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Conflito eleva custo de alimentos em mais de 200% no Sudão do Sul BR

Pessoas da comunidade transportando alimentos da zona de lançamento aéreo em Rupchai, no estado de Unity, no Sudão do Sul
© WFP/Eulalia Berlanga
Pessoas da comunidade transportando alimentos da zona de lançamento aéreo em Rupchai, no estado de Unity, no Sudão do Sul

Conflito eleva custo de alimentos em mais de 200% no Sudão do Sul

Paz e segurança

Enviado da ONU fala de estresse humanitário, econômico e de segurança no país causados pela violência comunitária; com mais de 23 mil casos neste ano, cólera se espalha para locais de difícil acesso agravando situação.

O Conselho de Segurança acompanhou nesta quarta-feira o informe da Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul, Unmiss, apresentado pelo representante especial do secretário-geral para o país.

Nicholas Haysom listou fatores de estresse humanitário, econômico e de segurança que têm na violência comunitária um principal impulsionador do conflito que vem afetando civis. O impacto é desproporcional em populações vulneráveis, incluindo mulheres, crianças e grupos marginalizados.

Frustração pública

O enviado disse aos 15 Estados-membros que episódios de agitação recentes refletem a frustração pública com a crise. O custo de uma cesta de alimentos média aumentou em 200% e a taxa de inflação é de 107%.

Os servidores públicos não foram pagos por 10 meses. Um novo anúncio do governo sobre a retomada do fluxo de petróleo gerou uma certa esperança de restabelecimento de serviços básicos e do processo de transição, interrompido em 2024.

Uma família encontra refúgio em uma antiga base da Unmiss no sudoeste do Sudão do Sul
Unmiss/Nektarios Markogiannis
Uma família encontra refúgio em uma antiga base da Unmiss no sudoeste do Sudão do Sul

A nação sul-africana enfrenta um surto de cólera com suspeita de 23 mil casos. A situação foi agravada pelas cheias. A doença continua a se espalhar em locais de difícil acesso mesmo com tratamento, campanhas de água, saneamento e vacinações.

A ONU apoia o Plano de Necessidades Humanitárias e Resposta de 2025 para atingir 5,4 milhões de pessoas com assistência e proteção essenciais com US$ 1,7 bilhão. A mobilização de recursos continua crítica neste ano.

Período de transição

O presidente interino da Comissão Conjunta Reconstituída de Monitoramento e Avaliação, Charles Tai Gituai, e um representante da sociedade civil falaram no evento.

O informe sobre os últimos três meses de 2024 revela que houve algum progresso após a decisão das autoridades sul-sudanesas de estender o período de transição, adiando as eleições gerais até dezembro do próximo ano.

Entre os desafios associados ao período eleitoral estão ainda a falta de financiamento adequado e o avanço lento em tarefas importantes, incluindo a preparação da Constituição permanente e avançar com o processo eleitoral.

A ONU destaca que o presidente sul-sudanês, Salva Kiir, concordou em abolir o projeto de lei prevendo poderes para deter suspeitos sem um mandado de prisão.

Batalhões militares

Em relação aos arranjos de segurança de transição, o relatório destaca que está em processo a implantação das Forças Unificadas Necessárias.

Negociações para aproximar o Governo de Transição Revitalizado de Unidade Nacional e os grupos resistentes, facilitados pelo Quênia em Nairóbi estão novamente estancadas após a retomada das conversas em dezembro passado.

A situação de segurança é considerada ainda frágil e marcada por incidentes de segurança frequentes, além da violência intercomunitária e persistente em muitas áreas do país.

Pelo menos 250 incidentes de violência afetando 953 civis, incluindo 327 mortes, marcaram uma alta de 27% nos incidentes em comparação ao período de relatório anterior.

A Unmiss opera com quatro bases temporárias em áreas de conflito como Koch, Jamjang, Abiemnom e Tambura para aumentar seu alcance, impedir ataques contra civis e proteger as principais rotas de suprimento.