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Relatora revoltada com sentenças da Rússia contra advogados de opositor Navalny BR

Alexei Navalny morreu em fevereiro de 2024 na prisão
Photo: © Evgeny Feldman
Alexei Navalny morreu em fevereiro de 2024 na prisão

Relatora revoltada com sentenças da Rússia contra advogados de opositor Navalny

Direitos humanos

Mariana Katzarova quer fim da repressão severa a profissionais do direito no país incluindo a anulação dos veredictos contra defensores do ex-líder da oposição, Alexei Navalny, que morreu em fevereiro passado sob custódia de autoridades russas.

A relatora especial da ONU* sobre a situação dos direitos humanos na Rússia pediu às autoridades do país que suspendam o que chama de uma “repressão severa a juristas assim como o risco à segurança e à vida de advogados.”

Em comunicado, Mariana Katzarova conclamou a libertação imediata de três defensores: Vadim Kobzev, Alexei Liptser, and Igor Sergunin que tinham como cliente o ex-líder da oposição na Rússia, Alexei Navalny.

Anulação de sentenças de mais de 5 anos de prisão

Em 16 de fevereiro passado, a família de Navalny confirmou a morte dele numa prisão na Sibéria. O opositor russo tinha 47 anos. Na semana passada, os três advogados dele foram condenados a sentenças que chegam a até cinco anos e meio de prisão.

Relatora de direitos humanos, Mariana Katzarova
Photo: UN News/Dominika Tomaszewska-Mortimer

Segundo agências de notícias, os três advogados de Navalny foram detidos em outubro de 2023, acusados de participar de uma “organização extremista”.

A relatora pediu a anulação das sentenças e disse que a Rússia segue perseguindo os profissionais do setor mesmo numa semana em que se comemora o Dia Internacional de Advogados em Perigo, marcado nessa sexta-feira.

Perseguição política e casos sensíveis

Para Mariana Katzarova, a condenação dos advogados serve como um recado assustador a todos os profissionais que consideram defender casos sensíveis politicamente. Especialmente, aqueles que têm clientes que enfrentam perseguição política.

A relatora afirma que o termo “extremismo” não tem nenhuma base na lei internacional e constitui uma violação dos direitos humanos quando desencadeia a responsabilidade penal.

Um outro sinal de alerta, segundo Katzarova, é a falta de informação pública sobre o julgamento dos três advogados de Alexei Navalny.

Quando o veredicto foi anunciado, em 17 de janeiro, a audiência estava aberta a apenas 50 pessoas incluindo membros da imprensa e outros advogados.

Defensores são julgados à revelia e perdem licença

Na ocasião, quatro jornalistas foram detidos de forma arbitrária e depois liberados.

Vista aérea do Kremlin, sede do governo russo
UN Photo/Milton Grant

No ano passado, ela apresentou um relatório ao Conselho de Direitos Humanos sobre a continuidade de ataques a juristas na Rússia. (Link para o documento em inglês report  ).

A relatora especial lembra que os profissionais têm sido detidos, julgados e presos além de perderem suas licenças para exercer a profissão no país.

Katzarova acusa a Rússia de emitir definições e interpretações vagas e imprevisíveis, em muitos casos abusivas, em julgamentos de portas fechadas.

Outros dois advogados de Navalny já fugiram da Rússia

Segundo ela, autoridades do país estão instrumentalizando legislações de contraterrorismo e segurança nacional para banir opositores e intimidar os críticos do governo.

Desde a prisão dos três advogados de Alexei Navalny, em 2023, a relatora tem pedido a soltura deles e lembra que outros dois defensores do ex-opositor do presidente da Rússia, Vladimir Putin, tiveram que fugir do país.

Alexandr Fedulov e Olga Mikhailova se encontram no exterior, mas respondem a acusações similares na Rússia.

Desde a invasão da Ucrânia por forças russa, o número de advogados presos e condenados alcançou o seu mais alto nível.

*Os relatores de direitos humanos são independentes das Nações Unidas e não recebem salário pelo seu trabalho.