ONU teme que crise na República Democrática do Congo vire guerra regional
Em reunião de emergência no Conselho de Segurança, representante especial no país descreveu avanços do grupo armado M23, que agora controla cidade na fronteira com Ruanda e Burundi; Missão de Paz da ONU está sob pressão, com restrição de movimentos e bases lotadas de congoleses que buscam refúgio.
A crise na República Democrática do Congo, RD Congo, foi tema de uma reunião de emergência no Conselho de Segurança nesta quarta-feira.
A representante especial da ONU no país, Bintou Keita, informou aos membros do órgão que, nas últimas 24 horas, o grupo armado M23 capturou a cidade de Kamanyola, localizada na tríplice fronteira entre a RD Congo, Ruanda e Burundi.
Punição de responsáveis por violações e abusos
Keita disse que o avanço dos rebeldes, apoiado pelo exército ruandês, ignorou os apelos internacionais por um cessar-fogo e teve “consequências arrasadoras, causando a perda de muitas vidas humanas”.
A representante especial pediu que o Conselho tome medidas “urgentes e decisivas” para evitar uma guerra regional mais ampla.
Para ela, o órgão deve responsabilizar os autores de violações e abusos, na sequência do estabelecimento de uma missão de apuração de fatos pelo Conselho de Direitos Humanos em 7 de fevereiro.
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Restrições à circulação de tropas da ONU
Nas últimas duas semanas, a Aliança do Rio Congo, da qual o M23 é um dos principais membros, estabeleceu uma administração paralela na cidade de Goma, com a nomeação de um governador e de um prefeito. No Kivu do Sul, o grupo tomou o aeroporto de Kavumu e a cidade de Bukavu, a capital da província.
Bintou Keita, que chefia a Missão de Paz da ONU na RD Congo, Monusco, revelou que o M23 impôs severas restrições à liberdade de circulação dos boinas- azuis, impedindo os esforços para avaliar os danos no aeroporto de Goma.
Os soldados de paz também estão impedidos de atuar na eliminação de munições não detonadas na cidade e de repor água e outros bens de primeira necessidade às tropas da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, Samirdc.
Além disso, o M23 controla todas as estradas que entram ou saem das áreas sob o seu domínio. A representante especial destacou que isso impõe sérios desafios ao pessoal civil e fardado da Monusco no cumprimento do mandato de proteção da população civil.
Prédios da Monusco sob “extrema pressão”
Bintou Keita explicou que as infraestruturas da Missão de Paz em Goma e outros locais em Kivu Norte estão sob “extrema pressão”, pois estão abrigando muitas pessoas em busca de refúgio.
Ela descreveu a situação como “crítica”, tendo em vista que as condições de saúde e higiene estão se deteriorando rapidamente, colocando em risco tanto as pessoas abrigadas como a equipe da Monusco.
A representante especial alertou que essa situação está sendo usada para alimentar a desinformação e amplificar “sentimentos anti-Monusco”.
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Retorno ao processo de paz de Luanda
Bintou Keita adicionou que o deslocamento em massa, o afluxo de combatentes e prisioneiros e a proliferação de armas agravaram a vulnerabilidade de mulheres e meninas à violência sexual.
A representante afirmou que as Nações Unidas, incluindo a Monusco, continuam determinadas a apoiar qualquer esforço para trazer as partes de volta à mesa de negociações.
Ela lembrou os progressos significativos alcançados nos últimos meses, no âmbito do processo de Luanda. Bintou Keita também saudou o presidente de Angola, João Lourenço, mediador da União Africana no processo de Luanda, por ter assumido no último dia 15 a presidência do bloco.