tese de que é uma sequência de tarefas (ou
atividades) que, ao serem executadas, transformam insumos e
recursos, discursos, falas, expressões intencionais e planejadas
em resultados com valor agregado às organizações. Levando
em conta que as ações citadas representam atividades,
teríamos, em ambiente virtual ou sala de aula, a comunicação
enquanto processo. A comunicação como sistema também
porque, segundo Curvello (2009), ela produz e reproduz a
sociedade, e faz isso mediante a ideia de que é um
acontecimento atado a um instante de tempo. E isso podemos
identificar no ciclo indicado. Já pelo pensamento
fenomenológico, a comunicação seria uma relação, uma
possibilidade de encontro, impregnada pelo incorpóreo, por
sinalizações extralinguísticas, como leciona o autor e que, antes
de orientada para a significação, está orientada para o campo
do sentido. Ou seja, mais uma expressão identificada já que
cada aluno adentra ao ambiente educacional, presencial ou
virtual, com expectativas distintas e seu resultado depende da
forma como sente - absorve e troca (n)esse processo.
Fato é que quando o cidadão ou, no caso, o educando,
está no centro do processo de transformação, inserido numa
comunidade de colaboração com vistas no aperfeiçoamento, a
própria comunidade, enquanto organização, tende a crescer. É
o que correlacionam, no caso, Tapscott e Williams (2007).
Ocorre, no entanto, que, como aponta Veras (2011), toda essa
inovação e métodos de ensino substanciados nas preferências
dos nativos digitais remonta, também, à fragilidade. Crê-se que
fragilidade das organizações educacionais em ir além da
realidade do aprendizado acadêmico; fragilidade dos gestores
em refutar visões simplistas e que tragam somente mais do
mesmo; fragilidade dos discentes que, pelas múltiplas
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
linguagens virtuais, talvez, deixem de dizer o que precisa ser
dito, no que tange a algo infinitamente maior que conteúdo e
técnica, ou seja, sobre expectativas pessoais, necessidades,
autoconhecimento, valores e crenças limitantes para o seu
potencial lugar no mercado de trabalho. E, por fim, fragilidade da
Comunicação, enquanto amarração e alinhamento estratégico
de tudo isso.
Fato é que as organizações educacionais, mediando
práticas educacionais, seja presencial, semipresencial e/ou a
distância, são exemplos onde as tecnologias e suas ferramentas
potencializam
a
produção
numa
equação
problematizadora/colaborativa. Mas precisamos de mais quando
estamos falando de estratégia para contribuir efetivamente para
que o público faça suas escolhas em prol de trajetória e decisões
em torno do futuro profissional. A comunicação e sua latente
convergência têm de ser aliadas e carecemos trabalhar seus
fatores limitantes. O que Kenski (2013) alerta, no entanto, é que,
apesar de toda uma gama promissora, oriunda da facilidade, da
aproximação, da cooperação e da colaboração, flexibilidade,
mobilidade, personalização de caminhos, atendimento às
necessidades de alunos, acompanhamento de novos processos
representam, também, novas demandas às organizações do
nicho e isso, por sua vez, implica perceber que se a expectativa
do público apto para matrículas em escolas, faculdades e
universidade, cursos, é de que tais os preparem para
compreender a sua época e desenvolver soluções para uma
sociedade digital, talvez as organizações educacionais do
século XXI tenham dificuldade de responder a essa expectativa,
bem como à exigência multifacetada do mercado.
Numa proposta de verificação e panorama amplo de
análise, Kenski (2008) relata, trazendo Sfez (1991), que há
proximidade entre educação e comunicação nesse aspecto, e
que ela pode vir a ser melhor estudada, haja vista essa
192
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
aproximação, segundo a autora, ser ampliada pelo atual
momento da sociedade que, acredita-se, carece de uma
educação estratégica e de uma gestão, no mercado, por
competências. No caso do estudante, ávido (ou não) por uma
carreira ou sonho, a aplicabilidade (ou não) de suas habilidades
nesse compasso estaria, assim, diretamente relacionada com a
confirmação de sua competência ou, pelo menos, de seu uso.
Nesse sentido, pelo olhar de Resende (2000), a competência é
resultado da união de conhecimentos – na qual, para o autor,
entrariam os elementos formação, treinamento, experiência e
autodesenvolvimento –, com comportamentos, que, por sua vez,
seriam suportados por habilidades, interesses e vontades. E,
tudo isso, diz-se, deve ser parte de um composto
comunicacional e filosófico da organização educacional.
Dentro desse contexto, Dudziak (2010) relaciona a
formação por competências com, justamente, a cultura das
mídias. O cenário demanda, por conseguinte, segundo ele,
ainda voltar os olhos não só à avaliação das correlações entre
inteligência, habilidades sociais e expectativas acadêmicas do
futuro profissional e seus impactos no desempenho acadêmico,
como também para a promoção de alternativas de estímulo à
prática profissional, e sua fluência tecnológica. Talvez por isso,
a Comunicação ocupe um novo lugar no ressignificar das
organizações educacionais ou no surgimento de novos arranjos
que atendam as demandas dos potenciais educandos. Uma vez,
afinal, que se compreende que a comunicação das organizações
educacionais, formais ou não, está alinhada aos seus objetivos
estratégicos e táticos, missão, visão e valores e, ainda, vinculada
às necessidades do seu público, é possível considerá-la vital
para a obtenção de melhorias que poderão ser instituídas em
seus serviços. É o que dizem Breda, Cruz, Hermes e Medeiros
(2020) e sobre o que perpassamos, na reflexão a seguir, ao
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
destacar, finalmente, o lugar da Comunicação na
(trans)formação e prenúncio dos novos arranjos educacionais.
O lugar da Comunicação na (trans)formação e prenúncio
dos novos arranjos organizacionais educacionais
Oliveira (2022) fala que a transformação no modelo
educacional ainda não aconteceu na velocidade e nem na escala
necessária para impactar profundamente o ensino e a
aprendizagem. Ele comenta o evento “Think with Google
Education”, que significa “Pense com o Google para Educação”,
realizado em agosto de 2022, e desvela que a empresa
apresentou dados interessantes no que concerne a contextos
organizacionais educacionais emergentes. Em uma pesquisa
realizada com 1,5 mil pessoas na plataforma Google Survey,
29% dos entrevistados disseram que estão interessados em
fazer cursos livres, 25% cursos de idioma, 18% cursos de
graduação, 11% ensino fundamental e médio e outros, e, por fim,
11% cursos preparatórios. Oliveira (2022) explica que, ao
extrapolar os dados, considerando a população brasileira e a
taxa de acesso à internet no país, o interesse somente em
cursos livres, por exemplo, pode chegar a cerca de 28 milhões
de pessoas.
Sobre o evento, ainda, Oliveira traz uma fala do diretor de
negócios para o segmento de educação no Google Brasil,
Guilherme dos Anjos, que demonstra a relevância dos dados e
a perspectiva, o que nos abre um leque de potencialidade quanto
ao lugar da Comunicação: “A oportunidade da educação no
Brasil vai muito além dos 3,5 milhões de pessoas que se
inscrevem nas universidades todos os anos”.
Oliveira, com isso, analisa que as escolhas dos brasileiros
se transformaram não só em relação à modalidade e duração do
curso, mas também em relação ao formato:
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
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Grande parte das pessoas passou a considerar cursos na
modalidade de EaD (educação a distância) ao procurar uma
instituição. De acordo com uma segunda pesquisa
encomendada pelo Google à consultoria Educa Insights,
realizada com cerca de 750 pessoas, mostrou que, entre 2020 e
2021, o número de brasileiros que considerava fazer um curso à
distância saltou de 40% para 78% dos entrevistados. Em 2017,
esse número era de apenas 19% (OLIVEIRA, 2022, s/n).
No mesmo ano, o Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), segundo a
análise de Oliveira, apontou que a pandemia acelerou o ingresso
de estudantes no ensino superior à distância: “Isso já vinha
acontecendo desde 2016, porém, agora fez com que essa
modalidade ultrapassasse a presencial” (OLIVEIRA, 2022, s/n).
Ele atribui a escolha ao preço e flexibilidade e comenta, ainda,
que os cursos EaD tinham 1,5 milhão de ingressantes em 2019
e somaram 2 milhões em 2020, o que representou uma alta de
26%. No mesmo período, conforme Oliveira, a educação
presencial recuou quase 14%. Frente ao panorama, ele acredita
numa real oportunidade para as empresas repensarem suas
estratégias, oferecendo uma diversidade maior de opções para
atender ao interesse dos brasileiros de continuar estudando, por
meio de modalidades variadas e em formatos inovadores.
Fato é que a tendência veio para ficar. O Censo da
Educação a Distância, realizado pela Associação Brasileira de
Educação a Distância, em 2021, já prenunciava que para vencer
desafios da aprendizagem remota, as organizações
educacionais apostariam em novas tecnologias para manter o
estímulo e a concentração dos alunos durante as aulas. O
estudo apontou que 34% das Instituições analisadas viram um
aumento significativo no número de matrículas dos cursos
online. A verdade é que o desejo por estudar por notebooks,
smartphones ou tablets, vai além do escopo tradicional. De
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
pilates a desenho técnico, vemos plataformas nacionais e
estrangeiras de cursos online acompanhando, enquanto novos
e mais recentes arranjos organizacionais, um fenômeno que é
expansivo. Fava (2014) já dizia que a conveniência, conforto e
disponibilidade medida pelo próprio aluno, seriam questões
vitais.
Crê-se, nesse sentido, que essas características
representam hoje prerrogativas para inserção e sobrevivência
no mercado educacional. Enquanto centros educacionais e
professores tiveram que alterar conteúdos, colocá-los em
plataformas digitais, interagir de outro modo com os alunos e
reestruturar a mensalidade dos cursos que migraram para o
virtual, novas alternativas se destacam para atender a demanda
do público que requer qualificação. Basta procurar por cursos
online no próprio Google ou fazer buscas afetas ao
aprimoramento de conhecimento acerca de diferentes assuntos
para encontrar uma variedade de empresas que oferecem
cursos online e que aqui denominamos como novos arranjos
organizacionais educacionais. Udemy, Coursera, Rock
University, Ciatech, Uol Educação, Portal Educação, Kahan
Academy, Code Academy, Eduk, Prime Cursos, EAD Box,
Veduca, Udacity, Hotmart, Big Data University, Aprende Aí,
Alura, SambaTech, essas e outras aparecem como opções de
formação e/ou qualificação livre.
A verdade é que, tal qual testemunhamos, o uso de
recursos digitais e o aumento do oferecimento de aulas e
eventos online foram alguns dos maiores aprendizados que a
pandemia de Covid-19 deixou para o setor da educação. As
modalidades, outrora aqui conhecidas, online e presencial,
basicamente, foram ressignificadas pela Comunicação das
organizações quando da reverberação de suas oportunidades.
E, nesse viés, dada interconexão e convergência destacadas
anteriormente em torno da Comunicação e Educação, é
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
inevitável que, ao se ponderar o lugar da Comunicação na
(trans)formação e prenúncio dos novos arranjos organizacionais
educacionais, não se traga, justamente, a gestão da
comunicação. Porém e Kerbauy (2010) já diziam que a
comunicação organizacional vinha ganhando espaço neste
segmento a partir de sua função estratégica e integrada. A
percepção faz sentido sobretudo ao rememorarmos Kunsch
(2003) que situa a comunicação organizacional como uma
ferramenta estratégica que pode ser utilizada como elemento de
diferencial competitivo por parte das empresas.
Levando em conta que inúmeras universidades, incluindo
algumas renomadas, como Harvard, Oxford, MIT e por aí vai,
oferecem cursos online, incontáveis gratuitos, a comunicação
das organizações educacionais, tradicionais ou não, têm lugar e
papel vital. Não é toa, mas estratégico que tenhamos visto
seminários, palestras, conferências e debates ocuparem
plataformas de vídeo como o YouTube nas mais variadas
organizações permitindo que estudantes de qualquer lugar
interagissem com professores, especialistas e pesquisadores,
também de qualquer lugar.
O trabalho Educação em um cenário de plataformização
e de economia dos dados: problemas e conceitos, de 2022,
coloca, direta ou indiretamente, nesse contexto, a comunicação
enquanto mola propulsora do lugar vigente de todo esse cenário:
o de plataformização da educação. Conforme o Núcleo de
Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.BR), a
comunicação organizacional mais especificamente, interpretase, pressupõe a não ingenuidade. A plataformização
educacional, segundo o Núcleo, não seria uma simples
transposição digitalizada, mas um fenômeno comunicacional
das instituições que foram construídas historicamente e
amadurecidas até o século XX e mais: que sim, segundo o
estudo, representam “uma reinvenção acelerada de relações
197
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
sociais que, agora, acontecem em um novo plano, com
características técnicas específicas e povoado por alguns
velhos, mas certamente com novos atores, muitas vezes de
poder desproporcional na disputa” (NIC.BR, 2022, p.6).
Evangelista (2022), no trabalho, coloca sua visão em
torno das organizações educacionais: “Um espaço em que não
apenas se aprende e se reflete, mas em que se estabelece uma
vivência formativa”. Para ele, daí advém a modificação da
modernidade: “se a escola é forçada a funcionar no todo ou em
parte como parte de uma plataforma na internet, como serão os
impactos dessa mudança na escola como a conhecemos há
décadas?” O panorama, como já colocava Gabriel (2013), se
trata, também, do ponto de vista empresarial e, por conseguinte,
do incremento do lucro organizacional, da ampliação do cenário
de comunicação, interação e aprendizagem. Fato é que o grau
de complexidade aumentou e segue a aumentar no contexto
comunicacional dada a convergência midiática, e isso requer,
gradativa e constantemente, um aprofundamento cada vez
maior por parte das pessoas que atuam nesse contexto. É por
isso que a comunicação de organizações educacionais implica,
também, a análise dos impactos das tecnologias na educação,
essencial para que ela possa acompanhar as necessidades
educacionais emergentes para evoluir para um modelo de
educação adequada ao mundo digital (GABRIEL, 2013, p. X).
Como elucida o trabalho Educação em um cenário de
plataformização e de economia dos dados: problemas e
conceitos, aqui já referenciado, o fenômeno é multidimensional
e interpretá-lo depende de vários campos do conhecimento. O
trabalho, nesse panorama, reflete que plataformizar a educação,
portanto, não é apenas e simplesmente fazer uso de plataformas
virtuais para prestar serviços educacionais. É adentrar em um
universo (relativamente) recente.
198
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Kenski (2012) tem uma apreciação que reforça esse
contexto e sua relevância:
As tecnologias invadem as nossas vidas, ampliam a nossa
memória, garantem novas possibilidades de bem-estar e
fragilizam as capacidades naturais do ser humano. Somos muito
diferentes dos nossos antepassados e nos acostumamos com
alguns confortos tecnológicos que nem podemos imaginar viver
sem (KENSKI, 2012, p. 19).
Toda essa condição denota uma postura organizacional
ainda não pensada para comportar a velocidade da realidade
vigente. Trazendo novamente Kenski (2013), todo esse
resumido apurado aqui ilustrado reafirma que os dilemas e
desafios impostos hoje não são novidades. Aliás, são amplos,
mas não novos. A demanda que aproxima ainda mais a
Comunicação da Educação e pelo tempo que ela impõe é
refletida nos educadores e educandos, em seus compromissos
como pessoas, como acadêmicos e como profissionais. Prover
e promover conhecimento e estimular a construção de massa
crítica a todos, ao mesmo tempo, de todas as formas, era
necessidade criada, e hoje é demanda, há tempos, anunciada.
Giardelli (2012), nesse contexto de aceleração constante,
por exemplo, disse que atualmente “a grande revolução é falar
com milhões de pessoas e cada uma ter a sensação de ser
única”. No entanto, não é só isso. Carvalho (2016) destacou que
as empresas terão que entender como seus consumidores se
sentem e qual a relevância dos negócios na vida de seus
clientes, condição aplicável ao cenário educacional. Urge a
necessidade de humanizar as marcas, a autora revela.
As empresas querem, para isso, também de acordo com
Carvalho (2016), criar produtos que gerem experiências únicas
na vida de seus clientes. Na Educação, das organizações
tradicionais às mais inovadoras, não é diferente. Precisa-se ir
199
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
além da medição do impacto das campanhas publicitárias, sob
pena de se ignorar o imensurável. É por isso que o papel da
Comunicação, no cenário vigente, é focado não só na captação,
mas na fidelização discente. E isso, talvez, só seja possível se o
lugar da comunicação também ocupar a intrínseca missão
organizacional de educar para pensar. Já diziam Pereira e Fossá
(2021):
se educado para pensar, no modelo da autonomia, o indivíduo
reconhece o seu lugar no processo comunicativo como produtor
e receptor da mensagem, já que, ao mesmo tempo que se abre
para múltiplas fontes de informação, também entende que é de
sua responsabilidade refletir e construir um pensamento próprio
(PEREIRA E FOSSÁ, 2021, p.41).
Ou seja, é uma questão de filosofia que pode ser
ancorada pela comunicação organizacional das organizações
educacionais. Kunsch (2003), que já a trazia como fenômeno
inerente aos agrupamentos de pessoas que integram uma
organização ou a ela se ligam é preciso para tanto. Para ela, a
comunicação
organizacional
configura
as
diferentes
modalidades comunicacionais que permeiam sua atividade. Fato
é que as modalidades de educação, como a educação
presencial, híbrida e virtual, oferecem diferentes oportunidades
e desafios para as organizações educacionais formais ou não.
E, cada modalidade, se correlacionarmos com o pensamento de
Kunsch, requer abordagens de comunicação específicas para
atingir seu público de maneira adequada. Por exemplo, a
educação presencial pode se beneficiar de estratégias de
comunicação que enfatizam a experiência pessoal e o ambiente
físico, enquanto a educação virtual demanda estratégias que
transmitam a qualidade e a interatividade dos cursos online.
A convergência entre comunicação e educação, com
isso, nos leva à importância da comunicação efetiva para a
200
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
entrega de conteúdo educacional. A comunicação bemsucedida, afinal, facilita a compreensão dos objetivos
educacionais, envolve os estudantes de forma significativa e cria
uma conexão entre a instituição e seus alunos. Se, há longa
data, Kunsch enfatiza a necessidade de uma abordagem
sinérgica na comunicação, onde todas as atividades de
comunicação sejam integradas e coordenadas para transmitir
uma mensagem coerente e fortalecer a identidade da
organização, tomar esses preceitos para as organizações
educacionais e sobretudo, para ditar o ritmo dos novos arranjos
parece ser claro enquanto abordagem essencial, desde a
construção de uma reputação sólida ao, principalmente,
estabelecimento de um posicionamento diferenciado no
mercado.
O composto da comunicação integrada, ainda lançando
mão de Kusch (2003), pode, nesse sentido, ainda fornecer um
framework estratégico para a gestão da comunicação. Sabemos
que ela busca alinhar todas as atividades de comunicação, tanto
internas quanto externas, em consonância com os objetivos e
valores da organização. Por meio disso, as organizações
educacionais podem garantir que sua comunicação seja
consistente, transparente e eficaz, fortalecendo sua imagem
institucional e atraindo estudantes em potencial.
No caso dos novos arranjos organizacionais
educacionais, como as citadas plataformas de cursos online,
para essas organizações conquistarem seu espaço no mercado,
é fundamental que elas adotem uma abordagem de
comunicação organizacional sinérgica. E, essa, por sua vez, nas
plataformas de cursos online, implica em transmitir uma imagem
coerente, tanto em termos de qualidade educacional quanto de
experiência do estudante. Isso envolve o alinhamento da
identidade da organização, design e conteúdo dos cursos,
estratégias de marketing e atendimento ao cliente.
201
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Ao adotar essa abordagem, as organizações
educacionais online podem construir confiança, aumentar sua
visibilidade e atrair estudantes em busca de uma educação
flexível e de qualidade. Isso vai, por conseguinte, perpassar por
todas as instâncias do composto. A comunicação institucional
vai se concentrar em construir e fortalecer a imagem e a
reputação da organização educacional como um todo. E, para
garantir a competitividade, vai ser essencial que a comunicação
institucional transmita a identidade e os valores da organização
de forma consistente e autêntica, seja pela identidade
institucional, relações públicas ou gestão de crises.
A comunicação mercadológica vai atrair e reter
estudantes, conquistando sua preferência e lealdade em um
mercado
altamente
competitivo,
como
foi
possível
pronunciarmos. E, para garantir a competitividade, vai ser
necessário
desenvolver
estratégias
de
comunicação
mercadológica eficazes, incluindo estratégias de marketing,
marketing digital e gestão de relacionamento com o cliente, por
exemplo.
Já a comunicação interna vai desempenhar um papel
fundamental no sucesso das organizações educacionais, pois
afetará diretamente a motivação e o engajamento dos
colaboradores, que são peças-chave para a prestação de um
serviço educacional de qualidade. E, para garantir a
competitividade, vai ser necessário priorizar a comunicação
interna
eficaz,
incluindo
comunicação
transparente,
engajamento e desenvolvimento dos colaboradores, a exemplo
de professores e formadores.
Ou seja, é latente que a Comunicação Organizacional se
desvela fundamental dos pregressos aos vigentes contextos, o
alinhamento de docentes, alunos e organizações perpassa pela
comunicação,
processual,
fenomenológica
e/ou
sistematicamente falando numa direção sinérgica. A
202
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Comunicação, levada em conta a demanda da sociedade é,
afinal, fator primordial para o desenvolvimento e aprimoramento
de quem por meio dela usufrui da educação.
Considerações Finais
O presente artigo - e suas digressões - se predispôs a
responder “em que medida a Comunicação dita novos arranjos
organizacionais educacionais?”. Ao discorrer sobre as
modalidades
educacionais
mais
(re)conhecidas,
as
demarcando, brevemente, perante o tempo e aparentes
demandas da sociedade; bem como, ao refletir sobre as
relações entre a comunicação e educação e; ao concatenar,
processual, fenômeno ou sistematicamente, a Comunicação à
(r)evolução em contextos educacionais, se percebe que ao
compreender que a comunicação das organizações
educacionais, formais ou não, se alinhada aos seus objetivos
estratégicos e táticos, missão, visão e valores e, ainda, vinculada
ao público-alvo, é possível considerá-la vital para a obtenção de
melhorias que poderão ser instituídas em seus serviços.
Das pistas de uma interconexão indissociável entre a
Comunicação e a Educação, ficou claro que hoje não existe
educação sem tecnologia e, por conseguinte, comunicação sem
a mesma. Professores, alunos e organizações educacionais
viveram, recentemente, a já citada aceleração digital e,
concomitantemente, o escancarar de seus limites, dada a
pandemia causada pela Covid-19. Mas, oportuna ou não, a
transformação digital em instituições de ensino tornou-se tornou
algo obrigatório e urgente. O setor educacional, assim como
outros segmentos e organizações, não pode ficar parado e,
nesse contexto, o lugar e papel da comunicação remonta uma
atuação sinérgica, como se desvela a Comunicação
Organizacional.
203
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Fato é que à medida que as modalidades de educação
continuam a se diversificar e as organizações educacionais
enfrentam um mercado altamente competitivo, a comunicação
organizacional sinérgica se torna um elemento indispensável,
podendo não só ditar seu ritmo, mas estabelecimento e
permanência no mercado. Ao integrar efetivamente as
instâncias de comunicação - institucional, mercadológica e
interna - as organizações educacionais, crê-se, podem garantir
sua competitividade no mercado, fortalecendo sua reputação,
atraindo estudantes em potencial e mantendo a satisfação e
motivação dos colaboradores.
Se a sinergia entre esses componentes da comunicação
é sabidamente fundamental para o sucesso a longo prazo de
organizações, para novos arranjos educacionais, dado um
notável ambiente em constante evolução, também tem-se uma
vertente de essencialidade. Ao adotar uma abordagem
estratégica de comunicação, organizações educacionais - e
novos arranjos - podem transmitir uma mensagem coerente,
fortalecer sua identidade e se destacar no mercado. A sinergia
na comunicação é, por conseguinte, fundamental para
conquistar a confiança dos estudantes e estabelecer uma
posição sólida como fornecedora de educação de qualidade.
Condições técnicas e estruturais, sem dúvidas, poderão ser
limitantes ou potencializadoras, mas é a multiface da
Comunicação que vai assegurar a contínua demanda por
inovação e permanência em cenários de competitividade que
serão sempre novos. Novos arranjos provêm, afinal, de
melhores práticas.
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207
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
TRAJETO 4-5-8: jornada compreensiva do
conceito de Relações Públicas Plenas – ou
de Comunicação Funcional – baseada na
formação única do bacharelado em
Relações Públicas no Brasil
ROUTE 4-5-8: Comprehensive journey of the concept
of Comprehensive Public Relations – or Functional
Communication – based on the unique education of
the bachelor's degree in Public Relations in Brazil
Manoel Marcondes Machado Neto
Resumo: Neste texto vimos difundir, em primeira-mão, a jornada que hoje
denominamos “Trajeto 4-5-8”, fruto de uma década (2012-2021) de
investigação conceitual iniciada ainda antes, em 2010, na
Comissão Acadêmico-Científica do Conselho de Profissionais de
Relações Públicas da 1a. Região (marco 4), depois certificada em
Grupo de Pesquisa CNPq, em 2016, pela Faculdade de
Administração e Finanças da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ), vis-à-vis observação sistemática das práticas
comunicacionais de mercado, fundamentadas em quatro
pesquisas distintas, duas qualitativas e duas quantitativas, três
defesas perante bancas examinadoras transdisciplinares e três
aplicações do construto teórico em organizações reais do mercado
- no primeiro, segundo e terceiro setores -, tocadas pela Sociedade
Educativa Observatório da Comunicação Institucional (O.C.I.),
parceira formal da UERJ que atuou como incubadora do projeto de
pesquisa e desenvolvimento da inovação intitulada Auditoria
Funcional da Comunicação Organizacional para aferição do Índice
de Transparência Ativa (marco 5). Ao final, apresenta-se um
conceito-composto de “Comunicação Funcional” - aquela que se
adapta funcionalmente à organização a que serve - ou, como
denominamos também, de “Relações Públicas Plenas”, Full PR em
tradução livre (marco 8), numa visão “720 graus”, que funde uma
208
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
visão 360 graus da Comunicação a um universo 360 graus da
Administração.
Palavras-chave: Relações Públicas Plenas. Comunicação Funcional.
Governança
Corporativa.
Auditoria
Funcional
da
Comunicação
Organizacional. Índice de Transparência Ativa.
Abstract: In this text, we have the first-hand disclosure of the journey that
now we call “Path 4-5-8”, the result of a decade (2012-2021) of
conceptual research initiated even earlier, in 2010, in the scientific
work group of the Conselho of Public Relations Professionals - 1st.
Region (marker 4), later certified by CNPq Research Group, in
2016, by the Faculty of Administration and Finance of the State
University of Rio de Janeiro (UERJ), in relation to the systematic
observation of market communication practices, based on four
surveys, two qualitative and two other quantitative, three
presentations to transdisciplinary boards, and three applications of
the theoretical construct in real market organizations - in the first,
second and third sectors -, carried out by Sociedade Educativa
Observatório da Comunicação Institucional (O.C.I.), a UERJ formal
partner that acted as an incubator for the innovation research and
development project entitled "Functional Audit of Organizational
Communication to evaluate the Active Transparency Index"
(marker 5). At the end, a concept of "Functional Communication" is
presented - that which adapts functionally to the organization it
serves - or, as we also call it, "Full Public Relations", Full PR in free
translation (marker 8), in a vision of “720 degrees”, which mixes 360
degrees of Communication with 360 degrees of Management.
Keywords: Full Public Relations. Functional Communication. Corporate
Governance. Functional Audit Of Organizational Communication. Active
Transparency Index.
Apresentação
“Caminhante, não há caminho, se faz o caminho ao caminhar”.
Antônio Machado, poeta espanhol (1875-1939).
Estritamente no propósito explícito da presente obra –
dialogar sobre contextos emergentes –, neste capítulo vimos
209
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
difundir, em primeira-mão, a jornada que denominamos “Trajeto
4-5-8”, título que se explicará ao longo do texto, fruto de pouco
mais de uma década (2012-2021) de investigação conceitual
acadêmica (via Universidade do Estado do Rio de Janeiro) visà-vis observação sistemática das práticas gerenciais de
mercado (via Observatório da Comunicação Institucional) no
campo da comunicação organizacional.
Apresentamos ao final um conceito-composto de
“Comunicação Funcional” (como aquela que se adapta
funcionalmente à organização a que serve) ou, como antes
também denominamos, “Relações Públicas Plenas” (Full PR).
Introduzimos um novo indicador estatístico para a avaliação do
nível de transparência organizacional – uma exigência da
governança corporativa –, o “Índice de Transparência Ativa”
(aplicativo, o Sistema 5R-INDEX), e, finalmente, propomos uma
Norma Técnica para melhores práticas de comunicação
organizacional (o que resultou em um “Manual de Compliance
para a Comunicação Corporativa”).
Contexto
Thomas Jefferson, terceiro presidente dos Estados
Unidos da América, cunha – em 1807 – a expressão “public
relations”, denotando a ideia de “satisfações públicas” que os
governos deveriam aos governados. (A ideia de satisfações
públicas – accountability –, aliás, está expressa em um dos
projetos fundadores do Observatório da Comunicação
Institucional1, entidade que sediou grande parte dos esforços
aqui relatados).
No mundo do trabalho – como explica Marcelo Ficher
(UFF, 2006) em sua dissertação de mestrado – a forte expressão
adquiriu um outro significado, adotado internacionalmente até
210
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
hoje, o pacificado conceito de “relacionamento com a mídia”
(media relations).
Porém, diferentemente no Brasil, onde a fundação da
formação superior em Relações Públicas data de 1966/1967, na
USP e na UFRJ2, o bacharelado em Relações Públicas abrange
uma miríade de atividades – o que aparece expresso nas grades
curriculares e até inspirou uma Resolução Normativa (Número
43, de 24/08/2002)3 do Sistema Conferp-Conrerp – para muito
além das relações com a imprensa ou a gestão de crises de
imagem pública.
Tal realidade de formação típica e única, brasileira, é a
base do trajeto descrito neste texto.
Aqui, toma-se como base o expresso nas Diretrizes
Curriculares Nacionais4 do bacharelado em Relações Públicas,
exaradas em 27/09/2013, em vigor dois anos depois, em 2015:
Resolução CNE/CES nº 2, de 27 de setembro de 2013.
Introdução
Interessados em levantar a presença da ideia de relações
públicas no imaginário de jovens trabalhadores, conduzimos um
levantamento junto a profissionais em níveis operacional, de
supervisão e de gerência, nos estados de São Paulo, Rio de
Janeiro e Minas Gerais, num total de 100 entrevistados, nos
anos de 2010, 2011 e 2012.
Os achados da pesquisa (Apêndice 1)5 permitiram a
formulação de um novo construto didático-pedagógico, o
composto de “4 Rs” das Relações Públicas Plenas, a seguir:
211
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Imagem 1 – 4 Rs das Relações Públicas Plenas
Fonte: elaborado pelo autor
Os achados da pesquisa demostraram que os
entrevistados lidam com questões de relações públicas mesmo
não conhecendo as características acadêmicas da área,
atribuem importância às suas práticas no campo dos negócios,
e, ainda, relacionam-nas a quatro demandas muito patentes:
reconhecimento, relacionamento, relevância e reputação
(termos estes oriundos dos próprios achados da pesquisa).
O levantamento foi feito em quatro cidades (São Paulo,
Rio de Janeiro, Juiz de Fora e Macaé), por três pesquisadores,
os quais utilizaram formulários-padrão e abordagem pessoal. Os
ambientes eram universitários, em Instituições de Ensino
Superior – que não ofereciam o curso de Relações Públicas, de
graduação ou pós-graduação –, no âmbito dos cursos de
Administração, Comunicação e Marketing, e os pesquisadores
só iniciavam a entrevista quando a pessoa abordada
212
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
(aleatoriamente) declarava já estar no mercado de trabalho, em
organização pública, privada ou do terceiro setor. Aqueles
abordados que não correspondiam ao perfil definido
previamente – apenas estudando ou estagiando –, eram
dispensados. Não foi dada qualquer sugestão aos entrevistados,
os quais percorriam oito questões de múltipla e livre escolha. Ao
final, duas questões abertas concluíam a entrevista.
Imagem 2 - Representação gráfica do composto de “4 Rs”
completa, com duas estratégias e quatro táticas para cada uma
das quatro instâncias/demandas e a transparência – já como
um alvo, meta – ao centro
Fonte: elaborado pelo autor
213
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Avançando no percurso
Sempre na UERJ, o percurso subordinou-se a um Grupo
de Pesquisa CNPq certificado pelo Universidade “Transparência
Ativa: construção de um novo conceito e de uma lógica
transdisciplinar para a governança”, coordenado pelo autor no
âmbito da Faculdade de Administração e Finanças. Tal Grupo
de Pesquisa contou – como se verá a seguir – com uma
composição transdisciplinar de perfis, exigência que um objeto
como transparência organizacional, em nosso entendimento,
exige.
Já na Sociedade Educativa Observatório da
Comunicação Institucional, parceiro formal da UERJ, que
funcionou como uma incubadora do projeto de pesquisa e
desenvolvimento da inovação, foram conduzidas as incursões
necessárias à fase de defesa do construto teórico (três eventos
bem documentados) bem como de testagem do mesmo na
prática, no âmbito de organizações reais de mercado (três
auditorias idem bem documentadas).
Tal rito científico foi prescrito pela Profa. Rosangela
Aparecida Gomes Martins, mestre em Estatística da UFRJ
(registro no CONRE número 7156, série A), que, ao final, em
28/12/2017, avalizou o processo como estatística-responsável –
algo imprescindível quando se cria um novo indicador numérico,
como é o caso do 5R-INDEX.
Processo de pesquisa e desenvolvimento da inovação - as
três defesas do construto teórico
Primeira defesa pública: banca examinadora realizada
em São Paulo/SP (23/05/2017). Membros:
214
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
•
•
•
Caio César Carvalho Lima, advogado, mestre em
Direito Processual Civil pela PUC-SP;
Nelly de Camargo, psicopedagoga, pós-doutora em
Cultura, professora emérita da USP;
Ronaldo J. Rotter, administrador pela EAESP-FGV,
contador pela Faculdade de Ciências Administrativas
e Contábeis Paulo Eiró, ex-auditor na Price
Waterhouse e Banco Mundial.
Segunda defesa pública: banca examinadora realizada
em Caxias do Sul/RS (24/07/2017). Membros:
•
•
•
•
•
•
Christiane Martinatti Maia, mestre em Educação,
coordenadora pedagógica de Educação a Distância
do Uniftec;
Debora Frizzo, doutora em Psicologia do
Desenvolvimento, pró-reitora do Centro Universitário
Uniftec;
Emerson Luis de Vargas, mestre em Desenvolvimento
Regional pela UNISC, coordenador do curso de
Marketing do Uniftec ;
Francisco Ailton dos Santos, coordenador dos cursos
de Design do Uniftec;
Juliano Uecker de Lima, mestre em Administração;
Neiva Larisane Kuyven, mestre em Ciências da
Computação, coordenadora do curso de Engenharia
da Computação e Análise e Desenvolvimento de
Sistemas do Uniftec.
Terceira defesa pública: banca examinadora realizada em
Belo Horizonte/MG (31/08/2017). Membros:
215
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
•
•
•
•
•
Aléssia Franco, relações-públicas pela UFMG, mestre
em Administração, doutora em Administração pela
PUC-MG;
Angelina Gonçalves de Faria Pereira, mestre em
Comunicação Social pela PUC-MG, especialista em
políticas públicas e gestão governamental;
Fábia Pereira Lima, relações-públicas pela PUC-MG,
doutora em Ciências da Comunicação (USP);
Jeanne Torres, relações-públicas, especialista em
gestão estratégica de negócios pela UNA;
Mivla Helena Vilela Rios, mestre em Comunicação
pela PUC-MG.
Nas três defesas, o construto teórico foi aprovado.
Apenas na terceira delas, uma única ressalva levantada dizia
respeito à necessidade de comprovação da tese também na
prática, o que foi feito no tempo na fase seguinte, em campo
(vide casos descritos a seguir), com êxito.
216
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
O construto teórico
Imagem 3 – Índice de transparência ativa
Fonte: elaborado pelo autor
Os “5 Rs” são: Reconhecimento, Relacionamento,
Relevância, Reputação e Resiliência; instâncias/demandas de
toda e qualquer organização.
Processo de pesquisa e desenvolvimento da inovação organizações e gestores que acolheram projetos-piloto
Primeira aplicação prática (empresa privada):
1º Setor (Público) - Câmara Municipal de Caxias do Sul
(Felipe João Gremelmaier / Vania Marta Espeiorin)
Segunda aplicação prática (ente público)
217
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
2º Setor (Privado) - Tondo S/A – Orquídea (João Luiz
Roth / Vanessa Sousa)
Terceira aplicação prática (organização sindical)
3º. Setor (ONGs) - SindiGás (Sérgio Bandeira de Mello /
Cristiane Freitas) e Abicom (Sérgio Araujo / Milena
Mansur)
O esforço iniciado em 25/07/2016 e finalizado em
02/12/2021 culminou com o lançamento da inovação, o “Sistema
5R-INDEX” de aferição da transparência ativa6 por meio de um
processo original de auditoria funcional da comunicação
organizacional (AFCO), composto de aplicativo (www.5RINDEX.com) e um Manual de Compliance para a Comunicação
Corporativa.
Tais produtos retratam o intermédio do percurso
intelectual do trajeto 4-5-8 e não a sua culminância, processo
iniciado em 2012 com a publicação do ensaio “A transparência
é a alma do negócio – o que o composto de “4 Rs” das Relações
Públicas Plenas pode fazer por sua organização”, publicado pela
Ciência Moderna7:
218
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Imagem 4 – Capa do Livro 4 Rs das Relações Públicas
Fonte: editora Ciência Moderna
O percurso, em seu momento intermediário, corresponde
ao lançamento deste livro (2016) e à propositura de uma quinta
instância demanda, a da Resiliência, perfazendo o novo
composto de “5 Rs”, apresentado publicamente em “Live”8
aberta no dia 02 dezembro – Dia Nacional das Relações
Públicas –, com a presença de quatro especialistas arguidoras,
a saber: a administradora e contadora Marcela Argollo (SP), a
jornalista e consultora Rosângela Villa-Real (Brasília), a
contabilista e cientista da informação Daniele Dantas (RJ) e a
publicitária e mercadóloga Paula Ribeiro (Lisboa).
Tais construtos (4 Rs e 5 Rs) fundamentaram-se, ao
longo do processo, em três iniciativas de pesquisa:
•
Apêndice 1: Pesquisa quantitativa entre profissionais
de média gerência sobre os temas prementes no trato
219
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
•
•
•
da comunicação organizacional em suas rotinas reais
de trabalho, realizada em 2009/2010/2011 no âmbito
do alunado da Faculdade Salesiana de Macaé, estado
Rio de Janeiro. (Obs.: A cidade fluminense, ao lado de
Campos, sedia, desde os anos 1980, um “boom” de
empresas (e cargos) relacionados à indústria de Óleo
e Gás);
Pesquisa qualitativa entre os membros da Comissão
Acadêmico-Científica do Conrerp1 (gestão 20102011-2012), visando oferecer ao MEC uma
contribuição ao processo de elaboração de novas
diretrizes curriculares nacionais para o bacharelado
em Relações Públicas. (Obs.: dos 14 membros
daquela gestão, 8 conselheiros eram também
professores de RP).
Apêndice 2: Pesquisa quantitativa junto a 100 fontes
primárias – gestores – sobre transparência.
Apêndice 3: Pesquisa qualitativa junto a 70
profissionais de reconhecida trajetória acadêmica ou
profissional em seus campos de ação, os quais
contribuíram com suas diferentes visões para a
construção de um conceito transdisciplinar sobre
transparência.
Detalhando o pioneiro composto de “4Rs”
1º. R - Estratégias para Reconhecimento: Arte Narrativa e
Presença Competente na Internet
Quando uma organização adentra um mercado, busca
estabelecer-se distintamente antes de crescer e conquistar seus
clientes. O reconhecimento é fundamental para uma empresa,
ente público ou ONG, pois será assim que fará com que os seus
clientes a identifiquem e a distingam perante outras marcas,
fazendo com que possa desenvolver-se “com personalidade
jurídica própria”:
220
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
O reconhecimento é a propriedade de um ente (indivíduo, causa,
marca, movimento ou organização) ser identificado por seus
públicos de interesse, ditos stakeholders, como distinto e único
(unique corporate identification – um conceito da área de
Marketing), e ser assim reconhecido pelo conjunto maior desses
públicos: a sociedade (MACHADO NETO, 2015, p. 52).
Quando se trata de reconhecimento, são requisitadas –
como estratégias – um uso intensivo da arte narrativa somada a
uma presença competente na internet, que seria,
respectivamente, (1) a empresa ou marca transmitir uma
mensagem simples, distinta e coerente, e (2) fazer-se – bem –
presente no âmbito digital.
Destaca-se que, em pleno terceiro milênio, “não é mais
possível improvisar, ter um ‘sitezinho’, um ‘blogzinho’, um
‘youtubinho’, desenvolvidos por um amador amigo ‘muito
criativo’.” (2015, p. 49). É absolutamente necessário adaptar-se
de acordo com a atualidade, agir de modo simples e profissional,
transmitindo a mensagem de modo efetivo e de acordo com o
planejado, fazendo utilização de veículos adequados.
Considere, pois, a sua presença – ou de seu negócio –
na internet como uma das importantes vias para a tão demanda
transparência, resultado do composto dos “4 Rs das Relações
Públicas Plenas”: uma ferramenta de relacionamento (levando
em conta, também, a desejável relevância) (MACHADO NETO,
2015, p. 49).
Junto a essas duas estratégias, o “R” de
“Reconhecimento” possui como táticas: identidade corporativa,
branding, imagem de marca (gestão de imagem) e propaganda
institucional. Com tais técnicas pode-se estabelecer uma
estratégia que alcance o devido reconhecimento social.
221
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
2º. R - Estratégias para Relacionamento: Marketing Orientado
ao Público Interno e Serviço de Atendimento ao Consumidor
(usuário / cliente / contribuinte)
Um dos principais quesitos que as empresas têm que
focar é o relacionamento, tanto interno (servidores /
colaboradores / associados) quanto externo (públicos-chave ou
stakeholders).
O relacionamento interno de uma empresa é essencial,
pois se há uma relação de harmonia entre os componentes de
diversos níveis hierárquicos da organização, a probabilidade de
haver crises internas é reduzida, o que traz muitos benefícios
para o “clima” organizacional.
Com o público externo também não é diferente. Manter
um bom relacionamento com quem consome produtos ou
serviços de uma dada empresa e que reproduz sua imagem fora
de seus muros é essencial. Isto mantém a organização mais
próxima dos seus clientes ou consumidores, transmitindo
mensagens de modo simples, coerente e atendendo às suas
necessidades e/ou desejos.
Nenhuma outra área de saber especializa-se, como a de
relações públicas, no aspecto “relacional” institucional, desde o
contato efetivo da organização com seu público interno até a
comunicação com o mercado (MACHADO NETO, 2015, p. 62).
Afirma-se que “conhecer, compreender e prever o que
seus clientes querem – e vão querer no futuro – é vital [também]
para o sucesso das empresas de pequeno e médio porte” (2015,
p. 60). As empresas sempre devem atentar aos seus públicosalvo, pois é para eles que seus produtos e serviços estão
dirigidos, e são eles que darão o aval a respeito.
Para o “R” de “Relacionamento”, são definidas como
táticas a comunicação interna, o atendimento ao cliente, a
222
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
ouvidoria/ombudsperson e a mediação/negociação. Aplicam-se
essas quatro táticas com base nas duas estratégias.
O relacionamento de uma organização com seus
públicos-chave (os chamados stakeholders) é assunto
específico que demanda gestão especializada. Isto porque, não
raro, há interesses antagônicos entre dois ou mais grupos
reunidos sob a égide, ou influência, de uma mesma organização
(MACHADO NETO, 2015, p. 62).
3º. R - Estratégias para Relevância: Lobbying e Marketing
Social
A relevância de uma empresa em seu segmento/nicho de
mercado é o modo como ela é vista comercialmente perante a
concorrência. Aqui acontece a interface entre comunicação e
marketing.
No “R” de “Relevância”, o autor define como estratégias o
Lobbying e o Marketing Social. Essas estratégias têm atuação
no âmbito externo da empresa, o que contribuirá em seu
posicionamento mercadológico.
O lobbying seria a estratégia responsável pela função de
relações “políticas” da empresa, na qual se defenderiam as
teses, produtos e serviços da mesma, fazendo com que haja a
persuasão de formadores de opinião, legisladores e outros
segmentos específicos de público na defesa de determinadas
causas de seu interesse. Já o marketing social seria
basicamente a atuação mercadológica com foco social,
deixando um pouco a venda de produtos/serviços de lado e
focando no conceito “pessoal”, intangível, buscando fazer o
bem, ajudar e mudar as pessoas, através de campanhas que
possam agradar a comunidade em que o negócio está inserido,
sem foco direto na comercialização e no lucro.
223
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Junto a essas duas estratégias, colocam-se quatro
táticas: pesquisa de opinião, patrocínios (cultural, esportivo etc.),
eventos (próprios ou de terceiros) e o uso do “merchandising
social”. Tais técnicas auxiliam na obtenção de relevância da
organização no seu segmento de mercado (e no imaginário
público), diante da concorrência.
Uma vez obtida, relevância será algo que se manterá
com, além de atitudes, relações públicas cuidadosamente
planejadas. Destacar-se na paisagem, tornar-se diferente,
distinto, acima da concorrência, exigirá esforços consideráveis e
permanentes (MACHADO NETO, 2015, p. 77).
4º. R - Estratégias para Reputação: Accountability e Memória
de Empresa
Podemos dizer que reputação é o principal foco das
relações públicas, pois se deve cultivar, construir –
permanentemente – uma boa reputação para que a marca ou
instituição (ou pessoa pública) seja conhecida e se mantenha
firme no mercado. Afirma-se que “construir uma reputação é algo
que advirá de uma sucessão continuada de atitudes, decisões,
comunicações com o público e apoio a projetos de terceiros”
(2015, p. 87).
A reputação de alguém, indivíduo ou organização, é algo
que, de certa forma, tende a fugir de planos e programas ligados
a comunicação e marketing. Afinal, a reputação existe como uma
imagem consolidada que se forma na mente e se projeta na
palavra de quem olha para a organização, percebendo-a. Isto,
independente dos esforços de marketing e de relações públicas
postos em marcha. (MACHADO NETO, 2015, p. 87)
Quando se trata de reputação, logo vem à mente alguma
característica principal de uma marca ou empresa. A reputação
é como construímos a imagem (na mente do público) da
224
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
organização ao longo do tempo. E tal construção advém de reais
atitudes e comportamentos quotidianos das organizações, dia
após dia, ano após ano.
Nos dias de hoje podemos observar muitas empresas que
passam por problemas de imagem pública, problemas esses que
são causados por erros de comunicação entre empresa e
clientes, produtos que não atendem efetivamente as
necessidades do público, e até mesmo problemas internos que
“vazam” para o exterior da organização. Tais fatos contribuem
para que a reputação de uma empresa seja afetada – e mudada
do dia para noite – devido ao fato de que atualmente as
informações são compartilhadas de maneira muito rápida entre
as pessoas, o que pode ocasionar crises fatais de imagem
pública.
A partir do resgate de fatos históricos relevantes, a
organização amplia sua capacidade de informar os públicos e de
transmitir-lhes mensagens de cunho emocional a fim de
conquistá-los. Com isso valoriza a sua identidade e consolida
positivamente imagem e reputação. É sob essa perspectiva que
entendemos a relação entre projetos de memória e comunicação
organizacional (MACHADO NETO, 2015, p. 86).
Para que a reputação de uma empresa continue intacta,
ela deve ser transparente e responsável para com o seu públicoalvo. Para tanto, o “R” de “Reputação” elenca como táticas:
estudo dos públicos, comunicação institucional, a divulgação e a
gestão de crises de imagem pública.
A evolução do composto de “4 Rs” como base conceitual
para o indicador de transparência ativa “5R-INDEX”
No ano de 2015, o professor Manoel Marcondes Machado
Neto, lançou – pela Conceito Editorial – um livro intitulado “4 Rs
das Relações Públicas Plenas: proposta conceitual e prática
225
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
para a transparência dos negócios”, com o objetivo de mostrar
um novo modelo didático-compreensivo para as Relações
Públicas – ditas pelo autor como “Plenas” Tal modelo seria
representado por 4 instâncias (ou demandas de toda e qualquer
organização – e mesmo de pessoas públicas) que denominou
“composto de 4 Rs”.
No ano seguinte, 2016, o autor lançou o mesmo livro em
inglês, pela Editor A, sob o título “The business of transparency”,
na tentativa de explicar como e porque relações públicas no
Brasil diferem-se tanto do conceito consagrado nos países
anglo-saxões – media relations.
O objetivo principal da criação do novo mnemônico foi o
de “atender a um reclamo da própria área, que sempre se
acusou, internamente, de mal explicada e mal compreendida” –
como explanou um relações-públicas consagrado, Nemércio
Nogueira, em entrevista concedida ao autor9.
Optou, assim, por elencar 4 demandas bem conhecidas
do mercado (reconhecimento em seu meio social,
relacionamento
com
públicos-chave,
relevância
no
segmento/nicho de mercado, e reputação administrada),
trazendo uma nova visão – dita “plena” – dos benefícios
estratégicos potenciais das relações públicas à governança
corporativa ou institucional de personalidade pública: a partir dos
“4 Ps do marketing”, mnemônico proposto por Neil Borden
(Produto-Preço-Praça-Promoção) e amplamente difundido por
Jerome McCarthy (1960), sugere-se um análogo “4 Rs das
Relações Públicas Plenas”, sem pretender modelar – totalizar –
mas, sim identificar referências do campo teórico-prático das
Relações Públicas (MACHADO NETO, 2015, p. 39).
Em 2016, com o lançamento da versão em inglês do
composto de 4 Rs, “The business of transparency”, com o
conceito de Relações Públicas Plenas traduzido pela expressão
226
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
“Full PR”, o percurso chega a um quinto elemento (instânciademanda); a Resiliência. Como?
Acréscimo do 5o. R
O autor usou as suas redes sociais (30.000 contatos no
LinkedIn, 12.000 contatos no Facebook e 2.000 contatos no
Twitter) para indagar “levando em consideração o que já tempo
no composto de 4 Rs, qual demanda organizacional
caracterizaria um quinto R”, pergunta que recebeu Resiliência
como resposta majoritária. O “crédito” ficou com o primeiro
contato a mencionar o termo, como ficou registrado em Nota
publicada no portal do Observatório da Comunicação
Institucional:
Batido o martelo! O quinto "R" das "RP Plenas" é de
"Resiliência". Uma contribuição de Thiago Avi da Rosa ao
composto-proposta conceitual e prática de Manoel Marcondes
Machado Neto, cofundador e diretor-presidente deste OCI, para
a transparência nos negócios. Resiliência: capacidade de se
recobrar ou de adaptar-se às mudanças (OCI, 2015).
Resiliência
Para complementar a abordagem e o exame da
“transparência ativa”, mais uma instância foi acrescentada ao
composto de 4 Rs – a da Resiliência (o quinto R); a capacidade
que uma organização tem para adaptar-se às (hoje, cada vez
mais) constantes mudanças do seu meio ambiente.
Resiliência é a característica do que, ou de quem, se
reformula para prosseguir avançando apesar dos obstáculos.
Tal condição compõe-se das seguintes qualidades:
autocontrole, serenidade, otimismo, capacidade analítica,
empatia com o outro, autoeficácia e social network ativo.
227
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Estratégias de Resiliência
Engajamento (advocacy) e Gestão da Mudança (change
management):
•
•
Advocacy: “Vestir a camisa do time” é a expressão
típica brasileira para engajamento. E não é,
obviamente, só relacionada ao futebol. Trata-se de
“vestir a camisa” da empresa, da escola, do partido,
da causa. Aliás, causa ou propósito é o que mais move
as gentes neste terceiro milênio. E sai-se em defesa
dos animais silvestres, da floresta em pé, da
diversidade, do multiculturalismo, da cada vez maior
liberdade de expressão.
Change management: Peter Drucker ensina que “o
que nos acontece e o que fazemos hoje é fruto de
decisões que tomamos há dez anos atrás”. Ou seja, o
planejamento dito “contingencial” não é mais aquela
ferramenta de que se lança mão em períodos
turbulentos. Este tipo de planejamento é, hoje,
simplesmente, o único planejamento que “funciona”.
Há que se precaver de todas as interveniências. Em
seu mercado, em sua própria organização, em seu
país-sede, nos costumes urbanos, no meio-ambiente
etc.
Táticas de Resiliência:
•
Filosofia de governança (interna e setorial). Missão,
visão e valores têm que ser mais que quadros
pendurados nas paredes. Há que discuti-las, vivenciálas, testá-las no âmbito da organização e no de seus
relacionamentos com públicos-chave (stakeholders).
228
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
•
•
•
Princípios de conduta ética e transparência são
demandas universais que vieram para ficar. Mais:
decisões colegiadas são bem melhores que decisões
solitárias e/ou autocráticas.
Conformidade a padrões externos (compliance).
Começou com as finanças e espraiou-se para o meio
ambiente e para as fábricas (planetárias – a
globalização). Depois, a educação, a cultura e a arte
fizeram a sua parte – sempre pela via da telemática
(tecnologia que fez convergir telecomunicações e
computadores). E os costumes e os modos de ser
nunca mais seriam os mesmos. Padrões de conduta
nos negócios, pois, são cada vez mais rígidos... São
mesmo? Para quê? Para que produtos, serviços,
ideias
sejam
difundidas
cada
vez
mais
transparentemente, sem barreiras culturais e de
idioma que impeçam o livre trânsito de mercadorias,
de serviços e de informação – em todos os seus
níveis. A chamada “primavera árabe” (movimento que
de belo não tem mais qualquer coisa além do apelido)
e que nem só árabe é, exemplifica isto.
Responsiveness (capacidade de dar respostas ágeis
e focadas). A expressão “bate-pronto” não precisa ser
adotada somente no contexto beligerante. Pode – e
deve – também ser norma de comunicação na
organização.
Questões
sem
resposta
são
consideradas “pecados” no atual ambiente de
negócios.
Gestão do conhecimento (knowledge management). A
“empresa que aprende”, de repente, tornou-se o único
tipo de empresa “feita para durar”. Aprender enquanto
caminha – regra de ouro da cibernética de Norbert
Wiener – é a saída para a adaptação e o
desenvolvimento, a sobrevivência e o crescimento em
seu mercado.
229
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Este momento antecede em pouco tempo a criação (em
25/07/2016), no âmbito da Faculdade de Administração e
Finanças da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),
de um Grupo de Pesquisa credenciado pelo CNPq, coordenado
pelo autor, intitulado “Transparência Ativa: construção de um
novo conceito e de uma lógica transdisciplinar para a
governança”, com a presença de mais 20 pesquisadores numa
abordagem transversal do tema “transparência”. Assim, tem-se,
juntos, estudiosos dos campos da Administração, Ciências
Contábeis, Comunicação, Direito, Estatística, Marketing e
Recursos Humanos.
A seguir, a lista de membros do Grupo de Pesquisa
CNPq, constando nome, titulação e área do conhecimento:
•
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Adriana Lana Ramos, Dr. Administração;
Anaize Spada, Ms. Comunicação;
Caio César Carvalho Lima, Ms., Direito;
Celso Luiz Moreira Pieroni, Ms., Ciências da
Computação;
Domenico Mandarino, Esp., Economia;
Elaine Sampaio, Esp., Controladoria;
Eneida Leão Teixeira, Ms., Educação;
Gustavo Diniz Machado, Bacharel, Administração;
Luciana Braga dos Santos, Ms., Ciências
Contábeis;
Luis Roberto Monteiro da Silva, Ms., Design
Gráfico;
Luiz
Estevam
Lopes
Gonçalves,
Ms.,
Administração;
Marcelo Luiz Ficher, Ms., Educação;
Maria Inez Gatelli Perico, Ms., Educação;
Mario Marcondes Machado, Dr., Engenharia;
Nelly de Camargo, Dr., Comunicação;
Nicolau José Carvalho Maranini, Dr. Comunicação;
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
•
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•
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Renato Cesar Möller, Dr., Psicologia Social;
Ronaldo Jorge Rotter, Esp., Controladoria;
Rosangela Aparecida Gomes Martins, Ms.,
Estatística
Viviane Miranda Silva do Nascimento, Ms.,
Ciências Contábeis.
O construto teórico-prático é então posto à prova num
processo de validação de um novo indicador – uma exigência da
área da Estatística – útil a um exame visando análise de riscos
de crises de imagem pública – hoje, das centrais preocupações
da governança – pública, privada e do Terceiro Setor.
Lança-se, então, em 02 de dezembro de 2021, o “Sistema
5R-INDEX”.
Índice de transparência ativa: rito científico
Aqui, o relato do percurso em busca de uma sistemática
que atende à causa – urgentíssima – da transparência ativa.
Desenvolvemos, liderando um Grupo de Pesquisa
credenciado junto ao CNPq pela UERJ, um sistema de aferição
do nível de transparência organizacional – para além de
números e cifras –, um novo serviço (protocolo de avaliação,
métrica e indicador).
Hoje, o que as empresas e o mercado denominam
transparência fundamenta-se em leis civis locais e regulamentos
financeiros globais (IFRS). Mas isto resume-se à apresentação
de números e, no máximo, de um relatório integrado de
Administração, demonstrações contábeis-financeiras contendo
notas explicativas e parecer de auditores independentes.
231
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
A ANEFAC, aliás, promove – anualmente – a entrega do
Troféu Transparência, segundo esse critério binário: DireitoFinanças.
A opinião pública, contudo, é avessa ao jargão contábil e
à linguagem dos números, e clama – cada vez mais – por uma
transparência que, de fato, signifique:
•
•
•
Uma janela aberta para o interior das organizações,
sobretudo as públicas (disclosure);
Satisfações sobre questões que afetam a sociedade e
não só clientes/consumidores e stakeholders de praxe
(responsiveness);
Uma conduta sustentável e ética (accountability).
Para além da transparência tradicional (aquela que uma
auditoria contábil-financeira independente – em tese – atesta), é
preciso auditar – transversalmente – também as interações, as
relações, ou seja, a real funcionalidade da comunicação
organizacional, tanto interna quanto externamente.
Nossa tese é que daquele sistema binário DireitoFinanças seja derivado um trinário: Direito-FinançasComunicação.
Cinco instâncias/demandas de exame compõem o
escopo do indicador “5R-INDEX” de transparência ativa:
•
Reconhecimento no meio social, Relacionamento com
públicos-chave, Relevância no segmento de atuação,
Reputação administrada e Resiliência institucional.
Nessas 5 instâncias, uma equipe aplica a metodologia
de análise de risco de crises de imagem pública
composto por 210 quesitos, aferindo – ao final – o
Índice de Transparência Ativa 5R-INDEX, numa
escala que vai de zero e 100 pontos.
232
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Uma sociedade civil sem fins econômicos – como uma
ISO – certificaria o exame Auditoria Funcional da Comunicação
Organizacional e acredita as organizações que obtiverem um
score entre 90 e 100 pontos como Organização Transparente.
(Tal entidade poderia ser a Sociedade Educativa Observatório
da Comunicação Institucional, organização social –
independente e autônoma – já em seu décimo-primeiro ano de
atividades, incubadora do projeto de pesquisa e
desenvolvimento da inovação). Sempre que um score estiver
abaixo de 90 pontos, o exame ensejará um Relatório de
Melhorias a Implementar.
Este produto intermediário do trajeto constitui-se na
pioneira proposta de uma norma e consequente compliance
testing para a Comunicação Organizacional. A partir deste
sistema é que advêm testes de conformidade e a auditoria
funcional para a comunicação organizacional (AFCO).
Como rito científico, a professora de estatística
Rosangela Aparecida Gomes Martins (UFRJ) prescreveu a
realização três defesas do construto teórico-prático frente a
bancas examinadoras transdisciplinares, com um total de 14
membros acadêmicos, e levados a efeito três “jobs-piloto” da
Auditoria Funcional da Comunicação Organizacional – em
organizações reais: uma no setor público, outra no privado e
outra no terceiro setor, conforme documentado a seguir.
A tese, de enunciado simples – “sem comunicação não
há transparência” – fundamenta, a partir do uso do aplicativo
“Sistema 5R-INDEX” – uma análise dos riscos de crises de
imagem pública no âmbito de toda e qualquer organização.
•
Ao lado do cumprimento a leis civis e regulamentação
contábil-financeira, é preciso que as organizações se
comuniquem mais adequadamente;
233
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
•
•
•
A comunicação, em tempos de internet e redes
sociais, saiu da periferia e hoje está na centralidade
das decisões e das preocupações da governança;
As maiores crises atuais são as de imagem pública,
muitas vezes devido a causas prosaicas – uma foto do
almoxarifado sujo, um áudio do atendente mal
treinado, o vídeo de um cliente frustrado;
Só um exame como o aqui proposto pode encontrar
(para sanar) as brechas para crises de imagem
pública.
Não se quer substituir o que já há hoje em termos de
legislação civil e normatização contábil-financeira, mas agregar
uma comunicação funcional ao que há.
Um exercício de desenvolvimento de mentalidade guiou
os esforços em seguida. Após toda a testagem porque a equipe
do O.C.I. passou, as reuniões de trabalho conduziram o
raciocínio a partir de entrevistas qualitativas (mais oito),
considerando as novas exigências que surgiam no horizonte da
gestão profissional, tais como a da Responsabilidade
Socioambiental Compartilhada – objeto de tese original de cuja
aprovação o autor participou, na UFRJ –, e a das contrapartidas
comunitárias que as organizações devem oferecer à sociedade
(numa perspectiva global).
Para tal, oito entrevistas em profundidade com os
seguintes interlocutores:
1. Alvaro Magalhães, publicitário e mestre em Psicologia
Social (UGF);
2. Celso Pieroni, matemático, mestre em Engenharia de
Sistemas e Computação (UFRJ);
3. Lucia Helena Carvalho, assistente social, mestre em
Projetos Sociais (FGV);
234
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
4. Luciana Braga, contadora, mestre em Ciências
Contábeis (UERJ);
5. Luiz Estevam Lopes Gonçalves, mestre em
Administração Pública (FGV);
6. Renato Bittencourt, doutor em Filosofia, coordenador
dos cursos de Administração e Ciências Contábeis da
UFRJ;
7. Veronica Amiuna, relações-públicas, mestre em
Administração de Projetos (UERJ);
8. Viviane Miranda, contadora, mestre em Ciências
Contábeis (UERJ).
Avanço final da jornada
Após este esforço foram desenhados o sexto R, de
Responsabilidade, o sétimo R, de Retribuição, e o oitavo (e
último) R, de Reinvenção.
6º R - Responsabilidade
Estratégias
O consumidor atual mudou, adotando a prática de um
consumo consciente (inclusive o de crédito) e valorizando fair
trade, fair work. Ou seja, adotando as boas práticas
socioeconómicas.
A responsabilidade (no sentido amplo de accountability)
veio para ficar, sob a imposição da cidadania.
As empresas são, hoje, postas à prova com questões de
confiança perante os mais diversos públicos (public trust) – um
conceito importante para a cidadania americana, por exemplo.
No contexto de Responsabilidade, uma organização deve
assumir compromissos com: condutas éticas e legais; e normas
contabilístico/financeiras.
235
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Compromisso com condutas éticas e legais
Uma vertente – de duas – na esfera da responsabilidade
pública de qualquer organização (estatal, privada ou do terceiro
setor), é a submissão às leis civis e aos códigos de conduta
ética.
As leis são locais ou nacionais e as condutas éticas
derivam de códigos morais, também locais. Estes, também
podem se tornar “oficiais” quando uma profissão, por exemplo,
adota um código de conduta ética.
Sempre levando em consideração que uma determinada
regulamentação nunca se pode sobrepor a esferas superiores a
si mesma. Assim, nenhuma norma constante de um código de
ética médica, por exemplo, pode extrapolar o que está disposto
num código civil, na legislação ordinária e na própria constituição
de um país. Existem, para além disso, condutas morais que
obrigam as nações signatárias a segui-las, como são exemplo
os acordos internacionais e Declaração Universal dos Direitos
Humanos.
Compromisso com normas contabilístico/financeiras
A outra vertente é aquela que responde às finanças e ao
controle fiscal público. Qualquer organização terá de estar
submetida à legislação societária que lhe é imposta de acordo
com a sua sede. Desde negócios individuais de pequena
dimensão até aos conglomerados transnacionais, todos os entes
organizacionais (igrejas, clubes, cooperativas, associações,
fundações) devem satisfação ao fisco nas diversas esferas
administrativas do Estado. Foi com os escândalos das empresas
americanas Enron (2001) e WorldCom (2002), que o mundo
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
começou a olhar para a contabilidade como algo que pode
construir ou destruir uma organização. No Brasil, a empresa
Parmalat (2004) também foi acusada de fraude contabilística. A
preocupação com os princípios éticos e contabilísticos alcançou
um novo patamar de importância. As práticas de governança
começaram-se a difundir para o mundo e o terceiro setor iniciou
o processo de adesão a estas práticas. As organizações
religiosas, na sua maioria, têm recursos provenientes de
doações e têm como princípio aplicar esses recursos nas suas
ações sociais. É recomendável que os dirigentes dessas
organizações tenham princípios éticos e que apliquem práticas
de governança de forma a conduzir as suas operações,
prevenindo fraudes e desvios.
A governança corporativa só tem vindo a crescer de
importância nas organizações das instituições.
Responsabilidade
Táticas
Na instância da Responsabilidade (neste contexto, o
termo em inglês Accountability aplica-se bem), quatro campos
(ou esferas de abrangência) apresentam-se:
Esfera civil
Todos os setores têm legislação e regulamentação
próprias. Saúde, alimentação, transporte, telecomunicações etc.
E as organizações – públicas, privadas e do terceiro setor – têm,
obrigatoriamente, de as cumprir. É a origem da ideia de
compliance (adesão a normas).
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Estar a par das normas é uma obrigação que se soma às
demais responsabilidades de quem atua na comunicação das
organizações. A assessoria jurídica é determinante.
Esfera social
As organizações não são sedes, frotas, equipamentos ou
software. As organizações são pessoas. Sem pessoas não
existe uma organização. Ou seja, uma organização nasce da
interação humana. Havendo interação humana, haverá uma
organização e, inevitavelmente, comunicação ativa. Pessoas
juntas na prossecução de um propósito, de um objetivo
empresarial, governamental ou uma causa – sempre algo social.
É por essa razão que nos estatutos são utilizados os seguintes
termos: Contrato Social, Razão Social, Sede Social, Capital
Social etc.
A captação e, principalmente, a retenção de talentos são
um dos grandes desafios de hoje, presente em todos os níveis e
setores. Tornar uma organização "melhor lugar para trabalhar"
é, mais do que uma chancela, é uma contingência.
A função “comunicação”, em qualquer organização, lida
basicamente com o fator humano e não se pode furtar a evoluir
culturalmente.
Esfera ambiental
É urgente a preocupação com o meio ambiente, a sua
preservação e seu uso sustentável. Os recursos naturais são
finitos e para que todo o mundo adquira níveis de vida
compatíveis com o conforto "de primeiro mundo" (na conceção
vigente, bem entendido), seriam necessários cinco planetas
Terra.
238
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
É por isso que surgem iniciativas de estudo e
implementação de medidas, tais como as “Metas da ONU para
2030”, por exemplo, baseadas na ideia de Zero Growth. Estas
medidas, vêm na contramão do conceito económico
estabelecido de expansão permanente. É preciso estar atento a
esta “megatendência”.
Esfera fiducial
Já que, como pontificou Marx, “o fator económico é
preponderante”, há que compreender os movimentos da finança
internacional. Mercado de capitais, fluxos de mercadorias e de
serviços, práticas comerciais, globalização, blockchain, entre
outros, não podem passar ao lado do profissional de
comunicação organizacional.
No issue management (CASTRO NEVES) do dia-a-dia
deste profissional, a questão que une confiança e
sustentabilidade financeira constitui o pano de fundo e, como tal,
não pode ser negligenciada. A ajuda de consultores, analistas
de riscos e de cenários económicos é muito bem-vinda.
7. R - Retribuição
Estratégias
No contexto da Retribuição, uma organização deve
considerar duas estratégias “temporais”: Presente e Futura.
Não é aceitável que uma organização não retribua à
sociedade os recursos que dela retira. Sejam eles em termos de
vida dedicada – de trabalho – dos seus cidadãos circunvizinhos,
ou de matérias-primas e recursos naturais utilizados para a
transformação de seus produtos e serviços, os quais esgotam o
planeta. Não é possível continuar a falar numa comunicação
239
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
"teórica". A comunicação precisa de funcionar, entregar
benefícios visíveis e tangíveis, gerar frutos de compreensão, de
entendimento e de comunhão. Por exemplo - “entregar
transparência” - uma transparência ativa, capaz de deitar por
terra uma postura passiva onde, a procura de informação sobre
a organização fica à responsabilidade de quem a pede.
Retribuição presente
A retribuição que se dá no dia a dia presente da vida da
organização em seu entorno mediato e imediato.
A organização é reconhecida por sua ação social quotidiana. É
o conceito fundador de “cidadania corporativa” (CANFIELD,
1970).
No Brasil, a Natura tem esse tipo de percepção por parte
da grande opinião pública.
Legado (retribuição futura)
É a retribuição de longo prazo, "para as próximas
gerações".
Neste ponto é importante voltar a lembrar o livro (fruto de
pesquisa muito original com 18 empresas centenárias) “Feitas
para durar”, de James Collins e Jerry Porras (1996).
A pesquisa ainda originaria um segundo volume,
intitulado “Feitas para vencer” (1998) – originando a ideia de
empregados com compromisso e “espírito de dono”.
Retribuição
Táticas
240
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
A Retribuição à sociedade, por tudo o que a organização
dela recebe, traduz-se nas seguintes táticas:
Parcerias cidadãs
"Diz-me com quem andas e eu te direi quem és". Os
parceiros, em geral, dizem muito sobre uma organização.
Quem são os nossos fornecedores? As suas práticas são
tão boas quanto as nossas? Praticam o fair labor e o fair trade?
Os nossos valores estão em sintonia com os deles?
Doações
Quais as causas e qual o formato de doação? Tempo ou
dinheiro?
No Brasil existe a Associação Brasileira de Captadores de
Recursos (ABCR) que, no seu portal, disponibiliza informação
sobre a própria instituição, o “Dia de Doar”, bem como o Código
de Ética do Doador.
Sucessão
Um problema interno das organizações, sobretudo as
familiares. Como dar continuidade aos princípios fundadores?
Como garantir que desvios de rota não desintegrem o legado?
Trata-se de uma empresa de responsabilidade limitada ou uma
sociedade anónima? Neste último caso, o capital é fechado ou
aberto (com ações negociadas em bolsa de valores)? Se é
fechada, fará sentido propor uma abertura do capital (em um IPO
– Initial Public Offering)?
241
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Património (ou retribuição diferida)
Uma questão externa. O planeamento do legado. O que
a organização quer deixar para o futuro da cidade, do país, do
planeta e da humanidade.
A área de comunicação organizacional deve trazer esse
tema para debate ao nível de board of directors (C-Level).
8º. R - Reinvenção
Estratégias
Reposicionamento
Esta é uma tarefa normalmente levada a efeito pela
estrutura de marketing, uma vez que o conceito de
“posicionamento” (Al Ries e Jack Trout) diz respeito ao mercado.
Como ensinaram estes autores em artigo visionário,
posicionamento é onde – na mente do consumidor ou do
imaginário coletivo – conseguimos colocar o nosso nome,
conceito, causa, produto ou serviço.
A acrescentar que o conceito preconiza que, em
mercados maduros, hajam apenas dois players em eterna
disputa pelo top of mind.
Coca-Cola e Pepsi, Visa e MasterCard, iPhone e Android,
Airbus e Boeing, Microsoft e Apple – díades exemplos da tese
de Ries e Trout.
Reengenharia
Como bem definiram Michael Hammer e James Champy
– pais da disciplina (incensada, depois execrada e, hoje,
reabilitada) –, trata-se de uma paragem estratégica em que
242
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
simplesmente tudo pode mudar, porque se está diante de um
“começar de novo”.
Há graus de reengenharia. De um mínimo – fruto de
melhoria contínua (kaizen, no jargão da filosofia de qualidade
total atribuída ao “modo japonês) – a um radical, em que “só os
alicerces sobram; às vezes, nem isso”.
O oitavo R – concebido em 2020 – não poderia deixar de
ser uma reflexão sobre o fim, ou sobre o ressurgimento,
reengenharia, ou ressignificação – como se queira denominar o
espírito do nosso tempo que é o de encarar a finitude... da
História, dos recursos naturais, da segurança financeira, da
segurança sanitária, enfim, o R de Reinvenção.
Reinvenção
Táticas
Pensamento disruptivo (design thinking / ressignificação)
"É tempo de ressignificar. Este verbo nunca fez tanto
sentido na vida de muitos como agora. Orgulho, ego e ganância
devem ser deixados de lado. O momento é de sobrevivência, de
dar sentido à vida em meio ao caos, de ter calma, de não entrar
em desespero, de não meter os pés pelas mãos, de se
resguardar, de manter cabeça e corpo ativos mesmo que
isolados. E, no mais, de sermos muito criativos para pensar em
alternativas, pensar diferente e criar novas soluções. Afinal, a
vida não para, as pessoas dependem dos seus empregos e os
acionistas precisam que os gestores das suas empresas tomem
ações
para
não
serem
derrubados.
Empresários,
administradores e executivos estão colocados numa posição de
243
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
extrema pressão: é preciso cuidar da proteção dos seus
colaboradores, possibilitar a produção das empresas... garantir
a saúde financeira para honrar os compromissos e ainda se
preocupar em como cuidar da comunicação da sua marca,
considerando a sua responsabilidade social e cívica" 10.
Coopetição
Diz-se do jogo concorrencial fair (justo), que muitas vezes
leva concorrentes de um determinado território a estabelecer
joint ventures com outro.
Ninguém no Brasil, num passado que não tem mais de 25
anos, imaginaria, por exemplo, as marcas Brahma e a Antarctica
fora de uma concorrência feroz. Hoje, as duas marcas
(pertencentes à AMBEV/InBev) sucedem-se e ajudam-se, ao
abrigo de uma mesma companhia.
Fusão/aquisição (e, também, recuperação judicial/venda)
Operação sempre presente no mundo dos negócios dos
últimos 50 anos. Dá-se perante uma concorrência
desproporcional, dificuldade financeira ou sucessão.
O controle das ações muda de mãos e, com ele, muitas
vezes, podem mudar também princípios, valores, visão e
missão.
Extinção da operação
Time’s up. Uma decisão muito difícil: encerrar um
negócio.
Só quem passa por essa dor, sabe do que se trata. Mas,
como outras decisões embasadas que se toma ao longo da vida,
244
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
a de encerrar uma jornada também é válida e precisa ser
considerada. Mais vale um encerramento voluntário do que uma
falência promovida por exigência de terceiros ou uma
insolvência por bancarrota.
Atender a todas estas mudanças aqui elencadas é
também uma obrigação do responsável pela comunicação
organizacional. Por isso, a reivindicação de que a função
comunicação, integre o primeiro escalão das decisões.
E, finalmente, em 2020, o ciclo se fecha (ciclo este preconizado
já em 2012 no “Manifesto Sincrético Relações Públicas e
Administração”, apresentado no Congresso Brasileiro de
Administração daquele ano, na Bahia) com o lançamento do livro
“8 Rs da Comunicação Funcional - 720 graus”.
Foram conduzidas mais oito entrevistas em profundidade
abordando cada um dos, agora, “8 Rs”:
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•
Alvaro Magalhães - publicitário, mestre em Psicologia
Social (UGF);
Cris Sambugaro - relações-públicas, professora
universitária (FMU);
Elaine Sampaio - contadora, auditora, Compliance
Officer (L & T);
Flávia Mendes - radialista, professora universitária
(USJ);
Ilka Carrera - relações-públicas, mestre em
Administração (Unifacs);
Luiz Estevam Lopes Gonçalves - administrador,
mestre em Administração Pública (FGV);
Renata Quiroga - psicanalista, escritora.
Terezinha Santos - jornalista, assessora de imprensa,
consultora;
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
A seguir, a representação e a legenda que fazem parte
da conclusão do percurso – um novo composto, 8 Rs (720 graus)
da Comunicação Funcional, atendendo a uma perspectiva de
fusão 360º-Comunicação-Administração-360º:
Imagem 5 – Composto 8 Rs da comunicação organizacional:
720 graus11
Fonte: elaborado pelo autor
LEGENDA
08 INSTÂNCIAS/DEMANDAS ORGANIZACIONAIS
1.
2.
3.
4.
5.
RECONHECIMENTO
RELACIONAMENTO
RELEVÂNCIA
REPUTAÇÃO
RESILIÊNCIA
246
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
6. RESPONSABILIDADE
7. RETRIBUIÇÃO
8. REINVENÇÃO
16 ESTRATÉGIAS
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E01 ARTE NARRATIVA
E02 PRESENÇA COMPETENTE NA INTERNET
E03 INTERNAL MARKETING ORIENTATION
E04 CLIENT RELATIONSHIP MANAGEMENT
E05 LOBBYING
E06 MARKETING SOCIAL
E07 MEMÓRIA CORPORATIVA
E08 ACCOUNTABILITY
E09 ADVOCACY
E10 CHANGE MANAGEMENT
E11 COMPROMISSO COM CONDUTAS ÉTICAS E
LEGAIS
E12 COMPROMISSO COM NORMAS CONTÁBEISFINANCEIRAS
E13 RETRIBUIÇÃO PRESENTE
E14 LEGADO
E15 REPOSICIONAMENTO
E16 REENGENHARIA
32 TÁTICAS
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T01 IDENTIDADE CORPORATIVA
T02 BRANDING
T03 IMAGEM DE MARCA
T04 PROPAGANDA INSTITUCIONAL
705 COMUNICAÇÃO INTERNA
T06 ATENDIMENTO AO CLIENTE
T07 OUVIDORIA/OMBUDSPERSON
T08 MEDIAÇÃO/NEGOCIAÇÃO
T09 PESQUISA DE OPINIÃO
247
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
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T10 PATROCÍNIO
T11 EVENTOS
T12 MERCHANDISING SOCIAL
T13 ESTUDO DOS PÚBLICOS
T14 COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL
T15 DIVULGAÇÃO
T16 GESTÃO DE CRISES DE IMAGEM PÚBLICA
T17 FILOSOFIA DE GOVERNANÇA
T18 COMPLIANCE
T19 RESPONSIVENESS
T20 GESTÃO DO CONHECIMENTO
T21 ESFERA CIVIL
T22 ESFERA SOCIAL
T23 ESFERA AMBIENTAL
T24 ESFERA FIDUCIAL
T25 PARCERIAS CIDADÃS
T26 DOAÇÕES
T27 SUCESSÃO
T28 RETRIBUIÇÃO DIFERIDA
T29 DESIGN THINKING
T30 COOPETITION
T31
FUSÃO/AQUISIÇÃO/RECUPERAÇÃO
JUDICIAL/VENDA
T32 EXTINÇÃO
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Imagem 6 - Capa do livro 8 Rs da Comunicação Funcional12
Fonte: Editor A
Considerações finais
Com a preponderância da internet (como meio) – e das
redes sociais (como veículos) – a comunicação migra da periferia
para o centro das preocupações do gestor. Ao lado do Direito e
das Ciências Contábeis, a área – antes tida como de segundo ou
terceiro escalão na lista das atividades – sofre um shift. E uma
“comunicação funcional”, de resultados, vai para o board nas
decisões organizacionais que envolvem a demanda por
transparência, entrando definitivamente, no espectro da
governança corporativa.
Tão nobre missão cabe, em nosso ordenamento
educacional, à formação de nível superior em Relações Públicas,
restando a todos aqueles que compõem esse corpus de fazer e
de saber ocupar os espaços e fazer valer a citação que o pioneiro
Roberto Porto Simões trouxe em sua derradeira obra, de 2006:
"Toda profissão tem um propósito moral. A Medicina tem a
Saúde. O Direito tem a Justiça. Relações Públicas têm a
249
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Harmonia – a harmonia social". (Seib e Fitzpatrick, Public
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Janeiro: EBAPE/ FGV, 1991.
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gerenciar: imagem, questões públicas, comunicação simbólica, crises
empresariais. Rio de Janeiro: Mauad, 2000.
250
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
PINHO, José Benedito. Propaganda institucional: usos e funções da
propaganda em Relações Públicas. 4 edição. São Paulo: Summus, 1990.
PRIBERAM. Dicionário da Língua Portuguesa
(https://dicionario.priberam.org) Acessado em: 01 ago. 2020.
RIES, Al; TROUT, Jack. Posicionamento. São Paulo Pioneira. 1993.
SIMÕES, Roberto Porto. Informação, inteligência e utopia: contribuições
à teoria de Relações Públicas. São Paulo: Summus, 2006.
VASCONCELLOS, Manoel Maria de. Marketing básico. Rio de Janeiro,
Conceito Editorial, 2006.
Notas do Capítulo
1
Dia da Satisfação Pública - Projeto 3 - 2014 - O.C.I. https://observatoriodacomunicacao.org.br/projetos/projeto-3-edicao-do-livro-introducao-aodireito-na-comunicacao-de-eduardo-pessoa/ (acessado em 07/07/2023).
2
Em 1953, houve cursos anteriores, não de bacharelado, na Escola Brasileira de Administração
Públicas (EBAP) da Fundação Getulio Vargas – o que ajudou a ensejar a criação da
Associação Brasileira de Relações Públicas, em 1954.
3
https://www.normasbrasil.com.br/norma/resolucao-normativa-43-2002_97282.html (acessado
em 07/07/2023).
4
rces002_13 mec.gov.br (acessado em 07/07/2023).
5
Por questões editoriais, os Apêndices deste artigo poderão ser acessado no seguinte link:
https://drive.google.com/drive/folders/1k7yG1RxK5QW5KhnsERVQre-bxyia-Kj2?usp=sharing.
Ou no QRCode apresentado ao final das Notas.
6
Consideramos que o conceito de “transparência ativa” proposto difere de uma “transparência
passiva” hoje tida – pela ANEFAC (Associação Nacional de Executivos de Finanças,
Administração e Contabilidade) e outras entidades – como algo fundado apenas no reporte de
números contábeis e cumprimento das leis civis aplicáveis a cada ramo de atividades. Nossa
tese advoga que este binômio Finanças-Direito não mais atende aos reclamos da sociedade –
o que foi constatado não só nas defesas como nos casos práticos – por transparência, e
propões um trinômio Finanças-Direito-Comunicação.
7
Os “4 Rs” das Relações Públicas Plenas: Reconhecimento, Relacionamento, Relevância e
Reputação.
8
https://www.youtube.com/watch?v=_eNDi5qXWnI&t=116s (acessado em 07/07/2023).
9
Tal entrevista faz parte de um conjunto de 11 depoimentos tomados diretamente pelo autor
para o documentário “1jornalista 10 errepês 100 anos...”, produzido pelo O.C.I. para
homenagear o centenário da atividade de RP no Brasil, em 2014. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=pEZmBfE2Sz4
10
Carolina Barboza [publicado no portal O.C.I. em 02/05/2020].
11
https://www.youtube.com/watch?v=PfgzLdPdA0U
12
Livro disponível em: https://ebook-comunicacaofuncional.com.br/
13
https://rrpp.com.br/rrpp.php (acessado em 07/07/2023).
251
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Apêndices do Capítulo
252
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
ENTRE A TEORIA, O MÉTODO E A
PRÁTICA: Comunicação Organizacional e
Design Thinking articulados para conferir
visibilidade e legitimidade midiática ao
Mestrado Profissional em Comunicação e
Indústria Criativa (PPGCIC)1
BETWEEN THEORY, METHOD, AND PRACTICE:
Organizational Communication and Design Thinking
Articulated to Bestow Media Visibility and Legitimacy
to the Professional Master's in Communication and
Creative Industry (PPGCIC)
Fabio Frá Fernandes
Marcela Guimarães e Silva
Resumo: O presente artigo descreve um exercício teórico-prático realizado
no âmbito da comunicação e indústria criativa, por meio de um
projeto de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação. O objeto de
estudo é o Programa de Pós-Graduação em Comunicação e
Indústria Criativa (PPGCIC) da Universidade Federal do Pampa
(Unipampa, São Borja). Utilizando o Design Thinking como método
de análise e intervenção, o exercício resultou na elaboração e
execução de um plano de Comunicação Organizacional
Midiatizada. Essa estratégia visou promover, dar visibilidade e
legitimar o Programa junto a seus públicos de interesse no atual
ecossistêma midiático. A implementação do plano permitiu a
proposição de técnicas e instrumentos inovadores para gerar
retorno de imagem e engajamento público. Este cenário destaca a
importância de explorar diferentes métodos, técnicas e teorias ao
pensar, propor e executar estratégias de comunicação.
253
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Palavras-chave: Comunicação Organizacional. Indústria Criativa. Design
Thinking. Mídia e Estratégias Comunicacionais.
Midiatização.
Abstract: This article describes a theoretical-practical exercise conducted in
the field of communication and the creative industry through a
Research, Development & Innovation project. The study focuses
on the Graduate Program in Communication and Creative Industry
(PPGCIC) at the Federal University of Pampa (Unipampa, São
Borja). Using Design Thinking as a method for analysis and
intervention, the exercise resulted in the development and
execution of a Mediated Organizational Communication plan. This
strategy aimed to promote, increase visibility, and legitimize the
program among its target audiences in the current media
ecosystem. The implementation of the plan allowed for the
proposal of innovative techniques and tools to generate image
feedback and public engagement. This scenario highlights the
importance of exploring different methods, techniques, and
theories when thinking, proposing, and executing communication
strategies.
Keywords: Organizational Communication. Creative Industry. Design
Thinking. Media and Communication Strategies. Mediatization.
Introdução
O interesse deste artigo é relatar um exercício teóricoprático no contexto da comunicação e indústria criativa,
materializado na forma de um projeto de Pesquisa,
Desenvolvimento & Inovação (PD&I). O objeto de estudo foi o
Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Indústria
Criativa (PPGCIC) da Universidade Federal do Pampa
(Unipampa), campus São Borja, centrando-se na melhoria dos
processos e práticas de comunicação e relacionamento do
referido programa. Em outras palavras, sua intenção é conectar
conceitos teóricos, métodos práticos e a aplicação efetiva
desses conhecimentos para conferir visibilidade e legitimidade
ao mestrado profissional por meio do ecossistema midiático.
254
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Tal exercício utilizou o Design Thinking como método
para conceber e desenvolver estratégias de comunicação
organizacional midiatizadas para o PPGCIC. Isso se deve ao
fato de que, no cenário mercadológico atual e no campo
comunicacional, as formas e técnicas tradicionais empregadas
para pensar e gerenciar a comunicação nas organizações não
são mais suficientemente eficazes para alcançar os públicos de
interesse, de modo a engajar e converter os relacionamentos
organizacionais em valor de mercado.
Diante dessa realidade, é essencial articular e aplicar
diferentes métodos aos processos de comunicação
organizacional, gerando estratégias alinhadas com a realidade
tecnológica, experiencial e midiática dos diversos segmentos de
público em relação a uma organização. O Design Thinking é um
exemplo de método que pode ser incorporado pela comunicação
para identificar a melhor estratégia, instrumentos e meios de
legitimação, engajamento e visibilidade pública.
Por ser o PPGCIC uma organização nova no cenário da
pós-graduação brasileira (foi aprovado pela CAPES em
dezembro de 2016 e iniciou sua primeira turma em abril de
2017), seu processo de comunicação, à época, era embrionário,
marcado por limitações estratégicas, técnicas e operacionais.
endo o primeiro programa de pós-graduação em comunicação
fora dos grandes centros urbanos e o pioneiro na articulação
entre indústria criativa e comunicação no Brasil, era impreterível
que suas práticas comunicacionais recebessem tratamento
profissional para promover sua imagem institucional e
estabelecer relacionamentos estratégicos.
A proposta do projeto de PD&I surge nesse contexto
como base teórico-metodológica, conduzida cientificamente a
partir do cenário atual do comportamento e interesse dos
públicos do PPGCIC. Pesquisa, desenvolvimento e inovação
formam uma tríade processual articulada para desenvolver
255
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
produtos ou processos apresentados ao mercado e à sociedade.
São elementos inter-relacionados, com a pesquisa sendo a
etapa inicial do trabalho, o desenvolvimento representando a
materialização desse trabalho, e a inovação representando as
novas ou renovadas formas de percepção, pensamento e
aplicação prática de um produto ou processo (SILVA, 2018).
No projeto de PD&I para o PPGCIC, a pesquisa se
concentra no estudo exploratório sobre o Programa, buscando
compreender suas práticas comunicativas, públicos e objetivos
de longo, médio e curto prazo. Com os dados da pesquisa, o
desenvolvimento do projeto inicia com a proposição de um
planejamento de comunicação, com foco na organização. A
comunicação organizacional é entendida como o conjunto de
processos ideais, envolvendo técnicas e instrumentos, para
gerenciar os níveis, fluxos e redes comunicacionais de uma
organização. A inovação é representada pelo Design Thinking
como método, aplicado para diagnosticar os problemas de
comunicação e, principalmente, para propor soluções.
Para apresentar esse exercício teórico-prático, o artigo
está organizado em outras quatro seções. A primeira
contextualiza a indústria criativa, destacando-a como um campo
propício para a comunicação organizacional. Essa articulação
teórica é essencial para compreender o trabalho como um todo.
A segunda seção apresenta o Design Thinking como método
para a realização do projeto, abordando seus conceitos
principais e os instrumentos possíveis e utilizados. Na terceira
seção, contextualiza-se a comunicação organizacional como
estratégia para a promoção do PPGCIC, caracterizando as
técnicas, instrumentos e processos empregados para alcançar
esse objetivo. O artigo é concluído com as considerações finais
sobre esse exercício, abordando método, estratégias,
aplicabilidade, e incluindo uma síntese reflexiva sobre os
primeiros resultados.
256
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Comunicação e sua relação com a indústria criativa
Os debates e reflexões sobre a indústria criativa ocupam
cada vez mais espaço nas agendas político-econômicas e
socioculturais de organizações e instituições na segunda década
deste século. Isso ocorre porque estão reconhecendo a
importância das atividades criativas e culturais para o
desenvolvimento econômico, assim como para as comunidades
às quais pertencem. Nesse contexto, busca-se ampliar os
conhecimentos sobre o tema e aplicar práticas para promover
uma economia criativa.
Na academia, a ascensão prática da indústria criativa
também impulsiona a expansão do olhar sobre o fenômeno, que
carece de novos estudos, abordagens e experimentações. A
indústria criativa está intimamente vinculada a diversas
disciplinas, como economia, desenvolvimento regional,
sociologia, antropologia, comunicação, entre outras. Sua
conceituação e visibilidade empírica são recentes, sendo
presente nas discussões sociais e teóricas há pouco mais de
vinte anos em países desenvolvidos e há pouco mais de dez
anos em países em desenvolvimento (REIS, 2011; JAMBEIRO;
FERREIRA, 2012).
Ao revisar as definições mais conhecidas e creditadas
pela sociedade sobre a indústria criativa, quatro elementos
surgem como base de sua constituição e reconhecimento.
Destacados por Bendassolli et al (2009), esses elementos são
criatividade, cultura moldada em artefatos tangíveis, valor
econômico agregado aos artefatos culturais e convergência
entre arte, negócio e tecnologia. Para os autores, a criatividade
é o insumo principal da indústria criativa, sendo um adjetivo
indissociável de seus bens e serviços.
257
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Na indústria criativa, a cultura é tratada na forma de
objetos, e seu valor está no significado que esses objetos podem
vir a ter, representar ou compartilhar. A indústria criativa
transforma esses significados em propriedade intelectual e,
portanto, passam a possuir valor econômico. Por fim, uma
indústria criativa precisa convergir artes em negócios e
tecnologias (BENDASSOLLI et al., 2009; FERNANDES; SILVA,
2019).
Entende-se, então, que esses quatro elementos
aproximam a conceituação de indústria criativa em todos os
territórios. A compreensão desses elementos diferencia a
produção de uma indústria criativa da produção de uma indústria
tradicional. Esses mesmos elementos ainda estão presentes na
maioria das definições postuladas sobre a indústria criativa,
conforme pode ser consultado em Hartley (2005), Howkins
(2012), Jambeiro e Ferreira (2012) e outros.
Quanto à setorização da indústria criativa, existem
diversas formas de classificação e organização. Os modelos
mais utilizados na literatura são propostos pelo Departamento de
Cultura, Mídia e Esportes do Reino Unido (DCMS), Organização
Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO), Conferência das
Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD)
e Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN).
A diferenciação na forma como os setores da indústria
criativa é classificada e organizada nesses modelos reside no
uso da criatividade. Cada modelo realiza a leitura das atividades
criativas e culturais a partir da intensidade da criatividade na
produção de bens e serviços. Alguns setores são mais criativos,
figurando no centro ou núcleo da cadeia de produção da
economia criativa, enquanto outros atuam de forma relacionada
ou como apoio ao centro criativo das indústrias criativas.
Por exemplo, no modelo do DCMS (2020), as atividades
nucleares estão relacionadas à publicidade e marketing,
258
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
arquitetura, artesanato, design, filme, TI, área editorial, área da
museologia e patrimonial, música e artes. Já a UNCTAD (2010)
congrega o núcleo criativo das indústrias criativas em quatro
grandes grupos: patrimônio, artes, mídia e criações funcionais.
Esses grupos são ainda divididos em nove subgrupos, como
expressões culturais tradicionais, locais culturais, artes visuais,
artes cênicas, editoras e mídia impressa, audiovisual, design,
novas mídias e serviços criativos.
A FIRJAN (2020) setoriza a indústria criativa em três
grupos. O primeiro é formado pelo núcleo criativo, com
profissionais e produção nas áreas de consumo (design,
arquitetura, moda e publicidade), mídias (editorial e audiovisual),
cultura (patrimônio e artes, música, artes cênicas e expressões
culturais) e Tecnologia (P&D, biotecnologia e TICs). O segundo
grupo inclui profissionais e organizações que dão suporte à
indústria criativa, composto por serviços e indústrias
relacionadas ao núcleo criativo. Já o terceiro grupo engloba as
atividades de apoio, que fornecem indiretamente bens e serviços
à indústria criativa (FIRJAN, 2020; FERNANDES; SILVA, 2019).
No contexto geral apresentado sobre a indústria criativa,
percebe-se a comunicação de duas formas: como uma indústria
criativa ou atuando para a indústria criativa. Como uma indústria
criativa, a comunicação precisa produzir bens e serviços que
contribuam para a riqueza social, cultural e econômica. Ela é a
atividade criativa em si, representada pela produção, por
exemplo, da publicidade, da mídia do audiovisual, entre tantos
outros. Contribuindo para as indústrias criativas, a comunicação,
munida por seus profissionais - relações-públicas, publicitários,
jornalistas - e de seus aparelhos comunicacionais, trabalhará
para promover, consolidar e valorizar esses setores, além de
ampliar o acesso e dar maior visibilidade à produção criativa e à
própria
indústria
pessoas,
organizações,
marcas
(FERNANDES; FELIPPE, 2018).
259
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Ao pensar a comunicação para a indústria criativa,
observando todo o seu universo teórico e profissional, busca-se
na comunicação organizacional o processo ideal para a
organização, manutenção e divulgação dos setores da indústria
criativa, seus bens e serviços. Isso ocorre porque a indústria
criativa precisa ser entendida como uma organização, já que seu
trabalho está centrado na oferta de bens e serviços que buscam
satisfazer alguma necessidade dos indivíduos sociais e, ainda,
promover o desenvolvimento, seja econômico, social, cultural ou
político.
Comunicação organizacional é um conjunto de variáveis
que afetam a organização ou são afetadas por ela, visto que as
relações humanas são a matéria-prima principal no
desenvolvimento de suas ações. Suas estratégias delineiam o
processo de produção, tratamento, transmissão, recepção e
retroalimentação de informações nos ambientes organizacionais
(IASBECK, 2009). A comunicação organiza, dá sentido ético e
estético às materialidades comunicativas organizacionais. É ela,
como um instrumento de gestão, que segmenta os profissionais
e atribui a eles as funções que melhor vão promover os
relacionamentos organizacionais. Mas, para além de um
processo de gestão, a comunicação organizacional é um
processo constitutivo das organizações, ou seja, passa a ser
reconhecida como um processo fundamental pelo qual as
organizações existem. Forma os significados, lapida a
informação, constrói e compartilha conhecimento (DEETZ, 2010;
FERNANDES; BARICHELLO, 2022).
A comunicação organizacional é, assim, o resultado de
todas as ações institucionais, promocionais, mercadológicas e
culturais
utilizadas
pelas
organizações
para
gerar
relacionamento, engajamento, visibilidade e imagem pública.
Cabe mencionar aqui o composto de comunicação
organizacional integrada, proposto por Margarida Kunsch (2003;
260
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
2009), pois o pleno desenvolvimento de estratégias de
comunicação em organizações precisa contemplar suas
diversas partes e subpartes.
A comunicação integrada, em sentido comum, gerencia
profissionais de relações-públicas, jornalismo, publicidade, entre
outros, para a administração da comunicação nas organizações.
O composto de comunicação organizacional integrada de
Kunsch vai além, relacionando segmentos interdisciplinares das
organizações para a obtenção de resultados.
O composto da comunicação organizacional integrada,
que compreende a comunicação administrativa, mercadológica,
institucional e a comunicação interna, busca contemplar uma
visão mais abrangente da comunicação nas e das organizações,
considerando aspectos relacionados à complexidade do
fenômeno comunicacional inerente à natureza das
organizações, bem como os relacionamentos interpessoais, a
dimensão da comunicação humana, além da função estratégica
e instrumental (KUNSCH, 2003; 2008).
Nesse composto, a comunicação administrativa é
compreendida pelos processos dentro da organização, ou seja,
as funções administrativas. Esse sistema permite viabilizar a
estrutura organizacional por meio da administração dos fluxos,
redes e níveis de comunicação. Já a produção comunicativa,
voltada aos objetivos de mercado, divulgando e propagando
produtos, serviços e estando diretamente relacionada ou
conectada ao setor de marketing, é denominada comunicação
mercadológica (KUNSCH, 2008). A essa função cabe orientar as
políticas utilizadas na promoção de vendas, ou seja, é a
comunicação que visa à troca com os clientes. Objetiva também
entender a formação dos relacionamentos de marketing e suas
práticas, principalmente nos quesitos de comportamento do
consumidor (MACHADO NETO, 2008).
261
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
A função da comunicação institucional, por sua vez, é
construir e fortalecer uma imagem positiva e sólida da
organização. Por meio da gestão estratégica de relações
públicas, consolida sua imagem pública e seus valores
organizacionais. “A comunicação institucional visa criar relações
confiantes e construir reputação positiva com todo o universo de
públicos e a sua natureza institucional” (KUNSCH, 2008, p. 115).
O último elemento da comunicação organizacional
integrada é a comunicação interna, que responde pelo
planejamento e funcionamento dos fluxos, redes e níveis de
comunicação. Corresponde a ela viabilizar a interação entre a
organização e seus públicos, utilizando ferramentas dos demais
elementos que compõem este composto para efetivar suas
ações (KUNSCH, 2003; 2008; 2009). “A comunicação interna é
uma parte da comunicação organizacional. Dirige-se a um
público estratégico essencial da organização: seus
colaboradores” (LEMOS, 2011, p. 155).
A partir desses conceitos e da aplicabilidade da
comunicação organizacional, amplia-se o escopo de atuação e
intervenção da comunicação sobre a indústria criativa. Em
sentido único, e mais focado nos profissionais e processos
comunicativos, a comunicação para a indústria criativa limita-se
à divulgação dos produtos e serviços criativos e culturais,
enquanto a comunicação organizacional integrada se apresenta
como um exponencial para a organização desses setores, sua
implementação, além de auxiliar na gestão e administração
quando pesquisa a opinião dos públicos envolvidos, desenha
cenários para desenvolver os setores e, ainda, pensa e executa
estratégias dirigidas para cada serviço e produto dos setores
criativos.
Para as indústrias criativas,
a
comunicação
organizacional ainda alocará de forma eficaz os serviços
técnicos dos profissionais de comunicação, sendo este mais
262
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
orgânico e com pensamento e olhar para o todo, agindo macro
e micro dentro das possibilidades de desenvolver os produtos e
serviços da indústria criativa. Caberá a este composto ainda
qualificar e orientar a formação destes profissionais – relaçõespúblicas, jornalistas, publicitários, redatores, produtores
culturais, etc., para um processo estratégico de comunicação
organizacional para a indústria criativa.
Design Thinking: Método prático criativo
Da contextualização exposta na seção anterior, temos os
setores da indústria criativa entendidos como organizações e,
como tal, precisam de estratégias comunicacionais para
estabelecerem relacionamentos, bem como para promoverem
suas atividades-meio e finalísticas. Para isso, ainda é preciso
desenvolver métodos e técnicas inovadoras para a pesquisa e
desenvolvimento da comunicação organizacional para a
indústria criativa, visto que a união de ambas, como prática
especializada, é tão recente quanto o próprio termo "indústria
criativa". Por isso, agregar o processo de comunicação
organizacional, de modo integrado ao composto setorial da
indústria criativa, é por si só um processo de inovação, já que é
necessário olhar e refletir diferentemente a comunicação neste
cenário e constituir diferentes formas de intervenção.
O Programa de Pós-Graduação em Comunicação e
Indústria Criativa (PPGCIC) da Universidade Federal do Pampa
(Unipampa), campus São Borja, é apropriado aqui como objeto
empírico de análise e intervenção, considerado por nós como
uma indústria criativa. É sua realidade comunicacional
(embrionária, marcada por limitações estratégicas, técnicas e
operacionais) que direciona sua apropriação enquanto objeto
para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. Para ser possível
essa apropriação, faz-se necessário recorrer a outras disciplinas
263
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
(teorias, métodos, técnicas, experiências) para desenvolver
estratégias de comunicação organizacional coerentes com a
realidade do Programa, ou seja, legitimá-lo e consolidá-lo no
contexto da pós-graduação no Brasil.
É o Design Thinking o método entendido como ideal para
pensar e desenvolver um processo de comunicação
organizacional eficaz para o PPGCIC. Design Thinking é um
método prático-criativo que orienta técnicas para a
reorganização de negócios, bens e serviços, ou ainda na
construção de outros, bem como para a resolução de problemas
que atentam para as necessidades das pessoas e organizações.
É uma forma de pensar soluções para problemas tendo o público
afetado ou que afeta sua problemática como parte integrante na
formulação das propostas de resolução - diagnóstico e
estratégias (VIANA et al., 2011). Como uma abordagem
humanista de inovação e criatividade, é centrado no trabalho
colaborativo e multidisciplinar, embasado em princípios de
engenharia, design, artes, ciências sociais e descobertas do
mundo corporativo (CAVALCANTI; FILANTRO, 2017).
264
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Imagem 1 – Fluxo de aplicação do Design Thinking
Fonte: elaborado pelos autores
A utilização do Design Thinking como método para pensar
a comunicação organizacional para o PPGCIC parte da
necessidade de abordagens mais acessíveis aos públicos e que
permitam aos mesmos interferirem nos processos de
diagnóstico, planejamento e execução de estratégias e ações.
Esse método é utilizado para inovar no diagnóstico de problemas
de comunicação, bem como propor soluções para esses
problemas. Ao ser utilizado o Design Thinking, o público de
interesse do PPGCIC é colocado nas discussões, debates e
leituras do cenário organizacional e comunicacional do
Programa. E, assim, se tornam engajados na tarefa de propor
ideias para qualificar seu processo comunicativo.
O Design Thinking foi aplicado no projeto, desde as
etapas de planejamento até as fases de execução. Sempre
dialogando com o público de interesse do Programa, que é
representado pelos docentes, discentes e técnicosadministrativos da Unipampa, dos cursos de graduação, e do
próprio PPGCIC, mas também pelos seus futuros alunos
(prospect), organizações e instituições de São Borja e região.
Foram esses diálogos, mediados por instrumentos e técnicas de
265
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Design Thinking, que orientaram a identificação dos problemas
de comunicação, a solução para esses problemas e o
delineamento de estratégias comunicacionais, alinhando aos
interesses e necessidades do PPGCIC com as necessidades e
interesses de seu público de interesse.
A aplicação do Design Thinking aconteceu por meio de
quatro etapas, baseado no fluxo apresentado na imagem 1, de
modo a compreender a pesquisa e o desenvolvimento da
inovação em comunicação e indústria criativa. As etapas
constituíram-se pela:
1.
2.
3.
4.
Imersão preliminar e em profundidade;
Análise e síntese;
Ideação; e
Prototipação.
Na primeira, é explorado o universo da problemática, ou
seja, como acontece o processo de comunicação do Programa.
Identificando meios, técnicas e instrumentos comunicativos. Na
segunda, os dados e informações obtidas na primeira fase são
organizados para ampliar a visualização de tudo o que fora
explicitado. Deste modo, não se perde nenhum dado ou
suprime-se informações que podem ser de crucial relevância
para a resolução do problema. Para a terceira, a meta foi gerar
ideias inovadoras para a resolução da problemática do projeto.
E, na última etapa, aconteceu a materialização dessas ideias.
Ou seja, é nessa etapa que o planejamento de comunicação
organizacional ganha forma, deixa o plano teórico e torna-se
prática.
Na imagem a seguir, é ilustrado o desenvolvimento de
cada uma das etapas, a forma como foi desenvolvida e quais
procedimentos estiveram envolvidos para sua realização.
266
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Imagem 2 – Fluxo de aplicação do Design Thinking junto ao
PPGCI
Fonte: Elaborado pelos autores
Concluídas as etapas e procedimentos expostos imagem
2, o trabalho subsequente pautou-se pela consolidação do
diagnóstico comunicacional e proposição de soluções para as
situações apresentadas, tendo a comunicação organizacional
como processo estratégico. A organização e execução do
planejamento de comunicação organizacional para o PPGCIC
são sintetizados na próxima seção.
267
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Comunicação organizacional: mídia e estratégias de
relacionamento
Ao aplicar o Design Thinking, percebe-se na fase de pesquisa
que o processo de comunicação do PPGCIC acontecia sem
planejamento, foco e objetivos. Os canais de comunicação
empregados veiculavam apenas informações administrativas,
de cunho puramente instrucional. A comunicação interna do
Programa ocorria mediante encontros formais do colegiado, o
que dificultava a troca de informações, divulgação de atividades
e prospecção de parcerias. O Programa também não possuía
uma identidade visual definida, orientada aos seus públicos de
interesse. E a comunidade ansiava por mais informações sobre
a indústria criativa e sua relação com São Borja e região, assim
como informações sobre o Programa e sua produção.
Desse cenário, na fase de desenvolvimento, o
planejamento de comunicação organizacional midiatizada é
proposto como estratégia para atender às necessidades iniciais
do PPGCIC. Junto ao público de interesse, no processo de
inovação, as estratégias planejadas foram guiadas em quatro
eixos temáticos, sendo eles: Comunicação para o PPGCIC;
Conteúdo Criativo; Comunidade Criativa; e Pesquisa,
Desenvolvimento & Inovação no PPGCIC. É por meio desses
eixos que o espectro comunicativo do Programa foi desenvolvido
em totalidade, atendendo tanto às instâncias de comunicação
interna e administrativa quanto às institucionais e
mercadológicas.
Para primeiro eixo - Comunicação no PPGCIC - as ações
estratégicas foram direcionadas à normalização da
comunicação entre docentes e discentes, bem como à
modernização da identidade visual do Programa, além de
268
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
ampliar o escopo dos seus produtos e conteúdos midiáticos.
Esse eixo também buscou orientar seus públicos primários
(discentes e docentes) sobre os meios utilizados (e a maneira
ideal de sua utilização), divulgar as atividades programáticas dos
semestres e promover a divulgação da produção teórica e
técnica de docentes e discentes. Além disso, foi estruturado um
espaço digital denominado Rede Interativa PPGCIC para que a
comunidade acadêmica possa compartilhar eventos da área,
revistas com chamadas em aberto, atividades dos grupos de
pesquisa, entre outros.
No segundo eixo, o foco de atuação concentrou-se na
produção de conteúdo sobre o Programa, sobre a área da
comunicação e informação, e suas interseções com a indústria
criativa. O objetivo aqui foi estabelecer relacionamentos
estratégicos, compartilhar informações com a comunidade
acadêmica da Unipampa e outras instituições de ensino, assim
como com a comunidade de São Borja e da região. Isso inclui
representantes dos poderes públicos, empresários, imprensa e
cidadãos em geral.
Para atingir esses objetivos, procedeu-se à atualização
do Portal Institucional do Programa, preenchendo lacunas
informativas e renovando o design de suas seções. Os perfis do
PPGCIC nas mídias sociais também passaram por
reposicionamento, adotando uma linguagem mais alinhada ao
público de cada ambiente midiático. As publicações passaram a
seguir um padrão estético e visual consistente. O fluxo de
informações nos meios foi intensificado, e hoje eles se
apresentam como os principais ambientes de comunicação
entre o Programa, seus futuros discentes, a comunidade e
outros interessados.
Também foi necessário iniciar a estruturação de uma
Assessoria de Imprensa para o Programa, ampliando o contato
com veículos de comunicação em São Borja e na região. Além
269
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
disso,
buscou-se construir um
canal direto
para
compartilhamento de informações com outras universidades,
programas de pós-graduação em comunicação e/ou indústria
criativa, empresários, organizações e órgãos de fomento. Dentro
desse eixo, foi desenvolvido um banco de dados (mailing) dos
públicos de interesse, juntamente com a calendarização das
atividades do Programa e de seus parceiros. Posteriormente,
essa rede de contatos será alimentada com informações
relevantes ao Programa. Para o trabalho de Assessoria de
Imprensa, buscou-se o apoio dos discentes bolsistas do
PPGCIC.
Na Comunidade Criativa, o terceiro eixo concentrou-se
nas atividades relacionadas à extensão universitária, ou seja,
nos diálogos entre o PPGCIC e a comunidade, materializadas
através de bens e serviços, como eventos, formação técnica,
pesquisa, entre outros. Quatro atividades dessa natureza foram
realizadas: dois Projetos (Cambiando Saberes e Qualifica São
Borja), um Programa (Estágio Social dos discentes) e um Evento
Científico/Mercadológico (Fórum Indústrias Criativas nas
Organizações).
Por fim, no último eixo, Pesquisa, Desenvolvimento &
Inovação do PPGCIC, o foco centrou-se na produção técnica e
científica do Programa. O objetivo foi organizar e divulgar as
produções dos docentes e discentes, servindo como insumo
para a produção de conteúdo. Destaca-se a criação da
"Comunicação e Indústria Criativa: pesquisa, desenvolvimento &
inovação – Revista Eletrônica do PPGCIC," que se encontra em
sua sexta edição (2023), responsável por publicar, com
linguagem acessível, as produções técnico-científicas realizadas
por discentes de todas as turmas. Além disso, ampliou-se a
visibilidade da produção dos grupos de pesquisa vinculados ao
Programa, disponibilizando essas informações no Portal
Institucional e, quando pertinente, em outros meios.
270
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Como última proposta de atividade do eixo de Pesquisa,
Desenvolvimento & Inovação no PPGCIC, foi concebida a ideia
de um laboratório de ensino. No entanto, não se trata de um
laboratório convencional da área de comunicação, mas sim de
um ambiente alternativo, reunindo diversos espaços em um só.
Um local que dialogasse com a proposta central do PPGCIC.
A partir dessa ideia, o PPGCIC Lab – Laboratório de
Prototipação de produtos e serviços em Comunicação e
Indústria Criativa foi estruturado. Para torná-lo realidade, foram
mobilizados esforços e recursos para adquirir mobiliário,
materiais e outras estruturas necessárias, tornando-o acessível
à comunidade acadêmica da Unipampa e, possivelmente, à
comunidade de São Borja e região. Dentre esses esforços,
destaca-se um financiamento coletivo entre os docentes do
Programa para a compra de mobiliário, doação de materiais e a
oferta de mão de obra por parte da direção do campus da
Unipampa. O PPGCIC Lab é constituído por três espaços: um
pequeno lounge para realização de eventos; um espaço de
coworking e laboratório de prototipagem; e um espaço para
realização das atividades letivas.
Com o PPGCIC Lab, almeja-se romper os paradigmas
sobre o conceito de sala de aula para a graduação e a pósgraduação, de modo a tornar-se mais produtivo e criativo o
desenvolvimento de atividades letivas sem as estruturas
hierárquicas e formatos tradicionais de ensino/aprendizagem.
Busca-se, assim, favorecer a integração entre os discentes do
Programa no compartilhamento de seus conhecimentos e
experiências profissionais por meio do coworking, seja entre
seus pares, entre docentes e entre estudantes de graduação,
empresários e comunidade em geral. Por meio desse ambiente,
pretende-se incentivar a prototipação ideias e expô-las como
forma de experimentação da vivência na pós-graduação, da
271
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
ciência e da prática profissional em Comunicação e Indústria
Criativa.
Imagem 3 – Síntese estratégica do plano de Comunicação
Organizazional Midiatizada para o PPGCIC
Fonte: elaborado pelos autores
272
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
A partir das estratégias e ações de comunicação
organizacional midiatizadas propostas e executadas no contexto
do PPGCIC, conforme visto anteriormente e sintetizadas na
imagem 3, os primeiros resultados são apresentados na próxima
seção.
Considerações finais
Conforme o diálogo exposto, a comunicação
organizacional é percebida como um campo profícuo para a
indústria criativa, uma vez que os setores dessa indústria se
apresentam como organizações e, como tal, necessitam de
estratégias, técnicas e instrumentos para processualizar, de
forma eficaz, sua comunicação e os relacionamentos com seus
públicos de interesse. Por ser o fenômeno da indústria criativa
relacionado, principalmente, a campos que têm a cultura e o
conhecimento (criatividade) como insumo principal, os públicos
em estado de relação com esses setores possuem
características diversificadas quanto aos seus interesses e
formas de interação e relacionamento. Esse cenário demonstra
a necessidade de buscar diferentes métodos, técnicas e teorias
para pensar, propor e executar estratégias de comunicação.
Sendo o PPGCIC uma indústria criativa e seus públicos,
a priori, diversos não apenas por características políticoeconômicas e socioculturais, mas também por seus interesses
nas experiências no consumo e na midiatização de seus
relacionamentos, a posteriori, precisam de estratégias
pertinentes a essas características. Para dar conta desse
posicionamento estratégico, o Design Thinking enquanto
método é desenvolvido não apenas para encontrar as melhores
técnicas e instrumentos comunicacionais de promoção do
PPGCIC, mas principalmente materializá-las de modo a
envolver os públicos de interesse nesse processo.
273
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Assim, os resultados do exercício teórico-prático ao qual
o presente artigo relata começam a ser vistos com a
aproximação do Programa com a comunidade empresarial,
política e civil de São Borja e região, proximidade também
ampliada com a comunidade acadêmica da Unipampa. Durante
a etapa de pesquisa, um dos problemas diagnosticados fazia
referência ao distanciamento do PPGCIC com seu público de
interesse. Essa aproximação inicial foi possível ao ser utilizado
o Design Thinking, que incluiu os públicos em todas as fases do
projeto.
Nas atividades desenvolvidas no eixo Comunidade
Criativa, importantes setores da economia e da cultura do
município foram envolvidos, e não apenas como espectadores,
mas como atores, contribuindo com suas experiências, dúvidas
e indagações. Capacitar empresários e profissionais sobre a
comunicação nas indústrias criativas com o Programa Qualifica
São Borja, debater a realidade das indústrias criativas no
município com o Fórum Indústrias Criativas nas Organizações e
promover o intercâmbio de conhecimentos técnicos e teóricos
nas áreas relacionadas à indústria criativa com o projeto
Cambiando Saberes se apresentaram como ações inovadoras e
integradoras. Mesmo sem materializar um produto ou números,
legitimam-se como ações de resultados positivos pelo número
de participantes e pela mudança na realidade e no
comportamento desses mesmos participantes.
O que tange à comunicação no PPGCIC e seu conteúdo
criativo, é de fácil percepção os resultados quanto à organização
e planificação das informações administrativas, na
descentralização da comunicação e na melhora da integração
entre discentes e docentes. O Portal Institucional tornou-se mais
intuitivo, diminuindo a busca por informações por e-mail ou
telefone. Com os perfis do Programa nas mídias sociais, ampliase sua rede de relacionamento. Com as análises métricas
274
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
midiáticas, o aumento diário no número de curtidas, reações,
compartilhamentos e menções do programa legitimam essas
estratégias. O que demonstra que o público usuário dessas
mídias tem se identificado com a estética visual e de conteúdo
da página.
Por fim, o PPGCIC Lab é entendido como o resultado
mais tangível deste exercício. É uma conquista sua efetivação,
uma ação (ou conjunto de ações) inovadora e ambiciosa ao
transformar uma sala de aula em um ambiente com múltiplos
espaços para se trabalhar comunicação e indústria criativa,
tendo a produção de conhecimento e a prototipação de bens e
serviços como objetos comuns e indissociáveis nessa
perspectiva. Fato que ajuda a legitimar o Programa como um
mestrado profissional, ou seja, um mestrado que trabalha
mercado e academia de modo articulado.
Assim, o presente artigo cumpre com sua proposta. Um
texto que não se apresenta como um campo fechado, mas como
um olhar sobre as possibilidades de análise e intervenção na
indústria criativa e comunicação organizacional. Espera-se que
os argumentos aqui apresentados, fatos e dados, sirvam para
orientar outras abordagens e ampliar o escopo de discussão
acerca dessa temática e gerar novas experimentações no uso
do Design Thinking como método de inovação para pensar,
propor e realizar estratégias de comunicação organizacional.
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Notas do Capítulo
Uma versão resumida desse artigo foi publicada na Revista TECCCOG – Brazilian Journal of
1
Technology, Communication, and Cognitve Science.
277
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
COMUNICANDO CIÊNCIA: Revisão de
Conceitos
COMMUNICATING SCIENCE: Review of Concepts
Maria Luiza De Grandi
Resumo: A ciência está ao nosso redor e pertence à nossa sociedade.
Segundo Bueno (1985), a difusão científica faz referência a todo e
qualquer processo ou recurso utilizado para a veiculação de
informações científicas, dentro dos meios de comunicação.
Cientistas têm o dever social de retornar o conhecimento científico
à sociedade. Dentro do conceito de difusão científica, Bueno
(1985; 2010) aponta ramificações que englobam disseminação
científica, jornalismo científico e divulgação científica. No presente
estudo, faremos uma revisão bibliográfica baseada em Garvey &
Griffith (1979), Valério (2005), Massarani (1988) e Albigail (1996),
entre outros autores, para apontar características que divergem e
assemelham os conceitos acima apontados. A revisão destes
conceitos permite o entendimento e o esclarecimento dos
mesmos, ao passo de permitir o desenvolvimento de estratégias
que aproximem cada vez mais a ciência da sociedade.
Palavras-Chave: Difusão Científica. Divulgação Científica. Jornalismo
Científico. Ciência. Comunicação Institucional e
Organizacional.
Abstract: Science is all around us and belongs to our society. According to
Bueno (1985), scientific dissemination refers to any and all
processes or resources used to convey scientific information within
the media. Scientists have a social duty to return scientific
knowledge to society. Within the concept of scientific
dissemination, Bueno (1985; 2010) points out ramifications that
encompass scientific dissemination, scientific journalism and
scientific dissemination. In the present study, we will carry out a
bibliographic review based on Garvey & Griffith (1979), Valério
(2005), Massarani (1988) and Albigail (1996), among other
authors, to point out characteristics that diverge and resemble the
278
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
concepts mentioned above. The review of these concepts allows
for their understanding and clarification, while allowing the
development of strategies that increasingly bring science closer to
society.
Keywords: Scientific Diffusion. Scientific divulgation. Science Journalism.
Science. Institutional and Organizational Communication.
Introdução
A Ciência está ao nosso redor. Ao refletir sobre o impacto
das descobertas científicas no dia a dia, percebemos que muito
do que estamos habituados, como as tecnologias, medicina,
alimentos e transportes, tem a participação de processos
científicos em seu desenvolvimento. Estudiosos tentam traçar o
que seria “a história da ciência”, mas a verdade é que a mesma
não é linear, e sim, marcada por fases determinadas por
relações de política e poder. Segundo Merton (1938), a ciência
é a busca da verdade da humanidade através da razão e da
experimentação.
Nos primórdios da humanidade, mesmo que primitivas, já
eram feitas descobertas que, em seus contextos, mudaram a
forma como viveram. Na antiguidade, ciência e religião
envolviam-se em uma relação complexa, onde eram ligadas até
o final do século XVII, na Europa. Gradativamente, a partir do
século XV, ciência e religião passaram a se separar, até o
efetivo, que ocorreu no século XVIII, com o movimento
iluminista. Até pouco tempo atrás, o conhecimento através do
estudo básico, médio e superior era algo destinado a um público
seleto, normalmente a quem possuía mais patrimônios e
condições financeiras. A inacessibilidade do ingresso em
instituições de ensino superior justifica, também, o porquê
termos consideramos a ciência algo tão distante de nossa
realidade por muito tempo.
279
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
No Brasil, com a ampliação da consciência ao redor da
importância das crianças e jovens ingressarem e permanecerem
na escola, por volta da década de 60, temos uma aproximação
da população com os conteúdos científicos, porém, o estereótipo
do cientista como um sujeito mágico, muitas vezes escondido
em seu laboratório com descobertas mirabolantes criou uma
parede entre a sociedade e o fazer científico. Para eliminar, ou
diminuir, essa divisória entre ambos, foi e é preciso colocar, cada
vez mais, a cultura científica em nossas vidas.
Apesar de convivermos com o fazer ciência em diversos
âmbitos da nossa vida, o “conceito” de ciência ainda dividiu
opiniões ao longo da história da humanidade. A ciência, marcada
por relações de consumo e poder, foi definida por Merton (1938)
como busca da verdade através da razão e da experimentação.
Segundo Velho (2011):
O processo de transformação do conhecimento científico em
tecnologia e sua apropriação pela sociedade são concebidos de
forma linear, iniciando-se com a ciência até produzir bem-estar
social (ciência básica, ciência aplicada, desenvolvimento
tecnológico, inovação, difusão da inovação, crescimento
econômico e benefício social). Por essa razão, esse paradigma
foi denominado de “ciência como motor do progresso”: tudo se
inicia com a ciência. (VELHO, 2011, p. 136).
O papel da Ciência em nossa sociedade é intrínseco e
dela, verte a responsabilidade social da ciência em retornar à
população os resultados das pesquisas, em avanços que
repercutirão no dia a dia. Porém, a efemeridade e a rapidez com
que nos comunicamos nos dias de hoje, resulta em uma
urgência por parte dos seres humanos em ter respostas,
resultados, informações. É aí que entra a necessidade de
colocarmos a ciência e seus processos científicos dentro dos
assuntos que nos comunicamos, inserindo a cultura científica em
280
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
nossa sociedade. A cultura científica é apontada por Vogt (2011)
como:
“(...) a expressão que traz a ideia de que o processo que envolve
o desenvolvimento científico é um processo cultural, quer seja
ele considerado do ponto de vista de sua produção, de sua
difusão entre pares ou na dinâmica social do ensino e da
educação, ou ainda do ponto de vista de sua divulgação na
sociedade, como um todo, para o estabelecimento das relações
críticas necessárias entre o cidadão e os valores culturais, de
seu tempo e de sua história. (VOGT, 2011, online).”
Comunicar ciência, no entanto, é tão antiga quanto a
própria ciência e atendeu, ao longo da História, às mais diversas
motivações e objetivos. As formas de divulgação e
popularização das ciências evoluíram, acompanhando a própria
evolução das ciências e da tecnologia. Hoje temos à disposição
diferentes eventos e instrumentos como congressos,
seminários, colóquios, palestras, conferências, publicações
variadas, museus com exposições abertas ao público, jardins
botânicos, planetários, filmes, vídeos, programas de rádio e TV,
internet, entre outros.
O ato de comunicar é próprio do ser humano e, desde o
princípio, a ciência faz parte do dia a dia e das comunicações
entre os seres humanos. No campo teórico, não existe uma
unidade quando falamos dos conceitos sobre o comunicar a
ciência. Aproximações e diferenças de cada conceito, apesar,
nos trazem o entendimento dos mesmos. O presente capítulo é
uma revisão bibliográfica que tem por objetivo principal trazer os
principais conceitos que permeiam a comunicação da ciência. A
partir de uma revisão de conceitos de autores como Bueno
(1985; 2010), Oliveira (2002), Albagli (1996; 2005), iremos
apontar aproximações e diferenças. Em um primeiro momento,
traremos três conceitos que versam sobre comunicar ciência
281
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
para quem já tem familiaridade com o meio científico: Difusão
Científica, Disseminação Científica e Comunicação Científica. A
seguir, iremos trazer o conceito e características do Jornalismo
Científico e por fim, traremos a Divulgação Científica e seus
principais pontos.
Difusão Científica, Disseminação Científica e Comunicação
Científica: entre pares e extra pares
Difusão, Disseminação e Comunicação Científica são
termos que geralmente se confundem entre si. Na teoria, não
são sinônimos, mas para alguns, as diferenças são tão tênues
que podem ser colocadas com o mesmo significado. Para Bueno
(1985, p.1421), o conceito de difusão científica é amplo, e “faz
referência a todo e qualquer processo ou recurso utilizado para
a veiculação de informações científicas”. A partir da colocação
do autor, pode-se interpretar que o conceito de difusão científica
tem a amplitude de atribuir a si os demais conceitos, como
disseminação científica e comunicação científica. Para o autor,
a difusão científica parte do princípio do termo: difundir.
Em seu entendimento, entretanto, a disseminação
científica é a transferência de informações científicas sem
renunciar aos códigos e jargões característicos deste grupo, ou
seja, comunicar a ciência dentro da comunidade científica.
Sendo o próprio sistema social da ciência, segundo Ziman
(1979, p.83) “uma grande descoberta científica não passa a
existir, apenas, por força da autoridade moral ou do talento
literário do seu criador, e sim pelo seu reconhecimento e sua
apropriação por toda a comunidade científica”.
A Disseminação Científica tem a característica de não ter,
em seu formato, a essência de ser o mais acessível possível
para quem não é da comunidade científica, tornando-se uma
comunicação de cientista para cientista.
Disseminação
282
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Científica, segundo Bueno (1985), pode ocorrer de dois
formatos: extrapares e entrepares. A obra de Bueno (1985)
aponta a Disseminação Científica extrapares como a
comunicação para cientistas de forma ampla. Um bom exemplo
é quando, em um encontro de médicos, um médico fala sobre
oncologia para médicos de diferentes especialidades. Já na
Disseminação intrapares, temos a comunicação da ciência para
um público muito mais restrito, com maior utilização de jargões
e termos técnicos. Na exemplificação, seria como um médico
oncologista falando para outros oncologistas.
A Disseminação Científica ocorre-nos mais diversos
formatos, como programas de rádios, podcasts, congressos e
encontros. No entanto, um dos formatos mais antigos e eficazes
de disseminação científica é os periódicos científicos. Os
periódicos científicos foram os precursores do acesso amplo à
ciência, desde seu princípio em 1665, sendo locais de
publicação de artigos sobre pesquisas de diversas áreas da
ciência.
O conceito de disseminação científica se assemelha ao
conceito de comunicação científica, não havendo ainda uma
concordância sobre a diferença tênue entre os dois. Segundo
Garvey e Griffith (1979), a comunicação científica é o conjunto
de atividades associadas à produção, disseminação e uso da
informação relacionada aos processos e resultados científicos,
ocorrendo entre pares. Para Bueno (1985), a comunicação da
ciência e tecnologia é descrita como “comunicação de
informação científica e tecnológica, transcrita em códigos
especializados, para um público seleto formado por
especialistas” (BUENO, 1985, p. 15).
Mais recentemente, Albagli (2009) apontou diferenças
entre os termos. Segundo a autora, a comunicação da ciência
pode ocorrer como:
283
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
a) a comunicação, no âmbito da própria comunidade de
especialistas, de conclusões e resultados advindos do avanço
do conhecimento científico-tecnológico; b) sua socialização de
maneira ampla, divulgando e popularizando, com o público em
geral, seus princípios, métodos e resultados, bem como sua
memória e seus registros históricos, contribuindo para sua
apropriação social, bem como para o exercício do controle social
sobre a direção e os impactos da atividade científico-tecnológica;
e, c) sua difusão para e pelo setor produtivo, organismos
técnicos e reguladores, como insumo para o incremento da
qualidade, da inovabilidade e competitividade, em favor da
melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente (ALBAGLI,
2009).
A disseminação científica tem se modificado ao longo dos
anos, principalmente em decorrência dos avanços tecnológicos,
que permitiram um amplo acesso aos periódicos científicos. A
disseminação científica, ao diversificar suas plataformas de
publicação dos artigos científicos, abriu portas para que a ciência
iniciasse uma intensificação no processo de comunicação da
ciência para o público em geral.
Jornalismo Científico: a ciência nos veículos de
comunicação em massa
O Jornalismo Científico é outro conceito relacionado à
comunicação da ciência. O jornalismo científico é uma vertente
do jornalismo em si e está presente nos jornais diários, em
revistas, em programas específicos e em documentários
especiais. Segundo Bueno (1985), jornalismo científico se refere
à “processos, estratégias, técnicas e mecanismos para
veiculação de fatos que se situam no campo da ciência e da
tecnologia”. Para o autor, o Jornalismo Científico é a presença
da ciência nas pautas dos veículos de comunicação em massa,
como rádio, jornal e televisão.
284
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
No conceito de jornalismo científico, podemos entender
que ele é o próprio fazer jornalístico, trazendo a si as regras,
teorias e objetivos do jornalismo propriamente dito. Sendo
assim, este formato de difusão da ciência busca noticiar
descobertas, processos e achados científicos em seus fatos e
resultados. Outro ponto a se destacar é que, por ser veiculado
em meios de comunicação de massa, com seu prestigio e
audiência, o jornalismo científico é um meio eficaz de legitimar a
ciência e trazer a sociedade para perto dos resultados.
A ciência faz parte das pautas do dia a dia das
reportagens jornalísticas, como a descoberta de vacinas,
lançamentos de foguetes ao espaço e demais assuntos que
importam para a sociedade. O Jornalismo Científico (JC)
também se apresenta no formato de entrevista, quando é preciso
saber a opinião de um especialista sobre o assunto. No Brasil, o
JC surge com a própria imprensa e com os periódicos científicos,
em 1808. A institucionalização da cultura brasileira foi permitida,
bem como a existência da imprensa e a construção de
instituições científicas no Brasil. Com a iniciação da produção
científica brasileira, sua divulgação era feita nos jornais
cotidianos e voltados ao grande público. Segundo Oliveira
(1998), os primeiros jornais, como A Gazeta do Rio de Janeiro
(1808), O Patriota (1813-1814) e o Correio Brasiliense (1808),
publicavam artigos e notícias relacionados à ciência.
Ao longo dos demais anos, a ciência não saiu das pautas
jornalísticas, mas foi na década de 80, com o surgimento de
novas revistas como Ciência Hoje (SBPC), Ciência Ilustrada
(Editora Abril), que ele cresceu significativamente. Além disso,
surgiram programas de televisão como Globo Ciência (TV
Globo) e Estação Ciência (antiga TV Manchete). De acordo com
Oliveira (2002), “o jornalismo científico de qualidade deve
demonstrar que fazer ciência e tecnologia é, acima de tudo,
atividade estritamente humana, com implicações diretas nas
285
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
atividades socioeconômicas e políticas de um país. Portanto, do
mais alto interesse para o jornalismo e para a sociedade”.
Bueno (1985) aponta, no entanto, que a ciência encontra
certas dificuldades de estar dentro das pautas jornalísticas, e
vice-versa, como por exemplo, o fato que o processo científico é
de longa maturação, ou seja, os resultados e apontamentos para
utilização da pesquisa na prática demoram meses ou anos para
serem apurados, enquanto o fazer jornalístico é efêmero, rápido
e a produção de notícias está condicionado à coleta e circulação
rápida de informações. A relação cientista-jornalista também é
conturbada, uma vez que o jornalista, em sua apuração, precisa
que o cientista utilize a linguagem acessível ao falar de sua
pesquisa, além de disponibilidade para a entrevista. Hoje, no
Brasil, temos a crescente conscientização para jornalistas e
cientistas da importância de caminharem lado a lado.
Em consonância com a Divulgação Científica, o
Jornalismo Científico trabalha para aproximar o público leigo das
descobertas e conteúdos científicos. A seguir, iremos conceituar
a Divulgação Científica, temática principal do estudo, sua
historicidade e sua participação nas instituições de ensino e
pesquisa.
Divulgação Científica: o trazer a ciência à público
Com o primor de aproximar sociedade e ciência, a
Divulgação Científica é a temática que permeia esse estudo. O
verbo “divulgar” significa propagar, tornar à público. A origem do
termo Divulgação Científica vem de Pasquali (1978), teórico do
pensamento comunicacional. Segundo o autor, “divulgação é o
envio de mensagens elaboradas mediante a transcodificação de
linguagens, transformando-as em linguagens acessíveis, para a
286
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
totalidade do universo receptor” (MASSARANI, 1988, p. 13 apud
PASQUALI, 1978).
Definida por Bueno (2010) como uma atividade que utiliza
“recursos, técnicas, processos e produtos (veículos ou canais)
para a veiculação de informações científicas, tecnológicas ou
associadas a inovações ao público leigo” (BUENO, 2010, p.2), a
divulgação científica tem um papel social de extrema
importância, aproximando a sociedade do pensar a ciência,
apontando resultados, apresentando experiências e inserindo,
de forma acessível, a cultura científica.
Em termos práticos, a Divulgação Científica abrange
todos os produtos midiáticos, eventos, encontros e congressos
que permitam que o público leigo faça parte do entendimento da
ciência naquele momento. Dentro da DC, encaixam-se
desenhos infantis, história em quadrinhos, podcast, livros, roda
de conversas, eventos em museus e até aulas de ciência.
Segundo Albagli (1996, p. 396) a divulgação científica é como “o
modo pelo qual a sociedade percebe a atividade científica e
absorve seus resultados, bem como os tipos e canais de
informação científica a que tem acesso”.
Autores como Nelkin (1995), Jacobi e Schiele (1988) e
Mussarani (1988), apontam a popularização científica ou
vulgarização científica, como equivalente à divulgação científica,
colocando que cada expressão é adotada conforme o país e a
época em que esta área é estudada. Para Jacobi e Schiele
(1988), o termo vulgarização científica surgiu na França, no
início do século XIX. Já o termo popularização da ciência tem
sido usado nos países de língua inglesa e na América Latina.
Apesar de visualizarmos a expressão popularização da ciência
nos portais oficiais do Governo Federal, para Nelkin (1995), a
partir dos anos 60 e 70, o país passa a adotar o termo divulgação
científica. Segundo Albagli (1996, p. 397):
287
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Popularização da ciência ou divulgação científica (termo mais
frequentemente utilizado na literatura) pode ser definida como
“o uso de processos e recursos técnicos para a comunicação da
informação científica e tecnológica ao público em geral”. Nesse
sentido, divulgação supõe a tradução de uma linguagem
especializada para uma leiga, visando a atingir um público mais
amplo. (ALBAGLI, 1996, p. 397).
Se partirmos do simples fato do significado de “popular”,
entendemos que a popularização da ciência é mais que
simplesmente comunicar, é trazer o público para o debate
científico, algo enriquecedor para o desenvolvimento científico
do país. Popularizar a ciência é colocá-la no campo da
participação popular e sob o crivo do diálogo com os movimentos
sociais. (GERMANO; KULESZA, 2006, p.20 apud FERREIRA,
2014, p. 05).
A Divulgação Científica possui uma característica
marcante: a não utilização de jargões científicos e sim, de uma
linguagem leve e acessível que transmita ao público os
resultados científicos de forma didática. Abigail (1996) aponta
que a divulgação científica seria a tradução de uma linguagem
especializada para uma leiga, visando a atingir um público mais
amplo. (ABIGAIL, 1996, p. 396). A Divulgação Científica também
atua como um braço direito da educação formal e incentivadora
do desenvolvimento científico e tecnológico do país, tendo o
poder de modificar e aguçar a percepção do público sobre a
ciência. Em 2019, o então Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações (MCTIC) e o Centro de Gestão e
Estudos Estratégicos (CGEE) realizaram mais uma versão da
pesquisa sobre "Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no
Brasil". Foram entrevistadas 2.200 pessoas acima de 16 anos,
de todas as regiões do País.
Os resultados da pesquisa demonstraram que 73% dos
entrevistados acham que a Ciência e a Tecnologia trazem
288
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
apenas benefícios ou mais benefícios que malefícios para a
sociedade.
Segundo o estudo, 82% dos entrevistados
entendem que o conhecimento científico quando bem explicado
é fácil de compreender. A pesquisa demonstra a importância do
trabalho da Divulgação Científica. A consciência gradual da
importância da divulgação científica proporcionou que, ao longo
dos anos, a ciência estivesse presente na mídia, sendo, cada
vez mais, transformada em linguagem acessível para a
população. Entretanto, com o avanço das tecnologias e o
surgimento da internet, a divulgação da ciência também foi
construindo seu espaço na web. Então, a divulgação científica
tornou-se mais facilmente produzida, tornando a ciência mais
democrática, instrumentalizando os indivíduos para participarem
de decisões que envolvem toda a humanidade (MUSSARANI;
MOREIRA, 2003).
Segundo Reis e Gonçalves (2000, pág. 69), o interesse
do público por assuntos da ciência cresceu a partir das
mudanças decorridas da Revolução Industrial, aumentando a
necessidade de conhecimentos básicos de ciência relacionados
ao aumento da produtividade. Posteriormente, com fortes
impactos na ciência, as duas Guerras Mundiais também
contribuíram para o avanço da Divulgação Científica, com a
aproximação de cientistas e escritores de ciência em torno de
diversos assuntos. Segundo Burkett (1986), a guerra produziu
milhões de homens e mulheres ansiosos para serem educados
nessas novas ciências.
No Brasil, a Divulgação Científica surgiu nos primórdios
dos primeiros institutos de pesquisa em território nacional, como
citado acima. Segundo Luisa Massarani, a primeira
manifestação de divulgação científica aconteceu no início do
século XIX, com a abertura dos portos e com a criação da
Imprensa Régia, em 1810. Todavia, o estabelecimento das
289
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
primeiras instituições não foi o ponto de partida do
desenvolvimento regular da atividade científica no Brasil.
No entanto, a não consolidação de uma cultura onde
ciência e educação eram levadas como primordiais, a ciência
ficava cada vez mais distante da população, consequentemente,
muitas das políticas públicas como, por exemplo, saneamento
básico, vacinas e controle de doenças por meio de tratamento
preventivo, não eram aderidos pela maioria. De acordo com
Barata, Caldas e Gascoigne (2018):
Gradualmente, os governos começaram a se mover, em
velocidades diferentes, para encorajar e apoiar a ciência e
atividades de comunicação. Eles perceberam que se a
sociedade deve aproveitar ao máximo as descobertas de
cientistas, então o público deve ter uma base para apreciação
da ciência e seu significado. As pessoas precisam compreender
as questões envolvidas e os riscos e benefícios da pesquisa
científica porque, em última análise, os cidadãos tomam
decisões sobre como seus governos operam. Isso levou ao
financiamento de programas nacionais com o objetivo de
aumentar o conhecimento público da ciência e tecnologia.
(BARATA; CALDAS; GASCOIGNE, 2018, p. 90)
Com o surgimento das Universidades e de institutos de
pesquisa, entre 1930 e 1970, a ciência sofreu um impacto
positivo. Nos anos 1960, seguindo um fluxo americano de
transformações na educação, o Brasil deu início a um
movimento educacional renovador, baseado na experimentação
científica. Concomitantemente, foram crescentes as iniciativas
de divulgação científica dentro de programas de televisão, rádio
e também da modernização de museus. Em termos
governamentais, as Conferências Nacionais de Ciência e
Tecnologia (CNTC) foram às precursoras por colocarem a
importância da aproximação da sociedade e da ciência dentro
das políticas públicas brasileiras. A segunda edição da
290
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Conferência, em setembro de 2001, resultou no Livro Branco
(2001).
No Brasil recente, a 4ª Conferência Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação para um Desenvolvimento Sustentável,
realizada no período de 26 a 28 de maio de 2010, produziu o
Livro Azul, contendo propostas para a área a serem realizadas
na próxima década. Entre as recomendações, está o
estabelecimento e a execução do Programa Nacional de
Popularização e Apropriação Social da Ciência, Tecnologia &
Inovação (2011-2022).
A consciência gradual da importância da divulgação
científica proporcionou que, ao longo dos anos, houvesse a
crescente em ações de DC. Podemos citar como exemplo, o
evento anual “Pint Of Science”, festival anual de divulgação
científica criado em 2013 por Michael Motskin e Praveen Paul
em Londres. No Brasil, o evento acontece em diversas cidades,
incluindo Santa Maria. Em 2023, o evento teve a presença de
mais de 600 pesquisadores e especialistas, que discutiram
tópicos relevantes de diversas áreas do conhecimento em
ambientes descontraídos, como bares e restaurantes.
Não foi surpresa, porém, que ao longo dos anos, com o
avanço das tecnologias e o surgimento da internet, a divulgação
da ciência ocupasse seu espaço nessa plataforma. Com a web,
a divulgação científica tornou-se ainda mais acessível Trazemos
como exemplo o projeto Imagens do Céu Profundo – LCO. Com
a iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações
(MCTI), o projeto integra o Brasil ao projeto global 100 hours for
100 schools (100 horas para 100 escolas), disponibilizando
tempo de utilização de telescópios robóticos de 0.4m da rede
Las Cumbres Observatory (LCO) a estudantes, professores e
cientistas cidadãos no Brasil.
Além de facilitadores para as ações presenciais de
Divulgação Científica, a internet possibilitou que diferentes
291
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
instituições de pesquisa, Universidades e até mesmo os próprios
cientistas descobrissem meios de divulgar a ciência dentro da
Web. De acordo com Mussarani e Moreira (2003) a internet
tornou a DC mais facilmente produzida, tornando a ciência mais
democrática, instrumentalizando os indivíduos para participarem
de decisões que envolvem toda a humanidade. Em paralelo, a
internet manifestou movimentos dentro da comunidade
científica, resultando em Políticas de Acesso à Ciência que
permitem que qualquer um com acesso à rede mundial de
computadores, possa pesquisar e encontrar artigos científicos,
teses, dissertações, entre outras produções científicas no Brasil.
Nos últimos anos, houve um desencanto com a ciência ao
redor do mundo, seguida de críticas por parte de uma parcela da
nossa sociedade. Com o avanço tecnológico e as mudanças nos
formatos de consumo de notícias, tem havido uma crescente
deslegitimação da ciência em alguns setores da sociedade. Isso
pode ser visto em várias questões, incluindo mudanças
climáticas, vacinas, teorias da conspiração e até mesmo fatos
básicos estabelecidos há muito tempo pela ciência, como a
forma como a Terra é esférica. Contrariando Isaac Newton,
Kepler e Albert Einstein, os chamados “terraplanistas” defendem
que a terra é plana como um disco de vinil, e não redonda, como
sabemos.
Informações desse formato conspiram contra a ciência,
pois desletigima anos e anos de pesquisas científicas. As
informações falsas ou “fake news”, como são popularmente
conhecidas muitas vezes não têm base científica e podem levar
as pessoas a questionar a validade de descobertas científicas
wbem estabelecidas. As consequências da deslegitimação da
ciência são diversas, pois podem levar às pessoas a decisões
prejudiciais à sociedade, como por exemplo, se as pessoas não
acreditam na importância das vacinas, isso pode levar a surtos
de doenças que já foram erradicadas ou controladas.
292
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Definida por Bueno (2010) como uma atividade que utiliza
“recursos, técnicas, processos e produtos (veículos ou canais)
para a veiculação de informações científicas, tecnológicas ou
associadas a inovações ao público leigo” (BUENO, 2010, p.2), a
divulgação científica tem um papel social de extrema
importância, aproximando a sociedade do pensar a ciência,
apontando resultados, apresentando experiências e inserindo,
de forma acessível, a cultura científica.
Em termos práticos, a Divulgação Científica abrange
todos os produtos midiáticos, eventos, encontros e congressos
que permitam que o público leigo faça parte do entendimento da
ciência naquele momento. Dentro da DC, encaixam-se
desenhos infantis, história em quadrinhos, podcast, livros, roda
de conversas, eventos em museus e até aulas de ciência.
Segundo Albagli (1996, p. 396) a divulgação científica é como “o
modo pelo qual a sociedade percebe a atividade científica e
absorve seus resultados, bem como os tipos e canais de
informação científica a que tem acesso”.
Considerações finais
A ciência tem seu espaço de prestígio dentro da
sociedade, porém, é visível a necessidade de retorno à
sociedade do processo científico. O público precisa estar cada
vez mais conectado e atrelado com as descobertas científicas,
para que a ciência seja uma verdadeira aliada do
desenvolvimento mundial. A difusão científica existe em suas
diversas faces apresentada neste texto, porém, ainda com os
conceitos confusos para muitos difusores científicos e para a
população em geral.
No presente capítulo, buscamos trazer os principais
autores que definem conceitos que permeiam a comunicação da
293
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
ciência como Bueno (1985; 2010), Oliveira (2002), Albagli (1996;
2005), entre outros. O capítulo teve como objetivo principal
apontar diferenças e semelhanças entre os conceitos. Como
exposto, não existe uma unanimidade quando falamos sobre
definições dos conceitos apontados, porém, é possível verificar
semelhanças e diferenças, apontadas durante o texto.
Divididos em subcapítulos, os conceitos apontados
auxiliam no entendimento do comunicar ciência, possibilitando o
desenvolvimento de estratégias e ações assertivas pelos
produtores de conhecimento científico, como instituições de
ensino e laboratórios. O entendimento dos conceitos também
auxilia os profissionais de comunicação e demais gestores que
pensam e executam ações de ampliação do acesso à ciência.
Como abordado, a disseminação e a comunicação da ciência,
de acordo com os autores, debate os resultados dentro da
comunidade científica, fazendo com que os assuntos
permaneçam na “bolha”. Entretanto, o jornalismo científico e,
principalmente, a divulgação científica torna os resultados
interressantes e acessíveis a sociedade em geral.
A tradução do conhecimento científico para o público leigo
é de imensa importância, trazendo cada vez mais a sociedade
para perto do pensar e agir científico. É preciso desenvolver
ações pensando a partir de uma ótica da inserção da ciência em
nossa cultura. O capítulo é introdutório acerca dos temas e abre
portas para uma reflexão aprofundada da responsabilidade que
cada um de nós, sejamos produtores de conhecimento científico,
ou não, de trabalhar para que a ciência seja de todos nós.
Referências
ALBAGLI, S. Divulgação científica: informação científica para a cidadania?
Brasília, 1996.
294
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
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295
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
PRÁTICAS CULTURAIS, COMUNICATIVAS E
ADMINISTRATIVAS NA PRESERVAÇÃO DE
VALORES ORGANIZACIONAIS
CULTURAL, COMMUNICATIVE, AND
ADMINISTRATIVE PRACTICES IN PRESERVING
ORGANIZATIONAL VALUES
Maria Ivete Trevisan Fossá
Resumo: por meio de um estudo de caso com três empresas familiares de
um mesmo grupo empresarial do ramo metalúrgico, buscamos
compreender a dinâmica que envolve a formação de vínculos
afetivos entre empregados e organizações familiares. A pesquisa
recupera a ideologia básica – valores e objetivos essenciais – que
se mantém em todas as fases de desenvolvimento da
organização, levando-se em consideração a declaração dos
valores, sua continuidade histórica e a coerência entre o que é
declarado como essencial e o que é vivido no cotidiano
empresarial. Observamos que a identificação dos empregados
com os valores organizacionais pode ser explicada pela forma
como os empregados se apropriam dos valores difundidos, pela
política de recursos humanos e de comunicação interna e pelos
elementos simbólicos da cultura organizacional que fortalece o
imaginário coletivo e solidifica as significações acerca da ideia de
empresa como uma grande família.
Palavras-chaves: Comunicação interna. Cultura organizacional. Mídia e
estratégias organizacionais. Relações Públicas.
Abstract: Through a case study involving three family-owned companies
within the same metallurgical business group, we aim to
understand the dynamics involved in the formation of emotional
bonds between employees and family organizations. The research
explores the underlying ideology - core values and essential
objectives - that remain consistent throughout the various stages
of organizational development, taking into account the declaration
of values, their historical continuity, and the coherence between
296
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
what is stated as essential and what is experienced in everyday
business life. We observed that employees' identification with
organizational values can be explained by how they internalize the
disseminated values, the human resources and internal
communication policies, and the symbolic elements of
organizational culture that strengthen collective imagination and
solidify the meanings associated with the concept of the company
as a large family.
Keywords: Internal communication. Organizational culture. Media and
organizational strategies. Public Relations.
Introdução
Partimos do pressuposto que a formação de vínculos
entre empregados e organizações familiares pode ser entendida
como sendo uma liga que mantém organização e empregados
unidos. A intensidade do vínculo ou da liga é diretamente
proporcional ao modo como os empregados se apropriam dos
valores difundidos, através de um estruturado sistema de
comunicação, uma consistente política de recursos humanos e
uma adequada administração dos elementos formadores da
cultura organizacional. Entendemos que a administração dos
elementos culturais como histórias, mitos, heróis, ritos, rituais,
cerimonias e símbolos devem ser compreendidos pelos
profissionais de comunicação, em especial, os de Relações
Públicas.
O desafio que se apresenta para os profissionais de
comunicação é o de entender a empresa como um espaço
movido por relações interativas, plurais, mutantes, conflituosas
na busca por criar, manter e ampliar os vínculos, que vão se
refletir na adoção de uma atitude favorável da empresa em
relação à missão, aos objetivos, às metas e às finalidades
organizacionais.
297
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
O comunicador organizacional, o relações públicas, o
profissional responsável pela comunicação da e na organização
precisa não apenas aceitar a ideia de que a cultura
organizacional é formada por vários elementos, sendo um deles
a própria comunicação, como também compreender os seus
meandros, entender como a cultura foi criada, sustentada,
aprendida e comunicada nas diferentes fases de
desenvolvimento da organização.
Este capítulo trata da institucionalização de valores e
objetivos, ou seja, dos valores declarados pela organização e
que práticas foram utilizadas para a internalização destes
valores pelos empregados. As práticas dizem respeito a
utilização de processos formais, os quais incluem programas de
treinamento, publicações internas, hinos e bordões corporativos,
exposição a uma mitologia de “feitos heroicos”, uso de
linguagem e terminologia próprias, reconhecimento e
recompensas, comemorações, ênfase em ditos como “pratas da
casa”, “grande família”, entre outros ditos, práticas e modos de
fazer que ajudam na cristalização da cultura organização e por
sua vez na internalização de valores organizacionais.
Referencial Teórico
O modelo teórico proposto está assentado pelos
resultados da pesquisa realizada por Collins e Porras (1998). Os
autores usam os termos ideologia central, núcleo básico e
núcleo central como sinônimos e tais termos se referem ao
conjunto de valores básicos e objetivos essenciais que uma
empresa visionária mantém inalterados, ao mesmo tempo em
que promove o seu desenvolvimento econômico e financeiro.
Fossá, em 2003, nos estudos de doutoramento toma como
referência a pesquisa desenvolvida por Collins e Porras (1998)
e os pressupostos teóricos de Schein (1985) que concebe os
298
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
valores como elemento fundamental da cultura organizacional,
orientadores da vida da empresa, além de guiarem o
comportamento de seus membros, delimitando suas formas de
agir, de pensar e de sentir.
Os valores tanto na concepção de Collins e Porras (1998)
quanto de Schein (1985) constituem uma espécie de ideologia
que funciona como filtro, selecionando informações, guiando
atitudes, bem como controlando relacionamentos e evitando
confrontos com crenças contraditórias. Os estudos de Fossá
resultam na proposta de um construto teórico e operacional para
estudar a cultura de devoção em empresas familiares e
visionárias. A autora elenca o sistema de valores
(organizacionais e individuais), o contexto organizacional
(formado pela cultura e subculturas), a comunicação
organizacional, está capaz de fortalecer a identidade e a
identificação do empregado com a organização, pela produção
de sentidos compartilhados, são categorias responsáveis pelo
comprometimento do tipo afetivo, que a autora denomina de
cultura de devoção.
A cultura de devoção observada é fortalecida por
elementos expressivos da cultura como as histórias, os mitos, os
heróis, os ritos, os rituais, as cerimônias, os símbolos e a
linguagem. Conhecer as relações conscientes e inconscientes
pelas quais o indivíduo se liga à organização e compreender as
políticas que reforçam essa ligação foi condição essencial para
o conhecimento dos poderes e contrapoderes que tanto a
organização como os indivíduos desenvolvem a fim de serem
reconhecidos e legitimados como portados de valores e
demandas legítimas. Assim, estudar os modos como a
organização legitima os valores junto ao corpo funcional nos fez
buscar bases teóricas e epistemológicas em obras de autores da
área da Psicologia Social (SCHEIN, 1985; MOWDAY et al.,
1982); Sociologia (BERGER; LUCKMANN, 1996; CERTEAU,
299
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
1994; Mucchielli, 1992); Antropologia (MORIN, 1981),
Psicanálise (PAGÈS et al., 1990; DEJOURS, 1988; 1991; 1992;
1993; 1994; FREUD; 1976; 1997; LAPLANCHE; PONTALIS,
1976; ENRIQUEZ, 1997) Teorias Organizacionais (FLEURY,
1992; COLLINS; PORRAS, 1998; CHANLAT, 1992; ETZONI,
1975; HALL, 1984) Filosofia (MORIN, 1981), e Comunicação
(MATTELART; MATTELART, 2001).
Alguns
construtos
teóricos,
epistemológicos
e
metodológicos foram buscados na Antropologia, na Psicologia,
na Comunicação, na Administração e na Psicanálise. Na
Psicologia Social e nas Teorias Organizacionais, encontramos
os subsídios para compreender o comprometimento e explicar
as razões que levam à identificação e ao envolvimento de um
indivíduo particular com os valores organizacionais. Já na
Antropologia e na Comunicação buscamos fundamentos para
entender os sentidos de valor compartilhado, comunicação entre
os pares e produção de significados. Nas teorias sobre cultura
organizacional amplia-se o conhecimento sobre os elementos
formadores da cultura empresarial, os meios de difusão e como
aquela reflete na orientação de comportamentos desejados e
congruentes com os valores organizacionais. Na Psicanálise
buscamos entender os motivos que levam os indivíduos a usar
estratégias individuais e coletivas para ajustar, de forma menos
contraditória possível, o sistema de valores individuais com os
organizacionais.
A maneira como os valores organizacionais são
incorporados pelo empregado dá origem ao processo de
motivação, criatividade e satisfação de necessidades profundas,
gerando um comprometimento do tipo afetivo, denominado por
Fossá (2003) de cultura de devoção. Este, por sua vez, é
reforçado
pelos
elementos
formadores
da
cultura
organizacional, tais como histórias, mitos, ritos, heróis, rituais,
300
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
comunicação, simbologias e linguagens utilizadas e importantes
o processo de produção e reprodução de significados.
Assim, a contribuição do estudo, realizado por Collins e
Porras (1998) e por Fossá (2003) aparece no construto teórico
usado para relacionar o aspecto visionário de uma organização
com a sua capacidade em manter inalterado um conjunto de
valores básicos e objetivos essenciais, denominado pelos
autores de ideologia básica. Os indícios que denunciam a
existência de um vínculo são apontados por Collins e Porras
como processos de doutrinação, rigidez de adaptação,
sentimento de elitismo e, se aproximam muito do construto
teórico denominado cultura de devoção por Fossá (2003).
Metodologia
O método escolhido foi o estudo de caso, voltado para a
descrição de fenômenos, analisando-os em profundidade.
Foram utilizadas várias fontes de evidência capaz de produzir
uma história reveladora de uma rede complexa de fatos,
sentimentos e sensações com vistas a traduzir, como bem
salienta Lapierre (1992) realidades subjetivas e objetivas na
busca de compreender fenômenos, bem mais fácil que explicálos.
Para análise, selecionamos três empresas, pertencentes
a um mesmo grupo familiar, formado por dez (10) empresas,
com matriz no Estado do Rio Grande do Sul. Realizamos uma
análise qualitativa intensiva e comparativa em três unidades de
negócio do Grupo Empresarial. Os dados foram coletados por
meio de entrevistas, realizadas com dezesseis sujeitos de
diferentes cargos, com diferentes tempos de serviço e
pertencentes a três unidades de negócios do Grupo. As
entrevistas foram semiestruturadas, abertas, respondidas em
301
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
uma situação de conversação, durante um período de 45 a 60
minutos e trabalhadas pela análise de conteúdo.
Os discursos provindos das entrevistas tiveram seus
conteúdos analisados por tema, que, segundo Bardin (1979),
são unidades de significação complexa, de comprimento
variável, representada por alusões, afirmações ou negações a
respeito de um assunto. A análise temática foi operacionalizada
pelo recorte do texto e reagrupamentos com base na analogia
semântica, em torno das seguintes fases cronológicas: a préanálise, a exploração do material, o tratamento dos resultados,
a inferência e a interpretação.
Na fase de pré-análise escolhemos os índices temáticos
explícitos nos conteúdos das entrevistas e nos documentos
analisados e procedemos a construção de indicadores. Feito
isto, procedemos ao agrupamento progressivo de categorias
iniciais para a produção das categorias intermediárias e destas
para a produção das categorias finais. A última fase – a
interpretação – consistiu em captar os conteúdos manifestos e
latentes contidos no material coletado (entrevistas e
documentos).
Seguindo as recomendações de Yin (1994) elaboramos
um protocolo com os aspectos relevantes do estudo e as fontes
de evidências, assim como a problemática, a hipótese
orientadora do estudo e as questões centrais que guiaram a
coleta de dados.
A revisão da literatura, a observação sistemática e
assistemática e a experiência profissional da pesquisadora
foram responsáveis pela indicação de alguns prováveis
conceitos orientadores do estudo, sem, contudo, esquecer de
que, em função da natureza da pesquisa, outros conceitos
poderiam emergir durante o seu desenvolvimento, assim como
os conceitos primeiramente escolhidos poderiam ser
substituídos.
302
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Para fins desta publicação foram nomeados a priori como
relevantes os conceitos de valores e significados
compartilhados, comunicação e cultura organizacional e, para
cada um destes construtos teóricos foram consideradas
algumas prováveis fontes de evidência presentes nas práticas
administrativas e comunicativas discutidas abaixo já como
resultados da pesquisa realizada.
Resultados e discussão: as estratégias para reforço dos
valores organizacionais
A cultura organizacional condiciona o comportamento das
pessoas no ambiente organizacional. Inicialmente a cultura se
forma pelos valores do fundador, que guia as ações por meio de
seus princípios e crenças. Isto porque, ele tem uma visão do que
a organização deve ser. Uma cultura é construída sobre um
sistema de valores coesos, claros e orientados aos objetivos da
organização. Hoje 80% das 100 maiores empresas da Fortune
mostram seus valores publicamente, mas eles muitas vezes não
representam nada além de um desejo ou uma frase bonita para
colocar na parede.
Os valores podem diferenciar uma empresa da
concorrência, esclarecendo sua identidade e servindo como
ponto de referência para os colaboradores. Mas criar estes
valores fortes e mantê-los, requer uma boa dose de coragem.
Na verdade, uma organização que deseja criar uma cultura
baseada em valores fortes, bem definidos, deve primeiro aceitar
o fato de que, quando praticados de maneira certa, estes valores
precisam não apenas serem frases bonitas e visíveis, mas sim
serem autênticas e legitimadas por todos os sujeitos
organizacionais. Uma cultura forte e bem definida é um filtro para
as empresas terem sempre os talentos certos que se se
identificam e se inspiram em entregar os melhores resultados.
303
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Em geral, a grande maioria das empresas e líderes só tem
consciência de sua cultura e o impacto dela quando os
resultados são ruins.
Os valores organizacionais são transmitidos tanto pela
rede formal quanto informal de comunicação. O sistema de
comunicação informal compreende a livre expressão e
manifestação não controladas pela administração formal,
enquanto a comunicação formal comporta todas as
manifestações oficialmente enquadradas na estrutura da
organização e legitimadas pelo poder burocrático. Os canais
formais de comunicação são os instrumentos oficiais pelos quais
passam tanto as informações descendentes como as
ascendentes, as quais visam assegurar o funcionamento
eficiente da empresa.
A comunicação interna compreende entre outros
aspectos, a liberdade de expressão e a oportunidade de sugerir
e criticar. A comunicação interna na empresa, privilegiada por
meio de reuniões de comunicação, internet, intranet, quadros de
avisos, jornais, boletins, painéis e conversas informais. A clareza
e a abertura na comunicação interna adquirem relevância para
o comprometimento no trabalho, uma vez que, com a
reestruturação produtiva, todo o processo deve ocorrer de forma
mais ágil, atendendo à velocidade das mudanças que se
impõem às empresas do grupo.
Com a ampliação do sistema formal de comunicação, a
empresa, ao invés de informações filtradas que predominavam
no modelo tayloriano, viu fazerem-se necessárias ações de
comunicação mais no sentido ascendente da linha hierárquica,
de modo que sugestões, críticas e conflitos sejam aproveitados
pela organização, para melhorar a qualidade dos produtos e
serviços, aumentar a produtividade e atender adequadamente
aos clientes e aos outros públicos de interesse, como
304
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
fornecedores, acionistas, comunidade, funcionários e seus
familiares.
Na organização estudada, dos oito valores declarados,
quatro deles são os que apareceram em todas as falas dos
entrevistados. São eles: respeito e a valorização dos
funcionários, satisfação dos clientes, honestidade, integridade e
ética em todos os negócios, qualidade e a confiabilidade no
produto. A seguir, vamos falar sobre cada um deles e que
estratégias administrativas e comunicativas são empregadas
para reforçar o valor e criar o vínculo com a empresa.
Respeito e a valorização dos funcionários é um dos
valores fortemente acentuado pelos entrevistados e refere-se ao
valor que a empresa dispensa ao empregado, e quais programas
desenvolvidos pela empresa atentam para este valor e a como
ele é percebido pelos sujeitos organizacionais entrevistados.
Entre as ações que melhor sintetizam a preocupação das
empresas do Grupo com o princípio homem valorizado e
respeitado tem a ver com a qualidade de vida do empregado e
está presente no programa “Viver de Bem com a Vida”. Trata-se
de um programa de prevenção ao uso de drogas no trabalho e
na família.
Além de estimular hábitos saudáveis, a empresa se
preocupa em oferecer uma alimentação balanceada. O grupo
dispõe de três restaurantes, com serviços terceirizados. Os
funcionários podem optar por uma alimentação light, calórica ou
por lanches. O padrão de qualidade da alimentação é avaliado
mensalmente por uma comissão composta por funcionários e
nutricionistas. Também a empresa realiza palestras sobre
educação alimentar, maneira correta de combinar os alimentos
a fim de prevenir doenças bem como obter maior disposição
física.
Visando promover o bem-estar e a prevenção de
doenças decorrentes da má postura, as empresas do Grupo
305
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
desenvolvem estudos de postos de trabalho com avaliação de
layout, ergonomia do mobiliário, iluminação, entre outros. Nas
áreas administrativas, já foi implantada a ginástica laboral como
prática diária para evitar as lesões de esforço repetitivo.
A ideia de valorização humana emerge com o significado
de que o respeito e a valorização do ser humano estão ligados
com o crescimento pessoal e profissional. O desenvolvimento do
funcionário através da educação constitui-se numa ação
estratégica traduzida na política do aprendizado contínuo, com
subsídios permanentes à educação, além de programa de
(re)qualificação e desenvolvimento comportamental.
As empresas do Grupo também incentivam a cultura
através dos Centros de Tradições Gaúchas, das Rodas de
Chimarrão e do grupo de músicas italianas Ricardo D’Itália.
Também projetos artísticos da cidade e região são apoiados
visando ao fortalecimento da cultura regional.
Assim, com o objetivo de facilitar o acesso dos
empregados a programas de educação permanente, integrar o
aprendizado ao ambiente da empresa, dar suporte aos
programas de construção de equipes, desenvolver lideranças,
facilitar a elaboração e acompanhamento de projetos
estratégicos, estender a atuação da organização como
educadora das pessoas e empresas ligadas a ela e de criar
ambiente favorável ao aprendizado, o Centro de Educação foi
construído em 2001 e recebe o nome de um dos fundadores do
grupo empresarial estudado. Com a implantação do Centro de
Educação, os funcionários passam a aprender na empresa para
aplicar na empresa, sendo que essa filosofia se materializa
através de um Programa que existe em todas as empresas do
Grupo, denominado “Aqui Você Pode Crescer”.
O crescimento pessoal e profissional e a possibilidade de
fazer carreira são referenciados por todos os entrevistados como
sendo uma das práticas que materializa o princípio homem
306
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
valorizado e respeitado. Pelas muitas declarações dos
entrevistados, pelo acompanhamento dos treinamentos
realizados na empresa, pelas conversas informais e pela
observação nos postos de trabalho, pode-se afirmar que a
lealdade do funcionário para com seu empregador se deve em
boa parte à possibilidade de aprendizado contínuo e progressão
funcional na empresa.
Além dos programas e/ou atividades já referenciados
anteriormente, também a promoção de eventos sociais,
esportivos e recreativos, são lembrados pelos entrevistados
como sendo ações que validam o princípio “homem valorizado e
respeitado”. O convívio social e a integração entre empresas e
trabalhadores são promovidos pela Sociedade Esportiva e
Recreativa. Esta dispõe de uma sede campestre com uma área
de 28 hectares, com quadras de vôlei, campos de futebol,
quiosques para churrasco e ampla área verde.
Além da sede campestre, há uma Sede Social “CTG
Velha Carreta”, localizada no pátio da empresa, onde são
realizadas atividades relativas ao Centro de Tradições Gaúchas
e também fica à disposição dos funcionários para realização de
festas de interesse pessoal. A Sociedade Esportiva e Recreativa
realiza convênios com diversas empresas comerciais e de
prestação de serviços. Também dentro da área física da
empresa há estabelecimentos para facilitar a vida dos
funcionários, como lava-carros, loja com artigos esportivos e
escolares, um banco e uma agência de viagens.
O princípio homem valorizado e respeitado é atendido
também na medida em que a empresa oferece uma equidade
salarial interna e externa, benefícios, recompensas econômicas
conjugadas com recompensas simbólicas, condições físicas
seguras, jornada de trabalho flexível, oportunidade de
desenvolver carreira, segurança no emprego, segurança e
confiança na gestão, orgulho do trabalho e da empresa, clareza
307
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
e abertura na comunicação interna, integração social no
trabalho, educação com ênfase à educação profissional,
valorização e incentivo à lealdade.
O princípio a satisfação do cliente tem como objetivo
identificar as práticas que a empresa realiza para manter o
cliente satisfeito e as possíveis transformações por que este
princípio tem passado principalmente em função da implantação
das ISOs. Hoje, sabe-se que os clientes exigem atendimento
rápido, alta qualidade e valor para o seu dinheiro. Para atender
esse consumidor da melhor forma possível, a empresa oferece
produção personalizada em massa, serviços telefônicos
gratuitos e gerentes obcecados em ouvir e atender prontamente
as suas requisições. E a própria qualidade reflete essa
perspectiva de que a qualidade é o que o cliente diz que é.
Pelo depoimento dos funcionários, observa-se que
atender os clientes tanto internos quanto externos, da melhor
forma possível, é um dos princípios das empresas do Grupo
analisado. O objetivo é atender o cliente com qualidade, com
preço justo e com prazos de entrega. Atualmente, a satisfação
do cliente é constantemente divulgada e cobrada até porque as
empresas do Grupo trabalham com a ISO e passam por
frequentes auditorias. Hoje, então, é um valor que está muito
presente no cotidiano dos empregados, sem com isso deixar de
reconhecer que a atenção ao cliente é um valor instituído desde
a época da fundação e que tem marcado fortemente a ideologia
da empresa.
A satisfação do cliente se concretiza no lançamento de
programas visando aproximar as empresas com seus
fornecedores, distribuidores e clientes, buscando otimizar o uso
de matérias-primas e oferecer as melhores soluções para o
transporte. O intercâmbio dinâmico das informações resulta na
concepção de novos modelos de produtos e processos dentro
das modernas técnicas de engenharia. Esta integração tem
308
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
resultado em produtos e serviços que, além de atender às
necessidades dos usuários, antecipam tecnologias e
tendências.
O programa “Portas Abertas ao Cliente” existe desde
1992, com o objetivo de intensificar o contato direto com o
cliente, ampliando conhecimentos sobre seu perfil,
necessidades e expectativas, resultando ainda em dezenas de
melhorias nos produtos e serviços. Outra estratégia para manter
o cliente satisfeito são as pesquisas que detectam informações
e orientam a gestão empresarial, incrementando ações
específicas para melhorar os pontos fracos e cristalizar os
pontos fortes.
A empresa realiza pesquisas para saber o quanto o
cliente está satisfeito com os seus produtos. A pesquisa de
satisfação de clientes visa avaliar a visão do cliente em relação
ao produto, à qualidade, à engenharia, ao suporte técnico, ao
desenvolvimento de novos produtos, à assistência técnica, ao
serviço de pós-venda, à atuação de vendedores e gerentes de
venda, à administração dos pedidos, ao atendimento, às
entregas e à imagem de modo geral.
Através de pesquisas internas e externas, a empresa
procura identificar as necessidades e expectativas dos clientes
e identificar o nível de comprometimento do cliente com a
empresa. O comprometimento é percebido quando o cliente
recomenda a empresa a outros clientes potenciais, pela
continuidade de uso dos produtos da empresa e pelo aumento
de negócios junto a ela.
Além das pesquisas de satisfação, a empresa possui um
sistema interno para atender às reclamações de clientes.
Também os dirigentes das empresas do Grupo, os engenheiros,
os supervisores reúnem-se periodicamente com os clientes para
dar acompanhamento e identificar insatisfações e desejos. Além
disso, a empresa possui o programa de “Visitas de Clientes à
309
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
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Empresa”. Somados a todos estes programas, também a
empresa possui os programas “Portas Abertas” e “Casa do
Cliente”, que visam atender ao princípio de cliente satisfeito. E
se o cliente não quiser se valer de nenhum destes programas ou
demonstrar a sua insatisfação por meio das pesquisas
realizadas, pode utilizar a linha 0800 e fazer a sua reclamação
gratuitamente.
Outro princípio percebido pelos entrevistados refere-se à
honestidade, integridade e ética em todos os negócios. Este
valor sinaliza as ações que a empresa e seus funcionários têm
realizado a fim de capitalizar a boa vontade em relação à causa
social, ampliar os aliados e colaboradores e mobilizar a
sociedade para efetivar mudanças e transformações da
realidade.
O grau de aperfeiçoamento da estrutura organizacional,
sua eficiência e capacidade de crescer, as condições de
trabalho, o controle da poluição, a preservação ambiental, o
treinamento e desenvolvimento profissional das pessoas, a
satisfação dos trabalhadores são exemplos de patrimônio
coletivo, produzido pelo desempenho da função social da
empresa. A empresa precisa se integrar aos problemas sociais
e buscar soluções conjuntas. O exercício da função social cria
um ativo social que transcende os limites da propriedade privada
para incorporar-se ao patrimônio de toda a comunidade.
O Projeto Florescer, instituído em 2001 surge em
decorrência do processo de responsabilidade social interna e
externa da empresa. O Projeto Florescer tem por público de
interesse alunos de uma escola estadual e outra municipal,
localizadas no mesmo bairro onde está instalada a empresa. O
projeto também visa atender os filhos de funcionários da
empresa. A empresa disponibiliza ônibus para transporte das
crianças como também as suas instalações para a prática de
esportes, dança, teatro, informática, domínio de línguas e reforço
310
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
escolar. O aproveitamento das crianças na escola é
acompanhado por empregados voluntários, e toda a criança que
apresenta alguma dificuldade de aprendizagem é acompanhada
por profissionais da empresa, como psicólogos, assistente
social, médicos, dentistas, nutricionista, etc.
A organização quer através do Projeto Florescer, investir
na formação de crianças e adolescentes; incentivar a
participação voluntária dos empregados nas questões sociais;
colaborar na prosperidade econômica, social, política e
ecológica do planeta; ser exemplo de responsabilidade social,
incentivando as outras empresas a investir também; obter dos
funcionários maior motivação de modo que possam contribuir
com mais qualidade nos serviços e resultados da empresa e
também para ter reconhecimento da comunidade.
Os entrevistados também citam a comunicação ampliada
em todos os sentidos hierárquicos como uma forma da empresa
ser ética. A ética passa pela tomada de decisões associadas às
relações com colegas, clientes, fornecedores, comunidade, que,
por sua vez, requer informações precisas e atualizadas. As
chefias mais e mais estão percebendo que as decisões devem
ser mais rápidas e passam a atuar como canais de informação,
ou seja, coletam informações das mais diversas fontes para, em
seguida, compartilhá-las com os membros da sua unidade.
Atualmente, dados contábeis e financeiros são
regularmente apresentados a todos os funcionários, que passam
a aprender a analisar e a interpretar os demonstrativos e a definir
orçamentos para a sua unidade. É evidente que alguns diretores,
gerentes, supervisores estão encontrando dificuldades em
renunciar ao controle da informação. Alguns se sentem
ameaçados em dividir o poder, porém estão percebendo, alguns mais rapidamente do que os outros -, que o desempenho
é melhorado pelo compartilhamento da informação e, quando
isso acontece, todos são tidos como mais eficazes. Também a
311
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
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ética está presente na qualidade, na garantia, na confiança que
os clientes têm nos produtos.
Outro tipo de responsabilidade social é explicitado por
alguns depoimentos, ou seja, ética e responsabilidade social
vista como uma prática de caridade, visão que até então
prevaleceu na maioria das empresas. A responsabilidade social
nas empresas é um conceito que toma força a partir dos anos
90, evolui da filantropia (doação em dinheiro das empresas para
entidades ou causas sociais) para uma filosofia de gestão das
empresas. É uma decisão voluntária calcada não na legislação,
mas na ética, nos princípios e valores da empresa. Atualmente,
a prática de responsabilidade social se amplia em empresas
ligadas ao movimento mundial de Qualidade. Após o foco no
produto, chega-se à preocupação com o homem, o homem
funcionário, o homem da e na comunidade.
A qualidade e a confiabilidade no produto é outro valor
percebido pelos entrevistados. Pela declaração deste valor é
possível verificar a importância dele no cotidiano dos sujeitos
organizacionais entrevistados, se é um compromisso de cada
um e se está relacionada com o produzir, com o comprar, com o
entregar, com o vender, com o se relacionar.
Os entrevistados afirmam que o princípio qualidade nos
produtos e serviços tornou-se uma obrigatoriedade a partir da
implantação das ISOs. Antes, era algo pessoal do fundador e
hoje este princípio está nas normas. As ISOs vieram sistematizar
processos, mas isso não quer dizer que a qualidade não tenha
sido preocupação dos fundadores. Por tudo o que se tem
observado, percebe-se que a qualidade é um princípio básico
das empresas do Grupo e praticado por todos os empregados.
Pelos depoimentos pode-se perceber que o termo cliente
ultrapassa a definição operacional para incluir todos os que
interagem, seja interna ou externamente, com os produtos e/ou
serviços da organização e por isso abrange funcionários e
312
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
fornecedores, bem como as pessoas que compram os produtos
e/ou serviços da organização. A filosofia da qualidade não se
relaciona apenas ao produto, mas a tudo o que a organização
faz. Assim, ela se preocupa com o modo como a organização
trata as entregas, como responde às reclamações, com a
atenção e a presteza com que as solicitações dos clientes são
atendidas.
As certificações ISOs adquiridas pelas empresas do
Grupo trouxeram uma série de benefícios aos fabricantes, ao
exportador, ao governo e ao consumidor. Aos fabricantes, a
certificação garante a implantação eficaz dos sistemas de
controle e garantia de qualidade nas empresas, diminuindo a
perda de produtos e os custos da produção. A certificação
aumenta a competitividade, a satisfação do cliente, facilita a
venda de produtos e a introdução destes em novos mercados,
uma vez que são comprovadamente projetados e fabricados de
acordo com as expectativas do mercado consumidor.
Quando a certificação é feita por um Organismo de
Certificação Mundial, como no caso das empresas do Grupo
estudado, a certificação é reconhecida em outros países e evita
a necessidade de certificação pelo país de destino e assim
protege o exportador de barreiras técnicas ao comércio nacional
e internacional. Em relação ao governo, a certificação pode
oportunizar que ele crie uma infraestrutura técnica adequada
que auxilie o desenvolvimento tecnológico, melhorando o nível
de qualidade dos produtos industriais nacionais.
Também a certificação auxilia o desenvolvimento de
políticas de proteção ao consumidor. Em relação ao consumidor,
o produto certificado dá maior confiança e é um meio eficaz
através do qual o consumidor pode identificar os produtos que
são controlados e testados conforme as normas nacionais e
internacionais. A certificação assegura uma relação favorável
entre qualidade e preço, proporciona a garantia de troca e
313
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
consertos e permite a comparação de ofertas, auxiliando a
escolha dos produtos por parte dos consumidores. Se a marca
é conhecida e procurada, evita-se a competição desleal,
impedindo a importação e consumo de produtos de má
qualidade.
As entrevistas recuperam a ideia de que a qualidade é um
princípio muito antigo na empresa e praticado mesmo antes da
implantação dos programas de qualidade. O Total Quality
Management (TQM) é uma filosofia administrativa orientada
para a satisfação do cliente mediante o aprimoramento contínuo
de todos os processos organizacionais. É importante salientar
que muito provavelmente os fundadores não sabiam deste
movimento todo em torno da qualidade. Deming, Juran, Crosby
eram nomes desconhecidos. Mas se não ouviram falar de
Deming e outros gurus da qualidade total, por certo escutavam
muito bem o seu cliente. Tinham como princípio a honestidade.
Nada que eles fizessem poderia abalar o nome de família.
Traziam este princípio de berço. Ser honesto, para os
fundadores, era satisfazer o cliente, produzir um produto útil,
bom e barato. Agir eticamente é uma maneira que a empresa
escolheu para obter retorno do capital investido.
Valores e significados circulantes na empresa em estudo
Em concordância com Antunes (2000, p. 143) de que o
trabalho, depois da família e da escola, é o lócus do aprendizado
de relações interpessoais e de superação de desafios cognitivos
e psicológicos, entendemos que o significado do trabalho na vida
das pessoas é suporte da própria formação da identidade do
indivíduo. Neste sentido, o trabalho não é somente espaço onde
se constroem relações de sobrevivência, mas é também o locus
da própria formação e expansão da identidade individual e
coletiva dos sujeitos organizacionais. Neste mesmo sentido
314
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Morin (1981) infere que a identidade é a relação entre os
sujeitos, individual ou social, e os padrões criados por eles
próprios. Afirma ainda, que a identidade resulta de uma
correlação entre a cultura constituída de valores, normas,
crenças, regras. mitos, símbolos, ritos, rituais, imagens e, os
indivíduos que já estão estruturados por estes elementos
formadores da cultura.
A organização em estudo, é uma empresa
cinquentenária, conserva empregados antigos, que formam uma
constelação de “pratas da casa”, ao redor dos quais se vai
moldando uma cultura de sólidos vínculos com o passado, difícil
de ser penetrada por elementos do presente. Velhos costumes
e uma sensação de ambiência familiar estão introjetados em
muitos indivíduos obstando muitas vezes o avanço das
mudanças.
Analisando os registros de pessoal, observamos que há
empregados antigos, alguns aposentados e que continuam
trabalhando, outros mais trabalharam unicamente na empresa,
muitos começaram como aprendizes e tiveram oportunidade de
progressão funcional. Estes empregados que possuem a sua
vida e a sua história profissional ligada à empresa são
considerados os “pratas da casa”. São pessoas que construíram
uma história na empresa, começaram em posições baixas na
hierarquia organizacional e escalaram postos de trabalho mais
altos. Estimados pela administração superior, percebem a
empresa como uma extensão do lar. Gostam imensamente da
“casa” e de seus dirigentes, são exemplares na conduta
profissional e “vestem a camisa” da organização em qualquer
circunstância.
Os veteranos, ou os também chamados “pratas da casa”,
por sua condição de conhecimento e integração ao chamado
“espírito da casa”, irradiam opiniões, geram influências, exercem
liderança, ditam muitas vezes as regras do jogo e em outras
315
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
vezes interpretam essas regras de acordo com suas
conveniências e aspirações, exercendo assim um poder sobre o
tecido organizacional. Os veteranos criam uma aura de
segurança e tranquilidade sobre os setores, imprimem uma forte
característica integrativa, realçada pelo famoso dito popular “é
necessário vestir a camisa da empresa”, estabelecem laços
intergrupais e interpessoais importantes e reforçadores do
sentimento de solidariedade e trabalho integrativo.
Em épocas de crise, os “pratas da casa” participam
ativamente, motivados a dar o máximo de si para reerguer as
forças produtivas. Ao lado desses aspectos positivos, os “pratas
da casa” contribuem na cota de aspectos negativos tais como a
passividade e a acomodação decorrentes do longo período que
trabalham na empresa. Muitas vezes capazes de se
considerarem tão donos de si e dos seus cargos, não se
preocupam em desenvolver a criatividade ou aumentar a
eficiência. A empresa em estudo reconhece a expressiva
contribuição que os veteranos exercem na solidificação de
valores, mas também procura oportunizar-lhes treinamentos a
fim de motivá-los para novos desafios profissionais de modo a
revitalizar a cultura organizacional.
Por ser um grupo empresarial que atua no ramo de
metalurgia, as unidades de negócios fazem lembrar
características masculinas como trabalho viril, máquinas
pesadas, matéria bruta, além de que a maioria dos empregados
é do sexo masculino. A presença feminina na empresa,
comparada com a masculina, é ínfima, apenas 9% e está mais
presente nos setores administrativos. Também os cargos
hierárquicos superiores são ocupados por homens e uma única
exceção aparece no setor de Recursos Humanos, cujo gerente
é uma mulher. Assim, a natureza técnica da empresa atrai
pessoas do sexo masculino, acostumadas a trabalhos pesados
316
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
e desejosas de colocar a “mão na graxa” no sentido literal da
expressão.
A preferência pelo sexo masculino também se observa na
história contada por um entrevistado, que diz ter ingressado na
empresa porque uma colega sua de trabalho havia se
candidatado a uma vaga disponível e não foi aceita por ser
mulher. A pessoa responsável pelo recrutamento e seleção
havia dito: “se você conhece um homem habilitado para a função
pode mandar preencher ficha de emprego”. Esse funcionário diz
estar hoje na empresa mais em função do sexo do que
propriamente pela sua competência profissional, visto que sua
colega tinha mais experiência profissional do que ele. Da mesma
forma, ao se observar um painel com uma foto dos funcionários
afixado na parede de uma das empresas do Grupo, pode-se
verificar o predomínio de funcionários do sexo masculino.
Atualmente as mulheres são encontradas em setores
administrativos e poucas na linha de produção. Também as
mulheres, na sua maioria, não ocupam cargos de chefia.
Por conseguinte, não somente a natureza técnica, como
também os valores pessoais dos fundadores são responsáveis
pelo alto índice de trabalhadores do sexo masculino. A presença
de mulheres é mais comum no setor administrativo, na área de
embalagem de peças, na engenharia e em áreas que não
envolvam movimentação de containers. O trabalho na fábrica
requer força física e, por isso, há uma preferência pelo trabalho
masculino.
As entrevistas de um modo geral evidenciam dois
significados que caracterizam os valores culturais da empresa:
o sentimento de família e o vestir a camisa da empresa. Os
entrevistados identificam a empresa como sendo um bom lugar
para o trabalho, em função do seu espírito agregativo, das
oportunidades de carreira, do espírito de lealdade e do
companheirismo. Essas constatações chamam a atenção para
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
o fato de que a empresa através da disseminação de seus
valores e de políticas concretas para o seu atingimento, têm
permitido um nível mais elevado de comprometimento dos
empregados com a empresa e com o trabalho. O
comprometimento organizacional é representativo do vínculo do
indivíduo com o seu trabalho e com a sua empresa e tem se
apresentado como um instrumento eficaz para que o funcionário
“vista a camisa da empresa”, conforme o ditado que se
popularizou. Alguns funcionários chegam a dizer: “não apenas
visto a camisa da empresa como a empresa está tatuada em
meu corpo”.
“Somos uma grande família” é outra expressão que
aparece frequentemente nas entrevistas realizadas. A imagem
de grande família é usada pelos entrevistados com o intuito de
reforçar o clima de amizade e confiança que se estabelece entre
os diferentes níveis hierárquicos e o comprometimento das
pessoas com os objetivos organizacionais. Quando os
entrevistados evocam esta imagem de grande família, na
verdade, estão recuperando o processo de constituição da
identidade do grupo organizacional. Pela reconstituição dos
fatos que marcaram a vida da organização, pode-se perceber
que a cooperação, a ajuda mútua, a solidariedade para vencer
situações adversas foram importantes para a identificação do
grupo enquanto grupo e para a formação de laços afetivos.
Por ser uma empresa familiar e pelo fato de o fundador
ainda permanecer na empresa, existe um relacionamento
pessoal muito forte tanto com a alta direção da empresa quanto
com os funcionários de menor nível hierárquico. Os amigos, a
convivência, os problemas partilhados os fazem sentir-se parte
de uma grande família. Independentemente do nível hierárquico,
os entrevistados dizem vestir a camisa da empresa, outros até
acreditam que a camisa da empresa está tatuada no seu corpo
tal é a ligação do empregado com a empresa.
318
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
A participação do empregado em convenções,
congressos, reuniões com sindicatos, associações de classe,
clientes e fornecedores, as constantes viagens de negócio, entre
outras exigências, requerem dedicação em tempo integral. E,
nessa imersão na empresa, o vínculo familiar fica prejudicado
pela redução cada vez maior do tempo dedicado à família, aos
amigos, ao clube, etc. Todavia, a empresa é “mãe generosa”,
abriga o funcionário e sua família e recompensa o sacrifício dos
funcionários, dando-lhes um “colo” e oferecendo-lhes segurança
e proteção através de um salário e de um plano de benefícios
(SCHIRATO, 2000).
O modelo de gestão da empresa implantada pelos
fundadores está fundamentado em valores que resgatam o
compadrismo, o paternalismo, o assistencialismo, a
solidariedade grupal, a amizade e até a garantia de estabilidade
no emprego. Na empresa existe uma cultura de adesão e
simpatia, os empregados gostam do seu ambiente de trabalho e
o fundador ocupa um lugar de destaque no imaginário dos
funcionários.
A maioria dos entrevistados evidencia o mito da grande
família. Originalmente usado como forma de compreensão de
fenômenos ocorridos nas sociedades tradicionais, o mito é
definido por Enriquez (1997) como narrativa exemplar que
pretende explicar a origem do mundo e seu funcionamento. De
acordo com Pierre Ansart (1978), tanto as sociedades
modernas, como as sociedades tradicionais, produzem seus
imaginários sociais, seus sistemas de representações, através
dos quais eles estabelecem simbolicamente suas normas e seus
valores.
É compreensível, portanto, que a fim de entender os
processos de criação simbólica - já que esses nem sempre são
conscientes e racionais – o trabalhador faça uso de arquétipos.
De acordo com Jung (1960), os arquétipos são estruturas
319
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
características da camada mais profunda do inconsciente: o
suprapessoal ou coletivo. Essas estruturas, possivelmente,
seriam sedimentos de experiências repetidas pelos homens ao
longo do tempo. Não são experiências pessoais, mas de nossos
ancestrais, coletivas, que dizem respeito a toda raça humana e
que são herdadas por nós.
A figura do “pai” pode ser encontrada não só no fundador,
mas também nas pessoas mais experientes, nas pessoas com
mais poder e naquelas que cresceram profissionalmente dentro
da empresa. Estes “pais” são os que protegem e se preocupam
com os empregados e, na verdade, assumem a função de
padrinhos. Mas o pai de todos os pais é o fundador.
Assim como na maioria das relações pai-filho, o pai
protege e ampara o filho quando ele precisa, mas preserva
sempre a relação de dependência, fortalecendo o binômio
dominação/submissão. A figura paterna cria e reproduz um
vínculo de dependência, porém as pessoas envolvidas neste
processo não tomam consciência dessa relação. Assim, são
obrigadas a respeitar todas as exigências impostas em relação
a prazos de fabricação, prazos de entrega, controle de
qualidade, cumprimento de metas, cooperação mútua,
extrapolação de horário de trabalho, como sendo algo natural e
corriqueiro. Também o temor das pessoas parece residir na
ameaça da perda de reconhecimento que a organização tem
pelo funcionário.
As histórias circulantes reforçam também a ideia da
empresa como uma grande família. A hierarquia, a autoridade
que o fundador outorga é muito parecida com a autoridade
paterna: ao mesmo tempo em que há respeito, surge também o
medo. A autoridade é respeitada pelos empregados ao mesmo
tempo que ele é temido: os funcionários sabem o que ele gosta
e o que não gosta. É também uma autoridade fisicamente mais
próxima: o fundador está sempre circulando pelas empresas. E
320
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
isso é mais do que suficiente para gerar a aproximação entre as
pessoas, uma vez que o fundador é gente que os funcionários
podem odiar e admirar enquanto pessoa concreta, com virtudes
e defeitos. Também, as estórias sobre as diversas situações
difíceis passadas por entrevistados e colegas e o apoio que
tiveram da empresa na solução dos mesmos servem para
sinalizar o espírito de família que unifica os participantes das
várias empresas que compõem o grupo em estudo.
A história da empresa volta, de tempos em tempos, não
de forma planejada, mas espontaneamente. Os mais antigos
como na família os avós, falam para os filhos e netos e estes
para as gerações futuras. Os contadores de história
desempenham papéis informais na rede de comunicação. Eles
não apenas transmitem informações como também interpretam
os significados das informações para os demais.
As histórias são geralmente persuasivas, rápidas e mais
bem memorizadas que ideias abstratas e isoladas. As histórias
contribuem na internalização de valores organizacionais e estes,
uma vez internalizados, constituem-se em pressupostos
básicos. As estórias, dentro do contexto organizacional,
exercem as funções de script, de mapas e de símbolos (Wilkins,
1984).
Assim, sob a forma de um elenco de benefícios que a
organização administra e prática em sua política de recursos
humanos com vista de garantia ao acesso de certo padrão de
qualidade de vida ao trabalhador, produz no imaginário do
trabalhador um valor simbólico de representação do gesto
protetor da mãe-empresa. A representação simbólica da
empresa como mãe generosa perpassa o funcionário e penetra
no seio da família, abrigando a todos e a todos protegendo,
conseguindo desse modo capitalizar não apenas a força física e
o tempo útil do trabalhador, mas também sua criatividade, seu
poder de reflexão (SCHIRATO, 2000).
321
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Neste sentido, a empresa protetora se apodera do
intelecto do trabalhador, não apenas quanto à produção
intelectual do trabalho, mas também quanto aos seus processos
cognitivos, determinando suas prioridades. A empresa passa a
ocupar o ideal do ego, ela é o ego ideal e, pela devoção,
hipnotiza, absorve, ocupa todos os espaços de tempo,
monopoliza o psiquismo, capitaliza os recursos pessoais do
indivíduo, invade seu coração, programa sua vida, determina
seu futuro, amortece sua crítica e mantém o empregado ligado
à organização através de um forte vínculo afetivo, que
representa o surgimento de uma cultura de devoção ou, na
linguagem de Enriquez (1990), um “fascínio amoroso”. Segundo
Freud, “o fascínio amoroso e a hipnose representam estados
similares. Eles atuam nos mesmos mecanismos de submissão,
de ausência de espírito crítico” (FREUD Apud ENRIQUEZ, 1990,
p.68).
Os Mitos, rituais, cerimônias e símbolos como
reforçadores do vínculo
O vínculo dos empregados com a organização se produz
por meio de uma série de elementos que constituem a cultura
organizacional. Neste texto vamos tratar especificamente dos
rituais, mitos, cerimonias e símbolos por considerarmos que são
os de maior interesse para a comunicação organizacional.
Segundo Trice e Beyer (1985), os ritos constituem um
conjunto de atividades elaboradas e executadas através de
interações sociais e mensagens de conteúdo simbólico. Por
meio dos ritos, as regras sociais são definidas, estilizadas e
principalmente valorizadas. Os rituais foram observados pelo
olhar do entendimento de que a existência humana é cíclica,
assim como também é cíclica a vida profissional de um indivíduo.
O fim de uma etapa remonta a uma nova etapa e leva a um
322
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
terceiro momento que é a rotina, a normalidade, até que ocorra
outra passagem. A comemoração dos 25 anos de empresa é um
rito que enaltece a mudança de um estado para outro. Se antes
eram apenas diretores, gerentes, escriturários, supervisores,
analistas, operadores, pintores, agora são considerados os
“pratas da casa”.
As entrevistas evidenciam que, ao entregar o troféu réplica de uma bigorna - que em um dia muito distante o pai do
fundador entregou ao filho como símbolo de que ele estava
pronto para o exercício de uma profissão, repetindo o mesmo
ritual, o fundador entrega a bigorna aos funcionários que
completam 25 anos de empresa. O significado talvez não seja o
mesmo, pois depois de 25 anos dentro de uma mesma empresa,
não se pode dizer que o funcionário está pronto para exercer a
profissão, mas talvez possa significar que tudo o que o
funcionário sabe e conquistou profissionalmente até hoje ele
deve à empresa que lhe forjou para ser um grande profissional
e um grande homem.
A necessidade do ritual faz-se necessária para fazer a
passagem de um momento para outro. Quando uma máquina
antiga é substituída por uma mais moderna, os empregados
experimentam a perda de sentido, o que gera desconforto
psicológico. Para reagir a esse sentimento, os funcionários
tendem a se agarrar ao passado para dar um sentido à vida à
medida que novos símbolos são criados e outros quebrados,
negados ou substituídos. Este sentimento de vazio, de
estranhamento, de dor coletiva é próprio em situações de
mudanças, mas que devem ser amenizadas por alguns rituais a
fim de auxiliar as pessoas a lidar com a perda e também a
transformar o antigo significado em um novo significado.
Um dos rituais planejados para fazer esta transição do
antigo para o novo - principalmente no que se refere à
substituição de máquinas manuais por informatizadas, de
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
trabalho humano por robôs - foi a criação de um Memorial.
Segundo Terrence Deal (1985), o sentimento de dor e a
sensação de perda demonstram que o indivíduo não é apenas
uma vítima da mudança, mas também um reprodutor da cultura
mudada, porém de forma inconsciente.
Na concepção de Deal e Kennedy (1982), o rito é a
repetição de um gesto passado e realizado por um deus, por um
antepassado ou um herói de uma cultura. A repetição dos gestos
– o ritual – caracteriza a intencionalidade de repetir os gestos
iniciais: o sagrado. O ritual de 25 anos na empresa repete o ato
criador inicial de introduzir os empregados antigos no sagrado,
no interior do mito.
Acontecimentos que integram o calendário empresarial,
como festas de aniversários, homenagem por tempo de serviço,
aposentadoria, festas de fim de ano, comemoração de datas
especiais, entrega de prêmios e troféus requerem práticas
litúrgicas e cuidados especiais na maneira de fundadores e
dirigentes vestirem-se, sentarem-se, dirigirem-se aos
participantes. A sequência temporal das ações, ambientação
física e pequenos atos muitas vezes quase imperceptíveis que
contêm certos rituais que promovem a aura psicológica do
evento, o calor, o ritmo, a magia, o encantamento dos
participantes.
As cerimônias e os símbolos utilizados pela empresa
exercem poder sobre seus funcionários e reforçam a cultura
organizacional, uma vez que empregam uma carga litúrgica que
impregna os participantes com valores simbólicos de forte efeito
integrativo. Medalhas de honrarias, troféus, festas sociais,
agradecimentos de dirigentes, comemorações, inaugurações,
discursos, láureas de mérito, prêmios, reconhecimentos,
cenários decorados recompõem carências ditadas pela base
psicológica do funcionário e conferem ao poder formal, efeitos
mágicos e sagrados.
324
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Na cerimônia em comemoração àquelas pessoas que
completam 25 anos de empresa, o fundador entrega a bigorna,
réplica de um instrumento de trabalho que fora do seu avô, em
demonstração e agradecimento do quanto as pessoas foram e
são importantes na história da empresa. As normas do
cerimonial e de protocolo na festa de homenagem aos
funcionários que completam 25 anos de empresa ostentam o
prestígio e o poder que o fundador outorga aos “pratas da casa”,
também conhecidos como os “velhos da casa”, ou “os
veteranos”.
A homenagem por tempo de serviço é uma política que
abrange todas as empresas do Grupo e objetiva reconhecer a
contribuição e comprometimento dos empregados com o
desenvolvimento da empresa. Nos 25 anos de empresa, o
empregado recebe um troféu em forma de bigorna banhada em
prata com inscrição referindo a homenagem e identificação do
homenageado, viagem e 15 dias de férias. Nos 35 anos de
empresa, o funcionário recebe uma joia de 18k e uma bigorna
banhada a ouro, com inscrição. Nos 40 anos de empresa, o
funcionário recebe uma carreta em miniatura banhada a ouro e
um plano de saúde vitalício extensivo ao cônjuge. A solenidade
de homenagem é realizada anualmente e consiste, na entrega
dos presentes, troféus e leitura do currículo dos homenageados,
seguido de um jantar com a presença dos homenageados, seus
cônjuges, sua chefia imediata, diretores e gerentes das
Empresas do Grupo.
Pelo discurso dos entrevistados e também pela
observação das cerimônias realizadas, podemos inferir que a
bigorna em forma de troféu, entregue aos empregados que
completam 25, 30 e 35 anos de empresa é de extremo
significado para quem a recebe. A bigorna significa o
comprometimento dos empregados com a organização e auxilia
a comunicar o reconhecimento desse comprometimento pelos
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
dirigentes aos demais membros da organização. A bigorna é um
símbolo forte e traduz sacrifício, suor, esforço, labor, luta. É um
símbolo usado para significar que projetos, planos ou sonhos se
conquistam com muita luta, com muita persistência e com muita
determinação.
O símbolo da bigorna entregue aos homenageados
resulta da necessidade humana do fundador em partilhar o que
pensa e sente dos empregados em relação à empresa. A
bigorna como símbolo toma lugar do sentido de trabalho,
devoção, vida dura, construção da empresa atual. Assim, o
sentimento de posse de um instrumento rudimentar de trabalho
torna visível e público que é possível sonhar e realizar. A bigorna
é a representação tangível e observável de uma ideia intangível:
devoção e amor ao trabalho.
Outro símbolo utilizado pela organização é a figura do
girassol, que identifica o Projeto Florescer. Assim como o
girassol, o idealizador do projeto quer que a empresa seja uma
multiplicadora de ideias de comprometimento social, na
comunidade local e na região. Como o girassol, que segue o
trajeto do sol em busca da luz, da energia e da vida, o Projeto
pretende formar seres flexíveis, dotados de uma incansável
vontade de saber e capazes de realizarem seus sonhos.
O projeto Viver de Bem com a Vida é identificado pelo uso
das cores verde, amarelo e vermelho e do pino-rei. A cor verde
identifica a maioria dos trabalhadores, em diversos países, que
não possuem problemas com as drogas; o amarelo é uma faixa
intermediária em que empregados começam a ter problemas
com drogas, mas que podem ser revertidos através de
atividades que propiciem a adoção de condutas saudáveis. A cor
vermelha representa empregados com dependência às drogas
e com necessidade de tratamento especializado. Outro símbolo
usado neste programa é o pino-rei, peça fabricada por uma das
empresas do Grupo. A imagem do pino-rei é utilizada, para
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
demonstrar que, assim como o pino-rei é fundamental para a
sustentação da carreta, o empregado é imprescindível para a
empresa.
A logomarca é a representação, em uma só composição
gráfica, do nome, símbolo visual e logotipo. No caso da empresa,
sua logomarca usa o sobrenome de seus fundadores. Usa como
símbolo visual um triângulo, que se assemelha às placas de
veículos, representando assim, a imagem de veículos,
transportes e, estradas. Pelo exposto, percebe-se que os
símbolos, assim como as cerimônias, veiculam um significado
vivo e subjetivo. O símbolo exerce no indivíduo uma poderosa
atração e fascínio e atua como agente de liberação e de
transformação da energia psíquica (ENRIQUEZ, 1997).
Considerações finais
A empresa, para manter o controle sobre os indivíduos,
desenvolve uma relação dialética de recompensas/restrições e
não é sem razão que o trabalhador desenvolve uma relação
sadomasoquista com a empresa, ou seja, ao mesmo tempo em
que busca recompensas materiais, promoções, crescimento
profissional, prêmios, metas e, em função disso, desencadeia
um processo interno de angústia e stress; de outro lado, sente
prazer pelo reconhecimento que a organização faz de sua
potencialidade e do seu esforço, satisfazendo dessa forma o
desejo de ser amado (PAGÈS, 1990).
Assim, o treinamento através de programas de formação
gerencial, o uso de técnicas de dinâmica de grupo, o treinamento
de lideranças, os jogos simulados, bem como as técnicas de
administração participativa como trabalho em equipes, CCQ,
TQM, procuram o controle dos trabalhadores, especialmente no
que diz respeito aos seus valores, seus pensamentos e seus
sentimentos.
327
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Ao manter a ordem, através da padronização de valores,
crenças, sentimentos e necessidades, garante os objetivos
maiores da empresa como lucros, manutenção do poder,
conservação de privilégios estabelecidos, sejam eles
econômicos, políticos, socioculturais ou educacionais. Os
indivíduos perdem sua identidade e se massificam, conferindo a
um grupo reduzido o direito de decidir e pensar por eles inclusive
o que pensar, o que sentir e como viver.
Significa, portanto, que os indivíduos, uma vez
condicionados
por
recompensas
salariais,
incentivos
emocionais, internalização de valores organizacionais pelos
processos de
socialização,
ritualizações,
cerimônias,
treinamentos, comunicação e por outros elementos da cultura
organizacional, passam a se comprometer com a empresa,
sentindo, pensando e agindo da forma que a empresa quer.
A organização dá-se o direito de exigir de seus
funcionários que assumam os valores definidos por ela, bem
como tenham sentimentos coerentes com aqueles por ela
desejados. Da mesma forma, exige um pensamento único, o
“credo” da organização, conjunto de princípios tomados como
invioláveis, define em que se deve fundamentar o pensamento e
a ação de seus membros. A empresa assume o papel de mãe,
protetora e controladora, exigindo de seus membros um
compromisso de lealdade em relação aos seus objetivos,
mesmo e especialmente quando não houve participação dos
funcionários na sua definição e tampouco quando não usufruem
dos benefícios gerados com sua “colaboração”. Os indivíduos
moldam-se à organização e pouco ou quase nada dos
funcionários é solicitado quanto às suas mentes e seus valores.
Pelo discurso dos entrevistados, percebe-se que o que
faz um empregado engajar-se e participar de maneira produtiva
na vida organizacional diz respeito a uma série de atividades
voltadas para a segurança e a qualidade de vida dos
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
funcionários. Estas atividades têm se mostrado capazes de
formar um sistema de compensações de natureza material e
psicológica. O sistema normativo orienta os rumos do grupo, as
grandes metas e, através de um sistema de comunicações
ágeis, transparentes, fluentes em todos os sentidos
hierárquicos, gera um clima saudável e propício à participação.
Envolver os empregados com os valores requer fazer
colapsar a antiga concepção tayloriana de separar o
planejamento da execução para dar lugar ao conceito de que
todos interagem com o mundo real e procuram significações e
respostas para os fenômenos que observam nos vários
contextos em que estão inseridos (econômico, político, social,
tecnológico e cultural). Mas, para que a participação seja real, a
comunicação precisa deixar de ser instrumental e assumir a
função de diagnosticadora de problemas de realidade. Precisa
desenvolver processos de interação e assumir uma postura
dialógica, capaz de levar o trabalhador não apenas a
desempenhar sua competência técnica como também a
desenvolver a sua consciência de cidadão.
Assim, para assegurar o compromisso do empregado
com a organização, através de um sistema bem planejado de
comunicação, a empresa estabelece políticas para direcionar o
relacionamento com os empregados e, em contrapartida, espera
que eles trabalhem como parceiros da empresa, com lealdade e
cooperação. Em resumo, são bons empregados àqueles que
zelam pelo cumprimento das normas organizacionais e, para
garantir a manutenção e a perpetuidade da empresa, lançam
mão da iniciativa que consideram mais adequadas. Por
conseguinte, esse movimento de mudar e conservar visa ao
endosso da cultura existente na organização, quando a situação
exige adaptabilidade e/ou continuidade ou, então, exige
mobilidade quando há necessidade de respostas rápidas a
estímulos externos que, de certa forma, ameaçam a
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
organização. São, portanto, dois os atributos essenciais que a
comunicação promove para permitir a inserção e manutenção do
indivíduo na organização: adaptabilidade e mobilidade. Em
outras palavras, isso significa que o empregado se enquadra a
comportamentos que lhe permitam estar com a empresa, estar
nela como ela é e mudar com ela para a sobrevivência dela.
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A IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA DE
COMUNICAÇÃO PARA O
DESENVOLVIMENTO DA COMUNICAÇÃO
INTEGRADA, PÚBLICA E ESTRATÉGICA
THE IMPLEMENTATION OF THE COMMUNICATION
POLICY FOR THE DEVELOPMENT OF
INTEGRATED, PUBLIC AND STRATEGIC
COMMUNICATION
Solange Prediger
Resumo: considerando a comunicação como processo intrínseco às
organizações e as Universidades como organizações formais e
complexas, compreendemos que é importante pesquisar as
práticas comunicacionais desse ambiente, de forma a entender a
comunicação como estratégica. Nosso foco de estudo são as
Instituições Federais de Ensino Superior brasileiras. Buscamos
compreender como os processos de comunicação estão
estruturados e são desenvolvidos, a partir da implementação de
sua Política de Comunicação, aqui considerada como estratégica
para o desenvolvimento de uma comunicação organizacional
integrada, pública e estratégica. Para isso, desenvolvemos uma
pesquisa bibliográfica sobre o tema abordado. Esta etapa é aqui
apresentada e serve de base para o desenvolvimento do estudo
de Doutorado em Comunicação, cujo objetivo geral é propor um
modelo operacional de implementação de uma PC organizacional
integrada, pública e estratégica em uma IFES, a partir da
experiência da UFSM.
Palavras-chave:
Política de Comunicação. Comunicação Integrada.
Comunicação Pública. Comunicação Estratégica.
Abstract: considering communication as an intrinsic process in organizations
and Universities as formal and complex organizations, we
understand that it is important to research communication practices
in this environment, to understand communication as strategic. Our
333
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
focus of study is Brazilian Federal Higher Education Institutions. We
seek to understand how communication processes are structured
and developed, based on the implementation of its Communication
Policy, considered here as strategic for the development of
integrated, public, and strategic organizational communication. To
do this, we developed a bibliographical research on the topic
covered. This stage is presented here and serves as the basis for
the development of the Doctorate study in Communication, whose
general objective is to propose an operational model for
implementing an integrated, public, and strategic organizational
Communication Policy in an IFES, based on the UFSM experience.
Keywords: Communication Policy. Integrated Communication. Public
Communication. Strategic Communication.
Introdução
A comunicação como um processo dialógico e de
conexões entre as pessoas está presente no nosso cotidiano e
faz parte da rotina do ser humano; é parte intrínseca às
organizações, já que elas são formadas por pessoas que se
comunicam entre si. As organizações, por sua vez, mantêm-se
integradas através da comunicação. As universidades, sejam
públicas ou privadas, são entendidas como organizações
formais e complexas: formais, por possuírem suas regras, seus
regulamentos e sua estrutura hierárquica; e complexas, devido
ao tamanho e à natureza de suas operações. Logo, é importante
entender, estudar e pesquisar as práticas comunicacionais
desse ambiente, de forma a entender a comunicação, mais do
que nunca, como estratégica.
Nosso foco de estudo são as Instituições Federais de
Ensino Superior (IFES) brasileiras. Assim, buscamos
compreender como os processos de comunicação estão
estruturados e são desenvolvidos, a partir da implementação de
sua Política de Comunicação (PC), aqui considerada como
334
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
estratégica para o desenvolvimento de uma comunicação
organizacional integrada, pública e estratégica.
Para isso, desenvolvemos uma pesquisa bibliográfica
sobre o tema abordado, ou seja, comunicação organizacional
integrada, pública e estratégica, estratégias de comunicação,
bem como políticas de comunicação das universidades. Como
mostra Stumpf (2008), esse processo é necessário para
estabelecer as bases em que vamos avançar, sendo importante
conhecer o que já existe, o que foi estudado e revisar a literatura,
de forma a evitar desperdício de esforços.
Essa etapa foi desenvolvida e apresentada ao longo
deste artigo, que serve de base para o desenvolvimento do
estudo de Doutorado em Comunicação no Programa de PósGraduação em Comunicação da UFSM, cujo objetivo geral é
propor um modelo operacional de implementação de uma PC
organizacional integrada, pública e estratégica em uma IFES, a
partir da experiência analisada na Universidade Federal de
Santa Maria.
Comunicação Organizacional
Os estudos da comunicação organizacional iniciaram nos
Estados Unidos e ganharam força após a crise de 1929, quando
o forte movimento sindicalista exigiu que as empresas
realinhassem-se estrategicamente e comunicassem-se melhor.
Porém o auge só ocorreu por volta de 1945, graças à expansão
tecnológica, que elevou o consumo de bens não-duráveis. Isso
gerou nova visão para a comunicação empresarial. Nesta época,
os estudos estavam centrados na comunicação descendente, ou
seja, da alta direção das organizações para os demais
integrantes (KUNSCH, 2009).
A partir da década de 80, este olhar muda. A organização
passa a ser entendida como espaço de disputa entre classes
335
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
dominantes e classes oprimidas (trabalhadores, mulheres,
negros, etc). Isso exige das organizações e dos gestores de
comunicação um novo comportamento e uma disponibilidade
para ouvir os diferentes públicos e compreender as mudanças
contextuais que interferem no ambiente organizacional
(KUNSCH, 2009). Antes o foco eram as organizações, e a
comunicação que acontecia nelas era algo à parte. Depois desse
período, a comunicação passa a ser analisada como constitutiva
do processo. Ou seja, a comunicação também faz a organização
(KUNSCH, 2009).
Neste contexto, a comunicação organizacional passa a
ser entendida como “conjunto integrado de ações, estratégias,
planos, políticas e produtos planejados e desenvolvidos por uma
organização para estabelecer a relação permanente e
sistemática com todos os seus públicos de interesse” (BUENO,
2009, p. 3-4). Para o autor, a comunicação não é realizada
somente pelos profissionais da área, mas por todos que
integram a organização. Está ligada, principalmente, à gestão da
organização e, por isso, à cultura organizacional. Sem entender
isso, não se pode pensar em uma comunicação integrada e
estratégica.
Na mesma linha, Scroferneker (2006, p. 48) definiu que a
comunicação
organizacional
“abrange
todas
as
formas/modalidades de comunicação utilizadas e desenvolvidas
pela organização para relacionar-se e interagir com seus
públicos”. Assim como ela, Curvello (2012) também destaca o
papel da comunicação organizacional na aproximação e
integração dos públicos aos princípios e objetivos centrais da
organização, no momento em que a CO é um elemento vital para
a construção de um universo simbólico, aliado às políticas de
administração de recursos humanos e principalmente de gestão
organizacional.
336
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Baldissera (2008) vai além e diz que a comunicação
organizacional não pode ficar restrita aos processos de
circulação de informações, que normalmente acontecem no
sentido vertical e autoritário, de cima para baixo, assim como
não se reduz à comunicação planejada e oficial. Para ele, “a
ideia de comunicação organizacional dá conta dos fluxos
multidirecionais e, mesmo, dispersivos; admite o confronto, o
conflito entre as forças em relação, mediadoras da/na
construção e disputa de sentidos” (BALDISSERA, 2008, p. 27).
Percebe-se, assim, que, a partir de 1980, a preocupação com a
comunicação organizacional volta-se às pessoas no processo
comunicacional, para a relação e não simplesmente para a troca
da mensagem. A partir desse período, a comunicação
organizacional passou a se preocupar com a comunicação
humana e as diversas perspectivas que permeiam o ato
comunicativo dentro das organizações (KUNSCH, 2009).
Contudo, somente nos anos 90, a comunicação
empresarial/organizacional passou a ser estratégica e pensada
de maneira integrada: um “processo integrado que orienta o
relacionamento da empresa ou entidade com todos os seus
públicos de interesse” (BUENO, 2009, p. 9). Assim, a
comunicação organizacional passou a preocupar-se muito mais
com o contexto em que estão inseridas as organizações e com
as mudanças pelas quais passa a sociedade. Como mostra
Kunsch (2006a), as organizações são afetadas pelas mudanças
e, assim, sua comunicação assume outras formas de atuação:
“deixa de ter uma função apenas técnica e instrumental para ser
estratégica. As ações de comunicação precisam ser muito mais
bem pensadas estrategicamente e planejadas com base em
pesquisas científicas e análise de cenários” (KUNSCH, 2006a,
p. 172).
Tal perspectiva aplica-se também às IFES. O profissional
de comunicação que atua nessas organizações deve estar
337
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
permanentemente atento às mudanças e transformações
ocorridas dentro e fora delas, a fim de agir estrategicamente para
promover uma relação harmoniosa entre as instituições e seus
diferentes públicos. É a partir disso que se estabelece uma
comunicação organizacional, de fato, integrada e estratégica,
baseada no diálogo entre organização e sujeitos e nos princípios
da comunicação pública.
A comunicação organizacional integrada
Segundo Kunsch (2003), existe uma tendência
irreversível de uma efetiva comunicação organizacional
integrada, entendida por ela de forma ampla e abrangente, que
compreende: comunicação institucional, mercadológica,
administrativa e interna (KUNSCH, 2003). Todas elas são
identificadas também nas IFES. Trazemos aqui como exemplo a
Universidade Federal de Santa Maria.
A comunicação institucional refere-se à construção e
formação da imagem e identidade da organização. É a
comunicação que busca difundir informações de interesse do
público sobre a instituição, como sua missão, visão, valores,
suas práticas e seus objetivos. Está presente na divulgação de
ações diversas da UFSM, projetos de ensino, pesquisa e
extensão, bem como em rankings da Universidade. Além disso,
está no desenvolvimento de eventos que buscam divulgar a
UFSM para o público em geral.
A comunicação mercadológica é responsável pela
produção comunicativa baseada nos objetivos mercadológicos
da organização, através da divulgação publicitária dos produtos
e serviços oferecidos. No caso das IFES, por exemplo, a UFSM,
podemos dizer que se baseia nos fins: pesquisa, ensino e
extensão. Ainda que não haja como objetivo a arrecadação de
recursos financeiros, a Universidade passa a preocupar-se mais
338
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
com a valorização financeira de sua marca e imagem, com a
propagação do seu trabalho com e pela sociedade e com a
divulgação de suas ações desenvolvidas nos âmbitos da
pesquisa, do ensino e da extensão.
Já a comunicação administrativa refere-se à comunicação
que se processa dentro das instituições e que organiza o fluxo e
as redes de informações, promovendo o intercâmbio de
informações. Na UFSM, pode ser representada, principalmente,
pela comunicação da reitoria com seus gestores e dos gestores
com suas equipes, por meio de reuniões semanais, informes por
e-mail, memorandos circulares, ofícios e outros documentos
relativos à redação oficial da Universidade. Além disso, no que
se refere aos processos de comunicação especificamente,
podemos citar o caso dos diversos sites dos setores, grupos,
departamentos, que foram padronizados tanto no layout quanto
na distribuição das informações.
A comunicação interna refere-se às ações planejadas
para promover a interação entre a organização e seus
servidores, de forma que todos compartilhem uma mesma
identidade social e busquem os mesmos objetivos. Na UFSM,
podemos citar algumas ações desenvolvidas pela equipe de
comunicação, como campanhas em defesa da instituição (como
a #SouUFSM1), como ações promovidas pela Pró-Reitoria de
Gestão de Pessoas (como a semana do Servidor Público, com
palestras e jogos para integração dos servidores).
São essas diferentes formas de comunicação que fazem
com que as organizações relacionem-se com seus públicos
distintos e com a sociedade em geral. Conforme Curvello (2010),
este modelo de comunicação integrada consolidou-se como
padrão nas grandes organizações, devido ao sucesso que
evidenciou na gestão da comunicação. O autor afirma que é um
erro perceber comunicação como resultado da soma individual
das atividades de comunicação, dificultando a construção de
339
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
uma gestão unificada e a integração de ações as quais devem
ser planejadas estrategicamente, a partir das funções de cada
eixo. Na UFSM, como veremos adiante, a PC foi essencial e
pioneira para o desenvolvimento, ainda em curso, de uma
comunicação integrada.
Nesse sentido, Kunsch (2009) destaca que a
comunicação organizacional é complexa, deixa de ter uma
função meramente tática e passa a ser considerada estratégica.
Ou seja, “ela precisa agregar valor às organizações, devendo
ajudar as organizações no cumprimento de sua missão, na
consecução dos objetivos globais, na fixação pública dos seus
valores e nas ações para atingir seu ideário (...)” (KUNSCH,
2009, p. 80). A autora ressalta ainda que as ações de
comunicação devem ser guiadas por “uma filosofia e uma
política de comunicação integrada que considerem as
demandas, os interesses e as exigências dos públicos
estratégicos e da sociedade” (KUNSCH, 2009, p. 80). Por isso,
deve haver integração entre a comunicação da organização, na
busca de benefícios para a empresa e para a sociedade com um
todo.
Bueno (2009) destaca que o mix da comunicação
integrada na organização deve ser definido por uma política
comum, com valores, princípios e diretrizes baseados em um
planejamento central, ainda que muitas atividades sejam
desenvolvidas de forma descentralizada (RP, assessoria de
imprensa, marketing, etc). O autor entende que a comunicação
integrada representa articulação, tanto das atividades de
comunicação quanto destas com o processo de gestão,
planejamento, marketing, etc., sendo que todos deveriam
obedecer a uma política e diretrizes comuns (BUENO, 2005).
No contexto das IFES, Bueno, em 2005, dizia que a
universidade brasileira não praticava uma cultura de
comunicação. Que ela não assumia o exercício da comunicação
340
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
como estratégico e, como consequência, não estava capacitada
para acessar ou ser acessada por muitos de seus públicos de
interesse. Esse cenário mudou bastante considerando que as
Universidades dispuseram-se, ou até mesmo obrigaram-se, a
estabelecer novos vínculos com a sociedade, exigindo um
redimensionamento do seu perfil comunicacional. Isso significa
que as Universidades passaram a valorizar ainda mais sua
interação com os distintos públicos de interesse, priorizando
sempre os relacionamentos. Ademais, “sem perder os seus
objetivos básicos – pesquisa, ensino e extensão – precisa
capacitar-se para exercê-los plenamente a partir de uma nova
proposta de comunicação, que privilegie a transparência, o
diálogo, o compartilhar saber e a responsabilidade social”
(BUENO, 2005, p. 51), ou seja, sob princípios da Comunicação
Pública, como descreveremos a seguir.
A comunicação pública
No Brasil, o conceito de comunicação pública (CP)
ganhou força após o regime militar (1964-1985), quando as
instituições democráticas estavam sendo recuperadas e o
conceito de comunicação governamental não era suficiente para
demonstrar a responsabilidade do Estado brasileiro na difusão
das informações e no reestabelecimento das relações com a
sociedade. A população estava acostumada com uma
comunicação persuasiva e coercitiva, com censura permanente.
Nesse processo, a comunicação pública como comunicação
exigida pelas democracias, ganhou força (WEBER, 2017). A
autora defende, a partir do conceito da esfera pública
habermasiana, a comunicação pública como um “debate
público, acionado por temas de interesse público provocados a
partir dos poderes da República, de instituições, sistemas de
mídia ou redes de comunicação capazes de gerar disputa de
341
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
opiniões, ações coletivas, associações, mobilizações
consequentes ou não” (WEBER, 2017, p. 29).
Essa definição vai ao encontro do que define Jaramillo
(2012). Ele entende que a CP desenvolve-se na esfera pública
e é do interesse dos diferentes atores da sociedade, que se
envolvem no debate.
Comunicación pública, pues, es la que se da en la esfera pública
bien sea para construir bienes públicos (política); para incidir en
la agenda pública (mediática); para comunicar a las entidades
del Estado con la sociedad (estatal); para construir sentido
compartido al interior de la organización (organizacional) o como
resultado de las interacciones propias de los movimientos
sociales (de la vida social) (JARAMILLO, 2012, p. 7).
Esteves e Escudero (2015) entendem que indivíduos de
diferentes classes sociais, estratos políticos e grupos culturais
estão incluídos, de forma democrática, no debate público. Nesse
espaço, o público é ator principal e o seu sujeito é coletivo. Os
autores compreendem que a cidadania é que define o membro
da esfera pública, o qual tem a liberdade de discutir e expressar
suas opiniões sobre os problemas da vida em comum. Através
da esfera pública, o cidadão pode participar ativamente da
sociedade e é nela que a CP está presente. Quanto mais a CP
for democrática, mais força ela terá enquanto espaço da
cidadania.
É neste contexto que nos questionamos sobre o papel
das IFES no processo todo: estão desenvolvendo uma
comunicação pública? Estão promovendo o debate e a
participação cidadã? De que maneira a PC pode contribuir com
a promoção de uma comunicação pública e, mais
especificamente, como isso vem acontecendo na UFSM?
Compreendemos, assim como Esteves (2011), a CP
como “um médium por excelência de cidadania, colocada à
342
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
disposição do conjunto da sociedade – dos destinatários em
geral dos atos de governação, ou seja, de todo e qualquer
indivíduo que apresente condições para fazer uso da própria
razão” (ESTEVES, 2011, p. 202). Entendemos, assim, que, por
meio da Comunicação Pública, as IFES podem e devem ser, por
excelência, o espaço do debate, da livre exposição de ideias e
da formação cidadã. Mais do que informar, as IFES devem
promover a interação da Universidade com a sociedade, seja
através da extensão universitária, seja através de projetos de
ensino e pesquisa. O diálogo com todos os setores da
sociedade, buscando a participação ativa do cidadão, é,
igualmente, um dos objetivos no desenvolvimento da CP. E a PC
pode contribuir para normatizar algumas práticas e orientar
ações e estratégias com vistas ao desenvolvimento de uma CP.
Como nos lembra Kunsch (2012), temos que partir do
pressuposto de que a razão de ser do serviço público e, portanto,
das IFES, é o cidadão e a sociedade. Assim, temos que estar
atentos sempre para a comunicação desenvolvida e a
importância que ela tem como meio de interlocução com os
diversos atores sociais e em defesa da própria cidadania.
Se considerarmos as finalidades da CP, apresentadas
pelos teóricos do tema, percebemos que o documento da PC da
UFSM destaca algumas delas como princípios da comunicação
a ser desenvolvida pela instituição. Isso vai ao encontro do que
diz Zémor (1995), quando destaca que as finalidades da
comunicação pública não devem estar dissociadas das
finalidades das instituições públicas, ou seja, informar, prestar
contas e valorizar; ouvir as demandas, as expectativas, as
interrogações e o debate público; contribuir para assegurar a
relação social e promover um sentimento de pertencimento ao
coletivo, bem como a tomada de consciência do cidadão
enquanto autor; e acompanhar as mudanças, tanto as
comportamentais quanto as da organização social.
343
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Compreendemos, assim, que a PC prevê o desenvolvimento de
uma comunicação pública na instituição.
Baseamo-nos também no que a PC da UFSM entende
por Comunicação Pública:
constitui-se na circulação de temas de interesse coletivo e na
particularidade de mensagens, técnicas e objetivos de
Comunicação, os quais devem primar pelo interesse público,
transparência e diálogo, através do relacionamento entre
instituição, gestão e sociedade (públicos) (POLÍTICA DE
COMUNICAÇÃO DA UFSM, 2018).
E verificamos que os princípios da comunicação pública
previstos na PC da UFSM alinham-se a três das cinco diferentes
áreas de conhecimento e atividade profissional em que o
conceito de CP é utilizado, apontadas por Brandão (2007). Uma
delas trata a comunicação pública como comunicação
organizacional. Refere-se à área que analisa a comunicação das
organizações (públicas ou privadas) com seus diferentes
públicos, tratando essa relação de forma estratégica e
planejada, buscando melhorar a imagem e a identidade da
organização. Preocupa-se em mostrar o papel da organização,
seus projetos e ações, ou seja, é aquela baseada em estratégias
comunicativas que visam a um planejamento para o benefício de
uma imagem organizacional favorável.
Outra área apresentada por Brandão (2007) é a
comunicação pública identificada com comunicação do Estado
e/ou Governamental. Essa concepção é associada às IFES no
momento em que elas são cada vez mais responsáveis por
estabelecer um fluxo informativo e comunicativo com os
cidadãos, construindo uma agenda pública e direcionando seu
trabalho para uma prestação de contas, bem como estimulando
o engajamento da população nas políticas adotadas e
provocando o debate público (BRANDÃO, 2007). Isso foi o que
344
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
presenciamos na UFSM quando, em 2019, diante dos ataques
orçamentários do Governo Federal, criamos a Campanha
#SouUFSM, desenvolvida pela equipe de Comunicação Social
da Universidade. Essa CP passa a ser a forma pela qual a
Universidade faz sua prestação de contas junto à comunidade,
divulgando projetos e ações de iniciativas que estão a serviço da
população e, muitas vezes, são desconhecidos. Busca
aproximar, assim, o cidadão da vida pública, como ator social.
A última, das três áreas apontadas por Brandão (2007,
p.3), é a comunicação pública identificada com a comunicação
científica, que busca integrar a ciência ao dia a dia das pessoas,
despertando o interesse e a curiosidade.
A produção e a difusão de conhecimento científico incorporaram
preocupações sociais, políticas, econômicas e corporativas que
ultrapassam os limites da ciência pura e que obrigaram as
instituições de pesquisa a estender a divulgação científica além
do círculo de seus pares (BRANDÃO, 2007, p. 4).
As IFES passaram a ter que divulgar seus conhecimentos
para toda a população, já que surge a premissa de que a
informação científica é fundamental para a construção da
cidadania. Isso foi presenciado em grande escala, ao longo dos
últimos dois anos, em que a pandemia de Covid-19 assolou o
mundo. As universidades, nesse contexto, passaram a contribuir
de diferentes maneiras na produção e difusão do conhecimento
sobre o coronavírus, seja diretamente na produção de vacinas,
seja no desenvolvimento de projetos de apoio, como produção
de respiradores, equipamentos de proteção individual, álcool em
gel, entre outros. Essas ações levam a comunicação científica a
ocupar cada vez mais o espaço público, estando ao acesso de
todos. E também é uma forma que as IFES encontraram para
legitimar sua atuação perante a sociedade, despertando o
interesse da opinião pública, dos políticos e da mídia.
345
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Entendemos, assim, que as IFES possuem um papel
fundamental no desenvolvimento de uma comunicação pública
eficiente, já que são responsáveis pela tradução de dados e
estudos de interesse da sociedade em geral. Assim,
entendemos a PC como uma importante estratégia para orientar
as ações de comunicação, as estratégias e os produtos com
vistas ao desenvolvimento de uma comunicação pública
eficiente com os diversos públicos da organização.
A comunicação estratégica
A comunicação estratégica prevê um planejamento, a
sistematização de atividades, a organização de fluxos, metas e
objetivos para a obtenção de resultados específicos, dentro de
um prazo determinado. Entendemos que, nas Universidades, é
necessário trabalhar com uma comunicação, de fato,
estratégica. Para isso, adotar uma PC é fundamental. Antes de
desenvolver essa ideia, precisamos definir o que entendemos
por estratégias de comunicação.
Mintzberg et al (2007) afirma que a origem da palavra
estratégia tem relação com a guerra e passou a ser usada pelas
organizações, possibilitando que empresas e instituições
pensassem suas ações de forma mais programada e
sistematizada. O tero está ligao ao planejamento e, desde seu
surgimento, envolve aspectos militares, políticos e econômicos.
“A estratégia elabora o plano da guerra, delineia o rumo proposto
para as várias campanhas que a compõem e prevê as batalhas
a serem travadas em cada campanha” (NASSAR, 2005, p. 2).
Em sua obra, Mintzberg et al (2007) afirma que o termo
pode estar relacionado com cinco conceitos, tratados como 5 Ps:
plano, pretexto, padrão, posição e perspectiva, sendo que a
definição de estratégia enquanto plano é a que mais se alinha
ao que desenvolvemos neste estudo. Nesta perspectiva,
346
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
estratégia é considerada “algum tipo de curso de ação
conscientemente pretendido, uma diretriz (ou conjunto de
diretrizes) para lidar com uma situação. (...)” (MINTZBERG et al,
2007. p. 24). A partir disso, as estratégias teriam duas
características essenciais: são criadas antes das ações para as
quais vão se aplicar e são desenvolvidas consciente e
propositalmente. Entendemos a PC enquanto estratégia
fundamental para o desenvolvimento de uma comunicação
estratégica (com o perdão da redundância), já que ela reúne
diretrizes, objetivos e ações para lidar com a comunicação
organizacional da instituição.
Como plano, a estratégia trata da maneira como os líderes
tentam estabelecer direção para as organizações, colocando-as
em cursos de ação predeterminados. Estratégia como plano
também levanta a questão fundamental do conhecimento –
como as intenções são criadas inicialmente no cérebro humano,
na verdade, o que as intenções significam de fato” (MINTZBERG
et al, 2007, p. 28).
Exatamente o que se espera na construção e
implementação de uma PC: um plano/estratégia, pensada e
esquematizada pelo público interessado de dentro da
organização, para colocar em curso ações para a área de
comunicação. Como mostram os autores,
uma estratégia é o padrão ou plano que integra as principais
metas, políticas e seqüências de ação da organização em um
todo coeso. Uma estratégia bem-formulada ajuda a organizar e
alocar os recursos de uma organização em uma postura única e
viável, baseada em suas competências e deficiências internas
relativas, mudanças antecipadas no ambiente e movimentos
contingentes por parte dos oponentes inteligentes (MINTZBERG
et al, 2007. p. 29).
347
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Como mostram Fossá e Pérsigo (2011), embora o termo
estratégia seja utilizado desde a antiguidade, seu sentido atual
foi muito influenciado pela teoria dos jogos e dos modelos
matemáticos de decisão que simulavam a realidade
organizacional e ensinavam como as pessoas deveriam se
comportar diante de competidores. E com as mudanças sociais,
econômicas e políticas, que definem o ambiente das
organizações, aumenta a necessidade de desenvolvimento de
opções que direcionem e redirecionem os caminhos destas
organizações (FOSSÁ, PÉRSIGO, 2011).
Nesse contexto, entra o conceito de estratégia,
popularizado no meio empresarial na década de 60, segundo as
autoras. A partir de então, o conceito de estratégia passou a
estar associado ao planejamento focado no alcance de
resultados. A partir da análise de pontos fortes e fracos, a
organização passou a estabelecer e corrigir cursos de ação em
longo prazo, atuando, assim, de forma estratégica. “O
planejamento estratégico traz consigo novas formas de
comportamento administrativo, além de técnicas e práticas de
planejamento, controle e avaliação” (FOSSÁ, PÉRSIGO, 2011,
p. 95).
Com a evolução da sociedade e as rápidas mudanças
tecnológicas, o termo foi sendo usado cada vez mais nas
diversas organizações. Nesse contexto, Bueno (2009, p. 55)
conceitua estratégia como uma forma (ou até mesmo a arte) de
“definir e aplicar recursos com o intuito de atingir objetivos
previamente estabelecidos”. Ou seja, como diria Mintzberg et al.
(2007), um plano. Quando Bueno fala da administração
estratégica, refere-se ao conjunto de processos, ações e planos
pensados estrategicamente para permitir que a organização
obtenha resultados positivos de acordo com os objetivos e metas
que ela traçou inicialmente.
348
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Nas organizações estudadas aqui, ou seja, nas IFES, o
conceito de estratégia também é destaque, já que, diante das
mudanças atuais, cada vez mais as IFES necessitam pensar
estrategicamente suas ações a fim de obterem o ganho
pretendido que, no caso das instituições federais, representa o
reforço da marca, a legitimidade das instituições perante a
sociedade e, atualmente, representa também a busca por novos
alunos, diante da crise econômica nacional e na dificuldade de
manutenção dos estudantes no ensino superior, ainda que
gratuito. Nesse sentido, é necessário pensar, também nas IFES,
a comunicação como estratégica e a PC enquanto estratégia
para organizar os fluxos comunicacionais e direcionar ações
para a busca dos resultados pretendidos.
Sobre a comunicação estratégica, Bueno (2009) afirma
que
em princípio, admitimos que a Comunicação Estratégica (pelo
menos no conceito em que a temos formulado) se afina melhor
(ou está mais potencializada) com a teoria sistêmica de
estratégia, já que ela maximiza a importância das condições
sociais, dá ênfase à dimensão cultural e aceita o planejamento
multifatorial - ou seja, não limita ou prioriza a vertente
meramente econômica ou financeira (BUENO, 2009, p. 57).
Tanto a administração estratégica quanto a comunicação
estratégica devem prever uma análise dos resultados e ajustes
constantes para garantir o cumprimento dos objetivos e metas
traçadas. Ambas referem-se a processos e não se reduzem a
ações específicas, como demonstra Bueno (2009).
Na expressão ‘Comunicação Estratégica’, há de se considerar
que a palavra ‘estratégica’ é mais do que um mero adjetivo
(como são adjetivos ‘importante’, ‘fundamental’, ‘relevante’):
trata-se de um conceito. Se fosse percebida com essa
intensidade e esse comprometimento, talvez o discurso da área
349
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
não se apropriasse dela com tanta frequência (BUENO, 2009, p.
59 – grifos do autor).
Segundo Bueno (2009), definir uma estratégia para a
organização é, geralmente, responsabilidade da alta
administração. No entanto, ao tratar da comunicação estratégica
entendemos que, além da gestão, outros setores
(principalmente a área da comunicação) devem estar
envolvidos. Como analisam Mortari e Castro (2014, p.274), “a
comunicação estratégica pressupõe o alinhamento com a
cultura e objetivos organizacionais e o planejamento de curto,
médio e longo prazos, acompanhado de avaliações constantes”.
Para que a comunicação estratégica efetive-se, é central que a
organização assuma isso como prioridade, não apenas os
profissionais da área. Significa alinhar o planejamento
estratégico da comunicação com os objetivos e metas da
organização. Significa também adotar uma PC, considerada
aqui como a principal estratégia para o desenvolvimento de uma
comunicação efetiva.
Entendemos, assim como Fossá e Pérsigo (2011),
estratégias de comunicação como “todas as ações planejadas
que visam ao estabelecimento e à manutenção de
relacionamentos profícuos, à formação de uma imagem positiva
e ao alcance dos objetivos gerais da organização” (FOSSÁ,
PÉRSIGO, 2011. p. 98). A PC é compreendida aqui como uma
importante estratégia no momento em que articula valores,
objetivos, diretrizes e normas a fim de orientar as ações da
organização com vistas ao desenvolvimento de uma
comunicação estratégica, de relacionamento com seus
diferentes públicos. E, nesse sentido, também a PC enquanto
estratégia de comunicação das IFES deve estar alinhada às
suas estratégias corporativas, sempre buscando atingir os
350
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
públicos de interesse da organização, como destacam Fossá e
Pérsigo (2011).
Um fator que impossibilitava o desenvolvimento de uma
comunicação estratégica, segundo Bueno (2009), era a falta de
estruturas e de recursos para viabilizar a implementação das
ações e a avaliação dos resultados. Não são muitos profissionais
contratados e pouco tempo lhes resta para pensar a organização
como um todo e avaliar o resultado de suas ações. Esta ainda é
uma realidade observada nas Universidades. E exatamente por
isso é que a implementação de uma PC pode ser bastante útil
no momento em que direciona e dá respaldo aos demais
colaboradores das IFES para o desenvolvimento de uma
comunicação estratégica.
Concebendo que o cuidado que planejar uma
comunicação estratégica exige, no que se refere à construção
de cenários e à análise das mudanças que ocorrem na
sociedade e no contexto da comunicação social, é necessário
que os profissionais que atuam com a comunicação também
estejam preparados e que levem em conta o contexto em que
desenvolvem suas ações. Como alerta Torquato (1986, p. 111),
o planejamento das estratégias, programas, projetos de
comunicação empresarial requer uma minuciosa leitura do meio
ambiente. Incorrem em grave erro os comunicadores e
profissionais que planejam suas atividades sem atentarem para
as oportunidades, riscos, ameaças e tendências do macroambiente.
Por isso, a comunicação estratégica deve admitir que os
relacionamentos dependem de contextos sociais e culturais
específicos: “cada público, cada país, cada sociedade exibe
características peculiares em função de seu background, de sua
trajetória e de sua forma de contemplar o mundo” (BUENO,
351
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
2009, p. 63). Ademais, a sociedade estrutura-se em redes que
estão em constante transformação, como alerta o autor.
Além de estarem atentos ao contexto externo, os
profissionais responsáveis pela comunicação estratégica devem
atentar também para a comunicação interna, que passa a ser
vista também como estratégica, e para a valorização da
diversidade, considerando diferentes ideias, vivências e opiniões
do público interno da organização (BUENO, 2009).
Compreendemos, por fim, que mais do que nunca “as
organizações modernas, para se posicionar perante a sociedade
e fazer frente a todos os desafios da complexidade
contemporânea, necessitam planejar, administrar e pensar
estrategicamente a sua comunicação” (KUNSCH, 2006b, p.132).
Apesar do amplo respaldo teórico sobre essa afirmação, não é
sem resistências que a efetiva implementação de uma
comunicação estratégica realiza-se nas organizações, entre
elas, as IFES.
As IFES e a importância de uma comunicação
organizacional integrada, pública e estratégica
Nosso foco de estudo são as IFES. Assim, buscamos
compreender como esses processos de comunicação estão
estruturados e são desenvolvidos na UFSM a partir da
implementação de sua PC; buscamos, igualmente, trazer o
contexto das IFES e da comunicação nesse processo.
Entendemos que o processo da educação do ensino
superior nem sempre é compreendido. É essencial que a
sociedade entenda o papel da ciência na construção dos
avanços do país e, da mesma forma, a intervenção das
universidades nesses processos. Talvez seja a falta de
entendimento, essa lacuna de informação ou a pretensa falta de
proximidade da universidade com a sociedade que faz com que
352
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
as exigências sobre a área da comunicação sejam tão grandes
nos tempos atuais.
Com as reformas universitárias e a evolução do
capitalismo, alterou-se fortemente o que se espera de uma
universidade e, em especial, da universidade pública. Suas
funções, seus objetivos e seu local de ação sofrem com a
necessidade imposta às instituições de formar profissionais com
qualidade, desenvolver pesquisa de ponta, inserir-se na
sociedade através da extensão, mudar a realidade da região em
que estão inseridas, entre outros. Se, na era medieval, o foco
era o ensino de um pequeno grupo elitizado que poderia deter o
conhecimento, agora, há o entendimento de que a universidade
deve abrigar diversos grupos, com foco em criar espaços que
antes não eram destinados simbolicamente (e muitas vezes,
praticamente) às minorias. Não bastasse isso, parece ser
necessário garantir que a comunidade universitária, em todos os
níveis (estudantes, técnico-administrativos em educação e
professores), assuma também um papel ativo na visibilidade de
suas ações, de forma a legitimar sua atuação perante a
sociedade.
É possível pensar: a universidade pública abrigará quais
outros objetivos em seus pilares? Quais as responsabilidades,
de fato, necessárias para sua existência? Refletimos sobre
essas questões porque afetam diretamente o papel da
comunicação organizacional das instituições, que passa a ser
crucial dentro das instituições.
Vivemos em um momento de convergência tecnológica,
em que é necessário fazer uso de todas as mídias sociais para
divulgar ações e gerar visibilidade para a instituição. O desafio
da área, nesse cenário, é criar diretrizes e normas para orientar
as ações de comunicação voltadas para os públicos diversos da
universidade. Como fazer a gestão dessa comunicação, se não
através da implementação de uma Política de Comunicação?
353
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Através dela, sugerem-se padrões, fluxos e processos
que podem ser adotados e colocados em prática por toda a
comunidade universitária, seja pelo indivíduo de forma isolada,
enquanto aluno ou servidor, seja pelo núcleo ou setor em que
ele atua. Evitamos a adoção de estratégias comunicacionais
desencontradas e o retrabalho, a serem evitados em tempos de
falta de servidores da área e recursos para a contratação de
serviços terceirizados.
Nesse sentido, compreendemos que a aprovação e,
principalmente, a implementação de uma PC é essencial, além
de necessária, para o desenvolvimento de uma comunicação
organizacional integrada, pública e estratégica, em uma
instituição federal de ensino superior, como é o caso da UFSM.
A implementação da PC para o desenvolvimento da
comunicação integrada, pública e estratégica nas IFES
Como já mencionado, desenvolver uma comunicação
efetiva e estratégica dentro das organizações, entre elas, as
IFES, exige a adoção de uma PC. Em 2009, a realidade
mostrava que, no Brasil, as empresas não definiam as diretrizes
gerais e específicas da comunicação a fim de trabalharem com
uma PC (BUENO, 2009). Já em 2021, Bueno alerta que essa
situação havia mudado, existindo um esforço, principalmente na
área pública, para construir a PC a partir de um processo
dialógico com o público interno das instituições. O autor
demonstra que a aprovação de uma PC, por organizações ou
empresas brasileiras, tem crescido no século XXI,
principalmente na área pública, com destaque especial para as
universidades, institutos federais e de pesquisa. No entanto, ela
ainda não está presente na maioria das organizações
brasileiras, conforme o próprio autor (BUENO, 2021).
354
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
A primeira empresa a passar por esse processo foi a
Rhodia, em 1985, que implantou um Plano de Comunicação
Social. O projeto, conhecido como “portas abertas”, era um misto
entre um plano e uma política, pois definia valores, diretrizes e
posturas (típicas de uma política) e indicava ações a serem
implementadas (que constam normalmente nos planos). Isso
marcou a comunicação empresarial brasileira, pois foi uma
iniciativa pioneira. Antes dessa empresa, nenhuma outra havia
sistematizado e tornado público o que pensava a respeito de sua
comunicação. Segundo Bueno (2009, p. 9), esse foi o “primeiro
case bem-sucedido de transparência e compromisso aplicados
ao exercício da Comunicação Empresarial em nosso país”.
Desde então, diferentes autores tratam do tema. O
principal a desenvolver estudos sobre PC é, sem dúvida, Wilson
da Costa Bueno. Ele trata a política de comunicação como o
processo articulado de definição de valores, objetivos, diretrizes,
normas e estruturas, que tem como finalidade orientar o
desenvolvimento de ações, estratégias e produtos de
comunicação para uma organização tendo em vista o seu
relacionamento com os diversos públicos de interesse (BUENO,
2009, p. 310).
Silveira (2012) corrobora com Bueno, seu orientador,
considerando a PC um processo articulado que orienta as ações
e estratégias de uma organização, tendo em vista seus
diferentes públicos de interesse. De maneira simples e direta,
Hack e Pérsigo (2013) entendem a PC como um documento que
facilita a vida das pessoas que trabalham, de alguma forma,
relacionadas à área da comunicação dentro das organizações.
Como afirma Kunsch (2003. p. 335), “o estabelecimento de
políticas de comunicação nas organizações possibilita
normalizar as ações comunicacionais de um departamento ou
setor com os seus públicos”. Ainda que as ações não estejam
355
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
redigidas em um único documento (chamado de política) ou que
não estejam explícitas e claras, a autora afirma que toda e
qualquer organização possui diretrizes para suas atividades, ou
princípios em que a comunicação institucional da empresa se
fundamente. Tudo isso traçado a partir de um objetivo comum,
de todos os setores da empresa, e contra a qual não existam
argumentos.
Malta, Silva, Pinto e Figueiredo (2018, p. 2) consideram a
PC a ferramenta mais importante da comunicação
organizacional, pois fortalece a imagem e agrega valor às
atividades da empresa:
é nela que a instituição fundamenta seus conceitos e propostas
de atuação de comunicação; regulamenta os canais oficiais e
normativas de publicação; e estabelece processos, atribuições e
responsabilidades de acordo com os objetivos traçados no
planejamento estratégico (PE) da empresa (MALTA, SILVA,
PINTO E FIGUEIREDO, 2018, p. 2).
Segundo os autores, a PC deve levar em consideração
as reais necessidades da empresa, seja aumentar retorno
positivo na mídia, possibilitar maior aproximação com públicos
de interesse, consolidar uma imagem institucional ou facilitar a
comunicação interna. Para Nassar (2005), uma PC deve
expressar valores e crenças da organização. O posicionamento
previsto na PC é que vai orientar os planos de comunicação, os
quais vão estruturar as ações concretas, estabelecendo
recursos materiais, prazos, processos, conteúdos, ferramentas
de comunicação e de relacionamento, bem como pessoal que
opera as ações.
Na opinião de Souza (2006, p. 96), a PC pode ser
considerada como uma solução, ou, nas palavras dele,
“terapêutica comunicativa para problemas detectados a partir de
auditorias de comunicação realizadas nas empresas”. Além de
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
ser uma solução para problemas detectados e de nortear as
ações do público interno, a PC também se mostra importante no
sentido de dar transparência às atividades desenvolvidas pelas
organizações.
Na atual conjuntura econômica, onde os avanços da ciência e
as inovações tecnológicas permeiam as relações políticas e
comerciais, faz-se necessária a formulação de uma política de
comunicação organizacional que assegure a qualquer
organização a transparência de suas ações junto ao públicoalvo, permitindo ao mesmo tempo se construir uma imagem
favorável da mesma, tornando-a competitiva neste mercado de
economia globalizada (CARISSIMI, 2001, p. 2).
A política não se refere apenas a uma simples intenção
ou uma forma de demonstrar a boa vontade da empresa. Ela se
constitui em um compromisso que a organização assume de
melhor se relacionar com seus públicos. É uma filosofia adotada
pela gestão da organização e deve estar comprometida com “a
ética, a transparência, o profissionalismo, a proatividade e a
cidadania” (BUENO, 2009, p. 310). Tem, portanto, importância
estratégica para as organizações.
Assim, aprovar e implementar uma PC é considerar a
comunicação como área estratégica para a gestão
organizacional. Com isso, é preciso entender a necessidade de
um planejamento de ações alinhado ao processo global de
gestão da instituição e que auxilie na consecução dos objetivos
organizacionais (MALTA; SILVA; PINTO; FIGUEIREDO, 2018).
Kunsch (2003) lembra que, antes de se estabelecer uma PC, é
necessário conhecer a política global da organização. Alinhadas,
ambas serão estratégicas para o desenvolvimento das ações de
qualquer setor dentro da organização, em especial, a área de
comunicação, que terá, na PC, as orientações necessárias para
a tomada de decisões no dia a dia da instituição. “Mais do que
incorporar a comunicação à gestão, é necessário fazer a própria
357
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
gestão da comunicação. E isso deve ser feito a partir da
construção de uma política de comunicação” (BELTRAME,
2014, p.27).
Uma política de comunicação moderna incorpora as propostas
de diversidade cultural, de responsabilidade social em sua
plenitude (...) e assume de forma definitiva a comunicação como
estratégica. Talvez por isso mesmo existam tão poucas políticas
de comunicação autênticas, explicitamente documentadas:
apenas em ambientes onde a comunicação tem papel
estratégico real e está intrinsecamente ligada ao processo de
gestão, inserta numa administração estratégica efetiva, é
possível imaginar uma tentativa concreta de definir valores e
diretrizes de comunicação e assumi-los de forma comprometida
(BUENO, 2009, p. 312).
Para sua implantação de forma estratégica, é necessário,
antes de tudo, vontade política por parte da gestão da empresa.
De nada adianta uma equipe de profissionais de comunicação
qualificada (com caráter multi e interdisciplinar, que não
confundam a comunicação com a execução de tarefas) atuar no
processo de criação de uma PC, se ela não for pensada e
desenvolvida de forma conjunta pelos gestores da empresa.
Uma política de comunicação funda-se, especialmente, em
alguns pressupostos básicos, como o vínculo obrigatório entre
comunicação e processo de gestão, entre comunicação e cultura
organizacional, a existência de uma estrutura profissionalizada
de comunicação e de recursos (humanos, financeiros,
tecnológicos e outros) para sua implementação e a vontade
política para colocá-la em prática e exigir seu cumprimento
(BUENO, 2009, p. 311).
Nassar (2005) afirma que a PC sempre deve partir do
comando da organização, provocando diferentes percepções
entre os distintos públicos. Kunsch (2003) também alerta para o
fato de que, para se estabelecer uma PC, é importante o apoio
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
da alta direção. Isso não significa impor algo, mas sim apoio
efetivo. E, mais do que isso, a PC exige o envolvimento de todos
os funcionários da empresa. “Isto porque só se implanta uma
política de comunicação com a coparticipação de todos os
setores de uma empresa, levando-se em conta todos os seus
públicos e a dimensão do seu papel social” (KUNSCH, 2003, p.
336).
Nesse sentido, corroboramos mais uma vez com Kunsch
(1997), quando percebe esse esforço na construção de uma
política global de comunicação empresarial como sendo a forma
de estabelecer uma comunicação integrada entre os setores,
visando uma coerência maior entre os programas da empresa,
de uma linguagem unificada e de um comportamento
homogêneo. “Os diversos setores trabalham de forma conjunta,
tendo ante os olhos os objetivos gerais da organização e ao
mesmo tempo respeitando os objetivos específicos de cada um”
(KUNSCH, 1997, p. 115). Assim, mediante um documento
norteador das ações da organização, de forma a facilitar o dia a
dia de quem vive a instituição e suscitar soluções para
problemas da organização, a PC pode atuar de forma
estratégica, no momento em que se alinhar ao plano da gestão
e ao planejamento de comunicação, com foco no
desenvolvimento de uma comunicação integrada, estratégica e
pública.
É importante ressaltar que o processo de discussão até a
implantação/aprovação de uma PC na organização não é
simples, nem rápido: “o processo exige vontade política,
comprometimento de todos os setores e um esforço conjunto
dos profissionais envolvidos. É por isso que são poucas as
instituições que se dispõem a investir recursos em um projeto
dessa natureza” (BELTRAME, 2014, p.27). Bueno (2009)
também alerta para a necessidade do envolvimento de
diferentes segmentos de públicos da organização na construção
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
da PC, bem como a necessidade do envolvimento da alta
administração no processo.
Bueno (2009) sugere, inclusive, a contratação de um
consultor, pois a elaboração da política provoca rearranjos
internos, em que perspectivas, conceitos e relações de poder
estão em jogo. A visão de alguém de fora também contribui para
evitar vícios e rotinas, que passam despercebidos por quem está
sempre acompanhando o dia a dia da organização. Isso torna a
política mais plural.
Além disso, de nada adianta o alinhamento entre
diferentes segmentos que atuam na construção da PC
(profissionais da área de comunicação, consultor externo,
gestão da organização, etc.), se a política não for transmitida e
assumida por todo o público estratégico da organização,
inclusive o público interno, que não pode ser menosprezado no
processo (BUENO, 2021).
O autor destaca a importância de realizar auditorias de
imagem, pesquisas e análises de percepção da organização
pelos públicos de interesse, inclusive pelos meios de
comunicação de massa, diagnósticos da comunicação, bem
como considerar processos de avaliação, pesquisas e auditorias
para mensurar o retorno do trabalho. Isso mostra que, além de
ser transmitida para todos os públicos, a PC deve ser
constantemente avaliada. “Políticas, em geral, devem ser
atualizadas e acompanhar as mudanças internas e externas à
organização. Conceitos, valores, diretrizes e procedimentos
devem, portanto, adequar-se a novos cenários” (DUARTE;
SILVA, 2007, p. 22). Como mostra Bueno (2015), o mercado, a
sociedade e a comunicação estão em constante mudança.
Então, a PC deve estar sempre atenta a tudo, se possível,
antecipando-se aos acontecimentos, de maneira proativa em
sua proposta e na sua execução.
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Bueno (2009) destaca que a PC deve estar consolidada
em um documento-síntese e que ele esteja ao alcance de todos
os escalões da organização (público interno) e de seu público
externo. Da PC, podem resultar outros documentos, como guias,
manuais, auditorias, diagnósticos e programas de capacitação,
sobretudo um plano de comunicação, com característica prática
e operacional, que define ações de curto, médio e longo prazo,
a fim de tornar a PC efetiva (BUENO, 2021).
De todos os autores citados, Bueno (2009) ganha
destaque pelo envolvimento que tem com o tema - considerando
atuar como consultor em diversas instituições que cogitam
implantar uma PC - e pela quantidade de palestras e textos em
que aborda o conceito. O autor cita uma série de etapas
necessariamente articuladas que devem ser seguidas para a
criação de uma PC. A partir destas etapas, desenvolvemos o
que consideramos ser o modelo de Bueno para a
aprovação/implantação de uma PC nas organizações:
361
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Imagem 1 - Modelo para implantação de uma PC
Fonte: elaborado pela autora com base em Bueno (2009).
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Em suas atualizações sobre o tema, Bueno (2021),
inclusive, destaca dois formatos distintos de apresentação da
PC. O modelo padrão e o modelo híbrido. O primeiro é mais
básico, “apenas enuncia as diretrizes gerais, os princípios e os
valores ou atributos da comunicação, os canais de
relacionamento e as principais atividades que irão nortear o
trabalho de comunicação” (BUENO, 2021, p. 99); o segundo
apresenta uma concepção mais consolidada de PC, apresenta
também, no documento, ações e estratégias voltadas para
alguns temas específicos da comunicação organizacional. “Em
muitos casos, esta proposta indica também produtos
complementares a serem elaborados para a implementação da
Política, como guias, manuais, pesquisas e metodologias de
avaliação do trabalho de comunicação” (BUENO, 2021, p. 99).
É comum, nesta proposta, que o documento da Política de
Comunicação se faça acompanhar de um Plano de
Implementação da Política. No modelo padrão, muitas vezes,
a construção da Política de Comunicação fica sob a
responsabilidade de um grupo restrito de pessoas (profissionais
de comunicação e gestores de várias áreas); já na segunda
alternativa, além de uma Comissão Central responsável por este
trabalho, há o envolvimento dos públicos internos, muitas vezes
mediante o sistema de consulta pública, estimulando a
participação da comunidade interna no processo de elaboração
da Política (BUENO, 2021, p. 99-100)
Apesar de o autor falar do Plano de Implementação da
Política, ele não desenvolve como poderia ser tal Plano.
Verificaremos, também, que, entre as nove IFES que possuem
uma PC aprovada, nenhuma delas apresenta esse documento.
Ou seja, apesar de algumas PCs serem híbridas e já
considerarem a necessidade de criação de guias e manuais,
nenhuma delas apresenta, de forma organizada e estruturada,
estratégias e desafios para a implementação de uma PC em
363
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
uma IFES. Com foco nesta lacuna é que desenvolvemos a
sequência deste estudo.
Ainda que as estratégias adotadas em cada organização
variam em função de vários fatores, já que cada organização
está inserida em um contexto socioeconômico, político e cultural
diferente e com características específicas, a realidade geral das
IFES é muito parecida. E, por isso, compreendemos que a
implementação da PC, a partir de um modelo operacional
(proposta da tese a ser desenvolvida a partir desta análise
bibliográfica) pode servir de base para as IFES que ainda não
aprovaram sua PC ou que ainda não a colocaram em prática.
Assim, além de avançar nos estudos da área, demonstraremos
na prática que a PC é uma importante estratégia para o
desenvolvimento de uma comunicação organizacional
integrada, pública e estratégica.
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366
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
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ZÉMOR, Pierre. La communication Publique. Trad.: Elizabeth Brandão.
PUF, Col. Que sais-je? Paris, 1995.
Notas do capítulo
1
A campanha #SouUFSM teve como objetivo principal a mobilização da sociedade em prol da
manutenção da Universidade Pública e, consequentemente, da UFSM. Como objetivos
específicos destacam-se: incentivo à mobilização em relação às políticas de contingenciamento
no orçamento das Instituições de Ensino Federais; fortalecimento da imagem pública da UFSM,
através da divulgação de ações de gestão pública, ensino, pesquisa, extensão e inovação
desenvolvidas na Universidade; mobilização das lideranças políticas, influenciadores sociais,
imprensa, coletivos e a comunidade regional em defesa da Universidade Pública e da UFSM;
estímulo à integração de alunos e servidores, promovendo seu protagonismo comunicacional
em prol da UFSM. A campanha buscou atingir diferentes públicos, entre eles servidores e
alunos da instituição, ex-alunos da UFSM, lideranças políticas, econômicas, sociais e culturais
da região e do Estado, imprensa, influenciadores sociais e comunidade em geral.
367
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
PENSANDO O MUNDO VIRTUAL A PARTIR
DA COMUNICAÇÃO E DO TRABALHO: UM
DESAFIO NECESSÁRIO
THINKING THE VIRTUAL WORLD THROUGH
COMMUNICATION AND WORK: A NECESSARY
CHALLENGE
Gibsy Lisiê Caporal Soares
Resumo: Pensamos o mundo virtual em seu aspecto articulador da
comunicação com a tecnologia, entendendo que modificações
profundas estão acontecendo na forma como estamos
experimentando o mundo e tem sido assim desde que as
tecnologias tomaram o formato de plataformas e foram inserindo
mudanças nas relações dos indivíduos com as próprias
tecnologias e sua maneira de comunicar, de participar tanto em na
sociedade, como no trabalho. O objetivo desse artigo consiste em
articular conceitos que signifiquem o mundo virtual e das
plataformas tendo como pano de fundo as relações da
comunicação e trabalho, pois entendemos, por um lado,
compreender teoricamente conceitos e autores que apresentem
essas bases teóricas e, por outro lado, articular esses elementos
conceituais sistematizando e alinhando essas teorias em um texto
que possa servir de referência para os pesquisadores da
Comunicação. Metodologicamente, consiste em um recorte
conceitual da análise teórica que estou desenvolvendo para a na
minha Tese de Doutorado, no Programa de Pós-Graduação em
Comunicação, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Como resultados apresentamos uma sistematização de conceitos
para que se compreenda tal fenômeno em Lévy (2010, 2011),
Gillespie (2010, 2020), Helmond (2015), Fucks (2017, 2018),
Couldry e Hepp (2015, 2017), Van Dijck, Poell e Wall (2018), Poell,
Niegborg, Van Dijck (2019), considerando que o fator econômico
e organizacional faz emergir das empresas de tecnologia uma
nova classe de trabalhadores do conhecimento, denominados de
cibertrariado (HUWS, 2017).
Palavras-chaves: Virtual. Plataformas. Trabalho. Cibertrariado.
368
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Abstract: We think of the virtual world in its articulating aspect of
communication with technology, understanding that profound
changes are happening in the way we are experiencing the world
and it has been like this since technologies took the form of
platforms and were inserting changes in the relationships of
individuals with the technologies themselves and their way of
communicating. to participate both in society and at work. The
objective of this article is to articulate concepts that signify the
virtual world and platforms against the backdrop of communication
and work relations, since we understand, on the one hand, to
theoretically understand concepts and authors that present these
theoretical bases and, on the other hand, to articulate these
conceptual elements systematizing and aligning these theories in
a text to be a reference for Communication researchers.
Methodologically, it consists of a conceptual excerpt of the
theoretical analysis that I am developing for my Doctoral Thesis, in
the Graduate Program in Communication, at the Federal University
of Santa Maria (UFSM). As a result, we present a systematization
of concepts to understand this phenomenon in Lévy (2010, 2011),
Gillespie (2010, 2020), Helmond (2015), Fucks (2017, 2018),
Couldry and Hepp (2015, 2017), Van Dijck, Poell and Wall (2018),
Poell, Niegborg, Van Dijck (2019), considering that the economic
and organizational factor makes a new class of knowledge workers
emerge from technology companies, called cybertraried (HUWS,
2017).
Keywords: Virtual. Platforms. Work. Cybertraried.
Introdução
Entendemos que modificações profundas estão
acontecendo na forma como estamos experimentando o
mundo e tem sido assim desde que as tecnologias tomaram o
formato de plataformas e foram inserindo mudanças nas
relações dos indivíduos com as próprias tecnologias e sua
maneira de se relacionar na sociedade, e também no trabalho.
Nesse sentido, uma percepção do mundo relaciona os
aspectos da sociedade com uma realidade singular e
característica da Pós-Modernidade em sua concepção com a
comunicação, a partir das plataformas e das múltiplas
369
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
conexões de trabalho que são estabelecidas em um mundo
virtual, on-line e plataformizado.
A partir dessa concepção, o capítulo que apresento
objetiva agrupar alguns conceitos que signifiquem o mundo
virtual, on-line, as plataformas e uma percepção sobre as redes
sociais englobando um entendimento teórico sobre esses
conceitos e seus autores de referência, além disso, vinculando
tais elementos constitutivos com as relações da comunicação
e do trabalho, pois formulam uma análise econômica das
plataformas e propondo o conceito de cibertrariado (HUWS,
2017).
Percebemos importante, por um lado, compreender
teoricamente conceitos e autores que forneçam essas bases
teóricas e, por outro lado, organizar esses grupos conceituais
sistematizando e alinhando esses conceitos em um texto de
referência para os pesquisadores da área e, dessa forma,
contribuindo para a compreensão dessa realidade que ainda
precisa de aprofundamento na área da Comunicação
Organizacional.
Com esse entendimento, atualmente, desenvolvo a
minha Tese de Doutorado, no Programa de Pós-Graduação em
Comunicação, na Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM) e esse texto é parte das minhas coletas teóricas e
conceituais que sustentam a base para a minha pesquisa e que
procuro divulgar e compartilhar nesse livro, como
conhecimento científico organizado por mim e compartilhado
pelo Grupo de Pesquisa Comunicação Institucional e
Organizacional para colaborar com os demais pesquisadores
interessados no tema.
Essa é, portanto, uma contribuição teórica e,
metodologicamente, refere-se a um recorte conceitual,
resumindo uma parte integrante da Tese Doutoral que estou
desenvolvendo. Para organizar o texto, destaco três bases
370
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
referenciais, a primeira apresenta um agrupamento de
conceitos que tenho utilizado para pensar o mundo virtual na
atual concepção da comunicação, com a análise dos conceitos
propostos por Lévy (2010; 2011) e trazendo colaborações de
Flusser (2017), Couldry e Hepp (2015; 2017), Van Dijck, Poell
e Niegborg (2019).
Logo, como consequência evolutiva, apresentamos os
conceitos relativos às plataformas para isso elencamos os
autores Helmond (2015), Van Dijck, Poell e Niegborg (2019),
Van Dijck, Poell e Wall (2018), Poell, Nieborg e Duffy (2021),
Gillespie (2010; 2020) e Fucks (2017; 2018), fazendo uma
breve passada sobre a denominação de redes sociais nas
ciências sociais em Mahon (2021).
Ao final apresento o conceito de Huws (2018) para
cibertrariado e, como Fucks (2018), orienta a posição do
trabalho no ambiente organizacional das plataformas,
entendendo que precisamos posicionar a comunicação e
trabalho como reflexão necessária, destacada por Fígaro
(2021), para pensar o mundo virtual, no atual contexto da PósModernidade e das grandes corporações de mídia.
Pensando o mundo virtual
Considerando as relações tradicionais, dos objetos
conhecidos e ditos habituais da comunicação, revela-se uma
complexidade introduzida pela tecnologia apontando para
práticas e entendimentos que requerem significações porque
incorporam uma virtualização do ser e do estar em sociedade,
nas práticas do dia a dia, incluindo portanto, as práticas do
trabalho, pois nelas se elabora um espaço de interesse social
formando um ambiente de afetações nas relações sociais e
projetando mudanças culturais, comunicacionais e de trabalho,
consequências de uma dinâmica virtual na constituição do
371
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
conjunto desses fenômenos.
A dinâmica do ambiente virtual vai acontecendo de
forma coadjuvante no mundo do real e, mesmo havendo uma
compreensão de que não há dois mundos, se desenvolve uma
configuração diferente e que ainda está sendo descoberta em
muitos aspectos, pois é no espaço on-line e virtual de
interações, que precisamos compreender e dar significado a
concepções que precisamos nos apropriar e compreender
sobre os fenômenos da comunicação.
No espaço on-line e virtual de interações
comunicacionais, o mundo se apresenta em uma coreografia
não estática, mais fluida, líquida e muito imaterial, apontada por
Baumann (2021), onde os atores que participam são afetados
e afetam socialmente ambos os espaços (SAFATLE, 2021;
DEJOURS, 2015) em uma luta por reconhecimento (DUNKER,
2017), tendo em vista o ambiente econômico que rege essas
relações de comunicação mediadas (SODRÉ, 2021).
Esse caminho de avanço tecnológico que partiu do
desenvolvimento dos artefatos desenhou, retratou e configurou
a imagem do mundo, para Flusser (2017, p. 22) e aponta o
mundo material se sintetiza naquilo que guarnece as formas
com estofo, sendo um recheio de formas, quando o mundo
material se realiza à medida que se recheia e preenche e nisso
se estabelece o materialismo como a realidade.
Essa realidade ganha informação que é ampliada pelo
avanço da tecnologia, pela inteligência artificial e pela inserção
e uso das plataformas, conduzindo a um impacto do
desenvolvimento da técnica e dos dados que recuperou a ideia
de “retornar ao conceito original da matéria como
preenchimento transitório de formas atemporais” (FLUSSER,
2017, p. 22). A finalidade é “materializar essas formas”.
372
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Antigamente, o que estava em causa era a ordenação formal do
mundo aparente da matéria, mas agora o que importa é tornar
aparente um mundo altamente codificado em números, um
mundo de formas que se multiplicam incontrolavelmente. Antes
o objetivo era realizar as formas projetadas para criar mundos
alternativos. Isso é o que se entende por cultura imaterial, mas
deveria se chamar “cultura materializadora”. O que se debate
aqui é o conceito de informar, que significa impor formas à
matéria. Esse conceito tornou-se muito claro depois da
Revolução Industrial. (FLUSSER, 2017, p. 29).
Da Revolução Industrial até o primeiro computador
pessoal e depois para a virtualidade das relações em rede se
passaram alguns anos, mas foi o computador pessoal e os
smartphones que passaram a ser percebidos como um avanço
da tecnologia onde o cotidiano se transforma e as redes e o
virtual se misturam aos aspectos materiais e virtuais, e
deixando o segundo em evidência a partir desse século XXI.
Castells (2003) mostrava que o índice de difusão da
internet em 1999 era tão grande no mundo inteiro que estava
claro, já naquele momento, que o acesso generalizado seria a
norma no século XXI, e que a comunicação mediada pela
internet seria um fenômeno social importante porque
favoreceria a criação de novas comunidades, comunidades
virtuais e direcionaria as pessoas para um mundo de novos
laços, em uma rede de interesses comuns, de comunicação
interativa, em um âmbito global de relacionamento, com
consequências culturais e de sociabilidades que pareciam sair
do mundo real, inclusive do local de trabalho.
Diante desse avanço tecnológico e das redes globais de
conexões, nos interessa definir o que é o virtual para
compreendermos esse momento social e tecnológico que
vivenciamos. Trazemos os conceitos de Lévy (2010; 2011) para
estabelecer que o virtual deriva do avanço da sociedade que
compreende as novas técnicas, alicerça-se nas promessas dos
373
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
avanços tecnológicos e na adoção das máquinas, hardwares,
softwares e sistemas inteligentes, por trás dos equipamentos
que engendram dados, combinam informações, conteúdos e
interconexões entre e para os sujeitos.
Percebe-se com Lévy (2010; 2011) um ambiente virtual
que vem deslocando as camadas do mundo sobre as quais a
humanidade se constituiu, acrescentando uma nova ideia que
tem como base a própria constituição do cotidiano e do
significado das práticas sociais a partir da base na tecnologia
(SIEGLE, 2008) que nos leva a um ambiente diferente do offline. Estamos experimentando um mundo dual, onde a
realidade constituída é tanto online e off-line, ou seja, por dentro
e por forma das plataformas, como veremos a seguir.
Podemos dizer que vivenciamos um mundo de
virtualidades e de ciberespaços (LÉVY, 2010; 2011), inserindo
novos sentidos e modos de observar e interagir em uma
sociedade que, até então, havia se constituído, se relacionado
e trabalhado, totalmente no modo off-line. As relações a partir
desse avanço tecnológico no modo online, acontecem com a
constituição das empresas de tecnologia e na plataformização
dos sistemas e, portanto, da sociedade. Em um primeiro
momento, a Sociedade em Redes (CASTELLS, 2003) e logo, a
Sociedade de Plataformas (VAN DIJCK; POELL; WALL, 2018).
Latour (2013) já anunciava que, a técnica não é figura de
segundo plano, nem é por si só independente da realidade, ela
é parte do sistema de redes que formata o ambiente da internet
e assim, indica que as sociedades humanas estão dotadas de
uma rede de interação e constituem, portanto, um ambiente
complexo, interativo e onde cada parte atua para configurar
uma realidade. A rede para Latour (2013, p. 25) aponta para
uma transformação na qual as ações dos indivíduos passam de
“localizável para alocável e o que era invisível torna-se visível,
o que parecia autorreferente é agora amplamente
374
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
redistributivo”. Assim, cada realidade, ao ser interativa, formata
um eixo da realidade para um grupo social, seu conjunto
constitui a sociedade.
Deste modo, se as técnicas são imaginadas, fabricadas
e reinterpretadas durante seu uso pelos homens por meio da
tecnologia, também é o próprio uso intensivo de ferramentas
que constitui a humanidade como tal, explica Levy (2010). Por
isso, se percebe a tecnologia cada vez mais imbricada na
realidade social, onde a realidade está acontecendo tanto no
modo online como off-line.
Para Lévy (2010), as imagens, as palavras e as
construções de linguagem entranham-se nas almas humanas,
fornecem meio e razões de viver aos homens e suas
instituições, além disso elas criam a possibilidade das
organizações de grupos instrumentalizados em reciclarem
essas ideias. Dessa forma, alimentam os circuitos de
comunicação e das memórias artificiais. Portanto, as três
entidades – a técnica, a cultura e a sociedade – se enredam e
de fato sua definição é apenas conceitual, pois não há
independência entre elas.
A forte ligação entre esses fatores constitui a vida em
sociedade, daí a pertinência de Couldry e Hepp (2017) aludirem
a uma concepção de realidade social que se dá pelas formas
comunicativas da era digital, em infraestruturas tecnológicas e
processos de criação de sentidos mediados pelas novas
mídias.
Para Couldry e Hepp (2020), o mundo está constituído
por uma crescente interação entre as mídias e as tecnologias
e foi a partir dessa constante interação que hoje se chegou à
plataformização (VAN DIJK; POELL; NIEBORG, 2019) e à
Sociedade de Plataformas (VAN DIJK; POELL; WAAL, 2018).
Assim, tratar sobre os processos de midiatização na era digital
e apresentar tais fundamentos teóricos, é importante para o
375
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
avanço dos nossos estudos na Comunicação.
De forma que entender o que é virtual, nesse atributo
tecnológico foi o que permitiu a amplitude midiática desses
tempos. Minha tese se associa à definição de Lévy (2011) para
o que se constitui como virtual, transcorrendo sobre o uso
corrente da palavra virtual no ambiente das tecnologias da
inteligência, pois primeiro se percebe que há uma condição de
emprego do virtual como uma designação pura e simples de
ausência de existência, onde a “realidade” supõe uma afetação
material, então, a realidade parte de tudo aquilo que é tangível,
daquilo que é percebido como ter ou não posse de um objeto,
a materialidade.
Logo, define-se virtual como “virtus em latim, ou seja,
uma força e potência” (LÉVY, 2011, p. 6). O virtual ganha uma
dinâmica através de um movimento intenso das
potencialidades na construção da atualização dos fenômenos.
“O virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual” (LÉVY, 2011,
p. 16). Entender a virtualização parte por compreender a
atualização.
Como explica o autor, em uma situação de grupos de
trabalho, a atualização resolve um problema que a situação
confronta, “desqualifica certas competências, faz emergir
outros fundamentos, desencadeia conflitos, desbloqueia
situações, instaura uma nova dinâmica de colaboração [...]”
(LÉVY, 2011, p. 17). Enquanto o real assemelha-se ao
possível, à rigidez estrutural, o atual responde ao virtual
(negrito da autora) com uma base dinâmica e com um
movimento.
O virtual, portanto é o agora, a base dinâmica que
sustenta na vida on-line e que tem seu pilar nas redes de
internet, na infraestrutura disposta, nas conexões de dados,
nos novos formatos de relações pessoais, nas afetações, na
comunicação e nas plataformas como empresas que oferecem
376
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
serviços e produzem a mediação, são as potências do ser,
nesse ambiente complexo de virtualidades.
No quadro 1, apresentamos uma síntese do conceito de
virtual para Lévy (2010).
Quadro 1 - O virtual e a virtualização para Lévy (2010,
2011).
Virtual
Virtualização
Designação pura e simples da ausência de
existência material.
O atual corresponde ao virtual como uma
passagem dinâmica, uma elevação de
potência do ser.
Para ser virtual precisa haver uma base
dinâmica e um movimento associado de
mudança.
Existe uma força de potência em um
movimento interno das potencialidades na
constituição de fenômenos.
Acontece no que é atual, ou seja, na
dinâmica das potências do ser.
A virtualização não é uma desrealização,
mas uma mutação de identidade, um
deslocamento do centro de gravidade
ontológico do objeto considerado.
A virtualização gera uma fluidez às
distinções constituídas, aumenta o grau de
liberdade e amplia o vazio motor de todo o
sistema constituído.
Acontece em um modo de ser em outro,
por isso, ela não está presente ou é
objetiva, mas se caracteriza como uma
dinâmica da virtualização onde enredam-
377
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
se os fenômenos da vida social. Os
fenômenos, consistem em uma vida social
que se desprende do aqui e do agora, os
seus elementos são nômades, são
dispersos e ainda canalizam uma ampla
distribuição agregada em diferentes
lugares geográficos, tornando o espaço
físico, as estruturas, as instituições e as
organizações uma noção abstrata.
A virtualização acontece em três amplos
sentidos: a virtualização do corpo, do texto
e da economia.
Fonte: elaborado pela autora.
Lévy (2011) vê nessa definição de virtualização não
apenas uma maneira de ser, mas como uma dinâmica, uma
passagem do atual ao virtual, em uma elevação de potência da
entidade considerada. “A virtualização não é uma
desrealização, mas uma mutação de identidade, um
deslocamento do centro de gravidade ontológico do objeto
considerado” (LÉVY, p. 18). Dessa forma, a virtualização gera
uma fluidez às distinções constituídas, aumenta o grau de
liberdade e amplia o vazio motor de todo o sistema constituído.
Essa virtualização, segundo o autor, acontece em três amplos
sentidos: a virtualização do corpo, do texto e da economia.
Para que se possam entender os sentidos como objeto
desse estudo, situamos em Lévy (2010, 2011), um fundamento
teórico importante e que se reconhece como base teórica,
virtualização acontecendo em um “modo de ser em outro” (p.
13) e, por isso, ela não está presente ou é objetiva, mas se
caracteriza como uma dinâmica da virtualização onde
enredam-se os fenômenos da vida social.
378
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Esse fenômeno consiste em uma vida social que se
desprende do aqui e do agora, os seus elementos são
nômades, são dispersos e ainda canalizam uma ampla
distribuição agregada em diferentes lugares geográficos,
tornando o espaço físico, as estruturas, as instituições e as
organizações uma noção abstrata, Lévy (2011) inclui
desnecessária, pois o conjunto de códigos e operações que
geram a virtualidade são acontecimentos de atualização
textual, de navegação e de leitura.
Uma comunidade virtual pode, por exemplo, organizarse sobre uma base de afinidade por intermédio de sistemas de
comunicação telemáticos. Seus membros são reunidos pelos
mesmos núcleos de interesse, pelos mesmos problemas: a
geografia, contingente, não é mais nem um ponto de partida,
nem uma coerção. Apesar de “não-presente”, essa
comunidade está repleta de paixões e de projetos, de conflitos
e de amizades, explica Lévy (2011).
A virtualização não tem lugar estável, é móvel, uma
cultura nômade ganha espaço pela virtualização, fazendo
surgir um meio de interações entre seus indivíduos, entre
grupos e atores sociais que ganham espaço em um ambiente
de interações sociais sem um suporte rígido, dependente, sem
lugar comum fixado, sem um enraizamento espaço-temporal
preciso, onde o que se experimenta na vida social como
realidade social passa a ser um mundo contemporâneo de
virtualidades da tecnociência, das finanças, dos meios de
comunicação, dos dados e das empresas.
“O trabalhador clássico tinha sua mesa de trabalho”
(LÉVY, 2011), mas a virtualização da empresa abre espaço
para a virtualização do trabalho, uma alteração da gênesis e
das características do trabalho se dá nesse aspecto da troca,
mesmo que parcial, de um ambiente público para um ambiente
privado de trabalho. No que tange ao pertencimento à empresa,
379
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
essas relações estão passando de um membro assalariado
para outras formas de contrato que seguem a lógica da mesma
virtualização, como são a flexibilidade, a passividade, a
dinâmica e o não pertencimento ao lugar territorial.
Os atores humanos envolvidos se caracterizam pelo seu
desdobramento civilizatório nessa rede social virtual. Onde o
social da vida se formata em uma rede de computadores, de
dispositivos de discursos eletrônicos, uma articulação simbólica
do humano na articulação do ser nas redes buscando encontrar
sentido para abrigar-se e conectando-se intrinsicamente com a
tecnologia e com as mídias. Portanto, o mundo virtual é a
dinâmica do atual, que se dá sob a estrutura disposta pela
tecnologia, em um contexto de comunicação, na infraestrutura
permitida pela internet, nas bases daquilo que a tecnologia
permite acontecer on-line. Assim sendo, essa construção da
realidade no momento atual está mediada pelas plataformas,
que são também comunicação e tecnologia.
Os fenômenos sociais nesse ambiente de comunicação
refletem de forma intersubjetiva as perspectivas desses
diferentes atores que formatam o mundo em que vivemos. A
mídia tem ofertado as possibilidades de comunicação ao longo
do tempo e em diferentes espaços, contribuindo e dividindo
uma ideia social do entendimento do mundo. É representada
por esses vários aspectos das plataformas digitais que estamos
usando para nos comunicarmos com nossos amigos e colegas,
sustentando tais relações, onde, nesse caso, a comunicação
forma a estrutura de conexões e figurações da atualidade
(COULDRY; HEPP, 2017).
Dessa forma, Couldry e Heep (2017) nos apresentam
quatro elementos que estão reconstituindo as práticas e os
saberes do mundo social, que são os espaços de convivência
on-line (organization of space), os tempos dedicados (time of
online media) nessas mídias associados às interações
380
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
produzidas nos contatos gerando, e em contatos sequenciais,
a configuração do self, com a construção de aparências sociais,
o nível de coletividades (level of collectivities) e as
organizações (level of organizations), que são as grandes
corporações que estão dominando o mundo social.
O que insere tais reconfigurações, permitindo com a
plataformização, a amplitude da promessa de Mark Zukerberg
em fazer “tudo ser social”, pois, conforme Couldry e Hepp
(2017), mover o tráfego social para dentro das plataformas para
gerar lucratividade, onde o objetivo econômico da virtualidade
de Lévy(2010) aparece e merece ser sustentando quanto a
comunicação e trabalho, se alinhando na perspectiva da
virtualização do fenômeno social que passa pelo
desenvolvimento das plataformas como negócios de tecnologia
e de mídia, assim como veremos no próximo tópico.
As plataformas e seus conceitos
Ao definir a “Web as plataform”, Helmud (2015) já
revelava um movimento da tecnologia para um mundo virtual
interagindo através de uma intersecção mediada de
organizações de comunicação e mídia, nas redes de internet,
denominadas de plataformização, plataformas e mais tarde
Sociedade de Plataformas (VAN DJCKI; POELL; WAAL, 2018).
Voltamos em Helmond (2015) porque em seu texto ela
destaca uma primeira concepção entendendo tecnicamente as
plataformas como um conceito dominante para as empresas de
mídia social à medida que abordavam os usuários, ofereciam
destaque aos discursos e moldavam a participação e a
sociabilidade das empresas e das pessoas no ambiente virtual,
especialmente, os ambientes virtuais oferecidos para aqueles
que participava, no caso, no Facebook.
Segundo Helmond (2015), as plataformas foram sendo
381
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
conceituadas em diferentes momentos. Por uma definição
técnica, são infraestruturas por onde se constroem aplicativos
em um significado basicamente computacional. Com a
chegada da Web 2.0, as empresas de tecnologia amplificaram
esse significado para um conceito de plataforma como um
mercado-multifacetado por onde a tecnologia dá importância e
participação dos usuários, anunciantes, profissionaisdesenvolvedores que estão no mercado, organizando-os e
chamando usuários para participar em uma rede de valor que
aumenta à medida que cada um deles acessa e arrasta cada
vez mais pessoas.
E assim, as plataformas também são entendidas como
mercados multilaterais que se configuram como poder, pontos
de controle em dinâmicas estruturais e investimentos em
recursos cruciais para a sustentação dos discursos produzidos
na internet (HELMOND, 2015).
Na imagem 1, procuramos sintetizar alguns dos
conceitos relativos à plataforma e autores que discutem esse
conceito, organizando os conceitos cronologicamente.
382
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Imagem 1 - Conceitos chave de plataformas e autores
Fonte: elaborado pela autora.
Outras definições de plataformas são apresentadas por
Gillespie (2010; 2020), por onde os aspectos enfatizados são a
participação e a ênfase econômica das plataformas sobre a sua
dimensão computacional, assim, as plataformas são
plataformas porque oferecem uma oportunidade de comunicar,
interagir e vender. As plataformas passam a ser entendidas
como tecnologias que mediam ativamente as relações, que
abrigam e sustentam, através das regras e instâncias de uso,
das políticas para os usuários e das interfaces gráficas, de
modo que precisam ser preenchidas com dados para que seus
conteúdos sejam publicados.
Nessa busca pelo entendimento do que são as
383
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
plataformas, Helmond (2015) sustentava uma perspectiva
material-técnica e demonstrava que as plataformas de mídias
sociais possuem um conceito que está relacionado à mídia
social e que acontece pela inovação organizacional que nasce
junto com o próprio Facebook. Há uma escalada de
nomenclaturas que caracterizaram o destino do Facebook em
três momentos diferentes e sequenciais, por onde a autora
demonstra que há uma tentativa dessa empresa em adotar
uma forma discursiva para conceber um conceito de si mesma,
e nomear-se finalmente como plataforma.
Assim, primeiro, o Facebook se denominou “rede social”
(social network), logo passa a adotar “utilidade social” (social
utility), depois “diretório social” (social directory) e, por fim, em
2007, a nomenclatura plataforma (the web as plataform). Nesse
momento, o Facebook passa a ser entendido como um lugar
de colaboração e participação entre os seus usuários
(HELMOND, 2015).
Como gigantes globais da internet, Facebook, Youtube,
Twitter Weibo, Wikipedia, Printest, não são novidades nas
redes, mas tem integrado várias formas de sociabilidades em
suas ofertas de serviços, criando e compartilhando
informações, comunicando e cooperando entre elas. No
universo simbólico do Facebook, ele se define como uma
plataforma online que quer dar o poder de compartilhar e fazer
o mundo ser mais aberto e conectado. Usualmente, Zuckerberg
mostra o Facebook como tendo seu valor amparado no
compartilhamento, na comunicação e na sociabilidade
(FUCKS, 2017).
Em 2020, a empresa Facebook-Meta1, continua sua
aposta nas pessoas e na sociabilidade para sustentar o seu
negócio, e afirma que a humanidade vai buscar o metaverso
através de um caminho natural proporcionado pelo
compartilhamento e pela capacidade de criar e manter
384
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
relações, conectando as pessoas.
O conceito de rede social está relacionado à uma
percepção de um grupo social determinado pela sua estrutura
(a “rede”), que é geralmente oculta, enquanto que se manifesta
apenas por suas interações no próprio grupo e no modo de
apropriação que as pessoas fazem do Facebook, por exemplo,
podendo desvelar redes que existem ou que estão baseadas
em estruturas sociais construídas por essas pessoas e que
pode, muitas vezes acontecer de modo diferente daquele
previsto pela própria ferramenta (RECUERO, 2017).
Ao se perceber as interações sociais nas plataformas,
por exemplo, com a situação do Facebook, essas ações em
redes sociais, deixam de lado o fator econômico que estrutura
as próprias redes. O objetivo dessas organizações midiáticas,
como empresas que são, tem o seu interesse no processo
social interacional virtualizado, onde, através de suas ofertas
de infraestruturas de redes de internet e seus canais setoriais
acontecem as interações, e a informação gerada pelas
interações geram a lucratividade do sistema e mantém a lógica
operacional na Sociedade de Plataformas, tal como
denominaram Van Djcki, Poell e Waal (2018).
Nesse sentido, nesse artigo também nos propomos a
orientar a nomenclatura nesse universo simbólico que reside
na ideia de rede social e seu dispositivo comunicacional e
linguístico. O que nos interessa aqui é mencionar que o uso do
conceito “redes sociais” (que destaco) afasta a prerrogativa da
ideia de plataforma e toda a concepção organizacional e
econômica por detrás dela. Assim, ao definir as redes sociais
como uma metáfora social onde se observam grupos sociais,
seus atores e relações de modo que as interações entre eles
geram laços sociais, conforme no apresenta os estudos de
Recuero (2017), apenas verificamos o dispositivo das relações
sociais, apagando a abrangência organizacional do campo de
385
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
percepção ontológica da comunicação.
O conceito de redes sociais se restringe ao campo das
interações sociais, nela não estão abrangidas a realidade
organizacional e de infraestrutura de rede que o conceito de
plataformas abarca nos autores citados anteriormente como
Helmond (2015), Poell, Nieborg e Van Dijck (2019) e, portanto,
na minha Tese Doutoral pretendo explorar com maior atenção
e detalhe.
A Sociedade de Plataformas (VAN DIJCK; POELL;
NIEBORG, 2018), constitui-se como parte integral da
sociedade já que as plataformas são empresas privadas que
emergiram no Vale do Silício com a Web 2.0, e se inseriram
profundamente nas relações de comunicação e de sociedade,
de modo a criar uma ambiente sedutor sujeitando os indivíduos
ao espaço digital e ao mundo virtual.
As trocas, portanto, estruturadas nesse espaço digital,
segundo Marques e Martino (2021) funcionam como uma
agência que alimenta ou restringe trocas discursivas, onde se
aprofunda ou se combate condições de desigualdade e
injustiça. No interesse privado
das organizações e a
construção do interesse coletivo está localizada uma densa
rede
de
vulnerabilidades
e
conflitos
que
não
necessariamente são ruins para o avanço dos objetivos
produtivos da organização e nem tampouco para as relações
de confiança que amparam as redes de relações
organizacionais e, portanto, ajudam a sustentar lógica das
plataformas.
Nesse sentido, as implicações das plataformas
acontecem em um contexto organizacional e, por isso,
apresentam e comprometem os indivíduos e seus coletivos
assim, comunicação e trabalho são um tema necessário, pois
nas condições de trabalho, nas escolhas em meio a uma
gama sempre crescente de constrangimentos,
de
386
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
reconhecimento e de nomeação, de desrespeitos que sejam
impeditivos para a autorrealização e autodeterminação dos
sujeitos, explicam Marques e Martino (2021),
surge a
necessidade de se refletir sobre como os espações de trabalho
estão acontecendo na Sociedade de Plataformas.
A economia das plataformas reside na comunicação e
trabalho
A economia das plataformas reside na comunicação e
trabalho à medida que estamos preenchendo os vazios do
sistema baseado em informação, muitas provêm dos
ambientes de trabalho e conhecimento. E dois elementos
mencionados anteriormente dão conta dessa ideia e ajudam a
refletir sobre isso, a estrutura econômica do sistema, a
economia também é virtual (Lévy, 2010) e as interações sociais
possibilitadas pelas plataformas revelam um sistema
organizacional que se alicerça em um formato de inserção de
informações e conteúdo, na comunicação em um mundo virtual
(GILLESPIE, 2010).
O modo de operação da economia se dá no trabalho
produtivo e a partir do mais-valor e do lucro, elementos que
sustentam a economia em um sistema capitalista, em Marx
(2004). Muitas vezes, esse trabalho produtivo, não pode ser
caracterizado apenas como trabalho material, há percepções
quanto ao tipo de atividade que vai além da atividade de
produção que caracterizou o trabalho industrial, próprio da
Revolução Industrial.
Com a chegada da Sociedade Pós-Industrial, também se
percebe um movimento na indústria da tecnologia e da
informação que considera o conhecimento que atravessa muitas
categorias profissionais e apresenta novos modelos de
387
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
subjetivação do trabalho, denominados por Gorz (2005) como
trabalho imaterial ou do conhecimento.
Em pleno século XXI, em um contexto de trabalho e de
plataformas, Antunes (2019) coloca que dadas as profundas
mutações vivenciadas pela era digital-informacional-financeira,
é decisivo que se ofereça uma intelectualização atualizada
acerca do papel do trabalho nos serviços de criação de maisvalor, pois está acontecendo um rearranjo das pessoas e das
coisas, que, segundo Sodré (2021), transforma a natureza do
trabalho no sentido da imaterialização das forças produtivas,
convertendo objetos físicos em objetos digitais.
Que tipo de mercadorias está sendo criadas quando eles
desempenham trabalho imaterial, afetivo ou livre e como o valor
produzido por esse trabalho resulta em capital? São perguntas
feitas por Huws (2017) que descrevem que o valor criado pelo
trabalho “virtual” ou “digital” a partir de ideia de que é difícil
conceituar um trabalho on-line, mas a teoria do valor trabalho
define o trabalho apenas como produtivo ou não, no sentido de
Marx, mas estaria ignorando a realidade de que há “uma
quantidade considerável de trabalho não remunerado que
produz valor diretamente ao capital sem contribuir para a
subsistência dos trabalhadores” e nisso reside o conceito de
cibertrariado (HUWS, 2107, p.324).
Nesse sentido, interações, geração de informação,
conexões e contatos da vida social e do trabalho estão
conferindo uma nova gama de informações e comunicações,
recheando o sistema operacional determinado pelo ambiente
plataformizado e, para o qual, estamos continuamente
colaborando a partir da inserção de informações e na geração
de conteúdos. Como consequência, a vida social, e também a
vida do trabalho, colabora para a economia do sistema da
Sociedade de Plataformas.
388
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Considerações finais
O tema proposto é desafiante e necessário, mas não se
encerra nesse artigo, ele apenas abre caminho para publicar
um recorte dos estudos da Tese de Doutorado que estou
desenvolvendo e mostra como estão avançadas as discussões
do Grupo de Pesquisa em Comunicação Organizacional e
Institucional, da Universidade Federal de Santa Maria.
Apresentamos uma sistematização de conceitos que
tentam dar significação a um mundo virtual e plataformizado no
qual estamos todos submergidos e que precisamos, como
pesquisadores da Comunicação, organizar conceitos de modo
a perceber os constantes limites e avanços da área da
Comunicação, além de termos um embasamento teórico
coerente com nossos estudos e as propostas de pesquisa.
Como texto teórico, nele se elencou um conjunto de
autores e conceitos que nos parecem chaves para as
discussões da comunicação e trabalho, pensando o mundo
virtual, a organização da informação e a intercorrência das
atividades de trabalho como elemento de sustentação do estofo
dos sistemas tecnológico provocados pelos sistemas de
interconexões das organizações midiáticas, comandadas pelas
plataformas, como empresas de tecnologia, corporações que
comandas as conexões e relações globais na internet, das
quais seus resultados estão aderidos ao trabalho material e de
conhecimento desenvolvidos através das suas operações.
Percebemos que a análise teórica apresentada poderia
haver sido ampliada se houvéssemos trazido estudos
empíricos que dessem maior aderência à realidade
contemplada pela teoria. Nesse sentido, na Tese de Doutorado
que desenvolvo apresentarei, especificamente o trabalho dos
jornalistas nesse ambiente virtual e plataformizado, contudo o
objetivo desse artigo foi a sistematização teórica, deixaremos
389
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
os resultados empíricos da Tese que estou desenvolvendo
para uma próxima publicação, mas consideramos que eles
podem ajudar a complementar e elucidar a teoria que
apresentamos nesse artigo.
Assim, os conceitos que entendemos importantes sobre
as modificações profundas que estamos experimentando
nesse mundo virtual e plataformizado foram descritos e
sistematizados de forma que podem ajudar a pensar a
Comunicação significando a sociedade e os seus efeitos
quanto a comunicação e trabalho, nesse período de múltiplas
conexões e virtualizações.
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Notas do Capítulo
1
Entrevista dada por Zukerberg a Brownlee, no canal do Youtube talking tech, no ano de 2020.
392
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
SOBRE OS AUTORES
Ana Almansa Martínez
Profesora Titular en el Departamento de Comunicación Audiovisual y
Publicidad de la Universidad de Málaga. Coordinadora del Máster
Oficlal Dirección Estratégica e Innovación en Comunicación en la
Univeridad de Málaga y coordinadora en esta misma universidad del
Programa de Doctorado Interuniversitario en Comunicación. Editora
de la Revista Internacional de Relaciones Públicas. Su línea de
investigación se centra en la dirección de comunicación, las
relaciones públicas y la comunicaciñon política. ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-0256-6369.
E-mail:
[email protected]
André Quiroga Sandi
Professor Associado da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)
no Departamento de Jornalismo. Relações-públicas, graduado pela
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, mestre e doutor em
Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(UNISINOS), com estágio pós-doutoral junto à Universidad de
Málaga. Foi vice-coordenador do Grupo de Trabalho: Comunicação
Organizacional e Relações Públicas da Associação LatinoAmericana de Pesquisadores da Comunicação (ALAIC) e
Coordenador da Divisão Temática: Relações Públicas e
Comunicação Organizacional da Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares
da
Comunicação
(INTERCOM).
E-mail:
[email protected]
Carolina Frazon Terra
Professora e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP).
Líder do grupo de pesquisa INFLUCOM e Membro do grupo de
pesquisa Com+, ambos da ECA-USP. Relações-públicas, graduada
pela Universidade do Estado de São Paulo (UNESP), mestra e
doutora em Ciências da Comunicação pela USP, com estágio pósdoutoral pela mesma Universidade. Já atuou em empresas como
FIAT, Vivo, MercadoLivre, Agência Ideal, Garoto e Nestlé. Possui,
ainda, uma consultoria de mídias sociais e RP Digitais. Autora dos
393
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
livros: Marcas Influenciadoras Digitais; Comunicação organizacional:
práticas, desafios e perspectivas digitais; Byung-Chul Han e a
Hipercomunicação; Mídias Sociais e Agora?; e Blogs Corporativos.
Também desenvolveu a metodologia REATIVA de influência
organizacional digital e é editora do Blog RPalavreando. ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-4016-3747.
E-mail:
[email protected]
Fabio Frá Fernandes
Professor-colaborador na Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM) e relações-públicas (cooperação técnica) na Universidade
Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Relaçõespúblicas, graduado pela Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ),
mestre em Comunicação e Indústria Criativa pela Universidade
Federal do Pampa (Unipampa) e doutor em Comunicação pela
UFSM. Membro dos Grupos de Pesquisa: Comunicação Institucional
e Organizacional (Gcinco/UFSM/CNPq) e Processos e Práticas nas
Atividades Criativas e Culturais (GPAC/Unipampa/CNPq). Há dez
anos trabalha com Comunicação e Relações Públicas em
universidades públicas e comunitárias no Rio Grande do Sul. Autor
do livro "Eventos, como fazer acontecer? 10 estratégias de Relações
Públicas para inovar no planejamento e na organização de eventos
no pós-pandemia", organizador do “Relatório Social UFCSPA” desde
2018 e idealizador do Periódico "Comunicação e Indústria Criativa:
pesquisa, desenvolvimento & inovação", revista eletrônica do
Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Indústria Criativa
da Unipampa. Pesquisa sobre Comunicação em Ecossistemas de
Inovação, Midiatização em Ambientes da Indústria Criativa,
Comunicação e Relações Públicas em contextos organizacionais
emergentes, Ecologia da Mídia, a filosofia de Marshall McLuhan e
Midiatização
das
práticas
sócio-organizacionais.
ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-2035-6832.
E-mail:
[email protected]
Francisco Javier Godoy Martín
Profesor en el Departamento de Marketing y Comunicación de la
Universidad de Cádiz. Es licenciado en Periodismo por la Universidad
de Sevilla y Doctor en Dirección Estratégica en Comunicación por la
Universidad de Málaga. Su línea de investigación se centra en
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
estrategias, técnicas y herramientas de relaciones públicas,
especialmente en nuevos medios y soportes. Antes de incorporarse
a la carrera docente, ha trabajado para varias agencias de
comunicación y publicidad nacionales e internacionales. ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-5284-2283.
E-mail:
[email protected]
Gibsy Lisiê Caporal Soares
Professora do Instituto Federal Farroupilha, campus São Vicente do
Sul, na área de Comunicação e Marketing. Administradora, graduada
pela Universidade Franciscana (UFN), mestra em Administração pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e doutoranda em
Comunicação também pela UFSM. Integrante dso Grupos de
Pesquisa:
Comunicação
Institucional
e
Organizacional
(Gcinco/UFSM/CNPq) e Desenvolvimento Local e Inovação (IFFarroupilha/CNPq). Pesquisa comunicação e trabalho na
configurações midiáticas e estratégicas da comunicação
organizacional. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7910-5312. Email:
[email protected]
Larissa Conceição dos Santos
Professora Adjunta na Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA).
Relações-públicas e administradora, graduada pela Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM). Mestra em Engenharia de Produção
pela UFSM e em Sciences de l’Information et de la Communication
pela Université Paris-Sorbonne. Doutora em Sciences de
l’Information et de la Communication pela Université Paris-Sorbonne
e em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo
(USP), com estágio pós-doutoral também pela USP. Pesquisadora
vinculada ao Centro de Estudos de Comunicação Organizacional e
Relações Públicas (CECORP) junto a Escola de Comunicação e
Artes da USP e integrante do Grupo de Pesquisa t3xto
(UNIPAMPA/CNPq). Conferencista e pesquisadora na Red
Latinoamericana de Investigación en Comunicación OrganizacionalRedLAco e no Groupe d’études et de recherche sur les
Communications
Organisationnelles
Org&Co.
ORCID: http://orcid.org/0000-0002-18345547.
Email:
[email protected]
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Liana Estela Merladete de Souza Pozeczek Koltermann
Professora na Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA).
Relações-públicas, graduada pela Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM), mestra em Tecnologias Educacionais em Rede e
doutora em Comunicação, também pela UFSM. Integrante do Grupo
de Pesquisa em Comunicação Institucional e Organizacional
(Gcinco/UFSM/CNPq), sócia-proprietária da agência Dois Atitude
Criativa, Coach e Mentora credenciada pelo Instituto Holos, e
Colunista na área de Tecnologia e Educação no Diário de Santa
Maria. Foi Delegada do Conselho Regional de Profissionais de
Relações Públicas 4ª região e colaboradora do Observatório da
Comunicação
Institucional.
Pesquisa
sobre
Comunicação
Organizacional, Educação a Distância, Organizações de Tecnologia
Educacional, Plataformização e Tecnologias Digitais, Ecologia das
Mídias e Estratégias de Comunicação e Visibilidade. ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-8105-1018. Email:
[email protected]
Manoel Marcondes Machado Neto
Professor associado da Faculdade de Administração e Finanças da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Relações-públicas,
graduado pela UERJ, mestre em Comunicação pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), doutor em Ciências da
Comunicação pela Universidade de São Paulo e estágio pós-doutoral
pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Cofundador e diretorpresidente da Sociedade Educativa Observatório da Comunicação
Institucional. Foi líder dos Grupos de Pesquisa: Governança e
Comunicação: construção de um método para auditoria de imagem
institucional e aferição de índice de transparência organizacional
(UERJ/CNPq), Gestão e Marketing na Cultura (UERJ/CNPq) e
Empoderamento das marcas comerciais - um novo conceito:
"powerbranding"
estudo
dos
aspectos
institucionais,
mercadológicos, econômicos e financeiros do "branding"
(UERJ/CNPq). Foi secretário-geral do Conselho Regional de
Profissionais de Relações Públicas 1ª região e conselheiro suplente
Conselho Federal de Profissionais de Relações Públicas. Autor dos
livros "Manual de Compliance para a Comunicação Corporativa",
"Auditoria Funcional da Comunicação Organizacional", "8 Rs da
Comunicação Funcional", "Marketing para as artes e RP para
artistas", "Cultura e Marketing para as Artes", "The business of
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
transparency", "4 Rs das Relações Públicas Plenas: proposta
conceitual e prática para a transparência nos negócios", "A
transparência é a alma do negócio", "Marketing Cultural: das práticas
à teoria", "Relações Públicas e Marketing: convergências entre
Comunicação e Administração", "Economia da Cultura: contribuições
para a construção do campo e histórico da gestão de organizações
culturais no Brasil", "Marca: do marketing ao balanço financeiro", "105
anos de história das Relações Públicas no Brasil" e "100 Anos de
Relações Públicas no Brasil: rumo à cidadania plena". E-mail:
[email protected]
Marcela Guimarães e Silva
Professora Adjunta da Universidade Federal do Pampa (Unipampa),
campus São Borja, atuando no bacharelado em Relações Públicas e
no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Indústria
Criativa (PPGCIC). Relações-públicas, graduada pela Universidade
Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ),
mestra e doutora em Extensão Rural pela Universidade Federal de
Santa Maria, com estágio pós-doutoral em Comunicação e Gestão
de Indústrias Criativas junto ao Center for research in communication,
information and digital culture, da Faculdade de Letras (FLUP), da
Universidade do Porto - Portugal. Líder do Grupo de Pesquisa
Processos e Práticas nas Atividades Criativas e Culturais
(GPAC/Unipampa/CNPq).
Coordenadora
do
Observatório
Missioneiro das Atividades Criativas e Culturais (OMiCult). Editora
executiva do periódico "Comunicação e Indústria Criativa: pesquisa,
desenvolvimento & inovação", revista eletrônica do Programa de
Pós-Graduação em Comunicação e Indústria Criativa da Unipampa.
Organizadora dos livros: "Comunicação e Transformações da
Indústria Criativa: cinco anos do PPGCIC", "Comunicação e Indústria
Criativa nas Universidades - Experiências no ensino Portugal e
Brasil", "Comunicação e Indústria Criativa: políticas, teorias e
estratégias", "Processos e práticas nas atividades criativas e
culturais: reflexões e interfaces da comunicação e da indústria
criativa", "Instituições Culturais: Região das Missões", "Comunicação
Organizacional: dos fundamentos às práticas", "Breve história da
Colônia Philippson, Itaara, RS" e autora dos livros: "Produção
Cultural como estratégia de Relações Públicas: uma análise do
Prêmio GPSNet de Arte no Muro", "Relações Públicas e
Comunicação Interna: alguns apontamentos éticos", "Conhecimentos
397
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Municipais: assistência social, comunicação, cultura e meio
ambiente". ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9752-2571. E-mail:
[email protected]
Maria Luiza de Carvalho de Grandi
Jornalista, graduada pela Universidade Federal de Santa Maria.
Mestra em Comunicação, também pela UFSM. Integrante do
Grupo de Pesquisa em Comunicação Institucional e
Organizacional (Gcinco/UFSM/CNPq). Ao longo de sua
carreira, atuou no Jornal A Razão, Rádio Santamariense, Assessoria
de Comunicação do Hospital Universitário (HUSM) e Assessoria da
8ª Coordenadoria Regional de Educação. Com formação como
Analista de Marketing Digital para Mídias Sociais, Maria Luiza é
colaboradora da Societá Magazine e Coordenadora de Comunicação
da Ciência Rural. ORCID: https://orcid.org/0009-0002-4298-9470. Email:
[email protected]
Maria Ivete Trevisan Fossá
Professora titular da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
atuando no curso de Comunicação Social e no Programa de PósGraduação em Comunicação. Relações-públicas e Administradora,
graduada pela UFSM, mestra em Comunicação Social pela
Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), doutora em
Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), com estágio pós-doutoral na Universidad Nacional de
Quilmes, Argentina. Vice-líder do Grupo de Pesquisa em
Comunicação Institucional e Organizacional (Gcinco/UFSM/CNPq).
Autora dos livros: "Das Ruas à Mídia: representação das
manifestações sociais", "Manifestações da Cultura Organizacional
em
Empresas
Virtuais",
"TV
Comunitária:
estratégias
comunicacionais de produção televisiva", "FACAS COQUEIRO: O
segredo por trás da lâmina", e organizadora dos livros: "Comunicação
organizacional e cidadania: olhares sobre a presença das
corporações e da comunidade na mídia", "Rádio: Sociedade,
Fronteiras e Educação", "Identidades Midiáticas", "Estratégias
Midiáticas". Pesquisa sobre metodologias da comunicação,
comunicação
organizacional,
relações
públicas,
cultura
organizacional, comunicação estratégica, comunicação e cidadania,
398
ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
e responsabilidade social. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-65366714. E-mail:
[email protected]
Valmíria Antonia Balbinot
Relações-públicas, graduada pela Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM) e bacharela em Direito, graduada pelo Instituto de
Medicina, Estudos e Desenvolvimento (IMED), hoje ATITUS
Educação. Mestra em História pela Universidade de Passo Fundo
(UPF) e doutoranda em Comunicação pela (UFSM). Integrante do
Grupo de Pesquisa em Comunicação Institucional e Organizacional
(Gcinco/UFSM/CNPq). Foi professora de Comunicação na UPF e,
atualmente, é mediadora Judicial Cível e Familiar no CEJUSC da
Comarca de Passo Fundo. Conselheira no Conselho Federal dos
Profissionais de Relações Públicas (CONFERP), atuando também na
Diretoria de Assuntos Acadêmicos, na Diretoria de Relações
Governamentais e na Diretoria de Relações com o Mercado. ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-7212-350X.
E-mail:
[email protected]
Solange Prediger
Servidora pública - relações-públicas - da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM), atuando desde 2020 como Assessora de
Comunicação do Gabinete do Reitor. Relações-públicas, graduada
pela UFSM, mestra e doutora em Comunicação pela mesma
universidade. Integrante dos Grupos de Pesquisa: Comunicação
Institucional e Organizacional (Gcinco/UFSM/CNPq) e Estratégias de
Comunicação midiática em contextos de movimentos sociais e
organizações comunitárias, públicas e privadas com foco no local,
regional, comunitário e cívico/cidadão (UFSM/CNPq). Atuou nas
áreas de Comunicação Social, Relações Públicas, Assessoria de
Imprensa, Organização de Eventos e Cerimonial e Protocolo no
Comando da 3ª Região Militar, em Porto Alegre/RS, no Instituto
Federal Farroupilha, em Júlio de Castilhos/RS, e no Tesouro do
Estado - Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul. Foi
coordenadora do Núcleo de Imprensa da Fundação de Economia e
Estatística (FEE), em Porto Alegre/RS, onde atuou por três anos.
Trabalha como Mestre de Cerimônias e pesquisa sobre Política de
Comunicação, Relações Públicas, Comunicação Integrada, Pública,
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ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
Maria Ivete Trevisan Fossá, Fabio Frá Fernandes, Gibsy Lisiê Soares Caporal (orgs.)
Organizacional e Estratégica, Estratégias de Comunicação e
Eventos. E-mail:
[email protected]
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