Moçambique: fundos limitam processo para ter português como língua oficial na ONU
As questões financeiras parecem limitar a pretensão de ter o português como língua oficial nas Nações Unidas, segundo o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique. Manuel Gonçalves fez a declaração em entrevista à ONU News na sequência da participação moçambicana na semana de alto nível da 79ª Assembleia Geral.
A conversa com o vice-chefe da diplomacia moçambicana abordou ainda a presença moçambicana no Conselho de Segurança e a mensagem ao evento.
ONU News, ON: Vamos conversar com o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, Manuel Gonçalves. É um prazer tê-lo aqui, uma vez mais, nas Nações Unidas e agora no fim desta semana de alto nível da Assembleia Geral.Vamos falar da mensagem que acabou de deixar ali para o mundo. Esteve no palco principal da diplomacia internacional. O que é que o Moçambique quis deixar ficar como marca desta Assembleia Geral?
Manuel Gonçalves, MG: Muito obrigado. De facto, foi uma honra e um privilégio participar deste debate geral, que praticamente termina hoje, e falar em nome de sua excelência o presidente da República. Aqui destacamos sobretudo a questão de multilateralismo. O desafio que o mundo enfrenta hoje exige que o mundo se una para enfrentá-los. Estamos a falar de mudanças climáticas, do combate ao terrorismo e de conflitos no geral. Isso exige que o mundo trabalhe em conjunto para criarmos este mundo estável e harmonioso.
E nós destacamos, em relação à África, essa mensagem à África, que queremos a África estável, a África próspera. Também trouxemos a mensagem que perante os conflitos que existem no mundo não há melhor via senão o diálogo. Nós trazemos sempre esta mensagem, na base da experiência do nosso próprio país, que vivemos conflitos, mas a solução foi por via de diálogo. Portanto, olhamos para diferentes conflitos que existem no mundo e o resultado do conflito é vítimas humanas, destruição enorme, deslocados, refugiados.
Portanto, exige tudo isto que possamos encontrar solução para que este mundo que queremos, harmonioso, possa acontecer. Fomos na linha do tema principal, “Não deixar ninguém para trás”. Trabalhamos todos em conjunto para uma paz e desenvolvimento que nós queremos.
ON: Cerca de três meses do final do mandato no Conselho de Segurança, como é que a experiência moçambicana fez a diferença? Até que ponto foi acolhida pelos membros do Conselho que se disse estar dividido?
MG: Nós de facto tivemos essa honra e privilégio de servir no Conselho Segurança durante aproximadamente dois anos. Faltam três meses de facto. Faltando três meses a avaliação que nós fazemos é bastante positiva. Nós jogamos esse papel de equilíbrio, trazendo essa mensagem de que há necessidade de resolução dos conflitos na base de diálogo.
Do tempo em que estamos aqui e do tempo que a sua excelência presidente da República esteve cá, essa mensagem de que o Moçambique desempenhou um papel importante de equilíbrio sempre foi nos transmitida. E é gratificante ouvir de várias pessoas que Moçambique teve um papel muito importante neste sentido.
ON: Vamos terminar a nossa conversa a falar dos encontros que o Moçambique teve nesta semana. Começou com a Cimeira do Futuro, depois prolongou-se para a Semana de Alto Nível da Assembleia Geral. Que resultados é que o país teve a oportunidade de colher durante este período?
MG: De facto, nós participamos, para além de acompanhar a sua excelência presidente da República, em vários eventos: reunião ministerial do Grupo dos 77, encontros bilaterais. Uma mensagem importante é que o mundo está com Moçambique, em termos de solidariedade. Solidariedade no combate ao terrorismo daquilo que está acontecendo na província de Cabo Delgado, solidariedade devido às calamidades naturais que Moçambique tem sofrido ciclicamente.
Mas também sentimos que há esse interesse de continuar a apoiar Moçambique no processo de reconstrução e desenvolvimento do país. Sentimos ainda que o mundo está com Moçambique no apoio ao processo de fortalecimento da democracia, porque vamos ter eleições no dia 9 (de outubro). Então sentimos este elogio, este carinho por aquilo que Moçambique está a fazer no aprofundamento da democracia no país.
ON: Já para terminar, a língua portuguesa nas Nações Unidas foi um tema que foi debatido aqui também. Chegou a ter contactos sobre este assunto com os seus colegas diplomatas dos outros países? A que ponto é que se está neste âmbito?
MG: Nós continuamos a refletir, sobretudo olhando em termos da população que fala a língua portuguesa. O interesse existe que esta língua portuguesa se torne a língua oficial. Há vários procedimentos que têm que ser seguidos e, sobretudo, o grande constrangimento às vezes tem sido a questão financeira. Como podemos financiar este processo que essa língua se torne a língua oficial? Portanto, os países continuam a fazer esta reflexão para ver quando isto será possível.
Entretanto, mesmo sem ser a língua oficial, gradualmente os países que falam português têm utilizado esta língua para se comunicar nos debates gerais. Portanto, ainda não descemos para outros níveis em termos das comissões, em termos de reuniões ministeriais. Mas, a nível de debate geral, há um esforço para que esta língua seja ouvida por todos.